Se você aí que está lendo é quarentão
ou cinquentão, prepare a pipoca doce, a tubaína e o lencinho porque a viagem à infância hoje vai ser pra valer! Fugindo um
pouco do papo cinematográfico, resolvi desenterrar uma lembrança muito querida
do meu tempo de criança – lembrança essa que quem regula de idade comigo também
tem. Estou falando dos discos de vinil
com historinhas.
No final dos anos 70 e início dos anos 80, uma febre nacional (e, pelo
que eu estou vendo aqui nas minhas fontes, mundial) tomava conta dos lares onde
havia crianças. Eram as coleções completas de vinis compactos e LPs com dramatizações de contos de fadas tradicionais, como se
fossem audiobooks. Alguns destes discos eram feitos de vinil colorido,
outros vinham com um livro grátis da história, cheio de ilustrações lindas. Mas
todos eram a grande paixão da garotada que teve o privilégio de viver aqueles
tempos onde não havia videocassete, nem CD, nem Internet, nem celular, nem TV a cabo, nem Netflix, nem tablet, nem nada do gênero.
Naquele tempo, as casas tinham
aqueles famosos vitrolões pesados
com caixas de som enormes na sala (esses aparelhos, hoje, valem uma grana
violenta para os fãs). Era uma espécie de ostentação – o trambolhão tocava
vinis, fitas K7 e rádio.
Na cozinha, nossos pais ouviam
radinho de pilha...
E nós, crianças, ganhávamos de
presente, por volta dos 6 anos de idade, uma vitrolinha colorida portátil (a
inesquecível “Sonatinha”), pra ouvir no quarto.
Junto com ela, os primeiros discos
das nossas vidas: as séries Disquinho e
Estorinhas de Walt Disney (“estorinhas” com “E” mesmo, olha como eu sou
velha!).
Pra você jovem que não tem noção do
que eu estou falando, cada vinil destes trazia uma história clássica
dramatizada e com uma trilha sonora repleta de canções que grudavam na cabeça. Era
como se fosse uma peça musical infantil, só que em áudio.
A Coleção Disquinho foi criada nos anos 60 pela gravadora
Continental. O compositor João de
Barro, também conhecido como Braguinha, teve a ideia do projeto. Nos anos 30 ele teve a honra de conhecer Walt Disney pessoalmente, ao fazer a
dublagem brasileira do desenho “Branca de Neve e Os Sete Anões”.
Gostou tanto do trabalho que, em 1943,
ao assumir a direção da gravadora, com uma filha pequena e o desejo de lançar
um produto para o então pouco explorado mercado infantil, começou a fazer
adaptações das histórias. E em 1965,
ele produziu a coleção de vinis que rapidamente fez sucesso entre a criançada. A
trilha sonora era composta e/ou adaptada pelo próprio João de Barro e
orquestradas por Radamés Gnattali, e
Sônia Barreto fazia as narrações.
Lá pelos anos 70, a Editora Abril
colocou nas bancas de jornais a série Estorinhas
Clássicas de Walt Disney, com mais versões em áudio de fábulas infantis, só
que baseadas nos próprios longa-metragens de animação da Disney, como o título
dizia. As histórias, inclusive, traziam toda a trilha sonora dos próprios desenhos
do Tio Walt. Por esta série eu tenho um carinho monumental, já que, naqueles tempos,
a única forma de ouvirmos as músicas de um desenho querido era ter a versão “disquinho
de história” dele. A escritora Edy Lima
assinava as adaptações das fábulas, todas narradas pela inconfundível voz de Ronaldo Baptista.
De tanto ou vir essas historinhas eu,
além de estragar os discos (e vinil riscado não tem como consertar!!!),
decorava não só as músicas, mas também as narrações e as falas de todos os
personagens. Até hoje eu de vez em quando me pego cantando “Eu vou, eu vou” ou “Bibidibobidibú”
no chuveiro.
No ano 2000, quando eu trabalhava em uma produtora, tive a
oportunidade de conhecer vários dos dubladores que fizeram as vozes dos
personagens destes disquinhos que eu curti tanto na infância. Não tive a menor
preocupação de disfarçar a tietagem – ri, me emocionei, dei abraços neles e
agradeci a eles a importância que este trabalho tão lindo e tão pouco
reconhecido teve na minha vida. Meu sonho é criar alguma coisa na vida que represente
para as pessoas um tiquinho do que a obra desses artistas – de todos eles – representou para mim.
Agora, meu presentinho especial para vocês. Preparei
aqui uma lista com algumas dessas historinhas completas – começando pela minha
favorita, “A Bela Adormecida”. A playlist com todas as histórias está
(adivinhem!) no Canal do Poltrona R no
You Tube:
https://www.youtube.com/playlist?list=PLyc88yygdNcC0r6VUfQvR9t28HVtbO8Ls.
https://www.youtube.com/playlist?list=PLyc88yygdNcC0r6VUfQvR9t28HVtbO8Ls.
Feliz Dia das Crianças para
vocês, leitores!
A Bela Adormecida https://www.youtube.com/watch?v=jMNTKNOnad0&t=229s
Alice No País das Maravilhas: https://www.youtube.com/watch?v=hkxMeExBPyY
Branca de Neve e Os Sete Anões https://www.youtube.com/watch?v=mIjSObgPeoA
Os Três Porquinhos https://www.youtube.com/watch?v=QGQVUg0WcL8
O Casamento da Dona Baratinha https://www.youtube.com/watch?v=7u5KeaGZDas
O Patinho Feio https://www.youtube.com/watch?v=S9RuFyTvM6c
João e Maria https://www.youtube.com/watch?v=Uh4ZJcG4nps
A Dama e o Vagabundo https://www.youtube.com/watch?v=jJvtP8l0raI
Mogli, O Menino Lobo (Original) https://www.youtube.com/watch?v=W7N_XlfF3kY
FONTES