Foi com uma mistura de alívio e
felicidade que eu recebi uma enxurrada de elogios ao meu texto “Mas isso não é do seu tempo... AS 10
COISAS MAIS IRRITANTES QUE UM FÃ DE CINEMA ANTIGO É OBRIGADO A ATURAR” (http://poltrona-r.blogspot.com.br/2017/03/mas-isso-nao-e-do-seu-tempo-as-10.html),
que eu publiquei em 17 de março de 2017 – caramba, tá fazendo um ano e ainda tá
rendendo! Uma pá de gente se identificou com o que eu falei no texto, e disse
que eu tinha expressado exatamente o sentimento deles. E eu achando que ia
levar pedrada por me manifestar a esse respeito!
Mas não foi por isso que eu resolvi
retornar a esse tema, e sim porque, lendo os comentários de pessoas nos vídeos
a que eu assisto no You Tube (sim,
eu gosto de perder tempo lendo os comentários do You Tube), vejo muita
gente, principalmente molecada menor de 18 anos, se dizendo constrangida por
confessar que gosta de um filme ou de uma banda de outra época. Coisas do tipo “Nem
meus pais eram nascidos quando esse filme foi lançado, mas ele é maravilhoso”
ou “As
músicas desse grupo são infinitamente melhores que as do ... (complete com
o nome de uma banda que está na moda atualmente)” ou “Tenho vergonha de falar, mas eu
amo este desenho animado, apesar de ele ser muito velho”. Ou ainda: “Quem,
além de mim, está ouvindo isso em 2018?”. E o mais surpreendente é que
boa parte destes comentários são em inglês, e alguns são até em espanhol. Como
esse negócio de “não é do meu tempo, então eu não tenho o direito de gostar” me
irrita demais, percebi que eu tinha deixado alguma coisa inacabada naquele meu
texto e que, portanto, eu precisava retomar – e urgente! – esse papo com vocês.
Uma das grandes pragas da mentalidade
comum é essa história de que só se pode apreciar uma obra de arte se ela for recente
ou da sua época. Eu digo “praga” porque isso é uma ideia que as pessoas
assimilam e aceitam sem jamais questionar, até porque quem ousa questionar é
ridicularizado sem dó e, às vezes, até apanha. Pois eu nunca, jamais, pensei
dessa forma. Fui criada lendo, vendo e ouvindo obras maravilhosas de todas as
épocas – da minha época, inclusive. E nunca, jamais, me envergonhei por curtir
coisas que não são do meu tempo. É claro que eu era fã de artistas e obras do
meu tempo, mas não de tudo o que era do meu tempo. Aquilo que estava na moda e
eu não curtia, eu não me obrigava a curtir simplesmente porque estava na moda.
Acredito que essa postura de “só posso ser fã se está na moda ou é do meu
tempo” é de uma burrice colossal. Primeiro, porque faz com que o conhecimento das pessoas se
limite ao que é da época delas. Segundo, porque faz com que as gerações se unam
ainda menos do que já estão se unindo. O gosto por um artista ou um filme,
música ou livro que fez sucesso na época dos seus pais ou avós faz com que eles
tenham algo para compartilhar com seus filhos e netos. Uma família toda indo ao
cinema junta não por obrigação, mas porque todos são fãs daquele filme, é uma
bênção, não um motivo de vergonha.
O problema é que isso não interessa a todo mundo. Não interessa a certos poderosos que
querem ver a população emburrecida e empobrecida culturalmente. Afinal, se eu
só posso apreciar aquilo que é do meu tempo, então ninguém vai gostar de música
clássica, da obra de um Michelangelo
ou de teatro grego – aquilo não é do
tempo de ninguém (ou, pelo menos, de ninguém que está vivo no mundo de hoje).
Existem artistas e obras que são eternos. O trabalho deles não tem época
e ultrapassa barreiras de cultura e idioma. É esse tipo de obra que tem que ser
preservada. Pelo
amor de Deus, não estou dizendo que
as pessoas não devem se atualizar e nem apreciar o que está na moda atualmente.
Estou dizendo apenas que essa praga de “Não é do meu tempo, então não posso
gostar” tem que ser exterminada, e urgentemente. Pelo bem da inteligência
humana, isso precisa acabar.
Portanto, você que é criança ou
adolescente e é esculhambado pelos seus coleguinhas que acham ridículo você ser
fã de algo de outra época e não do que está na mídia do momento, diga para os
babacas que te sacaneiam que essa obra moderna e descolada que eles amam jamais
existiria sem essa obra antiga e careta que você ama. Pronto, acabou.
FONTES
(Ilustrações)