Quantos anos você tem? Confessa aí!
Tem mais de 40 anos? Então certamente você já ficou na frente da televisão
torcendo pelo seu piloto fictício favorito na corrida fictícia mais famosa do
mundo. Já sacou do que eu tô falando, né, quarentão? Da “Corrida Maluca”, é lógico!
Criado pelos mestres da Hanna Barbera, o desenho que
revolucionou as séries de animação conseguia ser ao mesmo tempo emocionantemente
realista e alucinadamente fantasioso, e rendeu picos de audiência para a CBS (emissora norte-americana que foi a
primeira a exibi-lo no mundo) e para o SBT,
no Brasil. O que você provavelmente
não sabia é o quanto ele é antigo – foi criado em 1968, e produzido entre os anos de 1968 e 1969! No Brasil-zil-zil,
porém, só virou febre mesmo na década de
80. Deve ser porque aqui tudo demora...
A trama era a mais simples que se
pode imaginar: em algum canto do mundo, uma corrida de Fórmula 1 reúne 11 pilotos
(alguns deles até levando seus amigos e animais de estimação) que disputam o
troféu de “Piloto Mais Maluco do Mundo”.
E maluquice ali era o que não faltava: os personagens eram absolutamente
inacreditáveis, a começar pelo vilão, Dick
Vigarista, e seu cão sarnento Muttley
(também chamado de Rabugento em
alguns episódios dublados em português), tão canalha quanto ele. Dick e Muttley
passaram todos os 34 episódios
armando todo tipo de picaretagens para vencer a corrida, e acabavam
inevitavelmente se ferrando. Antes que você me pergunte se Muttley e Dick Vigarista
já chegaram a ser campeões alguma vez, eu lhe respondo: apesar de todas as suas
maracutaias mirabolantes, a dupla do mal jamais chegou a cruzar a linha de chegada
antes dos outros pilotos. Eu, pessoalmente, sempre tive essa curiosidade, e só
fui matá-la agora!
Ao todo, o desenho chegou a contar
com 23 personagens fixos, todos eles com uma característica
marcante. Muttley, por exemplo, tinha a sua inesquecível risadinha sarcástica, que
em tempos de Internet foi
ressuscitada e transformada em meme (https://www.youtube.com/watch?v=qay3UZz0898).
A heroína Penélope Charmosa, ícone
das meninas da época (incluindo eu mesma), era uma patricinha vaidosa que
pilotava um carro rosa-choque, na verdade um salão de beleza sobre rodas. Com
sua hilária obsessão pela aparência, a moça caiu nas graças do público a ponto
de ganhar uma série de animação só para ela, a igualmente clássica “Os
Apuros de Penélope”. Adivinha se nós, meninas, gostávamos...
A verdade era que todo o “elenco” da
Corrida Maluca era fantástico. Vamos a ele: os Irmãos Rocha eram (literalmente) trogloditas que guiavam um carro
parecido com o dos Flintstones.
Foram os Rocha, inclusive, que uma década mais tarde inspirariam a criação de
outro personagem queridíssimo da Hanna Barbera, o Capitão Caverna. Na categoria “figuras rústicas da Corrida Maluca”,
havia também Rufus, O Lenhador, que
tinha como co-piloto seu bicho de estimação, um castor. E o caipirão Tio Tomás, com seu urso de estimação, Chorão, ambos inspirados na série “Família
Buscapé”.
A Quadrilha de Morte, um bando de mafiosos mal-encarados, disputava o
prêmio a bordo de um automóvel que parecia saído daqueles seriados de gângsteres
ambientados na década de 1930. O Cupê Mal-Assombrado era uma espécie de
casarão de filme de terror, onde literalmente moravam fantasmas e outras criaturas
sinistras, como um dragão.
Outros tipos bizarros também faziam a
nossa alegria: o Professor Aéreo, um
cientista louco que criava gambiarras para escapar dos perigos; o Barão Vermelho, personagem que foi baseado
no famoso aviador da Segunda Guerra
Mundial, dirigia um aeromóvel
(mistura de aeronave com automóvel); o Carro-Tanque,
veículo que se assemelhava a um tanque de guerra e era comandado por um Soldado e um Sargento; e, por fim, o galãzão da parada, Pedro Perfeito, cujo carrão era o auge da elegância e da modernidade
nos anos 60.
O roteiro, escrito por Larz Bourne, era viajante. Praticamente
não havia regras na corrida – pelo contrário, quem fosse mais louco e criativo
era quem se dava melhor, desde que não cometesse nenhuma desonestidade. Como
deu pra ver aí em cima, era permitido que um carro normal (ainda que
supermoderno) de Fórmula 1 competisse com um avião e um tanque de guerra, que
uma mocinha frágil competisse com um bando de brucutus, e até que vivos
competissem com mortos.
O desenho tinha outra coisa interessante.
Essa, aliás, provavelmente só eu reparei e só eu acho bacana: a trilha sonora, de
Hoyt Curtin (https://www.youtube.com/watch?v=uxTQ3Qg9a3o).
Pura psicodelia, com trombones, órgão
e guitarrinhas mutcholocas, combinando perfeitamente com o que se vê na tela. É
curioso algo tão anos 60 virar mania entre a criançada da década de 80.
Inclusive, na época em que “Corrida Maluca” foi criada, os filmes sobre automobilismo eram a
última moda. Como sempre, a Hanna Barbera de olho no que fazia sucesso para bolar
e emplacar seus clássicos atemporais.
Sua língua deve estar coçando para
fazer a pergunta: “Afinal, quem teve
mais vitórias na Corrida Maluca?” Bom, de acordo com o site Mundo Estranho, foram os Irmãos Rocha, que ganharam a competição em 3 episódios, foram
vice-campeões em 8 e terceiros colocados em outros 3. Um fato curioso é que,
apesar do imenso sucesso, a série nunca teve um episódio de encerramento. Quer
dizer, o último episódio produzido foi ao ar no dia 4 de janeiro de 1969. O que jamais houve foi um “último capítulo”,
uma conclusão para a história. Será que era de propósito, para a gente
acreditar que a Corrida Maluca era interminável, e que aquele adorável bando de
doidos passaria o resto das suas vidas disputando um troféu? Se sim, funcionou.
FONTES