"A Wap Bop Alu Bop Lah Bam Bum!" Elvis Presley lindo e maravilhoso, levando a mulherada à loucura. (Prometo que o Elvis vai aparecer mais por aqui. Calma!)
quinta-feira, 31 de março de 2016
terça-feira, 29 de março de 2016
BUSBY BERKELEY, O MESTRE DOS PIN-UP MOVIES
Ele não sabia dançar. Não era coreógrafo;
aliás, não entendia nada de dança – e se orgulhava disso. Mesmo assim, foi o
criador de alguns dos filmes musicais
mais visualmente incríveis que a Hollywood da Velha Guarda conheceu. De sua
imaginação maravilhosamente desenfreada saíam imagens em caleidoscópio,
explosões de cores, danças exóticas e espetáculos inacreditáveis que eram
veículos para divas como Esther Williams
e Ginger Rogers, ambas lançadas no
cinema por ele. E foi pelas mãos dele que a nossa Carmen Miranda brilhou mundo afora. Suas obras fizeram sonhar batalhões de soldados da Segunda Guerra Mundial e lançaram moda entre a mulherada da época. Estou falando do diretor Busby Berkeley, o rei dos filmes musicais da Era das Pin-ups.
William Berkeley Enos
nasceu no dia 29 de novembro de 1895 em Los Angeles. Filho de atores, ganhou
ainda na infância o apelido de Busby (dado pela atriz Amy Busby, que o chamava de Buzz ou Busbee), e mais tarde viria a
incorporá-lo oficialmente ao seu nome. Estreou nos palcos aos cinco anos de
idade, atuando com os pais. Lutou na Primeira
Guerra Mundial como Tenente de Artilharia, e observar os batalhões de soldados
em treinamento lhe deu ideias para criação de suas futuras e complexas
coreografias. Nos anos 1920, ele foi diretor de números de dança em vários
musicais da Broadway. Mas só foi
estrear no cinema em 1932, com um musical estrelado pelo comediante e showman Eddie Cantor, que ele lançou dos palcos para as telas. O nome do
filme era “Night World”, e foi nele que Busby utilizou pela primeira vez
a técnica do caleidoscópio,
inventada por ele. É algo tão fenomenal e tão difícil de descrever, que só
vendo o vídeo abaixo para entender do que se tratava.
O mais espantoso é que todos esses efeitos
inacreditáveis eram produzidos apenas com o uso das coreografias, em uma época
em que a tecnologia era de uma precariedade quase infantil. Mas a inteligência
com que Berkeley explorava os ângulos de câmera e, consequentemente, os ângulos
de visão criados por cada um deles, ainda deixa qualquer um de boca aberta,
mais de oito décadas depois.
Com a Grande
Depressão, o público estava ávido por entretenimento. E Berkeley se tornou
imensamente popular nessa época, com suas pin-ups talentosas e esculturais, que
arrasavam em números de dança repletos de malícia e uma sensualidade moderninha
para aqueles tempos. Detalhe: esse material é até hoje objeto de estudo em
faculdades de Comunicação mundo afora.
Em 1943, durante as gravações
do filme “Loucos Por Saias”, Berkeley, que era o coreógrafo, teve um
desentendimento com a estrela principal, ninguém menos que a grande Judy Garland. Resultado: ele foi
simplesmente demitido, mas o número I Got Rhythm, que ele criou,
permaneceu na edição final do filme. Ainda em 1943, Berkeley foi a escolha
óbvia para dirigir o primeiro filme da nossa diva Carmen Miranda no exterior, “Entre
a Loira e a Morena”, aquele que tinha o número The Lady With The Tutti-Frutti
Hat. Tem gente que gosta, tem gente que não gosta… Enfim, a polêmica é
interminável, mas quero deixar bem claro pra vocês: eu ADORO!
Foi Berkeley também quem
concebeu aquelas doideiras pré-psicodélicas que eram os filmes da atriz Esther
Williams, a Sereia de Hollywood, na MGM.
Clássicos como “A Rainha do Mar” e “Fácil de Amar” mostram o quanto a
parceria entre os dois era perfeita.
Em "Salve a Campeã" (1953), inclusive, vale destacar a épica sequência em que Esther contracena com ninguém menos do que Tom e Jerry - eles mesmos, o gato e o rato do clássico desenho animado. Vocês podem imaginar a cara da pequena Renata (sim, euzinha) vendo isso pela primeira vez na vida, aos 6 ou 7 anos de idade.
Uma curiosidade sobre como surgiu esta cena: em 1949 os filmes de Esther Williams ganharam uma paródia de Tom & Jerry, no episódio "The Cat And The Mermouse" ("O Gato e o Rato Sereia"), em que o pequeno Jerry encarnava Esther. Nove anos depois, parte deste desenho (assista no vídeo abaixo) seria utilizada no filme "Salve a Campeã", com a atriz de carne e osso nadando com os dois queridos personagens dos desenhos, graças à união da genialidade de Berkeley com a da dupla William Hanna & Joseph Barbera (que eu, aliás, já deixei claro aqui o quanto admiro).
Vale lembrar também que foi
para a musa dos anos 60, Doris Day,
que Busby Berleley criou seu último filme, a comédia dramática “A Mais Querida do Mundo”. Olha o
trailer aí abaixo. O ano era 1962.
Berkeley foi casado seis
vezes, a última com a atriz Etta Dunn.
Em 1935, teve que lidar com um escândalo devido a um acidente de carro em que
duas pessoas foram mortas, e cinco gravemente ferida. Ele próprio saiu
seriamente machucado e com cortes na pele, e, segundo algumas testemunhas,
cheirava a álcool.
Perguntado durante uma entrevista em 1971
sobre qual o segredo de sua arte, Busby Berkeley respondeu: “Nunca perguntem os porquês, as causas e
razões de um número a Berkeley. Eu próprio não sei. O que importa é que eu
diverti vocês, não diverti?”.
Busby Berkeley foi chamado pelo artista plástico Andy Warhol de “O maior artista
americano deste século”, e considerado pelo diretor Bob Fosse como “o autor do mais consciente imaginário que já
existiu no cinema”. Ele faleceu aos 80 anos de idade, em 14 de março de 1976,
em Palm Springs, Califórnia, de causas naturais.
Na primeira metade da década de 80, época
da minha infância e pré-adolescência, a Sessão
da Tarde Que Prestava exibia inúmeras das suas obras. Foi assim que os
filmes desse maluco genial entraram na minha vida, e fizeram parte dos meus
anos de moleca, quando eu sonhava em ser “a Rainha das Águas” e queria ser
“atriz, bailarina e escritora” quando crescesse. E posso dizer que, após mais
de três décadas, meus olhos ainda brilham ao ver suas engenhosas e deslumbrantes
criações. Coisas cuja magia não há computação gráfica, por mais sofisticada que
seja, que consiga recriar. Obrigada, Busby Berkeley, por nos mostrar que quando
existe paixão e talento, até mesmo uma supertecnoogia se torna dispensável.
Graças a Deus!
Texto já publicado no site Blah Cultural
domingo, 27 de março de 2016
domingo, 20 de março de 2016
DIVAS PRA RECORTAR E BRINCAR
Tendo sido
moleca nos anos 80, época em que a gente só tinha vinil, fita K7, rádio e
televisão (tô falando da primeira metade da década), e que o dial da TV só tinha seis canais, fui
maníaca pelas chamadas “revistas de atividades”, e nas raras vezes em que meus
pais não traziam alguma dessas revistas da banca pra mim, eu aporrinhava meu
pai e/ou minha mãe para comprar, pois eu era viciada nelas. Quem tem a minha idade
não esquece: eram revistas com figuras para colorir, ligar pontos, recortar e
montar, e coisas do tipo. Entre essas atividades, havia uma que todas as
meninas curtiam – as bonecas para recortar e vestir.
Para quem não
sabe do que eu estou falando, porque não era nascido ou era muito criança na
época, eram desenhos de bonecas (alguns horrorosos, mas a gente não ligava) e
de roupinhas que a gente recortava e encaixava nelas. Bem, vamos logo ao
assunto deste post. Há um tempo atrás, descobri que existem lá fora (pra
variar...) um monte de álbuns com bonecas para recortar... das minhas ídolas do
cinema antigo! E também algumas de atrizes antigas que eu nem curto tanto, mas
que como curiosidade são igualmente fascinantes. Inclusive, este tipo de
revista pode ser uma excelente porta de entrada para que uma menininha aprenda
a apreciar filmes da Velha Guarda.
Se eu tivesse
uma filhinha, daria um álbum destes para ela. E não vou mentir, eu teria
delirado se alguém tivesse me presenteado com um deles no meu tempo de criança.
Quem leu meus textos anteriores sabe que eu já era uma grande consumidora de
cinema Old School. E tendo sido desde cedo uma fã das atrizes da Era das
Pin-Ups, eu com certeza iria amar alguns destes álbuns. Só duvido que eu teria
tido coragem de recortar algum, hehehe...
De fato, eles
são tão lindos que a gente fica com dó de recortar. Selecionei umas fotos que
encontrei na Internet de alguns destes álbuns – sim, porque eu infelizmente não
tenho nenhum deles, portanto não entrem em contato perguntando se eu quero
vender, tá? Se bem que eu vi vários que, apesar de já ser adulta, eu adoraria
ter! Vejam alguns deles.
Bette Davis
Lançado em 2011, este livro foi criado pelo
ilustrador (e fã) Jim Howard, cobre três períodos da carreira da atriz, e
apresenta figurinos de filmes como "Jezebel", "A Rainha Tirana" e, claro, "A Malvada".
Vivien Leigh
Os fãs de "E O Vento Levou" e "Um Bonde Chamado
Desejo" vão delirar com este álbum aqui, cujo autor é um especialista no gênero,
Tom Tierney. A data original do lançamento é 1º de dezembro de 1981. Traz um
pequeno texto com a história da eterna Scarlett O’Hara/Blanche Dubois e 28 modelos
usados pela diva em 12 filmes.
Judy Garland
A querida diva aparece em inúmeros lançamentos, entre
eles um livro ilustrado da mesma série (e mesmo autor) do de Vivien Leigh, tão
bem-feito quanto, que saiu em 1983, em cartelas separadas lançadas em 1994, e até em ímãs de geladeira!
Ava Gardner
Primoroso – esta é a palavra para descrever o álbum
da Ava, que tem capa e contracapa absolutamente lindas, fotos da estrela no
interior junto com os 26 modelitos que ela usou em seus filmes, e desenhos
muito bem-feitos. A diferença: a musa de Frank Sinatra vem retratada aqui não em
apenas uma boneca, mas em três! O lançamento é mais recente: fevereiro de 2015.
Sinal que o público que está redescobrindo o cinema Old School vem aumentando.
O que é uma boa notícia.
Marilyn Monroe
A maior estrela da história
de Hollywood foi devidamente homenageada em várias publicações que pegaram
carona em seu sucesso, como esta de 1954 (!!!), com duas bonecas.
Mas em setembro de 1985 Tom Tierney lançou um álbum tão
lindo quanto, que trazia 31 trajes de 24 filmes da loira, em 16 páginas. A
riqueza de detalhes dos desenhos é de impressionar. Cores lindas, desenhos
lindos, tudo lindo.
Rita Hayworth
Obviamente, a Rainha da Columbia não foi esquecida!
Embora suas personagens não fossem tidas exatamente como exemplos de bom comportamento pras
crianças, a minha diva preferida teve álbuns de bonecas lançados no auge de seu estouro
na mídia, como este do filme “Os Amores de Carmen”, de 1948, cuja capa é mais
bonita que o conteúdo.
Houve outros também, mas meu favorito é o de autoria da ilustradora Marilyn Henry, que tem desenhos lindos e bem-feitos, dignos da eterna Gilda.
Lucille Ball
Por sempre ter tido um
público infantil muito grande desde a estréia de “I Love Lucy” (ou talvez até
antes disso, em seus tempos de humor stand-up no rádio), a minha outra ídola
foi tema de incontáveis álbuns com bonecas de recortar. Encontrei um de 2009,
inspirado em um filme dos tempos de garota pin-up de Lucille, “Dubarry Was a
Lady”. Bonitinho, mas não tão trabalhado quanto o álbum “I Love Lucy Paper
Dolls”, que contém textos sobre a história de cada modelito e fotos de
bastidores.
Quem curtiu o seriado “Show
da Lucy” no SBT nos anos 80
pode matar as saudades com este livro ilustrado publicado em 1964, que também
vai fazer o deleite das meninas adeptas do estilo retrô anos 50 e 60. O álbum
traz Lucille Ball e sua companheira de cena, Vivian Vance. Juntas, as “garotas” usam mais de 25 roupitchas que
são a cara da época. Bolsas, chapéus e outros acessórios completam a diversão.
Carmen Miranda
Nós brasileiros homenageamos muito pouco a maior
artista que já tivemos, mas Tom Tierney (sim, ele de novo!) fez isso lindamente
neste livro ilustrado de 1982, que em 31 figurinos coloridíssimos e muito bem
desenhados, conseguiu captar toda a alegria da nossa diva-símbolo. Há outros álbuns,
criados por vários ilustradores, mas este, sem dúvida alguma, é o mais bonito,
e o mais fiel ao estilo da artista. Ao olhar as figuras, vem logo aquelas
músicas sensacionais dela na cabeça. Uma injeção de brasilidade, criada por um
gringo.
Bettie Page
Siiimmm!!! A mais saidinha das divas da Velha Guarda
também ganhou um álbum de bonecas de papel em sua homenagem! Biquinis, corpetes,
saia de couro, trajes com estampa animal, tudo o que mostra a importância de
Bettie Page como ícone fashion está lá, junto com acessórios divertidos. Sem
exagero, serve até como guia para a mulherada valorizar suas curvas sem
complexo nenhum. Outra curiosidade: o livro traz 14 páginas, e em cada uma
delas há uma imagem de Bettie numa pose diferente, com roupas e complementos
específicos para ela. Publicado em 2011, este álbum desenhado por Bruce Patrick
Jones dividiu opiniões entre os adoradores de Bettie Page. Não é exatamente um
produto indicado para criancinhas, rsrsrs. Mas é item obrigatório na estante de
qualquer fã da artista.
Como eu já disse,
encontrar estes álbuns no Brasil é praticamente impossível. Mas pra quem ficou
com vontade de brincar e rir um pouco, separei esta imagem que eu encontrei
aqui na Internet, de autoria da blogueira americana Cheryl Nowell, uma fã de
bonecas de papel desde menina. Tem as fotos de réplicas dos trajes de Rita
Hayworth em "Gilda", Elizabeth Taylor em "Gata
em Teto de Zinco Quente", Vivien Leigh em "E O Vento Levou", Grace Kelly na noite do Oscar, Marilyn Monroe em "O Pecado Mora Ao Lado" e Audrey
Hepburn em "Bonequinha de Luxo".
Amplie a imagem, encaixe o seu rosto e o das suas amigas nas fotos e
divirtam-se!
segunda-feira, 7 de março de 2016
COMENTEM, COMENTEM, COMENTEM!
Gente, este blog aqui é feito para vocês. Então, só há um jeito de
eu saber o que vocês estão pensando dele: comentários! Se ninguém comentar nada, não tem graça fazer um blog!
Trata-se de um exercício, uma atividade que exige esforço, mesmo
sendo algo extremamente divertido, instrutivo e prazeroso. Mesmo assim, qual a
função do que a gente pesquisa e escreve aqui, se não houver uma resposta dos
leitores?
Portanto, não façam cerimônia. Cliquem no ícone “Comentários” e
dêem sua opinião. Falem o que acharam das postagens, coloquem links de coisas
legais, façam perguntas... Podem até meter o pau em mim! Mas comentem,
comentem, comentem...
POR QUE I LOVE LUCY NÃO DEU CERTO NO SBT – UMA ANÁLISE LÚCIDA
Quando
o SBT anunciou que iria exibir o
seriado I Love Lucy, eu fiquei feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz
porque sou fã de Lucille Ball desde
moleca, e porque essa geração mais nova que está aí, exposta a tanto lixo, ia
ter a chance de conhecer o trabalho desta grande atriz e diretora. E triste
porque eu já previa o preconceito do público contra uma série que, além de
antiga, era em preto e branco.
Realmente,
eu estava certa. I Love Lucy não durou duas semanas no horário em que foi
exibida (1 hora da tarde), e logo foi parar nas madrugadas do SBT, horário
tradicional para quem no Brasil curte cinema Old School. Eu tenho algumas
explicações para este, digamos, fenômeno.
Primeiro, I Love Lucy era o seriado certo sendo exibido
no horário errado. Havia, sim, gente que queria assistir I Love Lucy, mas este
público não está em casa à uma da tarde – é um público de gente com mais de 40
anos, que só tem tempo de ver TV a partir das 8 da noite, horário em que o SBT
está exibindo sua maior mina de ouro: as novelas infantis e as mexicanas e
argentinas (acho ridículo se referir às novelas importadas do México e da
Argentina como “novelas latinas”. E o Brasil, não é latino também? Novela da
Globo é o quê? Polonesa? Sueca?).
Segundo,
para que I Love Lucy fosse exibida, o SBT tirou do ar vários seriados de
grande audiência no horário, que, aliás, são seriados que têm fãs xiitas (com
todo respeito, é claro!). Logo no primeiro dia de exibição do clássico de
Lucille Ball, as redes sociais foram inundadas por uma enxurrada de críticas
negativas feitas por gente que nem sequer se deu ao trabalho de ligar a TV
naquele horário para assistir à “nova” série, mas desligou a TV em protesto
(!!!) e ficou xingando a emissora na Internet. Não que eu ache que esses
seriados deviam ter saído do ar – pelo contrário! Tirá-los da grade, aliás, foi
outro erro. Principalmente (e exatamente) porque eles têm fãs muito fiéis e,
portanto, são fontes de lucro e audiência.
Terceiro,
e o mais importante na minha humilde opinião: o público brasileiro de hoje tem
um grande preconceito contra filmes em preto e branco. Eu diria que o
preconceito é contra filmes antigos em geral, mas se eles forem em preto e
branco, o preconceito triplica. E a culpa é da própria televisão nacional, que
tirou da sua grade qualquer filme feito antes de 2000. Existe a exceção da TV
Cultura, mas a audiência infelizmente é muito pequena. No Brasil, um filme de
um ano atrás é considerado “velho”. Imagine uma série que tem 50, 60 anos.
A
primeira chamada da série também foi um erro, na minha opinião: “a comédia que
os americanos deram boas risadas!”. E DAÍ que os americanos deram risada?!! Não
significa que os brasileiros vão dar risada também!!! Esse negócio de “se é
americano, é legal” pra mim é coisa da década de 80. Não sou uma burra
antiamericana (sim, porque pra mim antiamericanismo é burrice), mas acho que
esse tipo de coisa já era.
Agora
vou contar para vocês como eu conheci o trabalho da grande Lucille Ball. Por
incrível que pareça, foi através do SBT mesmo. Logo que a emissora do Silvio Santos entrou no ar, um dos
destaques da grade era o seriado Show da Lucy, que Lucille fez após o
fim de I Love Lucy, quando ela virou diretora e mudou totalmente o seu
estilo (aí a história é muito comprida e eu precisaria de outro post para
contá-la pra vocês). A série, maravilhosa também, era exibida em horário nobre
(oito e meia da noite!!!), enquanto a Globo passava suas novelas. Na época meus
pais (graças a Deus!) ainda não me deixavam ver novela, e minha mãe, que era fã
da Lucille Ball, colocava no seriado pra assistir. Resultado: virei fã da Lucy.
Aliás, Lucille Ball foi a primeira atriz cujo trabalho eu me lembro de ter
admirado na vida. Sua expressão facial, vocal e corporal, seu talento como
dançarina e cantora, e sua capacidade de fazer em cena o que quer que o roteiro
exigisse, chegando até mesmo a improvisar, me encantaram. E me encantam até
hoje.
Anos
depois, revendo alguns episódios legendados do Show da Lucy (nunca
gostei da tradução), fiquei de boca aberta com o dom que Lucille tinha para
imitar vozes e sotaques (coisa que eu sempre valorizei, até porque minha
brincadeira favorita na infância era teatrinho). Eu também amava quando ela e a
colega de cena, Vivian Vance, se
disfarçavam e interpretavam, irreconhecíveis, outros personagens – sim, é “outros”
mesmo, porque tinha homem, mulher e até animal. E convenciam!
Há
anos eu ouço gente da minha idade comentando que adoraria rever Show
da Lucy. Já li dezenas de comentários de fãs dizendo que o SBT devia
voltar a exibir essa série. Aliás, na minha opinião, o SBT devia ter exibido primeiro o Show da Lucy, e depois, se desse certo, colocar I Love Lucy no ar. Por um motivo
muito simples: Show da Lucy era a cores.
A
coisa teria tido mais chance de dar certo dessa forma. Às vezes a gente ganha
um presente e, por ignorância, não o aproveita e joga fora. Foi o que aconteceu
com as pessoas que tiveram preconceito contra I Love Lucy. No caso
delas, eu diria que elas jogaram esse presentão fora sem sequer ter aberto o pacote.
Acho triste esse tipo de coisa. E mais triste ainda foram os jornalistas que
ridicularizaram o fato de uma série antiga em preto e branco estar sendo
exibida em pleno século 21. Boa parte desses jornalistas e (de)formadores de
opinião é gente jovem que nunca tinha visto um único episódio de I
Love Lucy. Gente que acha que o mundo começou em 1980.
Isso
é realmente uma tristeza, porque contribui para o emburrecimento do nosso
público, que vai se tornando mero “seguidor de tendências” e desenvolvendo
preconceitos idiotas. Para conseguir saborear a experiência de ver um filme de
outra época, é preciso que você jogue todos os seus preconceitos na lata do
lixo. Preconceitos de época, de estética, de estilo, de tudo. Aí depende de
como você encara o cinema, do que cinema significa pra você. Se para você cinema
é apenas uma diversão momentânea e/ou uma maneira de estar por dentro da moda,
pode esquecer. Mas se para você cinema é uma experiência, seja bem-vindo ao Poltrona R. Esse blog aqui foi feito
para você. Mi casa, su casa.
terça-feira, 1 de março de 2016
JOSIE & AS GATINHAS, OS IMPOSSÍVEIS E O HIT PARADE DA HANNA BARBERA
Quem tem mais de 40 anos e, portanto, cresceu
assistindo aos desenhos produzidos pela Hanna
Barbera nas décadas de 1960 e 1970 e lançados por aqui na virada dos anos
70 para os 80 com ares de novidade, com certeza se lembra. Devido ao sucesso de
séries criadas pela concorrência e que tinham como personagens bandas reais,
como o desenho animado dos Jackson Five
(feito em parceria da gravadora Motown
com a produtora Rankin-Bass e
exibida entre 1971 e 1972), o seriado The Monkees (que o canal de TV NBC
produziu e levou ao ar entre 1966 e 1968), a animação A Turma do Archie (criação da emissora CBS que durou de 1968 a
1969, e revelou a banda The Archies)
e, acreditem, até um desenho animado dos Beatles
(sim, isso existiu e deu origem à onda, com 39 episódios que o canal americano
ABC levou ao ar entre 1965 e 1969), a dupla de cartunistas William Hanna & Joseph Barbera resolveu faturar com a
tendência. E lançou, uma atrás da outra, séries animadas estreladas por grupos
de personagens que, além de viver aventuras e desvendar mistérios, também
tinham uma banda de música nas horas vagas.
Deu
certo. Criações clássicas da dupla surgiram graças a essa fórmula: Josie
& As Gatinhas, Tutubarão, Charlie Chan & Família,
Gatolândia
e claro, o épico, inesquecível e insuperável desenho mais famoso que seguia esta receita: Os Impossíveis.
Assim
como os desenhos da concorrência, as adoráveis pirações roqueiras inventadas
pela Hanna Barbera tinham como alvo os públicos teen e pré-adolescente, e não
só a criançada. Na verdade eram todas variações sobre o mesmo tema: grupo de jovens
(ou família com filhos adolescentes) que forma uma banda musical e, nas horas
vagas, dedica-se a resolver mistérios (ou seria o contrário?). A produção, por
ser praticamente industrial, era o básico do básico: cenários com poucos
detalhes (pelo menos em comparação ao que H&B faziam nos tempos da primeira
versão de Tom e Jerry), personagens cuja expressão facial se limitava à
boca mexendo e/ou os olhos piscando, e aqueles mesmos efeitos sonoros
impagáveis que já renderam até um álbum só com eles (foto abaixo) - infelizmente, não lançado no Brasil #PraVariar. Alguns desses desenhos
tinham até claque gravada, o que só torna tudo mais hilário e bizarro ainda.
Havia,
porém, muito mais aspectos positivos do que negativos nos desenhos do hit parade de William Hanna & Joseph
Barbera: personagens carismáticos, enredos que prendiam a atenção, aquele
visual bem sessentinha e setentinha que era um barato, e uma trilha sonora que,
vamos combinar, era bem melhor do que
muita coisa que toca no rádio hoje.
Vamos
então dar uma viajada e relembrar os personagens H&B que fizeram o deleite
dos nossos olhos e ouvidos na infância:
OS IMPOSSÍVEIS (1966)
Foi o primeiro projeto da Hanna
Barbera dentro do conceito “desenho de banda”. Baseava-se, claro, num grupo
musical chamado Os Impossíveis que, na verdade, era composto por três
super-heróis disfarçados. Os vilões que eles combatiam eram as figuras mais xaropes
do universo, como o Perigoso Boneco de Papel. Na segunda temporada da série
(que infelizmente durou apenas um ano), entrou em cena o personagem
Frankenstein Junior.
O som e o visual do grupo se
pareciam descaradamente com os dos Beatles (de propósito, é óbvio!), e isso foi
um dos motivos do sucesso estrondoso do desenho mundo afora – inclusive no
Brasil. William Hanna e Joseph Barbera perceberam, então, que ali havia uma
mina de ouro.
A TURMA DA GATOLÂNDIA (1969-1971)
JOSIE & AS GATINHAS
(1970-1974)
Lançado para competir com o desenho do grupo The
Archies, e também para atrair um público feminino maior, este clássico cultuado
pelas meninas da época trazia um grupo de garotas que vestiam trajes com
estampa animal e cantavam e tocavam rock. Elas viajavam pelo mundo fazendo
turnês, e entre um show e outro se metiam em estranhas aventuras, enfrentando
aqueles vilões inacreditáveis que só a Hanna Barbera sabia criar. Foi o
primeiro desenho a apresentar uma personagem afro-descendente fixa em seu
elenco de personagens – a esperta Valerie, que tocava pandeiro no grupo. Assim
como havia ocorrido com The Archies, o desenho originou uma banda na vida real,
com cantoras escolhidas pelos produtores. Quanto à trilha sonora, sinceramente,
elas deixavam as Spice Girls no
chinelo.
AS AVENTURAS DE CHARLIE CHAN
(1972)
Baseado nas histórias do detetive
chinês Charlie Chan (aquele que tinha 128 filhos). O dublador Keye Luke foi o único ator realmente de
origem chinesa a interpretar o personagem, que já havia sido vivido também no
cinema. Outra curiosidade: a voz do personagem Stanley cantando era feita por
ninguém menos do que Ron Dante, o
vocalista (e faz-tudo) da banda The Archies. A música-tema instrumental de
abertura, aliás, era uma das mais grudentas da história do desenho animado.
Aliás, sabem quem era o produtor da trilha? Don Kirschner, o mesmo do The Monkees.
BUTCH CASSIDY & THE SUNDANCE KIDS (1973)
Mais um desenho rock and roll da
H&B, cujo título aproveitava o sucesso do filme de 1969 (que na verdade
nada tinha a ver com o desenho) Butch
Cassidy & Sundance Kid. A história merecia nota zero no quesito
originalidade: grupo de jovens que levavam uma vida dupla como combatentes do
crime e banda de música nas horas vagas (ou o contrário, se você preferir). O
grande barato da série era o fato de o grupo ter um cachorro chamado Elvis, e
um supercomputador (coisa avançada pra época). Na trilha sonora, pop-chiclete
anos 70 no ‘úrtimo’.
A FAMÍLIA DÓ-RÉ-MI (1974-1977)
A história sobre como
surgiu este desenho é saborosa. Em 1974
(o ano em que eu nasci!), a Hanna Barbera teve a idéia de criar uma atualização
do adorado clássico The Jetsons, com o garoto Elroy sendo mostrado como um
adolescente e sua irmã Judy trabalhando como repórter. A CBS, emissora que
exibia o desenho, recusou isso. A saída foi adaptar os personagens da famosa série
live action A Família Dó-Ré-Mi, só que em uma versão futurista, com a família
vivendo no ano de 2200 (!!!). Na série apareceram os novos personagens Veenie
(amigo venusiano de Keith) e Marion (amiga marciana de Laurie). Danny tinha um cão-robô chamado Orbit.
O único “buraco” no
roteiro foi a falta de explicação sobre como a família foi parar num ano tão
distante no futuro, de repente. Mas isso são detalhes
sem muita importância...
TUTUBARÃO (1976-1978)
Outro clássico absoluto!!! Pegando carona no sucesso do
aterrorizante filme Tubarão, de Steven Spielberg, William Hanna e &
Joseph Barbera criaram “um peixão que tinha um enorme coração” e uma turma de
colegas roqueiros com um pé na disco
music (também, olha a época em que o desenho foi feito!).
O sorridente bicho também tocava
bateria na bandinha de seus amigos humanos. Dizem que a inspiração para os
trejeitos dele foi o Curly, dos Três
Patetas. Tutubarão juntava as
fórmulas do futurismo (a história se passava, acreditem, no fundo do mar no ano
de 2076), já utilizada em Os Jetsons
e Família Dó-Ré-Mi, com a do “grupo
de adolescentes com animal de estimação que fala”, consagrada em Scooby
Doo. O jargão “Não tem mais respeito!” (“I get no respect!”) , que Tutubarão vivia repetindo, foi copiado
do comediante Rodney Dangerfield. O
outro bordão do personagem (esse sim todo mundo lembra!) era “Nhac Nhac!”.
Donos
de um tino comercial só comparável ao de Walt
Disney, William Hanna e Joseph Barbera aproveitaram cada gotinha do sucesso
de suas criações, faturando com inúmeros produtos, como bonecos, camisetas, e
principalmente revistas em quadrinhos e para colorir (Eu tive! Eu tiveee!!!).
Vamos combinar: os caras eram gênios, criavam desenhos por encomenda para
diversos canais de TV dos EUA ao mesmo tempo (algo que hoje em dia seria
inadmissível) e seu trabalho tinha qualidade e inventividade – tanto é que
conseguiu resistir ao tempo. Gente genial, que ama o que faz, merece cada
centavo da fortuna que ganha. E no caso específico de William Hanna e Joseph
Barbera, eu ainda acho pouco.
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