Quem tem mais de 40 anos e, portanto, cresceu
assistindo aos desenhos produzidos pela Hanna
Barbera nas décadas de 1960 e 1970 e lançados por aqui na virada dos anos
70 para os 80 com ares de novidade, com certeza se lembra. Devido ao sucesso de
séries criadas pela concorrência e que tinham como personagens bandas reais,
como o desenho animado dos Jackson Five
(feito em parceria da gravadora Motown
com a produtora Rankin-Bass e
exibida entre 1971 e 1972), o seriado The Monkees (que o canal de TV NBC
produziu e levou ao ar entre 1966 e 1968), a animação A Turma do Archie (criação da emissora CBS que durou de 1968 a
1969, e revelou a banda The Archies)
e, acreditem, até um desenho animado dos Beatles
(sim, isso existiu e deu origem à onda, com 39 episódios que o canal americano
ABC levou ao ar entre 1965 e 1969), a dupla de cartunistas William Hanna & Joseph Barbera resolveu faturar com a
tendência. E lançou, uma atrás da outra, séries animadas estreladas por grupos
de personagens que, além de viver aventuras e desvendar mistérios, também
tinham uma banda de música nas horas vagas.
Deu
certo. Criações clássicas da dupla surgiram graças a essa fórmula: Josie
& As Gatinhas, Tutubarão, Charlie Chan & Família,
Gatolândia
e claro, o épico, inesquecível e insuperável desenho mais famoso que seguia esta receita: Os Impossíveis.
Assim
como os desenhos da concorrência, as adoráveis pirações roqueiras inventadas
pela Hanna Barbera tinham como alvo os públicos teen e pré-adolescente, e não
só a criançada. Na verdade eram todas variações sobre o mesmo tema: grupo de jovens
(ou família com filhos adolescentes) que forma uma banda musical e, nas horas
vagas, dedica-se a resolver mistérios (ou seria o contrário?). A produção, por
ser praticamente industrial, era o básico do básico: cenários com poucos
detalhes (pelo menos em comparação ao que H&B faziam nos tempos da primeira
versão de Tom e Jerry), personagens cuja expressão facial se limitava à
boca mexendo e/ou os olhos piscando, e aqueles mesmos efeitos sonoros
impagáveis que já renderam até um álbum só com eles (foto abaixo) - infelizmente, não lançado no Brasil #PraVariar. Alguns desses desenhos
tinham até claque gravada, o que só torna tudo mais hilário e bizarro ainda.
Havia,
porém, muito mais aspectos positivos do que negativos nos desenhos do hit parade de William Hanna & Joseph
Barbera: personagens carismáticos, enredos que prendiam a atenção, aquele
visual bem sessentinha e setentinha que era um barato, e uma trilha sonora que,
vamos combinar, era bem melhor do que
muita coisa que toca no rádio hoje.
Vamos
então dar uma viajada e relembrar os personagens H&B que fizeram o deleite
dos nossos olhos e ouvidos na infância:
OS IMPOSSÍVEIS (1966)
Foi o primeiro projeto da Hanna
Barbera dentro do conceito “desenho de banda”. Baseava-se, claro, num grupo
musical chamado Os Impossíveis que, na verdade, era composto por três
super-heróis disfarçados. Os vilões que eles combatiam eram as figuras mais xaropes
do universo, como o Perigoso Boneco de Papel. Na segunda temporada da série
(que infelizmente durou apenas um ano), entrou em cena o personagem
Frankenstein Junior.
O som e o visual do grupo se
pareciam descaradamente com os dos Beatles (de propósito, é óbvio!), e isso foi
um dos motivos do sucesso estrondoso do desenho mundo afora – inclusive no
Brasil. William Hanna e Joseph Barbera perceberam, então, que ali havia uma
mina de ouro.
A TURMA DA GATOLÂNDIA (1969-1971)
JOSIE & AS GATINHAS
(1970-1974)
Lançado para competir com o desenho do grupo The
Archies, e também para atrair um público feminino maior, este clássico cultuado
pelas meninas da época trazia um grupo de garotas que vestiam trajes com
estampa animal e cantavam e tocavam rock. Elas viajavam pelo mundo fazendo
turnês, e entre um show e outro se metiam em estranhas aventuras, enfrentando
aqueles vilões inacreditáveis que só a Hanna Barbera sabia criar. Foi o
primeiro desenho a apresentar uma personagem afro-descendente fixa em seu
elenco de personagens – a esperta Valerie, que tocava pandeiro no grupo. Assim
como havia ocorrido com The Archies, o desenho originou uma banda na vida real,
com cantoras escolhidas pelos produtores. Quanto à trilha sonora, sinceramente,
elas deixavam as Spice Girls no
chinelo.
AS AVENTURAS DE CHARLIE CHAN
(1972)
Baseado nas histórias do detetive
chinês Charlie Chan (aquele que tinha 128 filhos). O dublador Keye Luke foi o único ator realmente de
origem chinesa a interpretar o personagem, que já havia sido vivido também no
cinema. Outra curiosidade: a voz do personagem Stanley cantando era feita por
ninguém menos do que Ron Dante, o
vocalista (e faz-tudo) da banda The Archies. A música-tema instrumental de
abertura, aliás, era uma das mais grudentas da história do desenho animado.
Aliás, sabem quem era o produtor da trilha? Don Kirschner, o mesmo do The Monkees.
BUTCH CASSIDY & THE SUNDANCE KIDS (1973)
Mais um desenho rock and roll da
H&B, cujo título aproveitava o sucesso do filme de 1969 (que na verdade
nada tinha a ver com o desenho) Butch
Cassidy & Sundance Kid. A história merecia nota zero no quesito
originalidade: grupo de jovens que levavam uma vida dupla como combatentes do
crime e banda de música nas horas vagas (ou o contrário, se você preferir). O
grande barato da série era o fato de o grupo ter um cachorro chamado Elvis, e
um supercomputador (coisa avançada pra época). Na trilha sonora, pop-chiclete
anos 70 no ‘úrtimo’.
A FAMÍLIA DÓ-RÉ-MI (1974-1977)
A história sobre como
surgiu este desenho é saborosa. Em 1974
(o ano em que eu nasci!), a Hanna Barbera teve a idéia de criar uma atualização
do adorado clássico The Jetsons, com o garoto Elroy sendo mostrado como um
adolescente e sua irmã Judy trabalhando como repórter. A CBS, emissora que
exibia o desenho, recusou isso. A saída foi adaptar os personagens da famosa série
live action A Família Dó-Ré-Mi, só que em uma versão futurista, com a família
vivendo no ano de 2200 (!!!). Na série apareceram os novos personagens Veenie
(amigo venusiano de Keith) e Marion (amiga marciana de Laurie). Danny tinha um cão-robô chamado Orbit.
O único “buraco” no
roteiro foi a falta de explicação sobre como a família foi parar num ano tão
distante no futuro, de repente. Mas isso são detalhes
sem muita importância...
TUTUBARÃO (1976-1978)
Outro clássico absoluto!!! Pegando carona no sucesso do
aterrorizante filme Tubarão, de Steven Spielberg, William Hanna e &
Joseph Barbera criaram “um peixão que tinha um enorme coração” e uma turma de
colegas roqueiros com um pé na disco
music (também, olha a época em que o desenho foi feito!).
O sorridente bicho também tocava
bateria na bandinha de seus amigos humanos. Dizem que a inspiração para os
trejeitos dele foi o Curly, dos Três
Patetas. Tutubarão juntava as
fórmulas do futurismo (a história se passava, acreditem, no fundo do mar no ano
de 2076), já utilizada em Os Jetsons
e Família Dó-Ré-Mi, com a do “grupo
de adolescentes com animal de estimação que fala”, consagrada em Scooby
Doo. O jargão “Não tem mais respeito!” (“I get no respect!”) , que Tutubarão vivia repetindo, foi copiado
do comediante Rodney Dangerfield. O
outro bordão do personagem (esse sim todo mundo lembra!) era “Nhac Nhac!”.
Donos
de um tino comercial só comparável ao de Walt
Disney, William Hanna e Joseph Barbera aproveitaram cada gotinha do sucesso
de suas criações, faturando com inúmeros produtos, como bonecos, camisetas, e
principalmente revistas em quadrinhos e para colorir (Eu tive! Eu tiveee!!!).
Vamos combinar: os caras eram gênios, criavam desenhos por encomenda para
diversos canais de TV dos EUA ao mesmo tempo (algo que hoje em dia seria
inadmissível) e seu trabalho tinha qualidade e inventividade – tanto é que
conseguiu resistir ao tempo. Gente genial, que ama o que faz, merece cada
centavo da fortuna que ganha. E no caso específico de William Hanna e Joseph
Barbera, eu ainda acho pouco.
Menina, eu era louca - LOUCA - por todos esses desenhos! somos contemporâneas, Renata. Meu favorito era Josie e as gatinhas e eu brincava de ser a doidinha Melody.
ResponderExcluirLembro que o sbt tb passava uma outra série de desenho musical chamado Viagem Fantástica (creio eu), cujo protagonista desenhado era o cantor Rick Springfield, que fazia a dublagem. Era muuito lisérgico, hehe.
OI, Ana! Somos contemporâneas mesmo! :) Não me lembro do "Viagem Fantástica", mas vou dar uma fuçada no You Tube pra ver se eu acho. Aliás, falando em You Tube, em breve vou fazer umas playlists no canal do POltrona R só com estas preciosidades. Obrigada por curtir meu blog! Bjs
ExcluirPerdão pelo flood, mas lembrei de uma série live action chamada Os Bugaloos, que girava em torno de um grupo musical composto por 4 jovens hippies protetores das florestas com asas, que viviam escapando das armações de uma bruxa que queria destruir o bosque encantado. Nossa, eu amava...
ResponderExcluirNão é flood, não! Vixe, você me pegou de novo! O único Bugalu que eu me lembro era aquele bonecão do programa do Gugu...
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