Se você é daquelas pessoas que acham
que Walt Disney era apenas “aquele
cara que fazia desenhos pra criança, cheios de princesinhas, principezinhos, fadinhas,
bruxinhas, ursinhos, monstrinhos e outros inhos
e inhas”, esteja preparado para o que
você vai ver agora. Pouca gente sabe, mas o mestre que transformou os desenhos
animados em uma potência na indústria do entretenimento chegou a criar um
curta-metragem de animação em parceria com ninguém menos do que Salvador Dalí (1904-1989).
O encontro de Walt com o artista
espanhol aconteceu em meados dos anos 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. Na época, Salvador Dalí tinha acabado de se
mudar para os Estados Unidos com sua esposa, Gala. Walt Disney o convidou para criar uma obra de arte em
parceria com ele. Ambos tiveram a ideia de desenvolver um filme baseado na arte
surrealista de Dalí, utilizando as técnicas de animação da Disney. Porém, com o
processo de produção já tendo sido iniciado, Walt ficou sem grana para dar
continuidade ao projeto – isso devido ao fracasso de bilheteria de “Fantasia”.
Resultado: foram produzidos apenas 17 segundos do curta, batizado de “Destino”.
A inspiração para o desenho, bem como
seu título, foi a canção “Destino”, do compositor mexicano Armando Rodríguez, e interpretada pela cantora Dora Luz. E o animador dos estúdios Disney, John Hench, criou o storyboard
em parceria com Dalí, entre os anos de 1945 e 1946. Por causa da montanha de
dívidas que a Walt Disney Company vinha acumulando na época, Hench armazenou
estes 17 minutos do projeto não concluído, na esperança de que Walt resolvesse
retomá-lo. Mas “Destino” foi
considerada uma produção financeiramente inviável, e, portanto, o projeto acabou
sendo abandonado e esquecido.
Mas em 1992, o desenho de 17 segundos
foi encontrado pelo jornalista Christopher
Jones, que contatou Roy Disney
(irmão de Walt) para lhe contar sobre a existência desse material. Roy, então,
resolveu chamar John Hench para dar continuidade a “Destino”. Feliz da vida, Hench aceitou na hora.
Para decifrar os delírios que Hench e
Dalí haviam criado nos storyboards e,
assim, finalizar o projeto, uma equipe de 25 animadores foi contratada. As
anotações que haviam sido deixadas por Gala serviram como ajuda também. E por
falar em ajuda, um pouco de computação gráfica foi utilizado, principalmente
para a restauração do trecho original e sua integração perfeita ao novo
material produzido. Como diretor, Roy Disney escolheu o francês Dominique Monfrey, de “Mogli,
O Menino Lobo 2”. O resultado final ficou com cerca de 6 minutos de
duração.
“Destino” é a
história do amor impossível entre Chronos, o deus tempo, e uma bela mulher
mortal. Em vez de diálogos, os criadores optaram por utilizar somente a trilha sonora,
o que nos dá a sensação de estar assistindo a um balé. Ou, talvez, a um sonho
indecifrável, mas de uma beleza poderosa e comovente. Não dá para dizer que se
trata de um desenho destinado ao público infantil – até porque esta não era a
proposta dos autores.
Para quem quer saber qual trecho do
desenho são os 17 minutos originais, trata-se do trecho entre 05:02 e 05:19, em que (olha o spoiler!)
um jogador de beisebol encontra duas figuras que parecem tartarugas. Segundo a
explicação de Disney, o beisebol era uma metáfora da vida.
“Destino” foi
lançado em 2003, tendo sido exibido em festivais de cinema mundo afora e
recebido diversos prêmios. Além disso, recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Curta-Metragem de
Animação naquele mesmo ano. Merecidamente - até os créditos são lindos.
Assista ao desenho no link abaixo:
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