Ele se acha mais esperto do que a maioria, adora se meter em confusões e fez parte da infância de muita gente, inclusive da desta que vos fala. Mas pouca gente conhece a origem desse personagem tão querido, nem a história curiosa que o envolve. Tô falando do Yogi Bear, ou, como é conhecido no Brasil e em Portugal, Zé Colmeia.
Quem
é da minha geração certamente se lembra do desenho Dom Pixote, um cachorro azul cujo bordão (“Ó querida, ó queriiiida Clementinaaaa!!!”) era tão propositalmente
irritante que fazia o público rir. (https://www.youtube.com/watch?v=YxvxdStL75U) A série Dom Pixote foi criada em 1958 pela Hanna Barbera e teve sua produção
patrocinada pela Kellogg’s (eles
mesmos, a marca de cereais). Pois bem, o urso Zé Colmeia surgiu como um
personagem secundário dos desenhos do Dom Pixote, e era para ele não ser nada
além disso.
Porém, a resposta do público foi tão absurdamente positiva que o
coadjuvante ofuscou o astro canino, e em 1961 o Zé ganhava sua própria série de
desenhos, que depois daria origem a outras séries. Sem falar que ele ainda virou
brinquedo, revista, e uma inimaginável quantidade de produtos, e é até hoje uma
das mais clássicas e adoradas criações dos mestres William Hanna e Joseph Barbera.
Agora
vamos ao que interessa. A maioria dos personagens da Hanna Barbera (de quem
todo mundo aqui sabe que eu sou fã incondicional) satirizava alguma personalidade
da época em que foram criados. Grande parte deles era caricatura em forma de animal, para horror de certos intelectuais,
que odeiam que se use bichos com características humanas para contar histórias
para crianças. Ao criar Zé Colmeia, Hanna e Barbera se inspiraram em uma
celebridade altamente popular naqueles tempos: o jogador de beisebol Yogi Berra (daí o nome original, Yogi Bear, urso Yogi, um trocadilho com
o nome do atleta).
Embora
fosse um craque em seu esporte, Yogi Berra (1925-2015) celebrizou-se também por
suas entrevistas absurdas, nas quais soltava pérolas como “O jogo não termina antes de acabar” e “Se você não puder imitar uma pessoa, não a copie”, ou “Metade das mentiras que me contam não é
verdade”, ou ainda, “Se eu não
tivesse acordado, estaria dormindo agora”. Em 1958, ele já brilhava na
mídia dos EUA tanto por causa de seu talento esportivo quanto por seu talento
para dizer, digamos, frases peculiares. William Hanna, Joseph Barbera e a
galera toda do seu estúdio de animação bolaram um personagem que parodiava não
apenas o jeitão e a personalidade do jogador, como também o seu nome: o Yogi
Bear.
O
fato é que o personagem explodiu, e Berra não achou a menor graça na
brincadeira: irritado com a “homenagem”, processou Hanna e Barbera por
difamação, e pelo quase-uso do seu
nome. Acabou se dando mal: os cartunistas, acredite, alegaram que o nome e as
características do personagem eram “mera
coincidência”, e venceram a briga judicial. Porém, várias fontes ligadas
aos estúdios HB afirmam o óbvio – o urso foi, sim, inspirado no esportista.
Parece coisa de brasileiro...
Texto publicado originalmente no blog Bláh Cultural