Existem artistas que são vergonhosamente pouco
lembrados. Vergonhosamente, eu digo, pelo talento que possuíam, pelos trabalhos
inesquecíveis que fizeram, e pelas conquistas que obtiveram na carreira. Um
desses artistas é a americana Ethel
Smith (1902-1996). O nome pode não soar familiar para você, mas com
certeza, em algum lugar da sua infância, você deve ter visto o desenho “Tempo
de Melodia”, de 1948, do mestre Walt
Disney. Nele há uma cena em que o Pato
Donald, Zé Carioca e um pássaro
doidão ficam meio chapados com uma bebida (bem forte, pelo visto), e têm um
delírio coletivo no qual uma bela moça aparece tocando uma música contagiante
em um órgão. Aquela moça era Ethel Smith.
Nascida Ethel Goldsmith, ela começou a tocar
ainda criança. Como viajava muito, conhecia estilos musicais do mundo inteiro,
mas os ritmos latinos tornaram-se
sua paixão... e sua especialidade. Durante o período em que viveu na América do Sul, tornou-se craque em
executar canções locais, principalmente música
brasileira.
Sim, o maior hit de Ethel é a sua versão de Tico-Tico No Fubá, que fez parte da trilha do maior sucesso da Sereia de Hollywood Esther Williams, “Escola de Sereias”, que os mais velhinhos como eu devem se lembrar de ter visto umas 800 vezes na Sessão da Tarde Que Prestava. Nele, a própria Ethel aparece interpretando a canção, acompanhada por uma orquestra de moças, e até dando uma canja no pandeiro enquanto tocava teclado, em um número simplesmente épico.
Absurdamente talentosa, porém jovem e bonita
demais para ficar escondida atrás do teclado, Ethel foi parar no cinema naturalmente,
porque chamou logo a atenção dos produtores de Hollywood. Sua marca registrada eram os figurinos coloridos e
chamativos, e especialmente os chapéus exóticos. Entre os trabalhos mais
famosos da artista nas telas, está também o filme “Quem Manda É O Amor”
(1946), no qual Ethel teve o privilégio de fazer uma participação especial. Sim,
privilégio, porque este classicaço da chamada Era das Pin-Ups era estrelado por um dream team que incluía Van Johnson e as pin-up divas Esther Williams e Lucille
Ball, e teve Buster Keaton como
um dos diretores.
Ao todo, Ethel gravou 11 singles e 29 álbuns em
sua carreira. Ela também tocava violão, e chegou a se apresentar ao vivo como
violonista em seus últimos anos de vida, mas todas as suas gravações foram como
organista. Foi casada duas vezes. O segundo casamento, aliás, foi com o ator Ralph Bellamy (1904-1991), e durou dois
anos. Quando os dois se divorciaram, em 1947, Ethel estava no auge da fama, e o
fim da união do casal chegou a ser destaque na imprensa.
Entre seus diversos trabalhos, Ethel gravou até uma música, Monkey On A String, para um programa infantil da TV americana,
em 1952. Os grandinhos também gostaram da canção, que fez muito sucesso na
época.
Ethel Smith “foi embora” aos 93 anos de idade, após uma
vida inteira dedicada à música. Ela foi a prova viva de que beleza e talento
podem andar juntos e fazer sucesso e dinheiro – sem um pingo de vulgaridade.
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