Elenco: Michael Landon, Stella Stevens, Lorne Greene,
Albert Salmi.
Duração: Aprox. 50 minutos
Colorido
Gravadora: London Films
Os quarentões e cinquentões fãs de
cultura pop certamente não vieram a esta página por acaso – a série “Bonanza”
fez parte da nossa infância. Contava a história de um fazendeiro, Ben Cartwright (Lorne Greene) e seus três filhos, Little Joe (Michael Landon),
Adam (Pernell Roberts) e Hoss (Dan Blocker) que lutavam para defender sua
propriedade no Oeste dos EUA, no século XIX. Era exibida no Brasil nas noites da Rede Record, e juntava pais e filhos na
frente da televisão. Topei com este DVD
e não resisti em levá-lo para casa e assistir. Não me arrependi. Trata-se de um
episódio da série feito em 1960, mas que é extremamente atual em
tudo – tão atual que poderia ter sido feito hoje. A direção é de ninguém menos
que Robert Altman, o mesmo de clássicos
como “Popeye”
(1980) e “Prét-A-Porter” (1994), e que aqui também faz um
trabalho extraordinário. Stella Stevens,
a atriz que mais tarde brilharia ao lado de Jerry Lewis, rouba a cena em “Bonanza: Trovão Silencioso”,
extremamente convincente em um papel dramático. Ela é Annie Croft, uma bela jovem surda-muda maltratada pelo pai, Sam Croft (Kenneth MacKenna), que a culpa porque sua esposa morreu ao dar à
luz a moça. Albie (Albert Salmi), um grandalhão asqueroso
e covarde, tenta aproveitar do fato de a garota não falar nem ouvir para violentá-la.
Comovido com a situação de Annie, Little Joe resolve ajudá-la a se comunicar,
ensinando a ela a linguagem de sinais. A boa intenção de Little Joe tem conseqüências
imprevisíveis. O episódio trata de temas que hoje vem sendo discutidos como
nunca – inclusão social, preconceito, violência contra mulheres e contra
portadores de deficiência. A única desvantagem é que os personagens Adam e Hoss
não aparecem em nenhuma cena, mas isso não chega a prejudicar a trama.
CURIOSIDADES
● “Bonanza” estreou na televisão
norte-americana em 1959, e ficou
no ar até 1973. É uma das séries
mais longas e bem-sucedidas de todos os tempos, e muitos críticos a consideram
a melhor série western já feita.
● Lançada e exibida pela emissora NBC, “Bonanza” foi feita em
parceria com a fábrica de televisores RCA
Victor, com o objetivo no mínimo óbvio de ajudar a vender mais aparelhos.
●O termo “bonanza” era uma
gíria utilizada na época em que a história se passa, e significava um grande
veio ou depósito de minério.
●Nenhuma das mulheres da trama que se envolveu amorosamente com um dos
homens da família Cartwright terminou com eles. Todas essas mulheres sempre iam
embora ou faleciam. Isso foi uma decisão dos produtores, que foi mantida até o
final, embora deixasse o público meio chateado.
●A maravilhosa abertura da série,
com o mapa da fazenda pegando fogo, marcou época https://www.youtube.com/watch?v=VXJ6zPYCwbE.
Na versão original da música-tema de abertura, aliás, era o instrumentista
brasileiro Laurindo Almeida quem
tocava banjo.
● Já andei ouvindo boatos sobre um futuro novo remake de “Bonanza”, e
digo: “NÃO!”. Uma “tetralogia” de filmes baseados no seriado já foi feita, entre
1988 e 2001, estrelada pelos filhos dos atores da série original, mas sem tanto sucesso. Então, não se arrisquem a fazer uma
segunda refilmagem, please!
Acreditem, o público, em sua maioria, agradece de coração. #MenosRemakesMaisReprisesPorFavor
EXTRAS
Somente um texto contendo uma breve história do seriado. Ainda assim,
vale a pena dar um “pause” e ler.
EMBALAGEM
BEM básica, o que tem a vantagem de baratear o custo do DVD. Há pelo
menos quatro versões diferentes da capa (!!!), e a versão que eu tenho é a que
foi postada nesta matéria.
Trailer do filme
Como não há trailer nem
nada parecido no You Tube, optei por
postar uma das cenas do DVD – legendada (graças a Deus!).
Você já ouviu falar de RC Cola, ou Royal Crown Cola? Trata-se de um refrigerante inventado nos Estados Unidos, em 1905, pelo farmacêutico (sim, farmacêutico) Claude Hatcher. O nome original que Hatcher deu à sua criação foi Chero-Cola (imagine um refrigerante com
um nome desses no Brasil!), mas em 1934
houve uma mudança total na fórmula do produto e o nome também mudou (graças a
Deus), para Royal Crown Cola.
Encontrada em 70 países, é o terceiro refrigerante
de Cola mais vendido do mundo, ainda que bem abaixo das concorrentes Coca-Cola e Pepsi, respectivamente. Chegou, inclusive, a ser lançado no Brasil em 2013 (fiquei surpresa com essa informação, pois nunca vi Royal Crown Cola em nenhum supermercado
daqui).
Mas não é isso o que importa nesta
matéria, e sim o fato de que a Royal
Crown Cola é tida como um verdadeiro ícone americano. E bota ícone nisso.
Durante as décadas de 1940, 1950 e 1960 (especialmente na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial), a RC Cola fez campanhas de marketing
milionárias, contratando os maiores divos
e divas de Hollywood daquela época para posar para seus anúncios. As
propagandas, na verdade, eram todas muito semelhantes. A foto de um ator
(principalmente uma atriz), em pose considerada “generosa” e com um sorrisão no
rosto, e uma frase do tipo “RC Cola é a minha favorita” – essa receita sempre
funcionava para fisgar o consumidor.
Outra estratégia da RC Cola era patrocinar programas de televisão e festivais de
música, como os shows da cantora Nancy
Sinatra, em 1968. “Royal Crown Cola, a Cola muito, muito
louca!”, cantarola ela neste comercial.
Separei aqui alguns desses anúncios "estrelados" para vocês verem. Vamos a eles.
Hedy Lamarr, 1946
John Wayne, 1948
Betty Grable, 1944
Paulette Goddard, anos 40
Shirley Temple (sim, é ela, em sua fase adolescente), 1944
Bing Crosby, anos 40
Lucille Ball, 1946
Barbara Stanwyck, 1946
Gary Cooper, 1941
Rita Hayworth, 1944
Lizabeth Scott, 1946
Gene Tierney, 1945
Nancy Sinatra, 1968
Jerry Lewis, anos 70
E, agora, para fechar com chave de ouro, o supra-sumo da bizarrice: uma carta da Royal Crown Cola cumprimentando ninguém menos do que Joan Crawford por ela ter ganhado o Oscar pela sua atuação no filme "Mildred Pierce - Alma Em Suplício", de 1945. Por que isso é bizarro? Simplesmente porque em 1945 Joan mal sabia que, exatos dez anos depois, iria se casar com o dono da Pepsi Cola! Aliás, é a Joan Crawford quem aparece no anúncio (de 1933) que você vê no topo dessa matéria. Realmente, a História do cinema tem histórias incríveis.
Eu tinha vontade de postar essa série
aqui faz um tempão. Mas só agora consegui achá-la completa para escrever uma
matéria sobre ela. Em agosto de 1978,
Roberto Bolaños vestiu a fantasia de
Chapolin Colorado em uma sequência
de 6 episódiosespeciais, em que ele faz uma homenagem
ao cinema e à importância da sétima
arte na vida das pessoas. Durante a ‘chapolínica’ minissérie “O
Show Deve Continuar”, ele e o elenco todo de “Chaves” e “Chapolin”
revivem personagens importantes das telas, como Don Quixote, Frankenstein,
Guilherme Tell e até a Pantera Cor de Rosa (a do desenho, não
o personagem de Peter Sellers).
Cada episódio costura paródias de
filmes clássicos com cenas em que um velho e e nostálgico funcionário de um
estúdio de cinema (vivido por Ramón
“Madruga” Valdez) divide com Chapolin histórias e lembranças de seu trabalho
no local. O idoso chama o Chapolin Colorado para salvá-lo porque o estúdio será
destruído e um condomínio construído em seu lugar. Através do personagem de
Ramón Valdez, o velhinho amante da sétima arte e ex-funcionário de um estúdio
de cinema, Bolaños transmite ao telespectador toda a importância que tem a
preservação da história da cultura e da arte. Juro que no começo do primeiro
episódio me deu uma tristeza incrível, por ele e por mim, que há anos vejo clássicos
que eu cresci assistindo serem simplesmente apagados das emissoras de televisão
(abertas e a cabo) do meu país.
É extremamente curioso ver os atores
que se eternizaram como Chaves, Dona Florinda, Kiko e toda a turma da Vila
em papéis tão variados e com caracterizações curiosas e divertidas (Ramón
Valdez, por exemplo, vestido de Pantera Cor de Rosa, vestindo um macacão pink
com orelhinhas e rabo é de chorar de rir). A Rainha de Sabá versão “black
power anos 70” feita por Maria
Antonieta (a Chiquinha) é outra
grande sacada. Maria Antonieta brilha também no sketch “Madame Butterfly”, que
faz uma zoação bem sacana com o puritanismo e o ego inflado dos
norte-americanos. Uma referência ao cinema
mexicano também é feita, com uma sátira ao filme “Deus lhe Pague”, de 1948, estrelado por Arturo de Cordova (1908-1973) (https://www.youtube.com/watch?v=xN-8HYnzTyA).
Juntos, Roberto Bolaños e Edgar Vivar
(o Seu Barriga e o Nhonho) revivem o Gordo e o Magro. Florinda
Meza ficou perfeita homenageando Carol
Burnett, a grande comediante americana que sempre aparecia no final de seu programa de TV vestida de empregada
doméstica (https://www.youtube.com/watch?v=92lBJ-eGhno).
Carlos Villagrán tem a oportunidade
de encarnar o mito Jerry Lewis, de
quem ele até hoje é fã doente. E Ruben
Aguirre transforma-se em um “Frankenstein
babaca” sensacional.
Mas o mais impressionante é a
imitação que Bolaños faz do seu maior ídolo, Charles Chaplin (já escrevi uma matéria sobre essa imitação, em http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/07/direto-do-you-tube-charles-chapolin-ou.html).
Bolaños também me emocionou vivendo Gene Kelly em “Cantando na Chuva”. Se alguém ainda
tem dúvida de que ele não era apenas Chaves e Chapolin, vai perder de vez a
dúvida ao assistir a esta minissérie.
O roteiro tem muito mais a ver com o
estilo de Roberto Bolaños do que propriamente com o dos filmes homenageados, o que
não é de forma alguma negativo – trata-se justamente da história do cinema
vista pelos olhos de Bolaños. Outro atrativo da saga é “desmascarar” algumas
das ilusões criadas pelo cinema, como a bala de canhão que é, na verdade, uma
bola comum pintada de preto, ou os cenários que parecem fachadas de casas, mas
que não passam de placas de madeira.
Tomara que “O Show Deve Continuar”
incentive, com seus 6 episódios, os fãs de Roberto Bolaños a se interessarem
mais pela história do cinema. Espero que pelo menos os mais fanáticos pelo
mestre mexicano vençam o preconceito e vão atrás dos clássicos originais que
inspiraram os sketches da série – até porque grandes nomes são citados, como Boris Karloff, Cecil B. de Mille e Greta
Garbo. A mensagem final (não vou dar spoiler!) chega a dar um nó na
garganta. Bolaños era tão genial quanto alguns dos maiores mitos do cinema.
Embora nem o Chapolin Colorado nem qualquer outro herói possa salvar as novas gerações da ignorância, a Internet (graças a Deus!) vem fazendo isso. E eu tenho orgulho de estar participando
dessa preservação. “Sua atitude é
quixotesca”, diz Chapolin ao velho funcionário em uma das cenas. E a atitude
dos blogueiros como eu, que não temos outra pretensão além de espalhar cultura
e arte, é quixotesca, sim. Mas nosso trabalho é extremamente gratificante. Tomara
que mais gente quixotesca como nós surja no mundo. Sigam-me os bons!
Abaixo, estou postando o link da série completa dublada, com exceção do episódio 1, que postei legendado porque não encontrei dublado (mas é bacana ouvir as vozes originais dos atores, vai?).
Link para a playlist da saga “O
Show Deve Continuar” completa, no Canal
do Poltrona R no You Tube, pra você assistir a todos os 6 episódios na
sequência!
Se você também ama a obra de Roberto Bolaños, visite o site Fórum Chaves, é extremamente bem feito
e muito interessante. Link: http://forumchaves.com.br
Antes de Beyoncé, antes de Gisele
Bundchen, antes de Madonna,
antes até de Marilyn Monroe, houve RITA HAYWORTH. Artista talentosa,
corajosa e poderosa, ela desafiou a censura da sua época, salvou um estúdio de
cinema da falência duas vezes, bateu recordes de bilheteria, tornou-se a
primeira mulher a montar e administrar sozinha uma produtora de filmes,
enlouqueceu os homens ao tirar uma simples luva e virou referência de moda e
comportamento para as mulheres. Mas nada disso parece bastar para os críticos e
os estudiosos de cinema, que ainda a enxergam apenas como “uma moça com muitas
curvas e pouco talento”, ou como a “ex-mulher imbecil do gênio Orson Welles” ou como “a americana que
se casou com um sheik árabe e virou princesa antes de Grace Kelly”.
Não é só isso. Toda vez que se fala
em Rita Hayworth, sempre se menciona as tretas familiares e profissionais, a
vida amorosa cheia de escândalos que foi o deleite dos fofoqueiros e desocupados, e as
inúmeras mudanças de cores de cabelo que ela fez numa época em que ninguém
fazia isso. Como esta autora aqui já está de saco cheio de tudo isso, vamos
fazer esta homenagem à eterna Rainha da
Columbia Pictures falando daquilo que, sabe-se lá por que motivo, ninguém
comenta – a obra dela.
A menina espantosamente precoce que
nasceu no dia 17 de outubro de 1918
no lado pobre de Nova York (não, ela
não era mexicana nem porto-riquenha) veio do ambiente teatral. Seu pai, Eduardo Cansino, era um bailarino espanhol
nascido em Sevilha; sua mãe, Volga Hayworth, era americana, mas
descendia de uma tradicional família britânica. Ambos eram atores e dançarinos.
Margarita Carmen Cansino (sim, esse
era o nome de batismo da nossa Rainha) subiu no palco pela primeira vez aos
dois anos e meio de idade, e passou a infância nos palcos. Ela, na verdade,
nunca teve infância. “Em vez de bonecas,
me deram castanholas”, ironizou ela certa vez, em uma entrevista. Durante
todos os anos em que a precocidade da garotinha causou surpresa no público, foi
ela a principal atração dos shows itinerantes de dança e música que os Dancing Cansinos, a companhia de
artistas da família, realizavam pelas estradas norte-americanas. Dos 12 aos 15
anos de idade, ela e o pai faziam apresentações de flamenco em restaurantes e casas
noturnas do sul dos Estados Unidos e
da fronteira com o México. Margarita
só foi entrar na grande mídia aos 16
anos de idade, graças ao diretor da Fox
Films, que assistiu a uma apresentação e ficou abestalhado com o talento e o carisma daquela moça pequena e morena, e a contratou para trabalhar em seu estúdio,
onde ela estrelou meia dúzia de filmes obscuros com o nome de Rita Cansino. Depois disso, o então
produtor executivo da Fox, Darryl Zanuck,
a demitiu porque não sabia o que fazer artisticamente com ela (sim, você leu
direito).
Em 1937 ela se casou com Ed
Judson, um homem mais velho, extremamente esperto e bem relacionado, que
conseguiu para ela um teste na Columbia Pictures. Assim que viu o teste, o dono
do estúdio, Harry Cohn, assinou na
hora com ela um contrato de longo prazo. Ele considerou sua imagem “muito
mediterrânea”, com seus cabelos pretos e sobrancelhas grossas, e fez com que
ela perdesse peso e tingiu seus cabelos primeiro de castanho-escuro, depois de
ruivo. Além disso, ele mudou o nome dela para Rita Hayworth, para que ela se encaixasse em mais papéis.
Contrariando os que dizem que Rita se envergonhava de suas raízes espanholas,
ela mesma cansou de dizer que fez estas modificações apenas para se adequar a
mais personagens.
Fora dos palcos e das telas, Rita
anda era a mesma garota tímida que sempre tinha sido. O primeiro sucesso veio
em 1939, com um papel pequeno em “Paraíso
Infernal”. A jovem atriz chamou tanto a atenção do público que no ano
seguinte a Warner a contratou para
fazer “Uma Loira Com Açúcar” ao lado de Olivia de Havilland, que ainda surfava no sucesso da sua Melanie de “E O Vento Levou”. Foi um
estouro. O título original do filme, “Strawberry Blonde” (loiro-morango
ou loiro avermelhado) virou o apelido de Rita – o mais doido é que o filme era
em preto e branco e, portanto, não dava para ver a cor dos cabelos de nenhum
dos atores.
Em 1941, lá foi ela para a Fox fazer o papel de Doña Sol de Miura (uma personagem clássica da dramaturgia, e que
nunca foi para qualquer atriz) no maravilhoso filme “Sangue e Areia”, onde
ela contracenava com o genial e deslumbrante Tyrone Power. Ambos deram um banho de atuação e formaram um dos
casais mais quentes das telas, mas nunca tiveram nada na vida real. No mesmo
ano ela fez dois musicais, “Ao Compasso do Amor” e “Bonita
Como Nunca”, ambos com Fred
Astaire. Astaire, inclusive, sempre disse que a melhor parceira com quem
ele havia contracenado na vida foi Rita Hayworth.
A partir daí, não teve pra ninguém.
Rita emplacou um sucesso atrás do outro. “Minha Namorada Favorita”, de 1941 (com Victor Mature, ator e cantor lindo e maravilhoso que, dizem, teve
um caso com ela), “Seis Destinos”, de 1942,
“Modelos”,
de 1944 (cuja resenha você encontra
aqui no blog, em http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/07/dvd-modelos.html), “O
Coração de Uma Cidade”, de 1945.
Nessa época, Rita Hayworth já era chamada de Rainha da Columbia Pictures – primeiro, porque sozinha ela havia
transformado um estúdio pequeno e quase quebrado em uma potência; segundo,
porque seus filmes rendiam uma bilheteria fenomenal para a época; e terceiro,
porque não havia ninguém que se igualasse a ela dentro da Columbia em termos de
sucesso. Os maldosos até chamavam a Columbia Pictures de Rita Hayworth Pictures.
Em 1946 veio o filme que viraria do avesso a vida da nossa Rainha. Uma
produção despretensiosa, onde Rita fazia uma personagem sexy, ousada e
independente, porém egoísta e mau caráter – ou seja, o tipo que ela se consagrou
interpretando. Um triângulo amoroso com muita coisa nas entrelinhas. Um roteiro
absolutamente genial que tinha como características principais o pessimismo e a
ironia que foram a marca do cinema dos anos
30 e 40. Contracenando com Rita, mais um homem sexy: o lindo Glenn Ford. “Put the blame on Mame, boys!” Graças ao clássico “Gilda”, especialmente à cena em que ela dança tirando uma luva (https://www.youtube.com/watch?v=YnBmbsDan5s), Rita Hayworth virou musa dos soldados americanos da Segunda Guerra Mundial, que lhe deram inclusive o título de Deusa do Amor. Não foi só isso. Sua
imagem foi tão associada à personagem que isso lhe trouxe problemas pelo resto
da vida. A frase mais famosa de Rita Hayworth é justamente: “Todos os homens que eu conheci se
apaixonaram por Gilda e acordaram comigo.” (Já falei sobre "Gilda" também, em http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/02/ha-70-anos-nunca-houve-mulher-como-ela.html )
Na vida pessoal ela aparentemente
tinha muito sucesso também. Casou-se em 1943
com o polêmico diretor e ator Orson Welles, criador de “Cidadão Kane” (escrevi
sobre Orson e “Cidadão Kane” aqui no blog, a história é bem interessante http://poltrona-r.blogspot.com.br/2017/02/a-treta-historica-por-tras-de-cidadao_11.html).
Ao ficarem sabendo da união da estrela do momento com o cineasta, os haters (sim, essa praga já existia
naqueles tempos) disseram que aquele seria o casamento mais perfeito do mundo:
o cérebro se casando com o corpo. Na verdade, eram dois grandes talentos se casando e vivendo uma relação tumultuada,
que terminaria em 1947. Ambos
tiveram Rebecca, segunda filha de
Orson e primeira de Rita.
Aliás, a relação Rita + Orson foi um
capítulo à parte, também em termos profissionais. Disposto a mostrar que sua
esposa não era apenas uma moça bonitinha e sem talento (e ALGUÉM era sem
talento no cinema daquela época???), Orson fez com que ela cortasse os cabelos,
na época longos, ruivos e de dar inveja de tão lindos, e os tingisse de loiro
claríssimo para interpretar a personagem central do filme “A Dama de Shanghai” (1947). A transformação foi fartamente
fotografada, para criar mais publicidade. Diz a lenda que os estúdios da
Columbia foram inundados de cartas de fãs desesperados por uma mecha do cabelo
da nossa rainha. “Nossa, mas isso naquela
época?”, pergunta o leitor. Sim. Rita Hayworth foi pioneira nisso também.
Aproveitando o título de Deusa do
Amor que sua principal estrela tinha recebido do público, a Columbia Pictures
tratou de lançar, em 1947, o musical
“Quando
Os Deuses Amam”, com Rita Hayworth no papel de ninguém menos que Terpsícore, a deusa grega da dança e do
teatro - quer atriz melhor para fazer essa personagem?(http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/12/direto-do-you-tube-quando-os-deuses.html). Outro sucesso
estrondoso, que provocou desentendimentos financeiros entre a artista e Harry
Cohn. Isso a levou a criar sua própria produtora, a Beckworth Corporation. Era a primeira vez na história de Hollywood que
uma mulher fundava e administrava sozinha um estúdio de cinema. O problema era
que Rita não tinha meios de distribuir o filme sozinha, e criou uma parceria
com a Columbia para isso. Chamou Glenn Ford e o diretor Charles Vidor (ambos amigos dela, que haviam trabalhado com ela em
“Gilda”) e com eles fez “Os Amores de Carmen”, em 1948, um superclássico em que ela
interpreta a cigana Carmen (aquela
da ópera de Bizet) e arrasa nas
danças espanholas em que era craque. Glenn Ford fazia o papel de Don José – muita gente não gostou da
escalação dele para o personagem, mas eu achei perfeita. Como coreógrafo para o
filme, aliás, Rita contratou seu pai, Eduardo Cansino. Seu tio José Cansino e seu irmão Vernon também aparecem em cenas de
dança.
Naquele mesmo ano de 1948, Rita Hayworth conheceu o príncipe
Aly Khan, herdeiro do trono do Paquistão e um conhecido mulherengo. Ainda
legalmente casada com Orson, Rita começou a sair com Aly, o que fez com que a
mídia a atacasse no mundo inteiro. Em 1949,
já grávida da pequena Yazmin, a
Rainha da Columbia se casou com Aly em uma cerimônia luxuosa. Como Rita era a
mulher mais famosa do mundo na época e Aly um dos homens mais cobiçados, a
imprensa não deixou o casal em paz. O relacionamento foi desastroso, não só por
causa do choque de culturas, mas também porque Aly Khan, além de baladeiro, não
era homem de uma mulher só. O sonho de Rita Hayworth de construir uma família
foi mais uma vez por água abaixo, e ela, que havia investido tudo o que tinha
para montar sua própria produtora, voltou aos EUA sem dinheiro, com a filha no
colo e desesperada para retomar a carreira, que, aliás, era sua razão de viver.
De volta à América, Rita produziu e
estrelou em 1952 a obra que marcou
seu retorno à carreira artística: com uma imensa publicidade cujo slogan era
“Ela está de volta!”, o filme “Uma Viúva Em Trinidad” era dirigido por Vincent
Sherman, mas trazia no papel principal o amigo da atriz e eterno parceiro de
cena Glenn Ford, e foi uma tentativa de recriar o estouro de “Gilda” – mas não
caiu no gosto do público. Certas fontes, porém, afirmam que “Uma Viúva Em
Trinidad” teria lucrado um milhão de dólares a mais do que “Gilda”, o que fez a
Columbia voltar a faturar.
No ano seguinte, dois sucessos de
bilheteria (“Salomé” e “A Mulher de Satã”) e mais um casamento desastroso,
desta vez com o cantor Dick Haymes. Rita se livrou dele só em 1955, mas a esta
altura ela já vinha sendo prejudicada pela fama de mau caráter do ex-marido. Em
1957, veio o último filme musical da carreira da diva, e seu último trabalho na Columbia:
“Meus Dois Carinhos”, onde ela contracena com outro mito, o cantor Frank
Sinatra. Embora a atriz principal do filme fosse Kim Novak, embora Harry Cohn
quisesse que o nome de Rita viesse em terceiro lugar nos créditos (e, portanto,
depois dos nomes de Kim e Sinatra), e embora Sinatra e Rita não se dessem bem
como pessoas, o astro exigiu que o nome de Rita aparecesse em primeiro lugar,
tanto na abertura do filme quanto em todo o material publicitário. O motivo?
“Rita Hayworth É a Columbia Pictures e sempre será”, explicou Sinatra,
profético.
Também em 1957, maaaaais polêmica. Só
que desta vez foi nas telas. Em uma das cenas do filme “Lábios de Fogo”, a
personagem de Rita diz: “Eu não presto. Fui passada de mão em mão. Exércitos
marcharam sobre mim”. Essa fala chocou o
público e provocou ainda mais ataques à atriz.
Em 1958 veio “Vidas Separadas” e em
1959, “Heróis de Barro”. Nessa época ela conheceu o diretor James Hill. Ambos
ficaram casados até 1961, quando Rita exigiu divórcio alegando extrema
crueldade mental. Hill é autor de “Rita Hayworth: A Memoir”, uma autobiografia
extremamente odiada pelos fãs da artista. Nunca li, mas entre outras coisas, o
cineasta afirma no tal livro que o casamento com Rita acabou porque ele queria
que ambos continuassem fazendo filmes, enquanto ela desejava que ele largasse a
carreira junto com ela. Eu, assim como a maioria dos fãs, duvido disso.
Dos anos 60 em diante, a carreira da Rainha da
Columbia só foi ladeira abaixo. E sua saúde também. Durante as gravações de “O
Mundo do Circo” (1964), que ela estrelou com John Wayne e a jovem Claudia
Cardinale, houve suspeitas de que ela teria problemas com drogas ou bebidas. Na
época, Rita tinha apenas 46 anos, e frequentemente chegava atrasada ao set de
filmagem, e muitas vezes vinha bêbada e era grosseira, além de ter dificuldade
em decorar suas falas.
Mas o pior ainda estava por vir. Em 1972, Rita Hayworth queria abandonar a
mídia de vez por problemas de saúde, mas estava sem dinheiro. Atuou então em
seu último filme, “A Ira Divina”. Na mesma época ela fez várias participações
em programas da televisão americana (recentemente falei sobre uma delas aqui http://poltrona-r.blogspot.com.br/2017/03/direto-do-you-tube-rita-hayworth.html). Após receber o diagnóstico de Alzheimer, ela precisou largar de vez a carreira, passando
a ser cuidada pela filha Yazmin e deixando o palco vazio para um sem-número de
imitadoras, como a italiana Milva (https://www.youtube.com/watch?v=eLH4uIz724A)
e a francesa Dalida (https://www.youtube.com/watch?v=mqCv7r0nlEA) que, embora
talentosas, copiavam as danças, o figurino e até o corte de cabelo da Rainha. Por falar
nisso, Rita Hayworth tem muito mais fãs e mais respeito como artista na Europa
(principalmente na Itália) do que nos Estados Unidos. Mas seu maior fã-clube
está provavelmente na Argentina, onde há um culto a ela até hoje.
Rita Hayworth morreu em 14 de maio de 1987, na mesma Nova York
em que nasceu. Trinta anos depois, o trono da Columbia continua vazio. Nunca
houve mulher nem artista como Rita Hayworth. Nem antes dela, nem depois dela. Muchas gracias , Margarita!