Sempre impliquei com a expressão “filme de arte”. Acho-a
pedante, preconceituosa e, acima de tudo, redundante – cinema pra mim é arte e
ponto. O que acontece é que, como em toda arte, existem obras boas e obras
ruins. Mas arte é arte, e ponto final.
Segundo o dicionário, “arte” significa “Capacidade
que o homem tem de, dominando a matéria, pôr em prática uma idéia”. É o
mais próximo que se pode chegar de uma definição para algo tão complexo. Eu
diria que arte, mais do que isso, é manifestar o que você pensa e sente através do
domínio da matéria. De qualquer maneira, tanto num caso como no outro,
significa a criação de algo que manifeste uma idéia, não importando se este
algo é bom ou ruim.
Quando eu estava na faculdade e
alguém me convidava para ir ver filmes de arte, eu sentia o sangue ferver de
raiva. Como podia alguém ser tão preconceituoso e arrogante? Quem disse que
aquele filme que lotava os cinemas e ainda deixava filas quilométricas de gente
do lado de fora era necessariamente uma porcaria, ou que aquela produção
desconhecida dirigida e estrelada por gente que eu nunca tinha ouvido falar era
necessariamente uma obra-prima? E olha que naquela época, os anos 90, ainda havia blockbusters de
muita qualidade, como “Pulp Fiction”, enchendo as salas de
cinema.
Ao contrário do que vocês devem estar
imaginando, eu não tenho frescura. Desde moleca eu sofro de obsessão por cinema e procuro sempre ver de tudo, de tudo mesmo. Se gosto ou
não, são outros quinhentos. “Então, por
que você criou um blog só sobre filmes feitos até 1979?”, pergunta o leitor. Porque eu não queria fazer mais do mesmo.
Eu já estava cansada de ver blogs sobre “filmes antigos” que só falam sobre
clássicos feitos de 1980 para cá.
Era raro eu encontrar um blog sobre o cinema
pré-anos 80, e o pouco que eu encontrava não tinha a linguagem simples e
coloquial que eu via nos sites dedicados aos filmes das três últimas décadas.
Como uma pessoa que cresceu vendo produções de tudo que é época, eu achava (e
ainda acho) isso um absurdo.
Todo mundo tem um “podre cinematográfico”
pra esconder, todo mundo gosta de um filme ruim (eu, por exemplo, gostei de “Lambada,
a dança proibida”, hehehe...), mas pra mim cinema é sempre arte. Existe
arte boa e arte ruim, mas arte é arte. Embora eu concorde que a mídia esteja vivendo seu pior
momento em termos de qualidade (e eu já disse isso aqui), ainda há gente que se
esforça para criar obras pensando na qualidade, e não apenas na grana. Mas filme
é arte, seja qual for o seu objetivo,
é arte e acabou.
Aí você pensa: “Mas você, que tem um blog sobre cinema, não vai querer comparar uma
coisa tipo “O Ataque das Lesmas
Carnívoras” com “A Dama de Shanghai”, por exemplo!”.
Claro que não vou! São coisas beeeeem diferentes. Mesmo aquele filme caro, mas
péssimo, que foi feito só para vender produtos, aquele filme que tem efeitos
especiais a cada 2 segundos para disfarçar um roteiro ruim, é arte. Tão arte
quanto aquela produção genial criada com pouquíssima grana por meia dúzia de artistas
desconhecidos e praticamente amadores, mas talentosos e inteligentes, que não
têm espaço na grande mídia. Existem várias formas de criar obras de arte, e
existem obras de arte de todos os níveis de qualidade, mas todas elas são obras
de arte.
Não, eu não estou defendendo aqui a
produção de filmes de má qualidade. Estou defendendo a produção de filmes,
ponto. Mas acima de tudo, defendendo a liberdade de expressão. E é disso,
essencialmente, que a arte vive.
FONTE
Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Ed Nova Fronteira, 1993
FONTE
Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Ed Nova Fronteira, 1993
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