The Barefoot Contessa
Ano de produção:1959
Direção: Joseph L. Mankiewicz
Elenco: Ava Gardner, Humphrey Bogart, Edmond O’Brien,
Marius Goring.
Duração: 130 minutos
Colorido
Gravadora: MGM
Marcando a minha retomada deste blog após um longo e tenebroso inverno,
uma resenha da versão em DVD deste filme-bomba de 1954, que muitos dizem
ter sido inspirado na vida de Rita Hayworth (http://poltrona-r.blogspot.com/2017/05/rita-hayworth-1918-1987-30-anos-sem.html). Dizem até que o
papel principal teria sido oferecido à própria Rita, que (por motivos no mínimo
óbvios) teria recusado. O roteiro foi escrito pelo próprio diretor, criador de
outras pérolas igualmente polêmicas, como “A Malvada” (http://poltrona-r.blogspot.com/2017/04/dvd-malvada.html) e “De
Repente, No Último Verão” (http://poltrona-r.blogspot.com/2017/07/dvd-de-repente-no-ultimo-verao.html), ambos já resenhados neste blog. As
semelhanças do enredo com a trajetória de Rita Hayworth não são poucas:
dançarina espanhola de incrível beleza e talento é descoberta por um diretor de
cinema e levada para Hollywood, faz sucesso estrondoso nas telas do
mundo inteiro, mas não consegue encontrar o amor na vida real. Como é
característica da obra de Mankiewicz, o roteiro pinga veneno – neste filme,
contudo, o veneno é elevado à categoria master. É tanto sarcasmo que o
espectador mal consegue piscar entre uma frase ferina e outra. Logo na primeira
cena, Humphrey Bogart, na pele do cineasta e escritor Harry Dawes, já
manda essa: “Eu sou do tempo em que os filmes tinham só duas dimensões, ou
mesmo uma dimensão só” (sim, porque nos anos 50 os estúdios começavam a
lançar algumas produções em 3D de forma experimental). A trama, aliás,
começa praticamente do final, durante o enterro da estrela internacional Maria
D’Amata (Ava Gardner, no papel que fez sua carreira decolar), que nasceu Maria
Vargas, numa família humilde da Espanha, e até ser encontrada por um
olheiro americano, ganha a vida dançando flamenco em uma birosca da sua terra
natal. A cena que mostra a origem de Maria tem um início extremamente bem
sacado: da bailarina só se vê as mãos, enquanto a câmera passeia pelo
estabelecimento mostrando as reações dos frequentadores à apresentação da moça.
A primeira aparição de Maria em cena já a mostra como a mulher linda, geniosa e
indomável que ela é, e os pés descalços da personagem surgem nesta mesma cena,
antes mesmo que ela mostre o rosto, e aparecem mais vezes ao longo do filme
como um símbolo da natureza selvagem, porém vulnerável, da dançarina. A partir
daí, a vida de Maria é contada sob vários pontos de vista diferentes, todos de
homens que a conheceram: o próprio Dawes, o tosco e dissimulado executivo Oscar
Muldoon (Edmond O’Brien), e o conde italiano Vincenzo Torlato-Favrini (Rossano
Brazzi, ótimo), que se casou com Maria por causa da fama e da beleza dela,
pois ele próprio é um zero à esquerda – em todos os sentidos. A direção é
impecável, como seria de se esperar de um trabalho de Mankiewicz. Há quem até
hoje critique a escolha do elenco, mas eu discordo. Humphrey Bogart não demonstra
o mesmo pique de “Casablanca” e “Sabrina” (http://poltrona-r.blogspot.com/2017/06/dvd-sabrina.html), mas está
perfeito no papel e é a cara do cinismo do filme. Ava Gardner é a própria Maria
Vargas, eu não consigo imaginar mais ninguém no papel. Até mesmo Marius
Goring, que vive o latino-americano mauriçola Alberto Bravano em uma atuação
em atuação tão caricata que chega a lembrar Desi Arnaz no seriado “I
Love Lucy” (https://www.youtube.com/watch?v=n2uo1Q8F9BA), está ótimo. “A Condessa Descalça” é um programaço,
uma obra de arte para curtir com olhos e ouvidos bem atentos – caso contrário,
você perderá excelentes tiradas.
CURIOSIDADES
• A frase “O animal
mais belo do mundo”, que aparecia nos cartazes publicitários do filme,
ficou para sempre associada a Ava Gardner;
• Em “A Condessa
Descalça”, Ava Gardner dançou pela primeira vez em um filme – e
surpreendeu. Detalhe: a clássica cena em que ela aparece bailando em um
acampamento de ciganos teve que ser gravada ao som de tambores, pois o gravador
do estúdio que iria tocar a música pifou bem antes da filmagem.
• Em uma das cenas, Harry
Dawes diz em tom pejorativo: “Você está roubando diálogos da televisão!”
(sim, porque naquela época a TV estava surgindo e era uma novidade que começava
a gerar concorrência com o cinema. Chegou-se até a dizer que a telinha pequena
iria acabar com a telona. Para nossa alegria, isso até hoje não aconteceu!).
• O (pelo visto, extinto)
site Turner Classic Movies confirmou que a trama de “A Condessa
Descalça” foi, sim, inspirada no casamento de Rita Hayworth com o
sheik do Paquistão, Aly Khan. Oficialmente, o que
realmente se sabe é que há várias passagens da vida da própria Ava Gardner
incluídas na história, como o relacionamento dela com um milionário esquisitão
(o personagem do ator Warren Stevens é inspirado no magnata Howard
Hughes).
•
O
filme dividiu os críticos: alguns o consideraram cafona, grotesco e
ácido demais, e outros o classificaram de inteligente e explosivo, com
excelente direção e belas atuações.
• “A Condessa
Descalça” foi indicado ao Oscar em duas categorias: Melhor Ator
Coadjuvante para Edmond O’Brien e Melhor Roteiro para Joseph L.
Mankiewicz. Infelizmente, só O’Brien levou a estatueta para casa.
EXTRAS
Nenhum. Não há nem mesmo
outra opção de áudio que não seja em inglês, o que afasta os fãs de filmes
dublados. As legendas são em amarelo negritado, bem visíveis. Porém,
a tradução é sofrível, com vários erros, o que não chega a tirar o
prazer de ver o filme.
EMBALAGEM
Simples de tudo, porém com uma capa de bom gosto (que,
aliás, é a mesma lançada lá fora).
Link do trailer:
https://www.imdb.com/title/tt0046754/
https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Condessa_Descal%C3%A7a
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Barefoot_Contessa
https://en.wikipedia.org/wiki/Joseph_L._Mankiewicz
https://www.rottentomatoes.com/m/barefoot_contessa
https://www.britannica.com/topic/The-Barefoot-Contessa
https://variety.com/1953/film/reviews/the-barefoot-contessa-1200417621/