Este foi o ano mais
esquisito de todos os tempos. Estou anunciando que durante o Natal estarei de férias e não farei
publicações. Que
venha 2021, lotado de esperança e de
coisas boas! Abraços e muita gratidão por vocês terem me apoiado
nessa minha retomada do blog. Que Deus abençoe muito a vida de cada um de
vocês.Tenha
um Feliz Natal, seja qual for a sua crença. #PazNoMundo
Assíduos frequentadores
da “Sessão da Tarde” da Rede Globo nos anos 80 e musos das telas grandes
na década de 1950, Dean Martin e Jerry Lewis formaram uma dupla
de comediantes que inspira muita gente até hoje. Com um humor pastelão-raiz,
eles se complementavam: Jerry era o bobo alegre atrapalhado, e Dean
o amigo galã e pegador (Realista! Afinal, qual bobo alegre nunca teve um amigo
galã pegador, e vice-versa?). Os dois começaram a trabalhar juntos, acredite,
em 1946, em uma casa noturna. Estrearam no cinema em 1949, ano em
que, pelas mãos de Hal Wallis – ninguém menos que o produtor dos filmes
de Elvis Presley – ganharam papéis especiais no filme “My Friend
Irma” (https://pt.wikipedia.org/wiki/My_Friend_Irma).
A partir daí, foi um sucesso atrás do outro: “O Palhaço do Batalhão”
(1950), “O Rei do Laço” (1956), “Ou Vai Ou Racha”
(também de 1956), são títulos que estão no coração dos cinéfilos de
verdade. Os filmes não impediram Jerry e Dean de continuar
rodando os EUA com seus shows, sempre lotados. Como se fosse pouco, no
auge do sucesso os dois comediantes ganharam até um seriado na TV, “The
Colgate Comedy Hour”, patrocinado (isso mesmo) pela famosa pasta de
dentes. Olha aqui um episódio: https://www.youtube.com/watch?v=4T5HpN8B2Qo
Nem tudo, entretanto,
foram flores. Justamente no momento em que a popularidade de Martin e Lewis
atingiu o ápice, começaram as tretas. Os motivos são polêmicos até hoje. Tem
gente que diz que era ego (um com inveja do outro), outros afirmam que era
dinheiro (eles ganharam muita grana juntos), mas, durante uma entrevista
reveladora feita no ano de 2005 (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0111200527.htm),
Jerry Lewis contou algo inusitado: ele, na verdade, sentia culpa porque Dean
Martin não teve o reconhecimento que merecia. Segundo ele, Dean nunca teve
um ego grande, apenas ficava chateado de vez em quando. Era Jerry quem
se incomodava porque o amigo era visto como “canastrão” e “artista fabricado”,
coisas que, na opinião desta autora, Dean Martin jamais foi.
No auge da celeuma, em 1955,
com o povo especulando se Dean e Lewis estavam se estranhando por
causa de inveja ou de grana (ou das duas coisas), a dupla garantiu ao público
que os boatos sobre separação eram mentira, e fez isso cantando o clássico “Side
By Side” , música que estourou na época e é interpretada até hoje por humoristas de stand-up lá fora (https://www.atribuna.com.br/2.713/jerry-lewis-foi-um-g%C3%AAnio-desprezado-nos-eua-afirma-cr%C3%ADtico-1.31805).
Tudo teatro. Martin e
Lewis só se falavam durante as gravações dos filmes. Fora isso, não
trocavam uma palavra. O rompimento definitivo veio em 1956. A partir
daí, cada um seguiu seu caminho – Jerry como comediante e diretor de
jóias como a primeira versão de “O Professor Aloprado” (1963), e Dean
como cantor e ator. Raramente, praticamente nunca, se viam.
Em 1976, porém, Frank
Sinatra armou um reencontro-surpresa entre Dean Martin e Jerry
Lewis durante o programa “Telethon”, criado e apresentado
pelo próprio Jerry (e que ganhou um remake aqui no Brasil). Na
ocasião, fazia 20 anos que a parceria Martin-Lewis havia terminado. Sinatra,
amigo em comum, tinha ido participar do programa como uma das atrações. O resto
eu não vou contar, porque não dou spoilers. O vídeo deste momento tão
importante na carreira do "Amore" e do eterno palhaço está aí abaixo pra vocês conferirem - com direito a um musical de Sinatra e Dean Martin no final.
Realmente, é de arrepiar. Veja!
Washington
Olivetto, um cara que eu admiro muito, tem uma frase certeira:
“O segredo do sucesso de uma boa publicidade é transformar o consumidor em
mídia”. Ou seja, criar canções e bordões que façam sucesso com o grande
público e entrem para a cultura pop. “É uma propaganda gratuita, em que todo
mundo acredita”, diz o publicitário , responsável por obras de arte como o
arrepiante comercial da Folha de São Paulo que tinha a imagem de Adolf
Hitler e que propunha uma reflexão sobre os métodos da imprensa para
transmitir notícias. (O comercial foi premiado e era este aqui: https://acontecendoaqui.com.br/propaganda/comercial-hitler-e-um-dos-100-melhores-comerciais-de-todos-os-tempos).
Mas
como o papo aqui é cultura pop, esses dias eu estava inspirada e me peguei
cantando umas musiquinhas de comerciais antigos, todos eles do meu tempo de menina.
Era uma época em que as agências de publicidade entendiam a eficácia de jingles
bem-feitos e irresistíveis, que a gente saía cantando simplesmente porque não
conseguia tirar da cabeça. Essa tendência sempre existiu, mas explodiu nos anos
70 e 80. Foi a era dourada daquilo que eu chamo de pop chiclete
publicitário, ou seja, canções que viraram hits instantâneos e que, como
sabiamente disse o Olivetto, faziam com que todo mundo virasse
garoto-propaganda involuntário das marcas anunciadas.
Você
com certeza já ouviu o termo “boomer”. Nos EUA e Europa,
ele é utilizado para designar aquela geração que nasceu após o fim da Segunda
Guerra Mundial, pois nessa época houve o chamado “baby boom” (muitas
crianças nascendo muita gente tendo filhos). No Brasil, o termo “boomer”
é sinônimo de outra geração: a que veio ao mundo nos anos 70,
principalmente na primeira metade da década, ou seja, entre 1970 e 1974
(tipo eu). Foi nesse período que a explosão de natalidade aconteceu no nosso
país, graças ao chamado “Milagre Econômico”. O que isso tem a ver? Tudo.
Nos anos 70 e 80, as agências de publicidade sabiam que, sendo então as
crianças a maioria da população, era a elas que as propagandas tinham
que ser direcionadas – afinal, a molecadinha tinha influência sobre as decisões
de compra dos pais.
Pra
não perder a inspiração, corri pro computador e fiz essa matéria. Ranqueei
alguns dos hits mais bacanas (e claro, mais pegajosos) daquela época. São
anúncios que ficaram no ar durante anos, simplesmente porque o público
(crianças, em especial) os adorava. Algumas dessas marcas nem existem mais, eu
acho. Mesmo assim, não estranhe se você se pegar cantando uma dessas gloriosas
canções pop feitas pra vender de balas saborosas a veneno de barata. Quem tá na
casa dos 45 a 55 anosde idade, então, pode preparar o lencinho.
Uma chuva de ciscos vai cair nos olhinhos de vocês...
8 - “Primavera, Papel,
Primavera” (PRIMAVERA, Anos 70)
A marca de papel
higiênico tornou-se nacionalmente conhecida em meados da década de 70.
Existe a piada até hoje de que Primavera é o papel que "limpa, lixa e dá
acabamento” (entendedores entenderão). Chacotas à parte, o papel rosinha e áspero
(uiiiii) teve sua popularidade turbinada graças não apenas a este comercial e
sua trilha sonora, mas à personagem apresentada nele, a Menina Primavera.
Junte tudo isso ao fato de a propaganda ser um desenho animado, e pronto: as
crianças começaram a encher a paciência dos pais para que eles comprassem papel
higiênico da marca Primavera. Curiosidade: quem deu voz à Menina
Primavera foi Sarah Regina, que gravou em português diversas
aberturas de animações famosas, como “Sailor Moon” (https://www.youtube.com/watch?v=-IRzh9GtNyg)
7 – “Solte-se,
Liberte-se” (REXONA, 1976)
O jingle tocou no rádio e
em comerciais de televisão. O mote da campanha publicitaria era mostrar que o DesodoranteRexona dava liberdade para o consumidor fazer o que quisesse sem se
preocupar com aquele famoso cheirinho embaixo do braço... O criador da canção
foi ninguém menos que Edgard Poças, compositor de vários hits do inesquecível
grupo infantil Balão Mágico (https://pt.wikipedia.org/wiki/Turma_do_Bal%C3%A3o_M%C3%A1gico)
Ou seja, não foi só com o famoso conjunto da cantora Simony que Poças
fez parte da nossa infância...
6 – “Coca-Cola, Abra Um
Sorriso” (COCA-COLA, 1980)
Tendo nosso eterno “professor”
Chico Anysio como astro, a campanha publicitária iniciada em 1980
para o refrigerante mais famoso do mundo ganhou uma fatia inesperada do
público: as crianças. Lembro que a gente cantava essa música no recreio da
escola e criou até coreografia pra ela. Se a molecada já gostava de Coca-Cola,
imaginem depois disso... Nossos pais é que devem ter ficado de cabelo
em pé!
5 – “Café Seleto”
(SELETO, 1974)
Outro hit que já nasceu
clássico. A propaganda que celebrizou a tradicional marca de café mostrava
crianças em um sítio, em meio à natureza – a perfeita definição de paraíso,
principalmente para nós, a molecada da cidade. O jingle inesquecível foi criado
em 1974 (como diria Marcelo D2, o ano em que "o mundo começou,
pelo menos pra mim”). Foi tamanho o sucesso que a musiquinha foi reutilizada
durante muitos anos. E, claro, o anúncio ainda teve um efeito colateral
educativo: muitos meninos e meninas criaram o hábito de “levantar, tomar aquele
banho e escovar os dentinhos” graças a este grude clássico. Bons tempos aqueles.
4 – “DD Drin” (DD DRIN,
1976)
Com um ritmo contagiante,
este clássico absoluto ficou no ar por cerca de uma década. O iêiêiê
mata-barata tinha como objetivo promover a empresa de dedetizaçãoDD Drin.
Um detalhe inacreditável: a DD Drin existe desde 1957 (!!!), mas
atingiu o auge da popularidade nas décadas de 70 e 80, graças
(adivinhem) aos insetos cantantes e dançantes desta animação feita por Ely
Barbosa, irmão do escritor Benedito Ruy Barbosa (ele mesmo, o autor de
novelas da Rede Globo). Não posso me esquecer da importância histórica que
o famoso comercial da DD Drin teve: a estréia dele ocorreu bem na época
em que praticamente toda a programação da TV brasileira era em preto e branco. Reparem que os insetos de rosto pintado que aparecem no vídeo são uma referência à mitológica banda Secos e Molhados, que tinha Ney Matogrosso como vocalista. https://www.youtube.com/watch?v=vDvjecJOpa4
3 – “Um Banho De Alegria
Num Mundo de Água Quente” (DUCHAS CORONA, 1972)
A série de anúncios para
o inovador fabricante de chuveiros começou em 1972, com o jingle de
campanha. O primeiro comercial foi uma pérola filmada na Cachoeira do
Prumirim em Ubatuba, SP. Transmitia a ideia de que um banho
revigorante deixa as pessoas mais felizes (e não é bem verdade?). O hit das duchas
Corona é um filho de muitos pais. Quando a marca de chuveiros decidiu lançar no mercado nacional as primeiras duchas feitas de plástico, encomendou um
comercial, e o projeto caiu no colo do compositor Francisco Monteiro,
mais conhecido como Francis Monte. Ele foi descoberto enquanto tocava em
uma casa de shows, pelo produtor José Mário. Os dois bolaram o jingle e,
logo em seguida, o apresentaram à equipe da agência de publicidade, que
rejeitou a composição, dizendo que o objetivo do projeto de marketing da Corona era “vender
chuveiros, e não sabonetes”. Confiando no próprio taco, Francis gravou a canção
em uma fita K7 e a entregou diretamente a Amílcar Yamin, o proprietário
da empresa Corona. Amílcar se apaixonou na hora pelo jingle. Resultado: “Um
Banho de Alegria Num Mundo de Água Quente” estourou no Brasil
inteiro e foi adotada como trilha oficial da publicidade das Duchas Corona
durante 12 anos. Um banho de competência!
2 – “Roda, Roda, Baleiro”
(BALAS KIDS, 1978)
Fiquei surpresa ao saber
a data em que o jingle das famosas e deliciosas balasde leite Kids foi
produzido: 1978. Sim, porque a música foi um sucesso colossal na
primeira metade dos anos 80, e é praticamente um símbolo daquela época
pra mim. Tão doce, gostoso e grudento quanto o produto que anunciava, este hino
tem uma história bastante curiosa. É comum o compositor de uma canção gravar
uma demo da música apenas com sua própria voz e uma base instrumental,
geralmente um piano ou um violão, para enviar à gravadora, à agência de
propaganda ou a quem quer que tenha feito a encomenda da obra para ele. Foi o
que fez Renato Teixeira, autor de clássicos da MPB como “Romaria”,
de Elis Regina (https://www.youtube.com/watch?v=2r3RgH5LcYE). Ele enviou
despretensiosamente uma versão de “Roda Baleiro” apenas com seu vocal e um
violão para os proprietários da Kids verem se gostavam. Os donos da
marca de bala mais gostosa do planeta se apaixonaram tanto por aquela canção
que quiseram que a versão acústica mesmo, na interpretação do meu xará, fosse
utilizada no comercial. Rever o anúncio da Bala de Leite Kids décadas
depois é de arrepiar. Aquele baleiro realmente existia nos balcões das lojas e
mercearias da década de 80, e foi símbolo de uma infância que as
gerações posteriores nunca conheceram e, pelo visto, as futuras gerações jamais conhecerão. Era uma brincadeira divertida “girar o
baleiro” para ver qual cor e variedade de bala ia estar na nossa frente, para a
gente abrir a tampa e pegar – como se fosse um “Roda-Roda Jequiti”
das guloseimas. Para os que não viveram a época e querem entender melhor como
esse jogo funcionava, basta assistir ao comercial, que retrata tão bem esse
momento de diversão com as coisas mais simples.
A Milani foi fundada
em 1955 e introduziu no Brasil uma bebida que já era sensação lá
fora: o xarope de groselha (o nome é feio, mas é esse mesmo). O sucesso do
produto foi incrível nas festas infantis, o que levou a empresa a lançar mais
uma novidade, chamada sacolé. Eram os hoje conhecidos saquinhos de plástico
cilíndricos com groselha congelada como se fosse sorvete. Era 1978
quando a Milani, investindo ainda mais na criançada, soltou este anúncio
tão divertido que chegava a ser covardia. Um desenho animado com uma bolinha
cor-de-rosa que mostrava como a groselha era um produto prático e gostoso. O
comercial foi um hit tão avassalador que seu uso durou 10 anos. Curiosidade pra
destruir suas ilusões de infância: o cantor Zelão, que interpretava o
jingle da Groselha Vitaminada Milani, possuía uma voz bem grossa. Para que no ela soasse fina, aguda e infantil, bem adequada à bolinha-personagem, a canção teve de ser gravada com velocidade acelerada. Iahuuuu!
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