Há exatas 7 décadas, no dia 14 de fevereiro de 1946, era lançado nos EUA o segundo filme que
eu mais gosto – o primeiro todo mundo sabe que é “E O Vento Levou”. Mas como eu
não consegui homenagear os 75 anos de “E O Vento Levou” em janeiro passado (por
motivos óbvios: eu ainda não tinha um blog na época), aqui vai meu tributo de
fã ao filme que verdadeiramente colocou o vestidinho preto no armário (não
gosto da palavra “closet”) da mulherada: “Gilda”.
Conforme eu mencionei
alguns textos atrás, “Gilda” é o meu segundo filme favorito, e teve grande importância
na minha vida – entre outros motivos, porque também era o segundo filme
favorito do meu pai. O número um para ele era “Casablanca” e ele não gostava de
“E O Vento Levou”, mas em uma coisa ambos concordávamos: Rita Hayworth não levar a estatueta de Melhor Atriz por “Gilda” foi
uma das duas ou três maiores sacanagens da história do Oscar. E a maior prova disso foi a frase eternizada por Rita, que na vida real era o oposto total de sua personagem mais famosa: "Todos os homens que conheci sonhavam com Gilda e acordavam comigo". Não, ninguém nunca conseguiu ser uma mulher como Gilda. Nem a própria Rita Hayworth.
“Gilda” foi
lançado no Dia dos Namorados dos EUA e em plena Segunda Guerra Mundial. Em 1946
Rita Hayworth já era a Rainha da Columbia Pictures e desfrutava também do
status de Musa do Exército, da Marinha e da Aeronáutica americanas. Naquele
tempo, a censura era tão paranóica que mostrar o umbigo e/ou as pernas era algo
tido como indecente. Imaginem então a reação causada por uma mulher que não
apenas exibia (e não pela primeira vez) o umbigo e as pernas, e fazia o seu
tradicional papel de anti-heroína (tipo de personagem no qual ela é até hoje insuperável),
como também tirava uma simples luva com ares de quem tira toda a roupa. Essa
cena, mais os diálogos geniais que pingavam veneno, fizeram com que na época o filme
fosse proibido para menores de 18 anos, inclusive no Brasil.
A história é aparentemente
simples: o sinistro Ballin Mundson (George
MacReady), dono de um cassino em Buenos Aires, contrata Johnny Farrell (o
fofíssimo Glenn Ford), um rapaz para
trabalhar para ele, e o jovem acaba se tornando o braço direito do chefe
picareta. (Aí há uma molecagem para a época: a insinuação leve de que chefe e
funcionário eram mais do que chefe e funcionário). Um belo dia, o chefe viaja e
traz sua nova esposa, Gilda (em interpretação fantástica e injustiçada de Rita
Hayworth), que nada mais é do que a ex de Johnny. E designa o rapaz para tomar
conta dela. Para piorar, Gilda diverte-se provocando e maltratando o ex. A cena
em que ela joga o cabelo ficou famosa também no filme “Um Sonho de Liberdade”.
Este filmaço
pré-feminista tem também uma trilha sonora fantástica, que inclui as jóias “Put
The Blame On Mame” (usada no DVD “This Is It”, de Michael Jackson) e “Amado Mío”. A fotografia propositalmente “dark”
e os cenários cheios de detalhes dão ênfase ao clima de teatro filmado, porque
é isso mesmo que “Gilda” é. Aliás, a
maior parte dos filmes das décadas de 1930 e 1940 era teatro filmado puro –
inclusive, e principalmente, “Casablanca” e “O Mágico de Oz”. Como eu já
disse aqui, não é um filme para ser alugado. É melhor você comprar o DVD,
porque vai precisar assistir mais de uma vez. A palavra é essa mesma: precisar. Porque as sutilezas do filme
(principalmente do texto) são tantas, que captar todas na primeira assistida
é humanamente impossível.
Se você ainda tem preconceito contra filme preto
e branco, “Gilda” vai fazer você perdê-lo de vez. Até porque o filme continua
inacreditavelmente moderno. Aos 70 anos, ele é mais moderno do que muita coisa
nova que vemos por aí.
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