Este vídeo é uma preciosidade. Principalmente para quem, como
eu, é fã de Michael Jackson em todas
as fases da vida do cantor. Em 1973
a cerimônia do Oscar teve a
participação de Michael interpretando a canção “Ben”, um dos seus maiores hits. E ele foi apresentado por ninguém
menos do que Charlton Heston, que o
anunciou como“um quinto do Jackson Five” (pra mim ele foi muito mais do que
isso desde sempre, mas...).
E você se pergunta: mas o que Michael Jackson estava fazendo
na cerimônia do Oscar? É que a canção “Ben”
foi tema do filme “Ben, O Rato Assassino”, de 1972, dirigido por Phil Karlson.
A história é o supra-sumo da bizarrice:
um garoto carente adota um rato como bicho de estimação e dá a ele o nome de
Ben, sem saber que o camundongo é o líder de um grupo de ratos assassinos e
sanguinários que matam gente e deixam a cidade em pânico (puts!). Eu não
encontrei o tal do filme inteiro em lugar nenhum, mas achei o trailer dele no You Tube, e estou postando o trailer aqui pra vocês. Conforme eu
escrevi na matéria anterior, se tem
algo que eu me recuso a fazer é comentar filmes que eu nunca assisti – porém,
pelo que eu pude ver e ler sobre “Ben, O Rato Assassino”, trata-se provavelmente de um desperdício de uma
música maravilhosa, que, aliás, venceu o Globo
de Ouro e foi indicada ao Oscar de
Melhor Canção Original. O disco vendeu mais de um milhão de cópias na época
do lançamento, e a faixa “Ben”
chegou ao primeiro lugar das paradas americanas. Tomara que lancem em DVD no Brasil, para eu poder assistir e comentar aqui no Poltrona R.
Recentemente eu estive envolvida em
uma polêmica no Facebook,
simplesmente por ter dito que não se
deve dar spoiler de filme nenhum, mesmo quando o filme é muito famoso. Para
você que ainda está se perguntando que raios essa palavra quer dizer, darspoiler significa contar partes da história ou entregar o final de um
filme ou livro para quem ainda não viu ou leu. Sabe aquele sujeito mala que
senta do seu lado quando você vai ao cinema e passa o filme todo dizendo: “Tá vendo? Agora vai acontecer isso, isso e
aquilo”? Ou aquele amigo que te diz: “Fui
ver tal filme e adorei, pena que no final acontece tal coisa.” Sim, isso é
dar spoiler. Como esse tipo de comportamento é uma das coisas que eu mais odeio
no mundo, eu evito tê-lo, mesmo aqui
no meu blog.
Principalmente
aqui no meu blog. Escrever sobre filmes de outras épocas não significa escrever
sobre coisas que todo mundo já viu, ainda mais no Brasil, onde a nossa educação é uma desgraça e onde, como eu mesma
já falei aqui, não temos memória. O fato
de um clássico ser um clássico não necessariamente quer dizer que a população
inteira do planeta sabe (ou se lembra) da história toda e/ou de como a história
termina. Eu mesma ando revendo diversas produções antigas que vi ainda
criança ou adolescente na televisão, e me dei conta de que não me lembrava de
como muitos deles terminavam, ou mesmo de como a trama deles se desenrolava. E
como eu me recuso a escrever sobre aquilo que não lembro ou que não conheço,
vou ver o filme de novo, inteiro. Isso é ótimo, uma delícia. Não apenas porque
sempre fui obcecada por cinema e
assisto de tudo, de todas as épocas, mas porque às vezes redescobrir um filme pode ser tão maravilhoso quanto vê-lo da
primeira vez. E tirar esse prazer de outras pessoas é uma baita crueldade.
Eu acho.
Por este motivo é que, ao criar meu
blog, eu optei por não dar spoilers,
nem dos finais e nem de partes importantes de filmes e livros. Faço isso em
respeito aos meus leitores. Isso é coisa de gente estraga-prazeres. O que você
acha de uma fã de cinema que escreve um blog sobre filmes (ainda que sejam
filmes clássicos) estragar o prazer de outros fanáticos pela sétima arte? Ou
mesmo acabar com a graça dos curiosos que jogaram o nome de alguma obra-prima
do cinema no Google e caíram, por
acaso, aqui no Poltrona R? Pense:
vocês acham que essa pessoa, que certamente vai procurar o DVD para assisti-lo,
está a fim de saber antecipadamente o final da história? Eu tenho certeza que
não.
Não me importa quantas pessoas
debochem de mim por causa disso, ou achem que isso é frescura, ou seja lá quais
forem os motivos que elas tenham para alguém não dar spoiler de clássicos. Eu não entrego final de filme nenhum aqui.
Na vida real, só faço isso se me pedirem muito. Faz parte de ajudar a criar o
amor pelos clássicos a atitude de despertar – e preservar – o interesse por
eles. E contar como eles terminam faz com que esse interesse diminua ou
simplesmente desapareça. Aliás, este é o motivo pelo qual a audiência do meu
blog vem crescendo: respeito pelo meu público.
Aqui no Poltrona R sua curiosidade é respeitada. Aqui não se dá spoiler.
Pode confiar.
Eu já havia falado de passagem sobre “Quanto Mais Quente Melhor”
faz um tempo, na matéria “Meus Cinco
Filmes Clássicos Favoritos”, publicada em 16/12/2015, data em que o Poltrona
R entrou no ar (Link: http://poltrona-r.blogspot.com.br/2015/12/meus-cinco-filmes-classicos-favoritos.html). Mas como saiu recentemente uma ediçãozinha bacana
e barata do filme, resolvi fazer uma resenha só dele. “Quanto Mais Quente Melhor”
é um clássico de 1959 dirigido por Billy Wilder, o mesmo de “Crepúsculo
dos Deuses” (que eu também já comentei neste blog: http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/07/dvd-crepusculo-dos-deuses.html).
São dois filmes completamente diferentes, o que só prova a versatilidade de
Wilder. Sim, mais do que genial, ele era versátil e criativo. Em “Quanto
Mais Quente Melhor” ele é diretor, produtor e co-autor do roteiro. Trata-se
de uma comédia maliciosa e inteligente, feita numa época em que o mundo já
começava a mudar e coisas novas estavam surgindo, inclusive no cinema. Todos os
diálogos são construídos em cima do duplo sentido, recurso que pouquíssimas
pessoas sabem utilizar com a inteligência e o bom gosto que se vê aqui. O trio
de atores principais já vale o preço do DVD (vale bem mais, aliás) – Marilyn Monroe no auge, maravilhosa e
talentosa, e, como dizia a publicidade do filme na época, “suas amigas do
peito” Jack Lemmon e Tony Curtis, dois atores craques de
comédia. Eles interpretam Jerry
(Lemmon) e Joe (Curtis), dois
músicos que, para fugir de uma encrenca com a Máfia, se disfarçam de mulheres e arranjam emprego como integrantes
de uma orquestra formada só de mulheres, cuja estrela é Sugar Kane (Marilyn Monroe). Ambos enlouquecem pela loira, como era
de se esperar, e competem para conquistá-la, enquanto mantêm seus disfarces. A
orquestra se apresenta em um hotel de luxo na Flórida, onde milionários idosos vão tirar férias ou curtir a
aposentadoria. Lá Joe finge ser um lorde inglês dono de um iate para conquistar
a carente Sugar. Enquanto isso, o verdadeiro
lorde, um sujeito baixinho, feio e pegajoso (vivido por Joe E. Brown, engraçadíssimo), cai de amores por Jerry, achando que
ele é uma mulher. Em meio a esses rolos todos, os mafiosos continuam no encalço
dos dois músicos... Outra coisa bacana é a trilha sonora de Adolph Deutsch – você deve conhecer a canção
“I Wanna Be Loved By You”, um dos
grandes hits de Marilyn Monroe. Aliás, só eu acho que Marilyn era subestimada
como cantora? “Quanto Mais Quente Melhor” é daqueles filmes pra você ver
quando estiver de mau humor. Um clássico do deboche que cutuca tabus de todos
os tipos, e que causou grande impacto na época. E ainda causa impacto no
público, quase seis décadas depois.
CURIOSIDADES
▪ “Quanto Mais Quente Melhor”
teve seis indicações para o Oscar,
mas só levou a estatueta de Melhor Figurino
Em Preto e Branco. (Uma trilha sonora daquelas ficar sem Oscar? Um elenco e
um diretor daqueles saírem de mãos vazias? Definitivamente, esse pessoal da Academia não me
representa.)
▪ O próprio diretor
Billy Wilder considerava “Quanto Mais Quente Melhor” sua obra-prima.
▪ Acredite, quem o
diretor queria para interpretar Sugar Kane era Mitzi Gaynor, e não Marilyn Monroe. Ele também queria Frank Sinatra como Daphne/Jerry. Ainda
bem que nem Mitzi nem Frank toparam atuar no filme. O trio Marilyn, Lemmon e
Curtis foi a escalação mais acertada que poderia haver para este clássico.
▪ Marilyn Monroe
queria que “Quanto Mais Quente Melhor” fosse feito em cores. Porém, por
causa da maquiagem de Tony Curtis e Jack Lemmon, que em filme colorido ficava
com um tom esverdeado, o filme teve de ser gravado em preto e branco.
▪ Embora digam que a
Legião da Demência, ops, Legião da Decência
teria considerado “Quanto Mais Quente Melhor” indecente e “uma afronta à família”,
há fontes que afirmam que a Legião apenas deu ao filme uma classificação bem
mais leve, a de “moralmente questionável”.
▪ O clássico é um raro
caso de produção bem recebida tanto pelo público quanto pela crítica.
▪ Quem criou os
vestidos de Marilyn (e que, cá pra nós, só ela poderia usar) foi o estilista Orry-Kelly. Ele também desenhou o
figurino feminino de Jack Lemmon e Tony Curtis – e foi esta, aliás, sua grande
dificuldade, já que as duas “gatas” tinham formas beeem mais complicadas. A prova
de seu talento foi o fato de que, durante as filmagens, Lemmon e Curtis iam ao
banheiro feminino vestidos de Daphne e Josephine sem que ninguém percebesse que
eles eram homens.
EXTRAS
▪ Entrevista com Tony Curtis no restaurante onde o filme foi gravado.
▪ “Sala Virtual de Memórias”, que é um apanhado de cenas de cada ator
no filme. Vale pra ver algumas fotos coloridas de bastidores, bem divertidas.
E, claro, pra curtir a trilha sonora mais um pouquinho.
▪ Imagens do material publicado na época pela imprensa
sobre o filme. Se você tem tela grande e sabe inglês, dê um pause e confira.
▪ E, claro, o trailer original!
EMBALAGEM
▪ Capa de papelão
sobre a caixinha de plástico do DVD. Dentro da caixa plástica, uma foto do
filme. Legal pra quem quer guardar o filme na estante com carinho, mas sem
muita pompa.
▪ O filme saiu ainda como parte da (raríssima) caixa Coleção Marilyn Monroe. E há uma versão filme +
livro da série Cinemateca Veja, que hoje também não há mais quem ache.
Mel Blanc.
Esse nome provavelmente não ‘toca nenhum sininho’ aí dentro da sua cabeça, mas
com certeza ele fez parte da sua infância – principalmente se você tem mais de
40 anos de idade. Locutor, dublador, radialista, humorista, imitador e
apresentador de TV, Blanc emprestou sua voz (ou melhor, suas vozes) aos
personagens de cerca de 3.000 desenhos animados. Alguns deles você certamente
curtiu quando criança e curte até hoje: Frajola,
Patolino, Pica-Pau, Gaguinho, Piu-Piu e Pernalonga. Ele, aliás, criou vozes para 90% dos personagens da Warner Bros.
Melvin Jerome Blank nasceu em São Francisco, Califórnia, no dia 30 de maio de 1908. Sim, era Blank com “K”, mas ele
trocou o “K” por um “C” por sugestão de um professor da escola, que lhe disse
que se ele não fizesse isso, iria passar a vida sendo “um nada, um espaço em
branco” (a palavra “blank” em inglês significa justamente “vazio” ou “espaço em
branco”). Apaixonado por vozes e sotaques, começou a fazer imitações já aos 10
anos de idade. Estudou diversos instrumentos musicais quando ainda estava na
escola. Em 1927, ele começou sua
carreira no rádio, fazendo diversos personagens no programa “The
Hoot Owl”, da emissora KGW.
O sucesso foi tanto que em 1933,
recém-casado com a única esposa, Estelle,
Blanc mudou para a emissora KEX de Los Angeles para estrelar e
co-apresentar um programa diário, o “Cobwebs and Nuts” com a mulher.
Dois anos mais tarde ele já estava na NBC,
como convidado regular do programa “The Jack Benny Show”, onde
interpretava um monte de figuras criadas por ele mesmo.
Como o cinema entrou na vida de Mel Blanc? Em 1936, ele conheceu o produtor Leon Schlesinger, que estava
desenvolvendo uma série de curtas-metragens de desenho animado para serem
exibidos no cinema (claro, a TV ainda não existia) para a Warner Bros. Os
animadores responsáveis pelos desenhos, Frank
Tashlin, Bob Clampett, Fritz Freleng e o mito Tex Avery, amaram as vozes que Blanc
sabia fazer, e o contrataram. O primeiro desenho animado com voz de Mel Blanc
se chama “Picador Porky” e data de 1937;
nele, Blanc interpreta um touro bêbado. O desenho era do Gaguinho, personagem
que ele assumiu a partir de então, substituindo Joe Dougherty, o dublador original do porquinho famoso. Em outro
desenho do Gaguinho, “Porky’s Duck Hunt”, Blanc ganhou
papel duplo: o do personagem principal e o do Patolino, figura que fazia sua
estréia naquela animação.
O maior sucesso, no entanto, veio em 1940,
quando Mel Blanc fez pela primeira vez seu personagem mais famoso: ninguém
menos que o Pernalonga, no desenho “A Wild Hare”. Foi Blanc, aliás,
quem criou o célebre bordão do coelho atrevido e devorador de cenouras: “Que é que há, Velhinho?” (“What’s up, Doc?”). Sobre o charme de Pernalonga,
Blanc declarou certa vez em uma entrevista: “Ele
é um canalha, e é por isso que o público gosta tanto dele”.
Mas e a polêmica sobre quem fazia a voz do Pica-Pau? Era Mel
Blanc ou não era? Bem, era e não era. Quando o cartunista Walter Lantz criou o Pica-Pau, em 1940, ainda como aquele pássaro
doidão e esquisito (melhor fase dele, na minha opinião), adivinhem quem ele
contratou para dar voz ao personagem? Mel Blanc, é claro. Mas a parceria
Blanc-Lantz durou apenas três episódios, embora a inconfundível risada gravada
por Blanc tenha continuado a ser utilizada nos desenhos seguintes, simplesmente
porque Lantz não conseguiu encontrar outro dublador que conseguisse
reproduzí-la. E contratou, para dublar o personagem, primeiro Ben Hardaway, um dos animadores (e que,
aliás, também criou o Pernalonga), e mais tarde, Grace Stafford, esposa de Lantz. O resultado? Claro, problemas na
justiça. Mel Blanc acabou processando Walter Lantz por uso indevido de sua voz.
Em 1946 ele fez
sucesso no rádio novamente, aparecendo como coadjuvante em 15 programas
diferentes, até ganhar seu próprio programa, “The Mel Blanc Show”, que
durou apenas um ano (de 1946 a 1947).
A esta altura, ele já havia aprendido a lição: proteger seus direitos como
artista por meio de contratos, para que o incidente ocorrido com Walter Lantz
não se repetisse. Olha ele aí num trecho de um show de stand-up ao vivo no rádio, com Kay Kaiser e a grande Lucille Ball. Detalhe: a apresentação dos humoristas foi feita para uma plateia de militares dos EUA.
Nos anos 60 e 70,
Blanc trabalhou sem parar. Fez vozes para personagens de desenhos da Hanna Barbera, como Os Flintstones (Barney), Tom & Jerry (a voz de Tom e efeitos
vocais), Os Jetsons (Sr. Spacely) e
até A Pantera Cor-De-Rosa.
Um dos episódios mais bizarros da história de Mel Blanc (não,
da história de Hollywood) aconteceu
em janeiro de 1961, quando ele
sofreu um acidente de carro que resultou em uma tripla fratura craniana. Blanc
ficou em coma durante duas semanas, e os médicos tentavam, sem sucesso, se
comunicar com ele chamando-o pelo nome. Certo dia, um médico teve uma ideia
maluca: entrou no quarto do hospital onde o dublador estava ainda inconsciente
e incomunicável, e disse: “Olá,
Pernalonga, como está você hoje?”. Blanc respondeu, com a voz do coelho: “Eh, eh, estou bem, velhinho. E você, como
está?”. Isso mesmo. Após cerca de 15 dias sem ter apresentado nenhum tipo
de reação, finalmente Mel Blanc acordou do coma. Logo em seguida, o médico
perguntou: “E você, Piu-Piu, também está
aí?”. E ouviu o dublador responder, fazendo a vozinha do pássaro: “Eu acho que vi um gatinho...” Daí vem
os boatos de que Mel Blanc teria múltipla personalidade, e de que esta seria a
verdadeira razão do seu imenso talento. Seja como for, a vida do artista foi
salva pelos seus personagens.
Mel Blanc viveu até os 81 anos, lúcido e em plena atividade.
Seu último trabalho foi em 1989, em “Jetsons,
O Filme”, lançado em 1990.
Embora ele fumasse muito desde os 9 anos de idade (!!!), não largou os
cigarros. Faleceu de doença arterial coronária naquele mesmo ano. Em seu
túmulo, está inscrita a frase: “That’s
All, Folks!” (“Por hoje é só,
pessoal!”), que aparecia sempre no final de cada episódio dos desenhos da
Warner. E infelizmente, foi só isso, mesmo. Jamais existirá outro Mel Blanc,
pessoal.
Elenco: Alan Ladd, Jean Arthur, Van Heflin,
Brandon De Wilde.
Duração: 117 min.
Colorido
Gravadora: Paramount
O título nacional é péssimo, totalmente inadequado a este
clássico do faroeste que fez um
sucesso enorme no início dos anos 50.
Conta a história de Shane (meu xará
de aniversário, Alan Ladd), um
misterioso forasteiro que chega a uma região repleta de posseiros que estão em
conflito com o dono da terra, Ryker
(Emile Meyer). Charmoso e bom atirador,
Shane faz amizade com Joe Starrett (Van Heflin), sua esposa Marian (Jean Arthur) e o filho do casal, Joey (o fofíssimo estreante Brandon
De Wilde), e passa a defendê-los. O pequeno Joey, que tem uma fixação em
armas e sonha em aprender a atirar, logo passa a idolatrar Shane e ver nele a
figura de um herói. O bicho pega quando Ryker decide expulsar os posseiros de
sua propriedade. Esta, aliás, é uma das muitas características que tornam o
filme atual: ele suscita debates sobre questões como a luta pela terra. A
trilha sonora composta por Victor Young
é belíssima e emocionante, e reforça a dramaticidade e a tensão crescente na
história. A fotografia em Technicolor
é um deslumbre – o filme, aliás, foi gravado realmente no Wyoming, onde a trama se passa. O elenco todo está bem afinado, com Alan Ladd charmosíssimo
e dando show, embora no comecinho do filme sua atuação seja mais teatral do que
o necessário. Brandon De Wilde é encantador, representando como se já fosse um
veterano. George Stevens, o mesmo
diretor de “Um Lugar Ao Sol” (1951)
e “Assim
Caminha A Humanidade” (1956),
faz aqui um ótimo trabalho. “Os Brutos Também Amam” é o tipo do
filme que vale a pena ser visto depois de décadas, e deixa reflexões como a
frase dita por Shane em uma das cenas: “A
arma é tão boa ou má quanto o homem que a usa.”
CURIOSIDADES
▪ “Os Brutos Também Amam”
foi o primeiro filme a ser projetado com o uso da técnica “flat widescreen”, formato inventado pela Paramount com o objetivo de oferecer ao público um panorama maior
do que aquele que a televisão, a
nova concorrente, era capaz de proporcionar.
▪ Acredite, o diretor
George Stevens queria Katharine Hepburn
para o papel de Marian, mas quem acabou interpretando a personagem foi Jean
Arthur, que não fazia um filme há 5 anos. Foi o último trabalho da loira no
cinema.
▪ Nos planos do
diretor estavam também Montgomery Cliff
como Shane e William Holden como Joe
Starrett. Como nenhum dos dois atores topou trabalhar no filme, Alan Ladd e Van
Heflin ficaram com os papéis. Coisa do destino ou não é?
▪ Diversos filmes
fizeram referência a “Os Brutos Também Amam”, como o ultra-recente “Logan”,
onde o personagem Charles Xavier aparece assistindo ao clássico western em uma
das cenas.
▪ Em 2008, o AFI (American
Film Institute) citou “Os Brutos Também Amam” em 69º lugar (não ria, é sério) como
um dos mais importantes filmes de “gêneros tipicamente americanos” (seja lá o
que isso for) de todos os tempos. É, o AFI de vez em quando dá uma bola
dentro...
▪ “Os Brutos Também Amam” ganhou o Oscar de Melhor Fotografia Colorida (100% merecido).
EXTRAS
▪ Trailer original do
filme no cinema
▪ Comentários
(gloriosamente LEGENDADOS!!!) do diretor George Stevens e seu colega Ivan
Moffatt.
▪ É bacana comentar
também a facilidade de acesso ao filme: logo que você põe o DVD no aparelho,
aparece uma tela com apenas as opções “Inglês, Espanhol ou Português”. Você
clica em “Português” e o clássico já começa. (Aliás, não há versão dublada, só
legendada)
EMBALAGEM
▪ Simples, simples,
simples – pelo menos na versão que eu tenho. O luxo maior são as ilustrações de
interior do estojo. Existe também uma versão mais trabalhadinha, para colecionador,
com capa de papelão sobre o estojo. A versão mais fácil de achar, porém, é a
minha.
Elenco: Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders, Celeste Holm, Gary
Merrill, Hugh Marlowe.
Duração:133 minutos
Preto & Branco
Gravadora: Fox Filmes
Bette Davis sendo Bette Davis, ou seja, sendo
perversamente talentosa, no filme mais famoso da sua carreira. A verdadeira
malvada do título em português, porém, não é ela, e sim a personagem de Anne Baxter. Anne interpreta a Eve do
título original, Eve Harrington, uma
mocinha aparentemente doce e bondosa que arranja um emprego de fiel escudeira
da sua ídola, Margo Channing
(interpretada por Bette), uma atriz temperamental, insuportável e extremamente
difícil de conviver. O que Eve deseja, na realidade, é tomar o lugar de Margo –
não apenas ser uma estrela nos palcos como ela, mas também viver no mundo
perfeito de luxo e glamour que ela imagina ser a vida da diva. Narrado em
flashback e mostrando os pontos de vista de dois personagens (que não são nem Eve, nem Margo), o filme esbanja
ironia, aquela ironia deliciosa dos filmes das décadas de 1930, 1940 e 1950 (“Apertem
os cintos, porque a noite vai ser turbulenta”, diz Bette Davis em uma das
cenas). Uma das várias coisas que fazem com que este filme seja atemporal é a
crítica ao pseudo-paraíso que é a vida das celebridades do meio artístico, e ao
fato de que as mulheres (principalmente as famosas) passam a ser
vergonhosamente desvalorizadas depois de certa idade. Eu não consegui assistir
ao filme sem pensar diversas vezes: “Caramba,
como Bette Davis era extraordinária!”. Não que Anne Baxter não fosse ótima
atriz também, mas Bette era um gênio. Bastava ela entrar em cena para dominar a
atenção do público. O elenco todo dá uma aula de interpretação, sob a direção
competente de Mankiewicz. George Sanders
também se destaca como o jornalista mau-caráter Addison De Witt, personagem favorito de Mankiewicz. A tensão da trama
vai crescendo de tal forma que se torna impossível tirar os olhos da tela; ao
final de cada cena, o espectador se pergunta: “O que vai acontecer agora?”. E essa é uma das minhas definições para
o termo “um ótimo filme”. O final é um dos mais espetaculares que eu já vi na
vida, utilizando inclusive a fotografia para criar um efeito dramático sensacional extremamente simples, mas inteligente. A própria Bette Davis
considerou “A Malvada” o melhor trabalho de sua carreira. E dizem que o
enredo foi baseado em fatos reais... Será? Verídica ou não, está é, como o
próprio poster oficial do filme dizia, “Uma
história sobre as mulheres... e seus homens”.
CURIOSIDADES
▪Ao aceitar o papel em “A
Malvada”, Bette Davis tinha 41 anos de idade e era considerada “velha”
e decadente. Ela concordou em ser Margo
Channing no filme por ter se identificado com a personagem: uma “atriz que
estava envelhecendo interpretando uma atriz que estava envelhecendo”.
▪A jovem Marilyn Monroe fez neste clássico a sua estréia, em uma participação
especial como uma aspirante a atriz.
▪Edith Head, a famosa estilista de Hollywood, criou apenas os trajes da personagem de Bette.
O resto do elenco teve seu figurino criado por Charles Le Maire.
▪O conto de Mary Orr, “The Wisdom Of Eve”, escrito em 1946, serviu de base para o roteiro,
embora não apareça nos créditos.
▪Durante as gravações, Gary Merrill (que faz Bill Sampson, o namorado mais jovem de
Margo) e Bette Davis se apaixonaram e acabaram se casando na vida real. O
relacionamento durou exatos dez anos.
▪Quer saber se os inúmeros
boatos sobre as tretas que rolaram durante as gravações de “A Malvada” são mesmo
verdadeiros? Encontrei este documentário, que fala sobre o assunto. AVISO: não
tem legenda. https://www.youtube.com/watch?v=a98Bcu55nAM
▪O filme levou 6 Oscars, incluindo Melhor Filme. Foi indicado a 14 estatuetas, deixando “E O
Vento Levou” (que teve 13 indicações) no chinelo.
EXTRAS
▪Trailer original do filme, em
boa qualidade.
▪Trailer do filme “A
Luz É Para Todos”, que também faz parte da coleção de DVDs Fox Classics
▪Galeria de Elenco, que é apenas
um monte de fotos dos atores com os nomes de seus personagens abaixo delas. Nem
clique nas fotos achando que vão aparecer informações sobre o ator ou atriz,
porque eu mesma fiz isso e me decepcionei – não aparece nada.
EMBALAGEM
Básica, pelo menos na versão que
eu tenho. Há outros lançamentos do filme: uma em DVD duplo com “Tarde
Demais Para Esquecer”, outra como parte da série Livro + DVD “Cinemateca Veja”, e ainda como parte do box “Coleção Clássicos”, que também inclui “Como
Era Verde O Meu Vale”, “Tarde Demais Para Esquecer” e “A
Luz É Para Todos”. A única versão que eu encontrei disponível, porém, é a mais simplezinha, que vem
apenas com o filme e nenhum adicional (nem poster, nem foto, nem nada).