Sou uma fã gigantesca de Lucille Ball desde
criança, e tenho um grande respeito por “Star Trek” e a
importância da franquia para a cultura pop. Inclusive, já escancarei minha
adoração por Tia Lucy neste blog (https://poltrona-r.blogspot.com/2016/08/meus-15-momentos-preferidos-de-lucille.html),
embora não tenha passado o pano para os defeitos dela (https://poltrona-r.blogspot.com/2017/09/mexe-com-quem-ta-quieto-as-nao-poucas.html).
Por isso, ao ler sobre ela para fazer um texto (outro texto, que nada tem a ver
com esta matéria), uma passagem da vida dessa mulher essencial não apenas para
o humor, mas para a história do cinema, me chamou a atenção.
Primeira mulher
diretora de televisão, Lucille Ball criou em 1950 a Desilu
Productions, em parceria com o então marido Desi Arnaz. Ao
fundarem a própria empresa, o casal tinha a única intenção de produzir seu
projeto, pois ele havia sido recusado por todos os estúdios de cinema e TV.
Tratava-se de uma inovação, um teatro filmado que teria um episódio diferente a
cada semana. Lucille e Desi seriam os atores
principais, e não era só. Ele também seria o diretor e ela, vice-diretora. O
nome do projeto? “I Love Lucy”.
Como eu acredito que
todo mundo aqui já saiba, o seriado pioneiro lançado em 1951 virou
febre nacional e, anos depois, mundial. Lucille se consagrou
como maior comediante feminina de todos os tempos e Desi ganhou
respeito não só como músico e ator, mas também como diretor. Nada bobos, os
dois partiram para a expansão de seus negócios – em todos os sentidos.
Compraram um estúdio maior e sofisticaram a produção de “I Love
Lucy”.
Em 1960,
porém, a dupla de artistas se divorciou. Desi jogou a toalha
como diretor da Desilu Productions. Para não deixar a peteca cair,
Tia Lucy comprou a parte dele na Desilu e assumiu ela mesma o
posto. Vale lembrar que quando fundaram a empresa, Lucille Ball e Desi
Arnaz não entendiam absolutamente nada de negócios. Aprenderam tudo na
raça, administrando a própria empresa. Resultado: viraram empresários de
sucesso. Principalmente Tia Lucy que, ao se ver sozinha, mostrou ainda mais o
seu valor e abriu caminho para a mulherada num ambiente machista como a direção
de televisão. Anos depois, ela confessaria: “Tudo que sei, aprendi com Desi”.
Um gesto de humildade surpreendente da parte da mulher mais talentosa da
História da mídia mundial.
Em 1964, Lucille
Ball era não apenas umsucesso como humorista e estrela de sua própria
série, mas também como diretora e produtora televisiva. Seu estúdio, aliás, era
o único que realmente dava lucro. Buscando dar uma diversificada nas
produções, Lucille pediu que o seu então braço direito Herbert
Solow saísse à cata de ideias bacanas e originais. Ele voltou com dois
projetos: um era “Missão Impossível”, e o outro uma série
futurista criada por Gene Rodenberry, chamada “Star
Trek”.
Quando leu a sinopse de “Star Trek”, Tia Lucy ficou praticamente obcecada. Certa de que a série com temática espacial iria estourar, ela levou o projeto à diretoria da CBS, um dos canais de televisão onde as produções da Desilu eram exibidas. Os diretores da emissora se recusaram a tirar “Star Trek” do papel, pois, segundo eles, ficaria muito caro produzir a série. Lucille não desanimou: bateu na porta da NBC, que cogitou botar o projeto em prática. Só cogitou. Primeiro porque ficção científica era algo que a NBC não possuía em sua grade de programação; segundo, porque os diretores da emissora consideraram a série muito “cabeça”; e terceiro, porque (adivinhem!) o orçamento era alto demais.
Nem assim Lucille
Ball se deixou abalar: propôs arcar com boa parte dos custos de
produção. Porém, o episódio-piloto, “The Cage”, lançado no
início de 1965, foi mal recebido pelo público. Tia Lucy acreditava
tanto em “Star Trek” que conseguiu dobrar os diretores
da NBC e fez com que a emissora encomendasse um segundo
episódio, que também teria parte da produção bancada pela Desilu.
Resultado: a humorista saiu ainda mais vitoriosa, porque o segundo episódio –
aquele que apresenta William Shatner como o Capitão
Kirk – teve bem mais audiência e a série-fenômeno passou a fazer parte
da programação da NBC, que a produziu em parceria com a Desilu de 1966 até 1967,
ano em que Lucille vendeu sua produtora à Paramount
Pictures. Sem a Desilu e sem Tia Lucy, “Star
Trek” continuou no ar sob nova direção – literalmente. A saga
original teve 79 episódios ao todo, e depois saiu do ar.
Nos anos seguintes,
vieram remakes, filmes, novas versões e novas gerações. Livros, revistas,
bonecos, camisetas. Sem falar nos DVDs e Blu-Rays. “Star Trek” se tornou uma franquia
poderosa, uma das mais lucrativas da História de Hollywood segundo
a revista norte-americana Forbes (https://www.forbes.com/sites/quora/2016/07/28/theres-a-reason-why-star-trek-remains-so-popular/?sh=f6a60ad1dc39).
Em 50 anos, mais de 700 episódios e 13 filmes da saga foram feitos. É possível
assistir a horas e horas de ‘produtos’ da franquia “Star Trek” sem
ver nada repetido!
A visão otimista de
futuro que a série transmite se baseia na crença que Gene Roddenberry possuía
no ser humano perfeito e num futuro onde tudo daria certo. Isso explica o
sucesso da trama entre os adolescentes e os jovens adultos. A razão da
continuidade e impecável da franquia “Star Trek” é a
competência dos produtores em escalar um elenco perfeito e contratar
roteiristas craques em seu ofício – dessa forma, a coerência da série foi
mantida. E a visão de diversidade – vários personagens diferentes trabalhando
juntos – trouxe fãs de todas as cores, raças e gêneros. A diva Whoopi
Goldberg, por exemplo, confessou ser fã da série porque a personagem da
atriz Nichelle Nichols (que era afrodescendente) a fazia
acreditar que mulheres negras seriam parte do futuro. Aliás, quando Nichelle pensou
em abandonar a série, ninguém menos que Martin Luther King a
convenceu a não fazer isso. “Sua personagem é um símbolo de esperança na
igualdade”, teria dito o ativista político e líder da luta contra o racismo.
Muitos fãs se referem
a Lucille Ball como a “madrinha” ou até “mãe” de “Star
Trek”. Muitos deles também têm grande admiração pelo trabalho dela como
comediante. Não dá pra negar que Tia Lucy tinha visão de futuro – em todos os
sentidos. Prova disso é que ela nunca se interessou muito por ficção
científica, mas acreditou no projeto porque soube captar o espírito dele, coisa
que os diretores das emissoras tinham dificuldade de fazer. Além de parte
indispensável da mitologia hollywoodiana, “Star Trek” é
uma página a mais na história de uma mulher que audaciosamente foi onde nenhuma
mulher jamais esteve.
FONTES
http://www.thoughtsfromatvgeek.com/2013/09/star-trek-fans-owe-it-all-to-lucille.html
http://www.adorocinema.com/noticias/series/noticia-122814/
https://intl.startrek.com/news/how-lucille-ball-helped-star-trek-become-a-cultural-icon
https://ew.com/article/2016/07/08/lucille-ball-star-trek/
https://memory-alpha.fandom.com/wiki/Lucille_Ball
https://www.wearethemighty.com/mighty-movies/star-trek/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Desilu_Productions
https://en.wikipedia.org/wiki/Lucille_Ball#I_Love_Lucy_and_Desi
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