My Man Godfrey
Ano de produção: 1936
Direção: Gregory La Cava
Elenco: William Powell, Carole Lombard, Alice Brady,
Gail Patrick, Mischa Auer.
Duração: 96 minutos
Original em P&B, mas DVD também dispõe da versão colorizada
Gravadora: LW Microservice
Existem filmes que a
crítica não considera grande coisa, talvez por parecerem bobos –
esses filmes, por causa disso, acabam caindo praticamente no esquecimento.
Graças ao bom Deus, uma série destas produções (a maioria delas das décadas de 1930 e 1960) vem sendo resgatadas
por uma geração totalmente nova de fãs de cinema. Uma destas pérolas é
justamente “Irene, A Teimosa”. Aparentemente bobinha, esta comédia maluca (ou “screwball comedy”, como era chamado este gênero nos anos 30)
carrega muita crítica social, e ironiza especialmente a diferença de classes. Na
verdade, a principal crítica do filme não é exatamente aos ricos, mas àqueles
ricos fúteis, mesquinhos e, hã, como direi, com tempo livre em excesso. Tudo
começa quando o ex-milionário Godfrey (William Powell) é encontrado fuçando no
lixão de Nova York. Quem o acha lá
são duas irmãs patricinhas, a asquerosa Cornelia
(Gail Patrick, tão antipática que
rouba a cena) e a carente Irene (Carole Lombard, brilhantemente
engraçada). Depois de uma confusão em uma festa (não vou estragar seu prazer
contando o que é), Irene, pensando que ele é de fato um mendigo, resolve
contratar o rapaz para trabalhar como mordomo na casa da família dela. O rapaz aceita,
sem nem imaginar no que está se metendo: Angelica
(a ótima Alice Brady), a mãe das
duas moças, sofre de ataques de loucura e tem um amante (ou melhor, “protegido”)
italiano e jovem, o músico Carlo (Mischa Auer), que ela trata como uma
mistura de cachorrinho de estimação e filho. Alexander Bullock (Eugene
Pallette), o pai, parece ser o típico corno manso. As irmãs não se bicam, e
Cornelia é preconceituosa e trata o novo funcionário da pior forma possível. Já
Irene tenta compensar a solidão com a presença dele. A única pessoa naquela
casa que parece ter os pés no chão é Molly
(Jean Dixon), a criada que conhece
bem todas as esquisitices de cada um dos Bullock e ensina a Godfrey como lidar
com eles. Mas de repente, um velho amigo de Godfrey entra na história e...
Deixo o resto para você assistir. Mesmo com o jeitão de teatro filmado tão
característico do cinema da década de 1930, “Irene, A Teimosa” é absurdamente
atual. Apesar de leve e divertido, envolve os personagens em situações que dão
o que pensar. O final (e você sabe que aqui NÃO se entrega final!) é uma bela
sugestão de projeto social, que eu diria até que era avançada para aquela
época. Os personagens são todos caricatos, mas lembram muito figuras do mundo
de hoje, e praticamente todos os diálogos parecem coisa dos tempos que vivemos
agora. Gregory La Cava, o diretor, é
quem assina o roteiro, em parceria com Morrie
Ryskind e o autor do livro em que o filme foi baseado, Eric Hatch. Não sei qual desses três caras era o visionário – acho que
todos eles eram visionários e com uma baita observação do comportamento humano,
coisa que eu considero essencial para um bom escritor de comédias. Uma
curiosidade sobre o DVD de “Irene, A Teimosa” é que ele traz
duas versões do filme: a original, em preto e branco, e a colorizada. Eu, que
normalmente sou avessa a colorizações, achei que esta ficou razoável, embora
passe longe da beleza fenomenal do Technicolor.
A abertura em cores ficou simplesmente linda, e dá uma sensação de viagem no
tempo. Os figurinos (babei com os vestidos das atrizes!) ficou ainda mais
bonito na versão colorizada. Mas quem preferir, pode apreciar o clássico da
forma como ele foi originalmente produzido e lançado, ou seja, na sua versão em
preto e branco que, abençoadamente, foi incluída no próprio DVD. Enfim, acho
injusto que filmes como “Irene, A Teimosa” caiam no
esquecimento apenas por causa da data em que foram produzidos, enquanto inúmeros
abacaxis pós-1980 sejam exibidos o
tempo todo na televisão. Abençoadamente, este DVD foi relançado, e com preço
acessível - um presentaço para os órfãos da Sessão da Tarde Que Prestava.
CURIOSIDADES
● O papel de Irene foi feito originalmente para Constance Bennett. Mas o astro William Powel disse que só aceitaria
atuar no filme se Carole Lombard interpretasse a personagem. O diretor Gregory
La Cava, que sabia o quanto Powell era talentoso e seria o Godfrey perfeito,
graças a Deus concordou.
● Indicado para os Oscars de
Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Roteiro, Melhor Atriz
Coadjuvante e Melhor Ator Coadjuvante, “Irene, A Teimosa” não venceu em
nenhuma (!!!). Porém, foi considerado “culturalmente
significativo” em 1999 pela Biblioteca do Congresso dos EUA,
selecionado para preservação pelo National
Film Registry e considerado pelo AFI
(sim, “aquele” que “não me representa”) como “uma das 100 comédias mais
engraçadas de todos os tempos em uma lista elaborada no ano 2000. Por que tão tarde?
● Foi o primeiro filme a ser indicado para as quatro categorias de
atores, façanha que nem mesmo “Grande
Hotel” (1932) havia conseguido.
● A história foi adaptada para rádio e teatro, e em 1957 ganhou um remake com
David Niven no papel de Godfrey.
EXTRAS
Nenhum, apenas o
trailer original em preto e branco.
EMBALAGEM
Simples, mas pelo menos tem uma ilustração bonita e bem escolhida para a
capa.
Trailer do filme (Em P&B):
FONTES
http://www.glamamor.com/2012/03/cinema-style-file-art-deco-of-comedy-in.html