Lucille Ball foi “o Jerry Lewis de saias”, a “Dercy
Gonçalves norte-americana”, a diva absoluta do humor. Segundo a maioria das
pessoas que a conheceram, foi também uma figuraça – brincalhona, desbocada,
fumante inveterada e chegada num bom copo. Porém, quando ela se sentava na
cadeira de diretora e produtora, virava uma tirana, com quem poucos atores agüentavam
trabalhar. E histórias sobre isso não faltam...
O tal casal
Elizabeth Taylor e Richard Burton foram bons exemplos. Em 1974, Elizabeth e Richard
participaram da série “Here’s Lucy”. Na história, o
gostosão inglês compra um anel de presente para a morena e resolve levar para
ela. No caminho, ele cruza com Lucy, e um incidente provocado por esta (não
vou contar, mas pus o link do episódio aí abaixo) atrapalha os planos
do galã. Quem assiste tem a impressão que Elizabeth Taylor, Richard Burton e
Lucille Ball se divertiram pra caramba gravando tudo aquilo. Em suas memórias,
porém, Richard, que era ator shakespeariano treinado, garante que perdeu a
paciência com a comediante: “Pessoalmente Lucille não tem
charme nenhum, e sua falta de senso de humor é monumental. Na verdade, eu a
entendo e até sinto pena dela, pois é uma mulher idosa e cansada (Lucille
tinha 63 anos na época), que vive apenas
para o trabalho. Mas ela era um monstro que eu poderia ter assassinado se
estivesse bêbado!”. Elizabeth também não deixou barato. Perguntada durante
um a entrevista quem era o(a) pior diretor(a) com quem ela tinha trabalhado na
vida, a eterna Cleópatra mandou na
lata: “Sem dúvida, foi Lucille Ball!”
That’s Amore mesmo?
Outro que não
gostou de ser dirigido por Lucille Ball foi o charmoso Dean Martin. Na época (1966),
o “amore” estrelou um capítulo do “Show da Lucy”, interpretando a si mesmo. Na trama, ele tinha um desastrado encontro
romântico com Lucy, mas ela não sabia quem ele era. Segundo Dean, Lucille o deixou maluco,
chegando até mesmo a empurrá-lo. Houve um momento em que ele se encheu e
berrou: “Se ela tocar em mim mais uma
vez, eu vou para casa!”. O curioso foi que, algum tempo depois, já na década de 1970, Dean Martin e Lucille
Ball trabalharam juntos no programa “Roast”, criado por ele (e que teve
um remake no Brasil, chamado “Fritada”). E o grande barato do
programa, não só para mim, mas para todos os telespectadores, era justamente
Dean e Lucy falando besteira e zoando adoidado outros artistas – incluindo eles mesmos. Dá pra
ver que eles se divertiam com toda aquela palhaçada, tanto no palco quanto nos
bastidores.
Só as cachorras!
Joan Crawford, outra diva que tinha pavio
curto, também gravou com Lucille nos anos
60 um episódio do “Show da Lucy” (que foi exibido no
Brasil pelo SBT no início dos anos 80). Joan estava sempre
alcoolizada (ela tirava aquelas garrafinhas de vodca da bolsa) e lutando para
lembrar suas falas. Vamos combinar, não deve ter sido fácil para ninguém (nem
mesmo para a Tia Lucy) dirigir uma atriz nestas condições. O quebra-pau entre
as duas estrelas foi tão grande que a humorista quase pensou em substituir Joan
por Gloria Swanson. Dizem até que,
no final das gravações, Joan Crawford teria dito: “Lucille é capaz de ser mais cachorra do que eu em qualquer dia da
semana!”
A Volta
Mas, por
incrível que pareça, a primeira treta que Lucille Ball teve logo no início da
sua carreira televisiva foi com ninguém menos que Vivian Vance, a eterna Ethel
de “I
Love Lucy”. Quando o papel da melhor amiga de Lucy Ricardo foi oferecido a Vivian, ela ficou chateada porque iria
ser “escada” de uma atriz com quem não se dava. “Já que o seriado se chamava “I Love LUCY” e tudo girava em torno da personagem da Lucille Ball, eu também
precisarei aprender a amar aquela vagabunda”, teria dito Vivian na época
que a série começou. Tem gente que diz até que o figurino insosso de Ethel
teria sido feito por ordem da própria Lucille, que não queria contracenar com
uma artista que fizesse sombra para ela própria. Com a desculpa de “É-para-a-caracterização-da-personagem”, Lucille teria ainda mandado Vivian engordar uns
10 quilos para tornar a companheira de cena menos atraente. Verdade ou não, as
duas comediantes acabaram ficando tão amigas que não se desgrudavam, e passaram
a trabalhar juntas também no “Show da Lucy”, que Vivian abandonou
em 1965, alegando “cansaço e
problemas relacionados à vida familiar”. A colega ainda retornou de vez em
quando ao seriado da rainha do humor, mas em algumas aparições breves, até 1968. Em 1975, um ano depois de Tia Lucy ter estreado a série “Here’s
Lucy”, uma amiga em comum entre ela e Vivian, a apresentadora Dinah Shore, armou um reencontro da
diva com a então ex-fiel escudeira, e em frente das câmeras! Dinah chamou
Lucille Ball para ser entrevistada, sem que esta soubesse que Vivian estava nos
bastidores pronta para entrar. Detalhe: Lucy e Vivian ainda não tinham feito as pazes e estavam há sete anos sem se falar. Quando Vivian surgiu no palco, as duas
ex-colegas de seriado começaram a gargalhar e a chorar ao mesmo tempo. Era a
primeira vez que elas se viam em todo aquele tempo. Um detalhe hilário deste reencontro
é que Lucille Ball, famosa por abominar cabelos brancos e jamais deixá-los
visíveis, estava morena (sua cor natural) com mechas brancas por causa da personagem que estava
fazendo na época. Vivian, que sabia o quanto era raro a amiga mudar a cor das
madeixas, e ainda mais raro ela não disfarçar os inconvenientes fios brancos, saiu
com esta: “Finalmente você deixou as
raízes do seu cabelo aparecendo, Lucy!”. A cena da reconciliação da dupla de
estrelas você vê na Lista de Vídeos aí abaixo,
infelizmente sem legenda. Graças a Deus que no final dessa história a amizade superou
tudo.
Diva Vs. Diva
Não dá pra
deixar de fora da lista o arranca-rabo que Tia Lucy teve, inacreditavelmente, com uma de sua próprias ídolas, a dama do teatro e do cinema, Tallulah Bankhead (1902-1968). Famosa pelo gênio ruim e pela pouca humildade, Tallulah fez uma participação em 1957 em um episódio especial de “I
Love Lucy”. Na verdade, o papel tinha sido escrito para Bette Davis, que não pôde assumi-lo, e
Tallulah, por ser fã do seriado, ofereceu-se para atuar no lugar de
Bette. Em sua autobiografia (infelizmente nunca lançada no Brasil), Tallulah não poupa críticas a Lucille, chamando-a de
arrogante e autoritária, e apelidando-a de “Bitchy Ball” (Ball biscate). Entre as histórias cabeludas de bastidores, a Srta.
Bankhead conta que a humorista esvaziava no gargalo engradados de garrafas de
licor (entregues no próprio estúdio pelo caminhão de uma empresa de bebidas
alcoólicas) e ficava tão embriagada que acabava dormindo na rua. Outra
revelação feita por Tallulah é que Desi torrava dinheiro com garotas de
programa e transava com elas no estacionamento do estúdio. Ela também conta que
Lucille ganhava dinheiro para a produção do seriado fazendo filmes pornôs
caseiros e prostituindo o filho com pedófilos e que era, digamos, não muito
chegada a um banho. Diz também que Lucille Ball mandou aumentar os móveis e fez
todo o elenco (exceto ela própria, claro) usar roupas acolchoadas para que ela,
Lucille, parecesse mais magra. Tá certo que Tallulah Bankhead nunca foi um exemplo de sanidade mental e nem de modéstia – eu, pessoalmente, não acredito em
nada que ela falou, exceto que Lucille bebia demais e que Desi era mulherengo, pois estes eram fatos mais do
que conhecidos. Sem contar que nessa época era Lucy quem estava no auge, e não
Tallulah Bankhead. A principal razão dos quebra-paus entre as duas estrelas, na
opinião da autora deste blog aqui, era o ego “pequenininho” das duas. A própria Lucille
conta que precisou estalar os dedos várias vezes na frente do rosto de Tallulah,
pois a diva veterana vinha gravar com a cabeça cheia de álcool, ao contrário da
comediante, que estava sempre sóbria em cena. Sou suspeita porque sou muito fã
de Lucy e acho Tallulah um monstro de talento. Infelizmente, por questões de direitos autorais, não posso traduzir
o texto extraído do livro de Tallulah e reproduzi-lo no meu blog, mas deixo aqui para vocês o link do
site (americano) onde uma alma muy caridosa (americana) postou este capítulo da obra: http://alt.tv.ilovelucy.narkive.com/axHsICUU/tallulah-bankhead-speaks-about-lucy.
Conclusão
Apesar do
temperamento difícil que parecia se apossar de Lucille Ball toda vez que a
humorista atuava como diretora e produtora, é preciso reconhecer: nenhuma outra mulher foi
tão talentosa na história da mídia mundial. A melhor prova da importância do
seu trabalho é a molecada da novíssima geração (crianças e adolescentes do século XXI) que está redescobrindo sua
obra. E não vamos esquecer outra coisa fundamental: como diretora de TV,
Lucille abriu um espaço importante para as mulheres, pois ela foi a primeira a
exercer essa função. Com treta ou sem treta, Tia Lucy era única e
insubstituível, e talvez tenha sido a artista mais amada da história da televisão,
teatro, cinema, rádio, e de quaisquer outros veículos de comunicação onde ela
tenha se metido. Ou, como o próprio Desi Arnaz certa vez falou, “I Love Lucy”
nunca foi apenas um título.
VÍDEOS CITADOS NA MATÉRIA
“Here’s Lucy”: Lucy, Elizabeth Taylor e Richard Burton (1974) – primeira parte:
“Here’s Lucy”: Lucy, Elizabeth Taylor e Richard Burton (1974) – segunda parte:
“Show da Lucy”: Lucy Namora Dean Martin (1966):
“Show da Lucy”: Lucy e Joan Crawford:
Episódio do programa “Roast” (1975):
Reencontro de Lucille Ball e Vivian Vance:
Lucille Ball e Tallulah Bankhead:
Playlist completa da matéria:
FONTES
http://desiandlucy4ever.blogspot.com.br/2014/01/important-people-in-lucille-balls-life.html
Tem um documentário que saiu esse ano sobre Lucy e desi e mostra Lucy nos bastidores dando uma patada num diretor de fotografia pois ele não sabia como remover sombras.....
ResponderExcluir