O
machismo é algo que sempre existiu na história, e na indústria do
entretenimento não é diferente. Mas existiram mulheres que conseguiram romper
esse preconceito e atuar em áreas tidas como exclusivamente masculinas – e isso
aconteceu também nos bastidores da produção cinematográfica. Imagine naqueles
tempos em que se achava que o lugar do sexo feminino era “em volta do fogão”,
uma mulher dirigir um filme, ser supervisora de fotografia ou trabalhar em um
estúdio de animação! Pois aqui vão três histórias de mulheres empoderadas de verdade, que mostraram seu valor com
talento, esforço, inovações e inteligência. Pode ser que você nunca tenha
ouvido falar nelas, mas com certeza o que elas criaram faz parte do seu
repertório cinematográfico. Mulheres realmente
poderosas são assim – mais ação e menos conversa.
Natalie Kalmus (1882 – 1965)
Você já
deve ter visto o nome dela em alguns filmes da Era Technicolor – na verdade, ele aparece em quase todos! Natalie
Kalmus foi casada com o fundador do Technicolor, Herbert Kalmus, entre 1902
e 1922, mas os dois continuaram morando
juntos mesmo após o divórcio, até 1944
(até nisso Natalie era avançada para a sua época...). Tendo começado a carreira
como modelo e depois estudado arte, ela nunca imaginou que sua vida tomaria o
rumo que tomou. Os primeiros experimentos com o Technicolor datam de 1916, mas a técnica só se popularizou a
partir de 1939, com clássicos como “E O
Vento Levou” e “O Mágico de Oz”. Nessa fase de
transição do cinema preto e branco para o colorido, havia uma tendência para o
exagero de cores nas telas de cinema – é claro, tudo o que é novo tende a
causar espanto e encanto ao mesmo tempo. Graças a Natalie Kalmus, exageros bem
maiores não aconteceram. Para ela, a superabundância de cores não era algo
natural, e, por isso, devia ser evitada. “Somos
ensinados que uma pitada de sal a mais pode estragar tudo”, dizia ela,
sabiamente. Uma fotografia colorida era o máximo naqueles tempos, mas tons em
excesso poderiam tornar o filme desagradável para os olhos dos espectadores,
sem falar no mau gosto, que poderia arruinar obras de arte. Com sua
insistência, Natalie conseguiu driblar a maluquice dos diretores de fotografia
e impedir que eles extrapolassem no colorido dos filmes, tornando as imagens
mais próximas da vida real. Em 1948,
Natalie processou Herbert reivindicando pensão e metade dos bens dele. Como
perdeu o processo, ela precisou ser criativa para se virar. Tanto é que em 1950 ela licenciou seu nome para uma
linha de móveis para televisão lançada por uma fábrica da Califórnia. Os documentos de Natalie Kalmus estão agora na
biblioteca da Academia de Artes e
Ciências Cinematográficas – sim, a Academia
do Oscar.
Laverne Harding (1905 – 1984)
Imagine ter
a oportunidade de trabalhar com gênios da animação como Walter Lantz e Tex Avery e
testemunhar de perto toda a maluquice deles. Laverne Harding (às vezes
creditada como Verne Harding, talvez por causa do preconceito) teve esta
chance. Ela trabalhou no Walter Lantz
Studio durante boa parte dos seus 50 anos de carreira, e foi uma das
primeiras mulheres a atuar no ramo de animação. Para algumas fontes, aliás,
Laverne foi a primeira mulher animadora. Contratada por Lantz em 1934, ela é lembrada pelos estudiosos
por sua colaboração nos desenhos do Pica-Pau
– foi ela quem estilizou a versão do personagem usada de 1950 até 1972 (ou seja,
a versão de maior sucesso) e no remake de 1999.
Ela também era cartunista, e criou as tiras de jornal Cynical Susie, sobre uma
anãzinha e sua vaca de estimação, Lily Whey.
Para muitos, Susie era o alter-ego de Laverne. Inclusive, mais tarde a
personagem ganhou os gibis, em historinhas que passaram a ser publicadas na
revista Tip Top Comics. Após deixar
o Walter Lantz Studio, Laverne trabalhou em outras produtoras de animação, como
a Hanna Barbera (com quem fez Zé
Colméia) e a DePatie-Freleng Enterprises
(onde participou da equipe de criação da Pantera
Cor de Rosa). Teve também passagens breves pela Filmation e pela Warner.
Com tanta história para contar, Laverne recebeu o Windsor McCay Lifetime Achievement Award, um dos mais importantes prêmios
de animação do mundo. Detalhe: das 161 edições do troféu, apenas 9 ganhadoras
foram mulheres.
Dorothy Arzner (1897 – 1979)
Outra
pioneira: Dorothy Arzner foi uma das primeiras mulheres diretoras de cinema. Sua
convivência com artistas vem desde a infância, pois seu pai era dono de um
restaurante frequentado por várias celebridades. Começou a trabalhar no cinema na
Paramount, como estenógrafa, e, mais
tarde, como editora de filmes. Em 1927,
no mesmo estúdio, dirigiu seu primeiro filme, “Fashions For Women”, que
foi um grande sucesso, o que levou o estúdio a contratá-la para dirigir seu
primeiro filme falado, “The Wild Party” (1929), com a
estrela Clara Bow. O filme introduziu
no cinema temas como assédio sexual e homossexualidade – isso foi possível
porque na época ainda não existiam a Legião
da Decência e o Código Hays de Censura. As mulheres dos filmes de
Dorothy eram independentes, livres e destemidas, o que chocou
os mais conservadores. Em 1932,
Dorothy deixou a Paramount e passou a trabalhar para vários estúdios, só que
ganhando por obra. Entre outras proezas do seu currículo, ela criou os filmetes
de instrução para o Exército
norte-americano durante a Segunda
Guerra Mundial, e foi a primeira mulher a dirigir um filme falado. Durante
os anos 60 e 70, dedicou-se ao
teatro e foi professora universitária. Curiosidade: foi Dorothy quem lançou
como atriz a então pin-up girl e dançarina (mas já excelente atriz) Lucille Ball, que, três décadas depois, viria a se tornar a primeira mulher a ser diretora de televisão. Dorothy Arzner faleceu aos 82 anos, em 1979.
FONTES
Por trás de todo grande homem tem sempre uma mulher especial. Congratulações pela iniciativa de postar matéria sobre o papel de destaque da mulher no cinema.
ResponderExcluirMuito obrigada! Isso é bem frequente no meu blog.
ExcluirAbçs