Tomou um susto ao ver o título desta matéria? Aposto que sim! Pois é,
assim como a “Sessão da Tarde” já valeu o meu tempo, o “Vídeo
Show”, aquele programa irritante que passa diariamente nas tardes
da Globo, também já prestou. Quando foi criado, em 1983,
uma das propostas da atração era, sim, mostrar bastidores da televisão e do
cinema; só que essa não era a proposta mais importante do programa. O objetivo
principal do “Vídeo Show” era ser um programa cultural
– sem ser chato. Trazia reportagens imperdíveis sobre a criação da TV
no Brasil, entrevistas com gente que realmente tinha o que dizer (Cazuza,
por exemplo, no vídeo abaixo) e as novidades no mundo do cinema (acredite, a
primeira vez que eu ouvi falar em Pedro Almodóvar foi no “Vídeo
Show”, lá pelo final dos anos 80, se não me engano). As
famosas matérias com sequências de erros de gravações dos programas e novelas
também já estava lá, mas duravam menos de um minuto.
Inúmeros apresentadores passaram pelo “Vídeo Show”,
entre eles Marcelo Tas, que interpretava um personagem exótico
chamado Cabeça Branca, não muito diferente do que ele faria anos
mais tarde, nos programas infantis da TV Cultura (https://www.youtube.com/watch?v=6HxFzQaaVdQ). Porém, o
apresentador que foi, para toda uma geração, a “cara” do programa só foi
estrear nele em agosto de 1987. Miguel Falabella deu
personalidade ao “Vídeo Show”, e trouxe para o programa
quadros como “Tricotando” e a voz inconfundível da amiga Cissa
Guimarães como narradora das matérias do programa. Miguel, inclusive, se
referia a Cissa como “a garota que quebra o coco, mas não arrebenta a
sapucaia”. Foi também sob o comando de Falabella que o programa ganhou um
dos seus quadros mais famosos: o “Túnel do Tempo” (“Há 25 anos,
direto do túnel do tempo…”).
Em 1994, resolveram que o programa passaria a ser diário – e
a partir daí, foi ladeira abaixo sem freio. O que antes era o que o próprio
nome diz (um show de vídeo) foi transformado em uma versão televisiva da
revista Caras, tratando só de atualidades da vida dos artistas da
Globo (enaltecendo todos eles, é claro!) e algumas entrevistas bobas de
bastidores.
Ao longo desses quase 25 anos, o “Vídeo Show” passeou
por diversos horários na grade da emissora, trocou de cenário e de
apresentadores, enfim, sofreu um monte de mudanças – nenhuma delas qualitativa.
O conteúdo permaneceu a mesma chatice inútil, misturando fofocas do elenco
global com matérias que nada mais são do que propagandas de programas que a
própria Globo exibe ou está para lançar. Não há uma única preocupação em se
contar a história do cinema ou da televisão – quando isso é feito, apenas uns
40 segundos (sem exagero!) são dedicados ao tema. De resto, só vejo coisas
tolas ou até mesmo absurdas. Lembro que, na época da novela “Senhora
do Destino”, a personagem Nazaré (Renata Sorrah)
tinha a mania de destruir travesseiros quando estava nervosa. E o programa fez
uma montagem que tentava ser engraçada, mostrando um monte de travesseiros se
rebelando contra Nazaré. Como eu não consegui encontrar esta obra-prima
no You Tube, fiquem com a Nazaré de verdade, a da novela:
Deixo aqui meu recado para o próximo produtor e/ou diretor que assumir o
comando do “Vídeo Show”. Por favor, tente fazer o programa
voltar a prestar, a valer o tempo do espectador. Traga de volta a proposta da
antiga versão do programa, que, não por acaso, é bem parecida com a proposta
deste blog: trazer diversão inteligente, sem ser chato, e de forma popular, sem
ser idiota. Nossa televisão (tanto aberta quanto a cabo) precisa disso, e com
urgência. Saber que, no meio de uma filmagem, o Tony Ramos começou
a rir da cara da Fernanda Torres é, sim, engraçadinho – desde
que esse tipo de coisa ocupe, no máximo, trinta segundos de programa. Há muita
coisa interessante para tratar – sugiro, por exemplo, uma visita do programa
ao Hotel Fazenda Mazzaropi (e não estou ganhando um tostão
para isso!), mostrando a propriedade onde o grande artista brasileiro fez
vários de seus filmes. Sugiro também entrevistas com lendas da nossa
comunicação, como Washington Olivetto, e matérias de 1 a 2 minutos
(ou até mais) sobre alguns dos incontáveis artistas novos (e de qualidade, pelo
amor de Deus!) que estão surgindo na Internet. Idéias
de reportagens não faltam. Desculpas para não fazer um programa de qualidade
são, para mim, só isso – meras desculpas.
Enfim, o “Vídeo Show” serve como um excelente
termômetro de como a cultura do nosso país andou para trás nos últimos 34 anos.
Na verdade, a cultura mundial vem empobrecendo. Mas nós, aqui no Brasil,
não precisamos ser iguais ao resto do mundo. E antes que me perguntem “Você
acha que um programa de TV vai mudar isso?”, eu já digo que, se cada um
fizer a sua parte para tornar o nosso país mais inteligente, a diferença vai
ser grande, e bem grande.
Já vi muita gente comentar comigo que sente saudades do “Vídeo
Show Que Prestava”, e que não suporta o “Vídeo Show” atual.
Quando o “Vídeo Show” voltar a ser o “Vídeo
Show Que Prestava”, muita gente vai voltar a assistir ao programa. E os
índices de audiência voltarão a subir. Parece complicado? Mas é simples assim.
FONTES
https://gshow.globo.com/programas/video-show/
Playlist da Matéria:
https://www.youtube.com/playlist?list=PLyc88yygdNcCNoGv7qNbvkMm2-w8VtHJk
Playlist da Matéria:
https://www.youtube.com/playlist?list=PLyc88yygdNcCNoGv7qNbvkMm2-w8VtHJk
Texto publicado também no blog Bláh Cultural https://www.blahcultural.com/o-video-show-que-prestava/
Concordo taaanto com vc. Esse vídeo show de agora é tão ruim!
ResponderExcluirObrigada pelo seu comentário, Ana! Se você gostou do texto, por favor, divulgue! Bjs :)
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