Este foi o ano mais
esquisito de todos os tempos. Estou anunciando que durante o Natal estarei de férias e não farei
publicações. Que
venha 2021, lotado de esperança e de
coisas boas! Abraços e muita gratidão por vocês terem me apoiado
nessa minha retomada do blog. Que Deus abençoe muito a vida de cada um de
vocês.Tenha
um Feliz Natal, seja qual for a sua crença. #PazNoMundo
Assíduos frequentadores
da “Sessão da Tarde” da Rede Globo nos anos 80 e musos das telas grandes
na década de 1950, Dean Martin e Jerry Lewis formaram uma dupla
de comediantes que inspira muita gente até hoje. Com um humor pastelão-raiz,
eles se complementavam: Jerry era o bobo alegre atrapalhado, e Dean
o amigo galã e pegador (Realista! Afinal, qual bobo alegre nunca teve um amigo
galã pegador, e vice-versa?). Os dois começaram a trabalhar juntos, acredite,
em 1946, em uma casa noturna. Estrearam no cinema em 1949, ano em
que, pelas mãos de Hal Wallis – ninguém menos que o produtor dos filmes
de Elvis Presley – ganharam papéis especiais no filme “My Friend
Irma” (https://pt.wikipedia.org/wiki/My_Friend_Irma).
A partir daí, foi um sucesso atrás do outro: “O Palhaço do Batalhão”
(1950), “O Rei do Laço” (1956), “Ou Vai Ou Racha”
(também de 1956), são títulos que estão no coração dos cinéfilos de
verdade. Os filmes não impediram Jerry e Dean de continuar
rodando os EUA com seus shows, sempre lotados. Como se fosse pouco, no
auge do sucesso os dois comediantes ganharam até um seriado na TV, “The
Colgate Comedy Hour”, patrocinado (isso mesmo) pela famosa pasta de
dentes. Olha aqui um episódio: https://www.youtube.com/watch?v=4T5HpN8B2Qo
Nem tudo, entretanto,
foram flores. Justamente no momento em que a popularidade de Martin e Lewis
atingiu o ápice, começaram as tretas. Os motivos são polêmicos até hoje. Tem
gente que diz que era ego (um com inveja do outro), outros afirmam que era
dinheiro (eles ganharam muita grana juntos), mas, durante uma entrevista
reveladora feita no ano de 2005 (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0111200527.htm),
Jerry Lewis contou algo inusitado: ele, na verdade, sentia culpa porque Dean
Martin não teve o reconhecimento que merecia. Segundo ele, Dean nunca teve
um ego grande, apenas ficava chateado de vez em quando. Era Jerry quem
se incomodava porque o amigo era visto como “canastrão” e “artista fabricado”,
coisas que, na opinião desta autora, Dean Martin jamais foi.
No auge da celeuma, em 1955,
com o povo especulando se Dean e Lewis estavam se estranhando por
causa de inveja ou de grana (ou das duas coisas), a dupla garantiu ao público
que os boatos sobre separação eram mentira, e fez isso cantando o clássico “Side
By Side” , música que estourou na época e é interpretada até hoje por humoristas de stand-up lá fora (https://www.atribuna.com.br/2.713/jerry-lewis-foi-um-g%C3%AAnio-desprezado-nos-eua-afirma-cr%C3%ADtico-1.31805).
Tudo teatro. Martin e
Lewis só se falavam durante as gravações dos filmes. Fora isso, não
trocavam uma palavra. O rompimento definitivo veio em 1956. A partir
daí, cada um seguiu seu caminho – Jerry como comediante e diretor de
jóias como a primeira versão de “O Professor Aloprado” (1963), e Dean
como cantor e ator. Raramente, praticamente nunca, se viam.
Em 1976, porém, Frank
Sinatra armou um reencontro-surpresa entre Dean Martin e Jerry
Lewis durante o programa “Telethon”, criado e apresentado
pelo próprio Jerry (e que ganhou um remake aqui no Brasil). Na
ocasião, fazia 20 anos que a parceria Martin-Lewis havia terminado. Sinatra,
amigo em comum, tinha ido participar do programa como uma das atrações. O resto
eu não vou contar, porque não dou spoilers. O vídeo deste momento tão
importante na carreira do "Amore" e do eterno palhaço está aí abaixo pra vocês conferirem - com direito a um musical de Sinatra e Dean Martin no final.
Realmente, é de arrepiar. Veja!
Washington
Olivetto, um cara que eu admiro muito, tem uma frase certeira:
“O segredo do sucesso de uma boa publicidade é transformar o consumidor em
mídia”. Ou seja, criar canções e bordões que façam sucesso com o grande
público e entrem para a cultura pop. “É uma propaganda gratuita, em que todo
mundo acredita”, diz o publicitário , responsável por obras de arte como o
arrepiante comercial da Folha de São Paulo que tinha a imagem de Adolf
Hitler e que propunha uma reflexão sobre os métodos da imprensa para
transmitir notícias. (O comercial foi premiado e era este aqui: https://acontecendoaqui.com.br/propaganda/comercial-hitler-e-um-dos-100-melhores-comerciais-de-todos-os-tempos).
Mas
como o papo aqui é cultura pop, esses dias eu estava inspirada e me peguei
cantando umas musiquinhas de comerciais antigos, todos eles do meu tempo de menina.
Era uma época em que as agências de publicidade entendiam a eficácia de jingles
bem-feitos e irresistíveis, que a gente saía cantando simplesmente porque não
conseguia tirar da cabeça. Essa tendência sempre existiu, mas explodiu nos anos
70 e 80. Foi a era dourada daquilo que eu chamo de pop chiclete
publicitário, ou seja, canções que viraram hits instantâneos e que, como
sabiamente disse o Olivetto, faziam com que todo mundo virasse
garoto-propaganda involuntário das marcas anunciadas.
Você
com certeza já ouviu o termo “boomer”. Nos EUA e Europa,
ele é utilizado para designar aquela geração que nasceu após o fim da Segunda
Guerra Mundial, pois nessa época houve o chamado “baby boom” (muitas
crianças nascendo muita gente tendo filhos). No Brasil, o termo “boomer”
é sinônimo de outra geração: a que veio ao mundo nos anos 70,
principalmente na primeira metade da década, ou seja, entre 1970 e 1974
(tipo eu). Foi nesse período que a explosão de natalidade aconteceu no nosso
país, graças ao chamado “Milagre Econômico”. O que isso tem a ver? Tudo.
Nos anos 70 e 80, as agências de publicidade sabiam que, sendo então as
crianças a maioria da população, era a elas que as propagandas tinham
que ser direcionadas – afinal, a molecadinha tinha influência sobre as decisões
de compra dos pais.
Pra
não perder a inspiração, corri pro computador e fiz essa matéria. Ranqueei
alguns dos hits mais bacanas (e claro, mais pegajosos) daquela época. São
anúncios que ficaram no ar durante anos, simplesmente porque o público
(crianças, em especial) os adorava. Algumas dessas marcas nem existem mais, eu
acho. Mesmo assim, não estranhe se você se pegar cantando uma dessas gloriosas
canções pop feitas pra vender de balas saborosas a veneno de barata. Quem tá na
casa dos 45 a 55 anosde idade, então, pode preparar o lencinho.
Uma chuva de ciscos vai cair nos olhinhos de vocês...
8 - “Primavera, Papel,
Primavera” (PRIMAVERA, Anos 70)
A marca de papel
higiênico tornou-se nacionalmente conhecida em meados da década de 70.
Existe a piada até hoje de que Primavera é o papel que "limpa, lixa e dá
acabamento” (entendedores entenderão). Chacotas à parte, o papel rosinha e áspero
(uiiiii) teve sua popularidade turbinada graças não apenas a este comercial e
sua trilha sonora, mas à personagem apresentada nele, a Menina Primavera.
Junte tudo isso ao fato de a propaganda ser um desenho animado, e pronto: as
crianças começaram a encher a paciência dos pais para que eles comprassem papel
higiênico da marca Primavera. Curiosidade: quem deu voz à Menina
Primavera foi Sarah Regina, que gravou em português diversas
aberturas de animações famosas, como “Sailor Moon” (https://www.youtube.com/watch?v=-IRzh9GtNyg)
7 – “Solte-se,
Liberte-se” (REXONA, 1976)
O jingle tocou no rádio e
em comerciais de televisão. O mote da campanha publicitaria era mostrar que o DesodoranteRexona dava liberdade para o consumidor fazer o que quisesse sem se
preocupar com aquele famoso cheirinho embaixo do braço... O criador da canção
foi ninguém menos que Edgard Poças, compositor de vários hits do inesquecível
grupo infantil Balão Mágico (https://pt.wikipedia.org/wiki/Turma_do_Bal%C3%A3o_M%C3%A1gico)
Ou seja, não foi só com o famoso conjunto da cantora Simony que Poças
fez parte da nossa infância...
6 – “Coca-Cola, Abra Um
Sorriso” (COCA-COLA, 1980)
Tendo nosso eterno “professor”
Chico Anysio como astro, a campanha publicitária iniciada em 1980
para o refrigerante mais famoso do mundo ganhou uma fatia inesperada do
público: as crianças. Lembro que a gente cantava essa música no recreio da
escola e criou até coreografia pra ela. Se a molecada já gostava de Coca-Cola,
imaginem depois disso... Nossos pais é que devem ter ficado de cabelo
em pé!
5 – “Café Seleto”
(SELETO, 1974)
Outro hit que já nasceu
clássico. A propaganda que celebrizou a tradicional marca de café mostrava
crianças em um sítio, em meio à natureza – a perfeita definição de paraíso,
principalmente para nós, a molecada da cidade. O jingle inesquecível foi criado
em 1974 (como diria Marcelo D2, o ano em que "o mundo começou,
pelo menos pra mim”). Foi tamanho o sucesso que a musiquinha foi reutilizada
durante muitos anos. E, claro, o anúncio ainda teve um efeito colateral
educativo: muitos meninos e meninas criaram o hábito de “levantar, tomar aquele
banho e escovar os dentinhos” graças a este grude clássico. Bons tempos aqueles.
4 – “DD Drin” (DD DRIN,
1976)
Com um ritmo contagiante,
este clássico absoluto ficou no ar por cerca de uma década. O iêiêiê
mata-barata tinha como objetivo promover a empresa de dedetizaçãoDD Drin.
Um detalhe inacreditável: a DD Drin existe desde 1957 (!!!), mas
atingiu o auge da popularidade nas décadas de 70 e 80, graças
(adivinhem) aos insetos cantantes e dançantes desta animação feita por Ely
Barbosa, irmão do escritor Benedito Ruy Barbosa (ele mesmo, o autor de
novelas da Rede Globo). Não posso me esquecer da importância histórica que
o famoso comercial da DD Drin teve: a estréia dele ocorreu bem na época
em que praticamente toda a programação da TV brasileira era em preto e branco. Reparem que os insetos de rosto pintado que aparecem no vídeo são uma referência à mitológica banda Secos e Molhados, que tinha Ney Matogrosso como vocalista. https://www.youtube.com/watch?v=vDvjecJOpa4
3 – “Um Banho De Alegria
Num Mundo de Água Quente” (DUCHAS CORONA, 1972)
A série de anúncios para
o inovador fabricante de chuveiros começou em 1972, com o jingle de
campanha. O primeiro comercial foi uma pérola filmada na Cachoeira do
Prumirim em Ubatuba, SP. Transmitia a ideia de que um banho
revigorante deixa as pessoas mais felizes (e não é bem verdade?). O hit das duchas
Corona é um filho de muitos pais. Quando a marca de chuveiros decidiu lançar no mercado nacional as primeiras duchas feitas de plástico, encomendou um
comercial, e o projeto caiu no colo do compositor Francisco Monteiro,
mais conhecido como Francis Monte. Ele foi descoberto enquanto tocava em
uma casa de shows, pelo produtor José Mário. Os dois bolaram o jingle e,
logo em seguida, o apresentaram à equipe da agência de publicidade, que
rejeitou a composição, dizendo que o objetivo do projeto de marketing da Corona era “vender
chuveiros, e não sabonetes”. Confiando no próprio taco, Francis gravou a canção
em uma fita K7 e a entregou diretamente a Amílcar Yamin, o proprietário
da empresa Corona. Amílcar se apaixonou na hora pelo jingle. Resultado: “Um
Banho de Alegria Num Mundo de Água Quente” estourou no Brasil
inteiro e foi adotada como trilha oficial da publicidade das Duchas Corona
durante 12 anos. Um banho de competência!
2 – “Roda, Roda, Baleiro”
(BALAS KIDS, 1978)
Fiquei surpresa ao saber
a data em que o jingle das famosas e deliciosas balasde leite Kids foi
produzido: 1978. Sim, porque a música foi um sucesso colossal na
primeira metade dos anos 80, e é praticamente um símbolo daquela época
pra mim. Tão doce, gostoso e grudento quanto o produto que anunciava, este hino
tem uma história bastante curiosa. É comum o compositor de uma canção gravar
uma demo da música apenas com sua própria voz e uma base instrumental,
geralmente um piano ou um violão, para enviar à gravadora, à agência de
propaganda ou a quem quer que tenha feito a encomenda da obra para ele. Foi o
que fez Renato Teixeira, autor de clássicos da MPB como “Romaria”,
de Elis Regina (https://www.youtube.com/watch?v=2r3RgH5LcYE). Ele enviou
despretensiosamente uma versão de “Roda Baleiro” apenas com seu vocal e um
violão para os proprietários da Kids verem se gostavam. Os donos da
marca de bala mais gostosa do planeta se apaixonaram tanto por aquela canção
que quiseram que a versão acústica mesmo, na interpretação do meu xará, fosse
utilizada no comercial. Rever o anúncio da Bala de Leite Kids décadas
depois é de arrepiar. Aquele baleiro realmente existia nos balcões das lojas e
mercearias da década de 80, e foi símbolo de uma infância que as
gerações posteriores nunca conheceram e, pelo visto, as futuras gerações jamais conhecerão. Era uma brincadeira divertida “girar o
baleiro” para ver qual cor e variedade de bala ia estar na nossa frente, para a
gente abrir a tampa e pegar – como se fosse um “Roda-Roda Jequiti”
das guloseimas. Para os que não viveram a época e querem entender melhor como
esse jogo funcionava, basta assistir ao comercial, que retrata tão bem esse
momento de diversão com as coisas mais simples.
A Milani foi fundada
em 1955 e introduziu no Brasil uma bebida que já era sensação lá
fora: o xarope de groselha (o nome é feio, mas é esse mesmo). O sucesso do
produto foi incrível nas festas infantis, o que levou a empresa a lançar mais
uma novidade, chamada sacolé. Eram os hoje conhecidos saquinhos de plástico
cilíndricos com groselha congelada como se fosse sorvete. Era 1978
quando a Milani, investindo ainda mais na criançada, soltou este anúncio
tão divertido que chegava a ser covardia. Um desenho animado com uma bolinha
cor-de-rosa que mostrava como a groselha era um produto prático e gostoso. O
comercial foi um hit tão avassalador que seu uso durou 10 anos. Curiosidade pra
destruir suas ilusões de infância: o cantor Zelão, que interpretava o
jingle da Groselha Vitaminada Milani, possuía uma voz bem grossa. Para que no ela soasse fina, aguda e infantil, bem adequada à bolinha-personagem, a canção teve de ser gravada com velocidade acelerada. Iahuuuu!
Curtiu essa matéria? Dá uma moral aí pra mim, pessoal. Ajude este blog a crescer!!
Primeira mulher
diretora de televisão, Lucille Ball criou em 1950 a Desilu
Productions, em parceria com o então marido Desi Arnaz. Ao
fundarem a própria empresa, o casal tinha a única intenção de produzir seu
projeto, pois ele havia sido recusado por todos os estúdios de cinema e TV.
Tratava-se de uma inovação, um teatro filmado que teria um episódio diferente a
cada semana. Lucille e Desi seriam os atores
principais, e não era só. Ele também seria o diretor e ela, vice-diretora. O
nome do projeto? “I Love Lucy”.
Como eu acredito que
todo mundo aqui já saiba, o seriado pioneiro lançado em 1951 virou
febre nacional e, anos depois, mundial. Lucille se consagrou
como maior comediante feminina de todos os tempos e Desi ganhou
respeito não só como músico e ator, mas também como diretor. Nada bobos, os
dois partiram para a expansão de seus negócios – em todos os sentidos.
Compraram um estúdio maior e sofisticaram a produção de “I Love
Lucy”.
Em 1960,
porém, a dupla de artistas se divorciou. Desi jogou a toalha
como diretor da Desilu Productions. Para não deixar a peteca cair,
Tia Lucy comprou a parte dele na Desilu e assumiu ela mesma o
posto. Vale lembrar que quando fundaram a empresa, Lucille Ball e Desi
Arnaz não entendiam absolutamente nada de negócios. Aprenderam tudo na
raça, administrando a própria empresa. Resultado: viraram empresários de
sucesso. Principalmente Tia Lucy que, ao se ver sozinha, mostrou ainda mais o
seu valor e abriu caminho para a mulherada num ambiente machista como a direção
de televisão. Anos depois, ela confessaria: “Tudo que sei, aprendi com Desi”.
Um gesto de humildade surpreendente da parte da mulher mais talentosa da
História da mídia mundial.
Em 1964, Lucille
Ball era não apenas umsucesso como humorista e estrela de sua própria
série, mas também como diretora e produtora televisiva. Seu estúdio, aliás, era
o único que realmente dava lucro. Buscando dar uma diversificada nas
produções, Lucille pediu que o seu então braço direito Herbert
Solow saísse à cata de ideias bacanas e originais. Ele voltou com dois
projetos: um era “Missão Impossível”, e o outro uma série
futurista criada por Gene Rodenberry, chamada “Star
Trek”.
Quando leu a sinopse
de “Star Trek”, Tia Lucy ficou praticamente obcecada. Certa
de que a série com temática espacial iria estourar, ela levou o projeto à
diretoria da CBS, um dos canais de televisão onde as produções
da Desilu eram exibidas. Os diretores da emissora se recusaram
a tirar “Star Trek” do papel, pois, segundo eles,
ficaria muito caro produzir a série. Lucille não desanimou:
bateu na porta da NBC, que cogitou botar o projeto em
prática. Só cogitou. Primeiro porque ficção científica era
algo que a NBC não possuía em sua grade de programação;
segundo, porque os diretores da emissora consideraram a série muito “cabeça”; e
terceiro, porque (adivinhem!) o orçamento era alto demais.
Nem assim Lucille
Ball se deixou abalar: propôs arcar com boa parte dos custos de
produção. Porém, o episódio-piloto, “The Cage”, lançado no
início de 1965, foi mal recebido pelo público. Tia Lucy acreditava
tanto em “Star Trek” que conseguiu dobrar os diretores
da NBC e fez com que a emissora encomendasse um segundo
episódio, que também teria parte da produção bancada pela Desilu.
Resultado: a humorista saiu ainda mais vitoriosa, porque o segundo episódio –
aquele que apresenta William Shatner como o Capitão
Kirk – teve bem mais audiência e a série-fenômeno passou a fazer parte
da programação da NBC, que a produziu em parceria com a Desilu de 1966 até 1967,
ano em que Lucille vendeu sua produtora à Paramount
Pictures. Sem a Desilu e sem Tia Lucy, “Star
Trek” continuou no ar sob nova direção – literalmente. A saga
original teve 79 episódios ao todo, e depois saiu do ar.
Nos anos seguintes,
vieram remakes, filmes, novas versões e novas gerações. Livros, revistas,
bonecos, camisetas. Sem falar nos DVDs e Blu-Rays. “Star Trek” se tornou uma franquia
poderosa, uma das mais lucrativas da História de Hollywood segundo
a revista norte-americana Forbes (https://www.forbes.com/sites/quora/2016/07/28/theres-a-reason-why-star-trek-remains-so-popular/?sh=f6a60ad1dc39).
Em 50 anos, mais de 700 episódios e 13 filmes da saga foram feitos. É possível
assistir a horas e horas de ‘produtos’ da franquia “Star Trek” sem
ver nada repetido!
A visão otimista de
futuro que a série transmite se baseia na crença que Gene Roddenberry possuía
no ser humano perfeito e num futuro onde tudo daria certo. Isso explica o
sucesso da trama entre os adolescentes e os jovens adultos. A razão da
continuidade e impecável da franquia “Star Trek” é a
competência dos produtores em escalar um elenco perfeito e contratar
roteiristas craques em seu ofício – dessa forma, a coerência da série foi
mantida. E a visão de diversidade – vários personagens diferentes trabalhando
juntos – trouxe fãs de todas as cores, raças e gêneros. A diva Whoopi
Goldberg, por exemplo, confessou ser fã da série porque a personagem da
atriz Nichelle Nichols (que era afrodescendente) a fazia
acreditar que mulheres negras seriam parte do futuro. Aliás, quando Nichelle pensou
em abandonar a série, ninguém menos que Martin Luther King a
convenceu a não fazer isso. “Sua personagem é um símbolo de esperança na
igualdade”, teria dito o ativista político e líder da luta contra o racismo.
Muitos fãs se referem
a Lucille Ball como a “madrinha” ou até “mãe” de “Star
Trek”. Muitos deles também têm grande admiração pelo trabalho dela como
comediante. Não dá pra negar que Tia Lucy tinha visão de futuro – em todos os
sentidos. Prova disso é que ela nunca se interessou muito por ficção
científica, mas acreditou no projeto porque soube captar o espírito dele, coisa
que os diretores das emissoras tinham dificuldade de fazer. Além de parte
indispensável da mitologia hollywoodiana, “Star Trek” é
uma página a mais na história de uma mulher que audaciosamente foi onde nenhuma
mulher jamais esteve.
Para
alegrar um pouco seu dia, a dancinha de Marilyn Monroe em “Os
Homens Preferem As Loiras”, filme de 1953 que inspirou
o clipe da música “Material Girl”, hit maior de Madonna em 1984 (https://www.youtube.com/watch?v=6p-lDYPR2P8).
Ontem,
fuçando no Google em busca de
inspiração para o texto da semana, eu me deparei com isso. Minha reação inicial
foi de espanto, mas acabei dando boas risadas. A notícia é velha, mas me
impressionou tanto que eu decidi compartilhar.
Em 2018, uma artesã conhecida como Trixxbrixx(foto acima) recriou, utilizando peças de Lego, o que seria um estúdio de cinema da antiga Hollywood. Batizado de Hollywood
Brictures, um trocadilho com os termos “brick” (tijolo em inglês) e “pictures”
(filmes), o projeto reproduz com incrível fidelidade o que teria sido uma MGM, uma Warner, uma Columbia ou
qualquer outra fábrica de sonhos da Meca do Cinema seis, sete ou até oito
décadas atrás. O estúdio fictício possui sets de filmagem, sala de edição e
montagem dos filmes, departamento de arte, escritório do diretor e até um
depósito de objetos de cena. É de impressionar até onde a imaginação de uma
cinéfila apaixonada (dessa vez estou falando dela, e não de mim) pode chegar:
Vista aérea do estúdio:
Parece um antigo casarão da Califórnia convertido em imóvel
comercial e adaptado para a produção de filmes. Diversos estúdios de Hollywood, na época em que o cinema
ainda era uma arte nova e recente, começaram assim. Um belo exemplo foi o Charles Chaplin Studio
(https://en.wikipedia.org/wiki/Jim_Henson_Company_Lot), que hoje abriga a Jim Henson Company, fundada por Jim Henson, o criador dos Muppets (LINK).
Pátio:
Quem já viu fotos antigas de
estúdios de cinema com certeza já reparou que a maioria deles possuía jardim
com fonte, canteiros de flores e algumas árvores fazendo sombra para amenizar o
sol californiano. Tudo numa arquitetura típica do sul dos Estados Unidos, que possui forte influência espanhola.
Departamento de Arte (Sala
1):
Walt
Disney e Walter Lantz
(https://poltrona-r.blogspot.com/2016/10/walt-disney-versus-walter-lantz-tinha.html) com certeza trabalhavam numa sala bem parecida com essa. Em cima da mesa
vê-se o que parece ser uma sequência desenhada para algum filme de animação.
Pincel, latas de tinta e um esboço de créditos de abertura de alguma
superprodução nos dão a ideia de como se trabalhava antes da computação gráfica
tomar conta da indústria do entretenimento: tudo feito à mão, do começo ao fim.
É, dava trabalho, mesmo.
Depósito de Objetos de Cena:
É o “cômodo” mais curioso do
estúdio. Nele se vê bananas de dinamite (cenográficas, é claro), uma cabeça de
robô, armas de mentirinha, peruca estilo Elvis
Presley e um peixe falso. Diretores, produtores e atores de “trash movies”
deviam frequentar muito essa sala.
Escritório do Chefe do
Estúdio:
Escrivaninha suntuosa com
uma cadeira que mais parece um trono, prateleira cheia de Oscars e outros prêmios da indústria do cinema, uma estrela da
calçada da fama pendurada na parede, e uma mesa de canto com bule de café,
garrafa de whisky e balde de gelo. Sobre a escrivaninha há uma luminária, um
envelope grande, daqueles de carta, e um livro que o chefão do estúdio
provavelmente está lendo para ver se vale a pena comprar os direitos e
transformar numa superprodução. Não é nada difícil imaginar um Jack Warner, um Louis B. Mayer ou um Harry
Cohn sentado neste escritório, dando murros na escrivaninha e esbravejando
contra algum subordinado. Dá até medo.
Departamento de Edição:
Tesoura, rolos de filme,
moviolas e pedaços de fita de celuloide – tudo isso nos dá mais um motivo para admirar
– ou, pelo menos, respeitar – os pioneiros do cinema. O trabalho dos caras era
artesanal do começo ao fim. Nesta sala onde os filmes eram editados, vemos uma
mesa de montagem, uma lata de lixo no chão para jogar os trechos filmados não
aproveitáveis e até um relógio de parede marcando quinze para meio-dia. Pelo
visto, estava quase na hora do almoço dos editores!
Departamento de Arte (Sala
2):
Tudo indica que esta segunda
ala do departamento de arte era mais dedicada à cenografia. Há uma prancheta de
desenhista, com pincel e latas de tinta sobre um gaveteiro, e o supra-sumo da
viajada: uma maquete de casa sobre uma prateleira. Há também um quadro
(provavelmente mera decoração) e um mapa-múndi na parede. Luminárias de mesa e
no teto tornavam o ambiente mais claro e melhor para os artistas dos bastidores
criarem.
Sets de Filmagem:
Tudo leva a crer que a Hollywood Brictures está produzindo um
faroeste: veja os cenários das gravações. Tem um saloon e até uma cadeia! Algo
curioso é que no canto direito existe uma tela pintada com um céu azul com duas
nuvens e o sol, com certeza para servir de cenário, naqueles tempos remotos em
que nem mesmo o Chroma Key
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Chroma_key) havia sido inventado.
Filmes
de Brinquedo
Logicamente,
vendo esse tipo de coisa, qualquer pessoa fanática por cinema e/ou por História
já começa a imaginar e inventar histórias. A autora do Hollywood Bricktures não incluiu personagens na sua impressionante
obra, mas em 2014, o jovem
legomaníaco Morgan Spence nos deu um
gostinho de como seriam certos atores clássicos em versão Lego ao recriar cenas de alguns dos filmes famosos deles usando o
famoso brinquedo. Detalhe: o rapaz tinha apenas 15 anos quando elaborou as
pérolas que você verá agora.
Luzes da Cidade (1931)
Aconteceu Naquela Noite
(1934)
O Mágico de Oz (1939)
E O Vento Levou (1939)
Casablanca (1942)
Cantando Na Chuva (1952)
Psicose (1969)
Bonequinha de Luxo (1961)
O Poderoso Chefão (1972)
O Iluminado (1980)
Protesto
Irreverente
Como
se não bastasse, já fizeram até uma réplica do Oscar em Lego.
Inconformado por ter sido deixado de fora da maior premiação da indústria do
cinema, Phil Lord, o diretor de “Uma
Aventura Lego” (filme de 2014)
protestou construindo sua própria estatueta utilizando o famoso jogo de montar.
Ele
fez escola. No ano seguinte, o lego-artista Nathan Sewaya confeccionou várias réplicas desse Oscar alternativo para distribuir para
as celebridades durante a cerimônia de entrega do prêmio. Cada estatueta foi
feita com 500 peças de Lego. E não é
que o Oscar de brinquedo passou a ser mais disputado que o verdadeiro? Julianne Moore e Emma Stone que o digam!