A festa do Halloween surgiu na Grã-Bretanha da Idade Média, e veio
parar no Brasil graças às escolas de inglês e aos colégios bilíngües. Em Hollywood já é uma diversão desde
sempre, e provas disso são as fotos que eu separei de diversas estrelas clássicas posando e divando ao estilo do Dia
das Bruxas. Dá uma olhada:
Todo mundo
sabe o que eu acho dos desenhos atuais. A grande maioria deles você assiste do
começo ao fim e não consegue rir nem uma vez. Claro que há exceções, como “Os Simpsons”
e “South
Park”, mas eles não têm a inocência dos clássicos da minha infância.
Esses dias eu
resolvi vasculhar o You Tube atrás
de alguns desses desenhos e esbarrei em pérolas de primeira qualidade, entre
elas algumas raridades da animação que
esculhambavam os ícones da Sétima Arte em sua época. AVISO:Esta matéria pode ficar incompleta a qualquer momento, pois os vídeos
podem sumir dela. É que o You Tube tem uma grave mania: excluir vídeos sem a
menor explicação, alegando violação de direitos autorais. Como eu não estou
violando lei alguma e aqui nesse blog não rola nenhum tipo de divulgação de
material ilegal, vou dividir esses desenhos com vocês. Vamos a eles!
1 – Hollywood Steps Out (1941)
Esqueça a enrolação da vinhetinha e pule logo para o desenho, aos 0:17 min. Esse é o meu preferido nesta
seleção, e só podia ter saído da mente da equipe
de animadores da Warner, chefiada pelo genial Tex Avery, a mesma turma de alucinados (no bom sentido, é claro!) que
criou os clássicos “Pernalonga”, “Patolino” e “Papa-Léguas”. O enredo,
se é que dá pra chamar de enredo, gira em torno de uma festa só com
celebridades das telas bebendo, dançando e se divertindo no Ciro’s, um restaurante badalado que
realmente existiu. Todos os grandes
mitos do cinema de 1941 estão aqui – não faltou nenhum, mesmo! – e há piadas
bem no clima politicamente incorreto daqueles anos. Um exemplo é a sacanagem
que fizeram com a Greta Garbo, uma
piada que já corria em Hollywood na época sobre a sexualidade da atriz sueca. Ou
o letreiro na porta do restaurante, dizendo que um jantar lá podia ser pago “em
50 suaves prestações”, coisa que detonava a ideia de que atores famosos
ganhavam maravilhas (na época a maioria deles era explorada por seus
empresários). Gracinhas assim fariam o desenho ser censurado hoje em dia. Mas o
desenho não foi feito hoje em dia, então assista sem culpa.
Algumas das celebridades zoadas: Além de Greta Garbo tem Humphrey
Bogart, Bing Crosby, o Tarzan
original Johnny Weissmuller, Bette Davis, Claudette Colbert, Mickey
Rooney e Judy Garland, os Irmãos Marx, Clark Gable, Cary Grant,
Rita Hayworth, o maestro Leopold Stokowsky, os Três Patetas, o Gordo e o Magro e Tyrone
Power.
2 – Hollywood Picnic (1937)
Embora feito pela Columbia Pictures, este desenho é criação de Sid Marcus, animador que mais tarde construiria um currículo brilhante,
que incluiria personagens como A Pantera
Cor de Rosa, Pica-Pau e diversos
heróis da Marvel. A sacanagem
politicamente incorreta aqui é mostrar os artistas em um parque se comportando
da forma mais adequada à imagem pública deles (ao contrário do que acontece em “Hollywood
Steps Out”). Vamos combinar que é uma delícia ver O Gordo e o Magro em um carrossel junto com Mae West (decotada como sempre) e o posudo Clark Gable. Dá-lhe incorreção política, como a cena do Gordo, da dupla com o Magro, quebrando a gangorra com seu
peso, e a piada com Stepin Fetchit, o
ator negro que no desenho está morto de fome. Detalhe: o diretor é Charles Mintz, que será sempre lembrado
como o sujeito que puxou o tapete de Walt Disney
tirando dele o Coelho Oswald (inclusive,
eu contei essa história aqui recentemente e estou postando o link pra quem
perdeu: http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/10/walt-disney-versus-walter-lantz-tinha.html )
Outras celebridades zoadas: Bob Hope, Marlene Dietrich,
Greta Garbo, Shirley Temple, Katharine
Hepburn, Boris Karloff e a cantora
Martha Raye.
3 – Mother Goose Goes To Hollywood (1938)
Acredite, este desenho é dos estúdios de Walt Disney – o que, de certa forma, não é de se estranhar, pois
faz piada com contos infantis. Tio Walt sabia muito bem ser sacana quando
queria, e eis a prova. Logo no início aparece a legenda “Qualquer semelhança entre os personagens reais aqui retratados e
pessoas vivas ou mortas é mera coincidência”. Desnecessário dizer que não
era coincidência alguma. A pastorinha Katharine
Hepburn, os Irmãos Marx bancando
os músicos (e fazendo burrada, como sempre), a piada com a Garbo de novo e as orelhas de abano de Clark Gable não enganavam ninguém!
Atentem para a participação especialíssima de um personagem do próprio Walt Disney
(não vou contar qual é!). Por causa de “estereótipos raciais e sexuais”, este
desenho foi proibido. É, os limõezinhos
da Pepsi (https://www.youtube.com/watch?v=Q8dQ7wyrVSA ) têm razão; o mundo está ficando realmente muito chato.
Outras celebridades zoadas: W. C.
Fields, Charles Laughton, Spencer Tracy, Edward G. Robinson, Martha
Raye e Fred Astaire.
4 – A Hollywood Detour (1942)
Pelo visto esse tipo de desenho era moda na época e custou a enjoar o
público! Este aqui também é da Columbia
Pictures, mas tira sarro de atores de outros estúdios, coisa impensável
atualmente. O tema é uma viagem turística pela Hollywood daqueles tempos. E o
humor é daqueles tempos também! Logo no começo tem uma piadinha politicamente
nada correta com Hedy Lamarr. E este
desenho também inclui uma tiração de sarro com o preço dos locais badalados que
os artistas frequentavam, pois num dos restaurantes há uma placa dizendo que o
carro do cliente serve como pagamento para a conta. A gozação com a sexualidade
da Garbo está lá outra vez. E nem a
dupla Fred Astaire e Rita Hayworth, que naqueles tempos
faturava os maiores salários da Columbia,
foi poupada. Há até uma piada interna, mas interna mesmo, que são as caricaturas dos cartunistas do departamento de
animação do estúdio. Além do jazz, a trilha faz referência à música latina, a
outra febre sonora daqueles tempos. O ator perseguido por fãs chatos é John Barrymore.
Outras celebridades zoadas: Bing Crosby, Irmãos Marx
(sempre eles!), Clark Gable, Três Patetas e a onipresente Katharine Hepburn (que, pelo visto,
sofria bullying até dos colegas da mídia por ser vegetariana)
5 – Mother Goose In
the Swingtime (1939)
Também pegando carona na famosa compilação de contos infantis “Mamãe
Gansa” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Mam%C3%A3e_Gansa), esta delícia
explora, através de sua trilha sonora jazzística (coisa óbvia, pois eles
estavam lá em 1939, em plena Era do Jazz)
com toques de música latina, um ritmo diferente de ação, mais acelerado, que mostra os
personagens dançando o tempo todo e que deixa o espectador com vontade detambém dançar. Foi
feito pela Columbia Pictures e um
dos dubladores é o multitalentoso Mel
Blanc, a lenda que deu voz à primeira versão do Pica-Pau e a todos os personagens da mitológica série Looney Tunes, que é a mina de ouro da
Warner até os dias de hoje. A produção é de Charles Mintz (esse que eu mencionei aí em cima em “Hollywood
Picnic”). Mas não pensem que a gozação foi deixada de lado. Entre os ícones
sacaneados estão Greta Garbo (pelo
motivo de sempre...), Clark Gable (fizeram
uma piadinha filha da mãe aqui com as orelhas dele), a jovem Judy Garland (para quem o roteirista do
início do desenho lê o livro da “Mamãe Gansa”), e Martha Raye (abrindo seu bocão e soltando
seu vozeirão mais uma vez). Curiosidade: Garbo
e Stokowsky aparecem dançando porque na época os dois eram amigos e houve boatos de um caso entre eles. E a palavra “Jitterbug”, que os personagens repetem
várias vezes em coro, é o nome de uma dança dos tempos de auge do jazz.
Outras celebridades zoadas: Claudette Colbert, Katharine
Hepburn, Edward G. Robinson, Bing Crosby, Shirley Temple, Ginger e
Fred, Mickey Rooney, Van Johnson, Joan Crawford, Tyrone Power,
Leopold Stokowsky, Gordo & Magro, Irmãos Marx e as Big Bands
de swing jazz da época.
Elenco: Clark Gable, Claudette Colbert, Walter Connollly, Jameson Thomas.
Duração: 105 minutos
Preto & Branco
Gravadora: Columbia
Você é mulher, viu “E O
Vento Levou”, se apaixonou pelo personagem Rhett Butler e gostaria de ver o mesmo ator em outro filme? Ou você
é homem e acha que comédia romântica
é uma babaquice para mulherzinha? Ou ainda, você quer dar risadas com algo
inteligente? Seja qual for o seu caso, ou mesmo que o seu caso não seja nenhum
destes, tenho aqui um filme para você. “Aconteceu Naquela Noite”, grande
sucesso do diretor Frank Capra é
imperdível por vários motivos, entre eles por trazer o astro Clark Gable em um papel cômico – e mandando muito bem. Ele é Peter Warne, um
jornalista charmosão que está desempregado. Para salvar sua carreira, ele resolve
escrever a matéria da sua vida. O assunto é a fuga da patricinha Ellie (Claudette Colbert), cujo pai autoritário
(Walter Connolly) quer proibi-la de
se casar com um playboy inútil (Jameson
Thomas). O encontro de Peter e Ellie rende risadas do começo ao fim. Durante
as aventuras que vivem na estrada, os dois brigam o tempo todo, e ao mesmo
tempo se sentem atraídos um pelo outro, porque o destino faz de tudo para aproximá-los.
Este é um filme dos tempos
pré-politicamente corretos, e apesar disso (ou talvez por isso mesmo) é tão
inteligente e divertido. Não há um diálogo que não seja bem escrito, e o enredo
é uma sequência ininterrupta de situações inesperadas. A gente nunca sabe o que
vai acontecer, e o que acontece é quase invariavelmente engraçado. “Aconteceu
Naquela Noite” não tem grandes efeitos (nem para a época) e o orçamento
para produzi-lo não foi nenhuma facada – pelo contrário. Mesmo assim, é
impressionante ver como uma coisa incrivelmente simples pode permanecer
engraçada depois de décadas e influenciar tudo o que vem depois em seu gênero. Digo
isso porque este pequeno grande clássico ainda é inspiração para comédias
românticas em pleno século XXI. Quantos filmes você já viu em que um casal que
se detesta é obrigado a conviver e acaba cedendo à atração que nasce por obra
do destino? Vários, mas poucos são tão bem sacados quanto este. Bordões como o
das Muralhas
de Jericó (não vou contar o que é pois não dou spoiler) e desafios encarados pelo elenco, como soltar a
voz sem estar em um musical, por exemplo, tornam ainda mais deliciosa a trama
extremamente bem construída desta despretensiosa jóia. Juro que tentei, mas não
consegui encontrar nenhum ator canastrão ou atriz canastrona no elenco; até
mesmo os figurantes são talentosos (coisa, aliás, comum em filmes dos anos 30 e
40). O final é previsível e inusitado ao mesmo tempo. “Aconteceu Naquela Noite”
mudou a maneira de se fazer cinema e trouxe algumas novidades para a época –
como, por exemplo, a cena em que Clark
Gable tira a camisa. Graças a este filme, o futuro Capitão Butler de “E O
Vento Levou” entrou para a história como o primeiro ator a aparecer de peito nu nas telas. Aliás, o contrário
do que muitos dizem, eu particularmente acho que o personagem de Gable neste
filme tem muito em comum com o Butler – um cara malandro, charmoso e desbocado,
com talento para se virar nas dificuldades, e que vive um relacionamento de
amor e ódio com uma herdeira mimada, arrogante e temperamental. “Aconteceu
Naquela Noite” é mais uma dica para quem quer perder o preconceito contra
filmes em preto e branco, ou, principalmente, contra o cinema antigo, porque o retrato que essa
comédia romântica e de costumes faz do seu tempo é uma delícia irresistível.
Curiosidades:
▪ “Aconteceu Naquela Noite” foi gravado em apenas quatro semanas, pois esse era o tempo de que a estrela Claudette Colbert dispunha em sua
agenda. O cachê dela, inclusive, foi o mais alto do elenco, pois ela na época
era uma popstar recém-saída de sucessos como “Cleópatra” (safra 1934) e
a primeira versão de “Imitação da Vida”.
▪Embora tivessem uma química fenomenal nas telas, Gable e Claudette não
se bicavam na vida real. Pudera: ambos tinham temperamentos bem difíceis...
▪A épica cena de Claudette pedindo carona foi satirizada em um episódio doPica-Pau chamado “O Grande Logro”. Toma aqui o Link do desenho pra quem quer matar a saudade: https://www.youtube.com/watch?v=jY2ygjUT0TI
EXTRAS DO DVD: Bastante, mas tudo
em inglês e sem nenhuma tradução. Tem um minidocumentário em que Frank Capra Jr, o filho do
diretor/produtor, conta como surgiu a ideia para o filme e narra alguns “causos”
de bastidores. Visualizações de pôsteres
publicitários do filme que, embora não possam ser baixados e salvos para
serem aumentados, impressos e emoldurados,são bonitos e vale a pena dar uma
olhada. Áudio de radionovela baseada no
filme, com as vozes dos atores originais (infelizmente também não dá pra baixar e ouvir no celular, mas este blog que você
ama achou o áudio na internet! Olha
aqui: https://www.youtube.com/watch?v=7s2DkoAgrYw). Trailers
do filme e de outras duas obras do diretor, “A Mulher Faz O Homem” e “Horizonte
Perdido”. E fichas com a filmografia
do diretor e dos dois astros principais. Agora eu pergunto: custava colocar legenda em português em tudo
isso???
Embalagem: O básico do
básico do básico. Mas o simples fato do DVD ter som e imagem de qualidade torna isso menos relevante.
Eles foram dois caras insanamente
talentosos que marcaram a infância de muita gente. Seus estilos eram opostos:
um emocionou o mundo com suas belíssimas versões dos contos de fadas e suas
mensagens otimistas; o outro debochou da estupidez dos seres humanos e fez um
humor ácido, mais adulto até do que infantil, mas que fascinou as crianças.
Embora totalmente diferentes um do outro, eles tinham coisas em comum, começando
pelo primeiro nome – os dois foram batizados de Walter. Foram pioneiros na
história do desenho animado. E, por incrível que pareça, chegaram a trabalhar
juntos. O papo aqui é sobre dois ídolos meus, Walt Disney (1901-1966) e Walter
Lantz (1899-1994). Sim, eles mesmos – o pai do Mickey Mouse e o criador do Pica-Pau.
Quando
esses dois mitos da animação chamados Walter estavam em início de carreira, mais
precisamente em 1927, Disney já trabalhava no núcleo de animação do Universal Studios ao lado do amigo Ub Iwerks, junto com quem criou o
personagem Oswald, The Lucky Rabbit (em português, Oswaldo, O Coelho Sortudo
ou, em algumas fontes, Coelho Oswald mesmo). Foi nessa
época que Disney criou (sim, foi ele!) o conceito de animação com
personalidade, ou seja, de desenhos cujos tipos tivessem características,
maneirismos e jeito próprios. “Quero que
meus personagens sejam alguém. Não desejo que eles sejam apenas figuras”,
disse ele certa vez.
Em
busca de novos talentos, o distribuidor das obras de Disney, Charles Mintz, contratou Lantz para dirigir a série Oswald.
Recém-mudado para Hollywood e já com
alguns trabalhos no currículo, entre eles a função de roteirista do diretor Frank Capra e a série de desenhos
animados “Dinky Doodle”, Lantz aceitou. Mintz e seu cunhado, George Winkler, haviam comprado os
direitos autorais do coelho de Disney e Iwerks, seus criadores originais. O
presidente da Universal, Carl Laemmle,
não gostou muito da história e botou Mintz e Winkler na rua. Com a dupla
demitida, a Universal então passaria a produzir a série por conta própria.
Inconformado,
Lantz não quis perder o personagem, e apostou os direitos dele com Laemmle,
acredite, em um jogo de pôquer. Sabem quem venceu? Lantz, que virou o dono do
personagem (cujos direitos autorais seriam recuperados pelos estúdios Disney em
2003 para um videogame).
Disney perdeu
o personagem, mas não a fé. Como era típico dele, tratou logo de criar um novo
“filho” para suas animações. Utilizando o próprio Oswald como base, ele rabiscou
daqui, rabiscou dali, e nasceu o personagem mais famoso e lucrativo do
animador: o Mickey Mouse. Algumas fontes afirmam que foi Iwerks quem teria
criado o rato-celebridade, e Disney teria se apropriado do personagem. Seja
como for (não vou entrar em polêmicas), a perda de Oswald foi positiva para Walt
Disney. E eu diria que para Walter Lantz a posse dos direitos do coelho não fez
grande diferença, pois ele nem foi o maior sucesso de sua carreira de
cartunista. Em 1940 ele se tornou o pai de um dos mais sensacionais personagens
já criados: o Pica-Pau. Isso mesmo. O Pica-Pau nasceu em 1940, e não em 1950,
como inúmeras fontes insistem em divulgar aqui no Brasil. Duvida? Olha aqui a
versão oficial: http://www.intanibase.com/gac/lantz/woody.aspx
O
Coelho Oswald teve seus direitos recuperados pelos Estúdios Disney em 2003. Antes disso, fez algumas participações
especiais em algumas animações da Universal. A mais famosa (e hilária) delas
foi no desenho “A Polca do Pica-Pau”,
de 1951. (Link: https://www.youtube.com/watch?v=qlm5Sy6ZKnw)
Em 2010 foi
lançado o videogame-conceito (odeio esse negócio de “coisas-conceito”, nem sei
que raio é isso, mas o termo está na moda) Epic Mickey, que mostrava o coelho
retornando ao seu criador, Walt Disney, e com ciúmes do ratinho. Mas não adianta.
Quando é destino algo não estourar, não estoura. O sucesso do Coelho Oswald
jamais chegou perto da paixão que Mickey Mouse e Pica-Pau despertam mundo afora
em gerações e gerações de fãs de animação. Até hoje.
No dia 6 de
agosto último, fiz uma matéria com meus
15 momentos preferidos da carreira da musa da comédia, Lucille Ball (Olha o link aqui pra quem perdeu: http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/08/meus-15-momentos-preferidos-de-lucille.html). O post bombou, e por isso resolvi repetir
a dose para homenagear minha outra ídola, Rita
Hayworth (1918-1987), que se estivesse viva completaria hoje 98 anos de
idade. Embora criminosamente subestimada
pelos estudiosos de cinema, ela influenciou centenas de cantoras, atrizes e modelos nos quatro cantos do mundo.
Agora você vai ver uma seleção que mostra por que Rita divide com Lucille o
posto de maior diva de todos os tempos – pelo menos na opinião desta autora.
1 – Jogada de cabelo em “Gilda”
“Are
you decent?” Talvez
essa seja a cena mais conhecida de Rita Hayworth no Brasil – principalmente porque
foi utilizada no filme “Um Sonho de Liberdade” (1994). Pelo amor de Deus, se esta é a única
parte do clássico “Gilda” que você conhece, corrajá para assistir inteira a esta jóia
do cinema, que é espetacular do começo ao fim. Rita merecia o Oscar de Melhor
Atriz por esta personagem, mas ganhou foi (muita) dor de cabeça. Ela dizia que os
homens sonhavam com Gilda e acordavam com ela. Isso porque Gilda, com seu
mau-caratismo sedutor, era o oposto do que Rita foi na vida real.
2 – Put The Blame On
Mame, Part Two
Mostrar o corpo é fácil. Difícil
é tirar apenas uma luva como se
estivesse despindo a roupa toda, e deixar os homens loucos com esse gesto. A sequência,
saída da mente do genial coreógrafo Jack
Cole e executada de maneira estupenda por Rita Hayworth, é algo único, algo
que jamais se repetirá na história do cinema. Até Michael Jackson, amante do cinema da Velha Guarda, homenageou Rita
incluindo esta cena (e se incluindo
nela) em seu último DVD, “This Is It”. (https://www.youtube.com/watch?v=SsaEk7cVMz0)
3 – Let’s Stay Young Forever
Nesta sequência de “Quando Os Deuses Amam”
(filme que ela praticamente carregou nas costas), a Rainha da Columbia Pictures
encarna Terpsícore, a deusa grega da
dança, e arranca do personagem de Larry
Parks o seguinte comentário, que resume o que as performances dela até hoje
despertam no público: “Ela é mágica!”
4 – No papel de Carmen: “Eu sou inocente”
Quem é fã das personagens de Rita
sabe que 90% delas não era inocente coisa nenhuma. Pra variar, eu infelizmente não
consegui achar esta cena em português. Mas é um dos trechos mais bacanas do
filme “Os Amores de Carmen”. Costumo dizer que, se (e somente SE) Vivien Leigh não tivesse existido ou
não pudesse ter interpretado Scarlett O’Hara
em “E
O Vento Levou” de jeito nenhum, a melhor escolha para o papel teria sido Rita Hayworth.
A forma como Rita construiu Carmen, como uma personagem transgressora e sedutora,
mas ao mesmo tempo moleca e rebelde, é para mim a prova disso.
5 – Trinidad Lady
“A Chicky Chicky Boom,
Chicky Boom, it’s the Trinidad Laadyyyy!” Para mim este número
musical de “Uma Viúva em Trinidad” vale pelo filme todo. O clássico que
marcou a volta de Rita Hayworth às telas em 1951, após um período de
afastamento, foi uma tentativa furada que a Columbia Pictures fez de repetir o
sucesso de “Gilda”. Tanto é que o ator é o mesmo, o superfofo Glenn Ford, que dividiu as telas com
Rita em várias produções. Não sou fã de “Uma Viúva em Trinidad”, mas tenho
esta música no celular. Duvido você conseguir tirar o refrão da cabeça. E este
vestido é um dos mais lindos que Rita usou em toda sua carreira.
6 – Cena de amor musical com Gene Kelly
Já fiz uma resenha do DVD do
filme “Modelos” aqui no blog (link: http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/07/dvd-modelos.html). Amo essa preciosidade que só de
ter Gene “Gênio” Kelly, mais lindo
que nunca, ao lado de Rita Hayworth (dois MITOS!), vale ser visto e revisto. Há
vários trechos memoráveis, como a entrevista de emprego (que se 50 vezes eu
assistir, 50 vezes eu vou dar risada) e a dança de Rita, mais diva do que
nunca, descendo a rampa do alto de uma espécie de Monte Olimpo, com um monte de homens apaixonados lá embaixo esperando
por ela. Esta cena do reencontro dos personagens dos dois é emocionante – para não
falarmos na canção, “Long Ago And Far Away”. Toda a trilha do filme, composta por Jerome Kern & Ira Gershwin, é
maravilhosa, e deveria ser lançada em CD no Brasil.
7 – Sendo sacaneada por Frank Sinatra em “Meus Dois Carinhos”
Já quarentona e com seu
empresário Harry Cohn treinando a
jovem Kim Novak para ser a nova Rita
Hayworth (como se fosse possível isso existir!), a eterna estrela de “Gilda”
fez este superclássico ao lado de um cara que era tão lendário quanto ela: o
cantor e ator Frank Sinatra (que
você provavelmente só conhece como cantor). Nesta cena, ele interpreta para ela
uma canção que se tornou obrigatória em seus shows e um dos maiores hits de seu
repertório, “The Lady Is a Tramp”.
Você vai entender a cara de revolta dela porque este vídeo tem a tradução em
português da letra (Aleluia!!!). Detalhe de bastidores: Sinatra, que não
gostava de Rita pessoalmente mas a admirava muito como artista, exigiu que o
nome dela viesse antes do dele nos créditos. Quando lhe perguntaram o motivo
disso, o cantor respondeu: “Simplesmente
porque Rita Hayworth é a Columbia Pictures”. Rita merecia ter
levado o Oscar de Atriz Coadjuvante por este filme. Não levou, mas também não
perdeu o título de estrela maior da Columbia. Nem mesmo a novinha Novak
conseguiu ofuscar seu brilho.
8 – The Shorty Georges, com o grande Fred
Astaire
Fred Astaire definia Rita Hayworth como a melhor parceira com quem
ele havia contracenado – imagino a cara de Ginger
Rogers ouvindo isso! Aqui, os dois dançam em uma das cenas mais conhecidas
do clássico “Bonita Como Nunca”, e provam que Fred tinha razão. O maestro
que aparece nesta cena é um ícone da época, o espanhol Xavier Cugat (1900-1990), presente também em toda a ótima trilha
sonora.
9 – Dança dos Sete Véus em “Salomé”
Outro que não é meu filme
preferido da Rita, embora seja extremamente cultuado pelos outros fãs. Esta
cena foi um escândalo na época, e arranjou confusão com os censores (coisa
que não era incomum para a atriz). Apesar de aparentar estar quase nua, a diva
na verdade usa um macacão cor da pele por baixo do traje de odalisca. Loira e
bronzeada, a Rainha da Columbia até hoje arranca suspiros de muitos homens no
papel de Salomé. E com zero adição de vulgaridade, vale dizer.
10 – You Excite Me
Reza a lenda que os músicos e dançarinos que
dividem o palco com Rita Hayworth neste número musical emblemático do filme “O
Coração de Uma Cidade” eram da banda de Carmen Miranda. Verdade ou não, os movimentos da nossa Carmen inspiraram
a coreografia desta impressionante sequência, que chegou a fazer com que o
filme fosse proibido em alguns países (!!!). Aqui, Rita, cujo nome de batismo era Margarita Carmen Cansino, mostra que
suas raízes latinas jamais ficaram para trás.
11 – Amado Mío
Além de “Put The Blame On Mame” (Part One & Part Two), a trilha de “Gilda”
teve este outro megahit, que depois viria a ser regravado por vários artistas.
O vestido que a personagem usa nesta cena foi leiloado em 2014 por uma bolada
gigantesca, e continua sendo copiado mundo afora. A dança, como tudo o que Rita
fazia, é uma verdadeira aula de como provocar e sensualizar sem tirar uma única
peça de roupa, sem falar palavrão e sem fazer gestos vulgares – sim, isso é
possível. Mas é pra quem pode.
12 – Dança espanhola em “Os
Amores de Carmen”
Fã que é fã sabe que Rita Hayworth era filha de
pai espanhol, e que a mãe dela era de origem britânica. E também que, antes de
se tornar um fenômeno nas telas, ela foi uma menina prodígio que, muito cedo,
chamava a atenção do público nos shows mambembes que fazia com sua família, uma
companhia de artistas. E este espírito ela carregou consigo durante toda a sua
carreira – jamais tendo se envergonhado de suas origens, ao contrário do que
alguns desinformados dizem. Esta cena de dança do filme “Os Amores de Carmen” é
absolutamente clássica. Para os que dizem que “não é flamenco autêntico”, já
aviso que a sensualidade da dança teve que ser atenuada por ordem do sempre
chato pessoal da Censura – afinal, era
o ano de 1948.
13 - Put The Blame On Mame, Part One
A primeira versão do tema de “Gilda”
aparece neste trecho do filme, em que a personagem toca violão para um funcionário
babão e perturba o sono do ex, Johnny (Glenn Ford). Aposto que ela também perturbou
o sono de inúmeros outros homens naquela época – e que, exatas 7 décadas
depois, o efeito continua o mesmo. Como eu sempre digo, filme bom não sai de
moda duas semanas após ter sido lançado.
14 – Blue Pacific Blues
Quando fez “A Mulher de Satã”, ela
já não era mais uma jovenzinha, é verdade. E nem estava mais no auge da
carreira. Por isso mesmo o filme vale a pena ser visto. Assim como Lucille
Ball, Rita Hayworth foi uma das raras atrizes da chamada Era das Pin-Ups que conseguiu sobreviver ao final dessa, digamos,
tendência. De estrela dos musicais e dos filmes noir, ela se revelou uma atriz dramática que já não dependia mais do
corpaço para fazer sucesso – pra mim nunca dependeu, mas... Uma coisa que poucos
sabem é que “A Mulher de Satã” foi um
dos primeiros filmes da história do cinema (e o primeiro da Columbia) a ser lançado também em 3D. Isso
mesmo! Sabe em que ano? 1953! (https://www.youtube.com/watch?v=In57uBpQVUw) E ainda dizem que Rita Hayworth
nada significou para a Sétima Arte...
15 – Please Don’t Kiss Me, de
“A Dama de Shanghai”
Louraça belzebu, louraça Lucifér,
louraça Satanás! A nossa Rainha, então casada com o diretor e ator Orson Welles, teve que cortar e
oxigenar os cabelos para estrelar este drama no mínimo icônico. Dizem que os
estúdios da Columbia foram inundados de cartas de fãs implorando por um cacho cortado
do cabelo dela... Isso décadas antes de ser moda também? Siiimmm!!! Este é
outro filme que você precisa ver. Não quis colocar aqui a minha sequência favorita,
a dos espelhos, simplesmente porque seria um tremendo #spoiler. E todo mundo aqui sabe que eu odeio spoilers. Fechando então com chave de ouro esta seleção, a
música tema do filme, “Please Don’t Kiss Me”.
Uma porção de
outros grandes momentos da carreira de Rita Hayworth ficou de fora. Uns porque
não encontrei no You Tube (as cenas
de “Sangue
e Areia”, por exemplo, um filme que eu amo). Outros porque simplesmente
não couberam nesta lista. Mas fica minha homenagem a esta maravilhosa atriz e
show-woman, a primeira e única Rainha da Columbia Pictures. Ela certa vez disse
que não tinha substituta. Estava certíssima – continua insubstituível e inimitável
até os dias de hoje. God Save The (Dancing)
Queen!!!
A playlist completa com todos estes vídeos pra você ver ta no canal do
Poltrona R no You Tube. Quer assistir?Clica aqui:
Charles Chaplin define este clássico como “Um filme com um sorriso – e talvez, uma lágrima”. Eu diria que se trata de um filme com uma lágrima e, talvez, um sorriso. "O Garoto", um dos melhores filmes desse poeta do cinema, está inteiro no You Tube, para o público daqui do Brasil assistir. Com legendas em português e excelente qualidade de imagem, coisa rara em postagens no abençoado site de vídeos.
A
origem da inspiração para este filme é controversa. Existem três hipóteses:
1) A forma como Chaplin foi afastado da mãe, Hannah, ainda criança. Ele passou parte de sua infância em um
orfanato, onde foi separado também de seu irmão Sidney. Isso porque a mãe do
artista não estava em condições financeiras e mentais para cuidar dos dois garotos,
pois tinha sido abandonada pelo marido quando os filhos eram muito pequenos; 2) O ator e diretor estaria vivendo uma crise em seu casamento com a
atriz Mildred Harris, com a qual
teve um filho que morreu com três dias de vida; e 3) Antes das gravações do filme, Chaplin teria sido afastado de seu
filho ilegítimo, que só veio a conhecer 18 anos depois. Essa é a tese
apresentada também no espetáculo teatral “Chaplin, O Musical”, que esteve em
cartaz no ano passado.
De onde quer que Chaplin tenha tirado a ideia para esta obra-prima,
trata-se de um dos seus melhores filmes – meu preferido, junto com “O
Grande Ditador”. A história todo mundo deve conhecer: Carlitos adota, por acaso, um bebê que
uma aspirante a atriz (a ótima Edna Purviance) havia abandonado. Impossível deixar de comentar a atuação impressionante do menino Jackie Coogan, um pequeno gênio escolhido
pessoalmente pelo próprio Chaplin aos 7 anos de idade (embora aparentando bem
menos). Jackie, aliás, se tornaria a partir daí um ator de sucesso, e,
acredite, seria mais conhecido como o Tio
Chico da versão original de “A Família Addams” na TV, nos anos
60. Sim, ele mesmo. Nem eu acreditei.
É raro encontrar um filme que faça rir e chorar sem cair no ridículo e
nem na pieguice. “O Garoto” é um deles. Mesmo assim, deixe a caixa de
lencinhos ao seu lado antes de assistir - você vai
precisar. Segura aí o link:
Maravilhosa Carmen Miranda, nossa maior diva de todos os tempos. A Dama do Chapéu de Tutti Frutti, única! Merecia ser mais lembrada e mais homenageada por nós, brasileiros. #Fato