Todo mundo
sabe o que eu acho dos desenhos atuais. A grande maioria deles você assiste do
começo ao fim e não consegue rir nem uma vez. Claro que há exceções, como “Os Simpsons”
e “South
Park”, mas eles não têm a inocência dos clássicos da minha infância.
Esses dias eu
resolvi vasculhar o You Tube atrás
de alguns desses desenhos e esbarrei em pérolas de primeira qualidade, entre
elas algumas raridades da animação que
esculhambavam os ícones da Sétima Arte em sua época. AVISO: Esta matéria pode ficar incompleta a qualquer momento, pois os vídeos
podem sumir dela. É que o You Tube tem uma grave mania: excluir vídeos sem a
menor explicação, alegando violação de direitos autorais. Como eu não estou
violando lei alguma e aqui nesse blog não rola nenhum tipo de divulgação de
material ilegal, vou dividir esses desenhos com vocês. Vamos a eles!
1 – Hollywood Steps Out (1941)
Esqueça a enrolação da vinhetinha e pule logo para o desenho, aos 0:17 min. Esse é o meu preferido nesta
seleção, e só podia ter saído da mente da equipe
de animadores da Warner, chefiada pelo genial Tex Avery, a mesma turma de alucinados (no bom sentido, é claro!) que
criou os clássicos “Pernalonga”, “Patolino” e “Papa-Léguas”. O enredo,
se é que dá pra chamar de enredo, gira em torno de uma festa só com
celebridades das telas bebendo, dançando e se divertindo no Ciro’s, um restaurante badalado que
realmente existiu. Todos os grandes
mitos do cinema de 1941 estão aqui – não faltou nenhum, mesmo! – e há piadas
bem no clima politicamente incorreto daqueles anos. Um exemplo é a sacanagem
que fizeram com a Greta Garbo, uma
piada que já corria em Hollywood na época sobre a sexualidade da atriz sueca. Ou
o letreiro na porta do restaurante, dizendo que um jantar lá podia ser pago “em
50 suaves prestações”, coisa que detonava a ideia de que atores famosos
ganhavam maravilhas (na época a maioria deles era explorada por seus
empresários). Gracinhas assim fariam o desenho ser censurado hoje em dia. Mas o
desenho não foi feito hoje em dia, então assista sem culpa.
Algumas das celebridades zoadas: Além de Greta Garbo tem Humphrey
Bogart, Bing Crosby, o Tarzan
original Johnny Weissmuller, Bette Davis, Claudette Colbert, Mickey
Rooney e Judy Garland, os Irmãos Marx, Clark Gable, Cary Grant,
Rita Hayworth, o maestro Leopold Stokowsky, os Três Patetas, o Gordo e o Magro e Tyrone
Power.
2 – Hollywood Picnic (1937)
Embora feito pela Columbia Pictures, este desenho é criação de Sid Marcus, animador que mais tarde construiria um currículo brilhante,
que incluiria personagens como A Pantera
Cor de Rosa, Pica-Pau e diversos
heróis da Marvel. A sacanagem
politicamente incorreta aqui é mostrar os artistas em um parque se comportando
da forma mais adequada à imagem pública deles (ao contrário do que acontece em “Hollywood
Steps Out”). Vamos combinar que é uma delícia ver O Gordo e o Magro em um carrossel junto com Mae West (decotada como sempre) e o posudo Clark Gable. Dá-lhe incorreção política, como a cena do Gordo, da dupla com o Magro, quebrando a gangorra com seu
peso, e a piada com Stepin Fetchit, o
ator negro que no desenho está morto de fome. Detalhe: o diretor é Charles Mintz, que será sempre lembrado
como o sujeito que puxou o tapete de Walt Disney
tirando dele o Coelho Oswald (inclusive,
eu contei essa história aqui recentemente e estou postando o link pra quem
perdeu: http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/10/walt-disney-versus-walter-lantz-tinha.html )
Outras celebridades zoadas: Bob Hope, Marlene Dietrich,
Greta Garbo, Shirley Temple, Katharine
Hepburn, Boris Karloff e a cantora
Martha Raye.
3 – Mother Goose Goes To Hollywood (1938)
Acredite, este desenho é dos estúdios de Walt Disney – o que, de certa forma, não é de se estranhar, pois
faz piada com contos infantis. Tio Walt sabia muito bem ser sacana quando
queria, e eis a prova. Logo no início aparece a legenda “Qualquer semelhança entre os personagens reais aqui retratados e
pessoas vivas ou mortas é mera coincidência”. Desnecessário dizer que não
era coincidência alguma. A pastorinha Katharine
Hepburn, os Irmãos Marx bancando
os músicos (e fazendo burrada, como sempre), a piada com a Garbo de novo e as orelhas de abano de Clark Gable não enganavam ninguém!
Atentem para a participação especialíssima de um personagem do próprio Walt Disney
(não vou contar qual é!). Por causa de “estereótipos raciais e sexuais”, este
desenho foi proibido. É, os limõezinhos
da Pepsi (https://www.youtube.com/watch?v=Q8dQ7wyrVSA ) têm razão; o mundo está ficando realmente muito chato.
Outras celebridades zoadas: W. C.
Fields, Charles Laughton, Spencer Tracy, Edward G. Robinson, Martha
Raye e Fred Astaire.
4 – A Hollywood Detour (1942)
Pelo visto esse tipo de desenho era moda na época e custou a enjoar o
público! Este aqui também é da Columbia
Pictures, mas tira sarro de atores de outros estúdios, coisa impensável
atualmente. O tema é uma viagem turística pela Hollywood daqueles tempos. E o
humor é daqueles tempos também! Logo no começo tem uma piadinha politicamente
nada correta com Hedy Lamarr. E este
desenho também inclui uma tiração de sarro com o preço dos locais badalados que
os artistas frequentavam, pois num dos restaurantes há uma placa dizendo que o
carro do cliente serve como pagamento para a conta. A gozação com a sexualidade
da Garbo está lá outra vez. E nem a
dupla Fred Astaire e Rita Hayworth, que naqueles tempos
faturava os maiores salários da Columbia,
foi poupada. Há até uma piada interna, mas interna mesmo, que são as caricaturas dos cartunistas do departamento de
animação do estúdio. Além do jazz, a trilha faz referência à música latina, a
outra febre sonora daqueles tempos. O ator perseguido por fãs chatos é John Barrymore.
Outras celebridades zoadas: Bing Crosby, Irmãos Marx
(sempre eles!), Clark Gable, Três Patetas e a onipresente Katharine Hepburn (que, pelo visto,
sofria bullying até dos colegas da mídia por ser vegetariana)
5 – Mother Goose In
the Swingtime (1939)
Também pegando carona na famosa compilação de contos infantis “Mamãe
Gansa” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Mam%C3%A3e_Gansa), esta delícia
explora, através de sua trilha sonora jazzística (coisa óbvia, pois eles
estavam lá em 1939, em plena Era do Jazz)
com toques de música latina, um ritmo diferente de ação, mais acelerado, que mostra os
personagens dançando o tempo todo e que deixa o espectador com vontade de também dançar. Foi
feito pela Columbia Pictures e um
dos dubladores é o multitalentoso Mel
Blanc, a lenda que deu voz à primeira versão do Pica-Pau e a todos os personagens da mitológica série Looney Tunes, que é a mina de ouro da
Warner até os dias de hoje. A produção é de Charles Mintz (esse que eu mencionei aí em cima em “Hollywood
Picnic”). Mas não pensem que a gozação foi deixada de lado. Entre os ícones
sacaneados estão Greta Garbo (pelo
motivo de sempre...), Clark Gable (fizeram
uma piadinha filha da mãe aqui com as orelhas dele), a jovem Judy Garland (para quem o roteirista do
início do desenho lê o livro da “Mamãe Gansa”), e Martha Raye (abrindo seu bocão e soltando
seu vozeirão mais uma vez). Curiosidade: Garbo
e Stokowsky aparecem dançando porque na época os dois eram amigos e houve boatos de um caso entre eles. E a palavra “Jitterbug”, que os personagens repetem
várias vezes em coro, é o nome de uma dança dos tempos de auge do jazz.
Outras celebridades zoadas: Claudette Colbert, Katharine
Hepburn, Edward G. Robinson, Bing Crosby, Shirley Temple, Ginger e
Fred, Mickey Rooney, Van Johnson, Joan Crawford, Tyrone Power,
Leopold Stokowsky, Gordo & Magro, Irmãos Marx e as Big Bands
de swing jazz da época.
Se você quiser ver todos os desenhos (e todos seguidos!), aqui está o link da playlist: https://www.youtube.com/playlist?list=PLyc88yygdNcA6JftfEGrZ2v3jCTzi63Ka
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