Chofer
de Praça
Ano de produção: 1958
Direção: Milton
Amaral
Elenco: Mazzaropi,
Geny Prado, Celso Faria, Lana Bittencourt, Agnaldo Rayol.
Duração: 97
minutos
Preto & Branco
Gravadora: Amazonas
Filmes
Finalmente
um filme nacional ganha uma resenha
neste blog!!! A escolha de “Chofer de Praça” não foi feita ao
acaso: além de ser um clássico de Mazzaropi,
ícone do cinema nacional cuja obra influenciou gente como Trapalhões e Ratinho, a
trama vem bem a calhar nesses tempos de controvérsia “Uber versus taxistas”. Famoso
nos anos 50 e 60 por seu personagem “Jeca
Tatu” e por clássicos da música sertaneja como “A dor da saudade”, “Tristeza
do Jeca” e “A Sanfona da Véia”
(sim, ele também era cantor, e dos bons!), o ator, cineasta e produtor Amácio Mazzaropi (1912-1981) lotou
cinemas e entrou para a história com seu humor ingênuo e sem apelação, seu retrato
da cultura caipira e sua forma bem-humorada de fazer crítica às injustiças
sociais. Embora nascido na capital paulista (confesso que descobri isso agora e
fiquei surpresa!), Mazzaropi amava a vida no campo, e o carinho que ele possuía
pela riquíssima cultura interiorana do Brasil
norteou toda a sua obra, do início ao fim de sua carreira. Neste longa de 1958,
Mazza interpreta Zacarias, o caipira
que sai de sua cidadezinha e vem para São Paulo junto com a esposa, Augusta (vivida
por Geny Prado, a eterna “mulher do
Mazzaropi”), para arranjar um trabalho melhor, ganhar dinheiro e assim ajudar o
filho, Raul (Celso Faria) a pagar os
estudos e se formar em Medicina. Por ter pouco conhecimento, Zacarias não
consegue emprego e decide se tornar motorista de táxi – mais precisamente, de
um calhambeque caindo aos pedaços. A falta de traquejo social do jeca rende
alguns dos momentos mais hilários do filme, como suas brigas com os passageiros
(um mais maluco do que o outro) e a primeira visita aos ricos pais da namorada
de Raul, sem saber que o rapaz havia mentido aos futuros sogros que tinha um
pai endinheirado. Isso quando não é o próprio “estado de junta” do carro que causa
as dores de cabeça ao nosso herói sertanejo. Para tornar tudo ainda pior,
Augusta reclama que o marido se dedica demais ao trabalho, e Raul, que começa a
andar com filhos de milionários, torna-se um esnobe, com vergonha de ter um
pai pobretão, ainda que honesto e trabalhador. E música é o que não falta: além
dos clássicos do modão cantados por Mazzaropi, a cantora Lana Bittencourt faz uma participação muito bem sacada no filme,
com o bolerão “Se alguém telefonar”. Agnaldo Rayol surge, jovenzinho e
irreconhecível, curtindo uma sofrência ao som de “Onde Estará Meu Amor”, um dos seus sucessos. Quem só conhece
Agnaldo pelo hit “Minha Gioconda” (https://www.youtube.com/watch?v=OEyQxwq4-lk)
vai ficar impressionado. Ver “Chofer
de Praça” quase seis décadas depois de sua produção é uma experiência
curiosa e impressionante. A São Paulo
que o filme mostra mais parece um fazendão do que a metrópole que é hoje –
casas de cercas baixas, com janelas sem grades e até galinheiro no quintal. Somos
apresentados, também, ao modo de vida dos interioranos que vinham morar na
cidade grande, enfrentando preconceito, miséria e dificuldades. O termo “caipira”
era quase um palavrão e a música sertaneja, quem diria, extremamente malvista,
considerada uma forma inferior de cultura. A cena da pancadaria na vila, com “platéia”
e tudo, me lembrou o seriado “Chaves”. E não é só: há um momento
em que os moradores chegam a organizar uma festa caipira, com direito a
fogueira em estilo São João, viola e tudo. Além do retrato histórico e cultural
delicioso que faz de sua época, o filme resgata valores como família, raízes,
honestidade e trabalho. E, por essas e outras, merecia uma restauração mais
cuidadosa, principalmente do áudio - na maior parte do filme o som é ruim, e a
falta de sincronia labial quase estraga algumas cenas. Será que um crowdfunding resolveria o problema do
resgate da obra do Mazzaropi, bancando uma recuperação do som e da imagem das
obras do nosso maior cineasta de todos os tempos? “Ê, preiboiáda!”
CURIOSIDADES
● Durante o filme, é possível ver cartazes anunciando marcas
como sorvetes Kibon e pneus Firestone – essa foi a forma encontrada
para inserir o “merchand” dos patrocinadores da obra.
● A dupla mineira Pena
Branca e Xavantinho gravou um modão chamado “Mazzaropi”, em homenagem ao ídolo. A faixa está no álbum “Cantadô Mundo Afora”, lançado em 1990. Neste clipe, inclusive, eles
contam a importância que Mazza teve para o trabalho deles. Lindo! https://www.youtube.com/watch?v=GyfIAq7UYmE
● Mazzaropi,
aliás, ainda tem um grande fã-clube em Minas
Gerais. Num Estado onde a cultura caipira é tão forte (talvez mais forte
que em todo o resto do Brasil), é possível encontrar DVDs de seus filmes à
venda até em postos de gasolina de beira de estrada.
EXTRAS
● Trailer original do filme, que anuncia “Chofer de Praça” como “a mais humana das comédias”. Para mim,
todo o trabalho de Mazzaropi é humano.
● Visita ao Mazzaropi
Museu e Hotel Fazenda – imagens a cores da propriedade onde foram gravados
boa parte dos clássicos de Mazzaropi. O local foi restaurado e transformado em
um misto de museu e resort familiar que possui a cultura caipira como tema. É
na verdade um comercialzão, mas é uma delícia de assistir, porque o local é
lindo (nunca fui, mas quero ir um dia!). Tem 4 piscinas e tobogã, rede na
varanda e comida mineira preparada em fogão a lenha. A programação para as
crianças inclui shows com palhaços e até ordenha de vaca. Os adultos visitam a “Casa do Jeca” e o “Armazém Mazzaropi”, repletos de fotos e objetos (como a “moviola “digitár”)
que pertenceram ao artista. Esse trecho do vídeo mostra como Mazza era um
visionário. O site do hotel é: http://www.mazzaropi.com.br/
EMBALAGEM
● Sem nada de extraordinário, talvez para baratear os
custos de fabricação e distribuição. Pra mim, Mazzaropi merecia BEM mais.
FONTES
Excelente!!!!
ResponderExcluirObrigada! Se você gostou, dá uma ajudazinha pra mim e divulga meu blog! Abraços
ExcluirBOA NOITE,VCS TEM ESTE FILME COMPLETO,GOSTARIA DE ASSISTIR.
ResponderExcluirInfelizmente não. Aqui só compartilho links de material disponível no YouTube. Por questão de direitos autorais. Obrigada por comentar. :)
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