O Bozo ficou famoso no Brasil somente na década de 1980, com seu programa
de televisão que dava picos de
audiência no SBT e chegava a derrotar a Rede Globo no IBOPE. Mas a verdade é que o personagem é bem mais antigo do que isso. Eu mesma não sabia da origem do palhaço que foi ícone da minha infância, e confesso que fiquei
abestalhada ao ler (e assistir) o material que recolhi para fazer esta
pesquisa. Tá sentado(a)?
Bozo The
Clown (em português, O Palhaço
Bozo) foi criado lá em 1946, por
ninguém menos que o superhipermega empresário Alan Livingston (1917-2009), para ser astro de uma coleção de compactos de história com encartes
ilustrados para crianças, iguais àqueles disquinhos coloridos que vinham
com livros de contos de fadas no meu
tempo de moleca. E sabem quem fazia a voz
do Bozo nos disquinhos? O locutor Pinto
Colvig (1892-1967), que foi dublador
original do Pateta nos desenhos clássicos de Walt Disney. Colvig,
aliás, interpretou o palhaço nariz de pipoca durante uma década inteira (entre 1946 e 1956).
Como Bozo foi
parar na televisão? Foi graças ao
sucesso de vendas dos discos com livros ilustrados. A gravadora de Alan
Livingston, a Capitol Records,
passou a ser apelidada de “Bozo Records”,
e outros disquinhos de histórias que não tinham nada a ver com o palhaço
passaram a trazer o selo de “Aprovado
pelo Bozo” na capa, o que os ajudou a vender ainda mais.
Diante dessa situação surreal, a pioneira emissora KTTV, de Los Angeles, fechou um contrato com Livingston para lançar o programa semanal “Bozo’s Circus” (“O Circo do Bozo”) em 1949. No papel de Bozo, adivinha quem? Pinto Colvig, que mostrou grande desenvoltura também no palco.
Diante dessa situação surreal, a pioneira emissora KTTV, de Los Angeles, fechou um contrato com Livingston para lançar o programa semanal “Bozo’s Circus” (“O Circo do Bozo”) em 1949. No papel de Bozo, adivinha quem? Pinto Colvig, que mostrou grande desenvoltura também no palco.
As coisas
mudaram em 1956, quando o ator e
empresário Larry Harmon (1925-2008),
um dos vários artistas contratados pela Capitol para fazer o papel do Bozo em “presenças VIP” e eventos promocionais em geral, desembolsou uma bela grana e comprou de Livingston os direitos do personagem. Nesse mesmo
ano, Livingston deixou a Capitol por uns tempos. Inventor do slogan “Bozo,
o palhaço mais famoso do mundo”, que passou a adotar desde então, o
esperto e talentoso Harmon modificou o
traje, a voz e até a icônica risada, tornando o personagem aquilo que
conhecemos hoje. Àquela altura Bozo já era uma franquia que rendia lucros com todo tipo de produtos, inclusive HQ e revistas de colorir.
Não contente
apenas com os palcos e a TV, Harmon fundou também seu próprio estúdio de animação e, em parceria com
a distribuidora Jayark Films Corporation,
produziu e vendeu uma série de desenhos
animados inesquecíveis para canais televisivos, juntamente com os direitos para que cada emissora que
comprasse os desenhos contratasse seu próprio artista para interpretar o Bozo em
um programa de auditório ao vivo que incluía as animações. A primeira emissora a assinar o contrato
foi a KTLA, também de Los Angeles, tendo no papel do famoso palhaço
o ator Vance Colvig (1918-1991), filho do primeiro Bozo, Pinto Colvig. Isso mesmo, Bozo também é
tradição de família!
Traduzindo: ao
contrário de “I Love Lucy” (outro sucesso monstruoso da época), Bozo não era reprisado, ele era uma franquia. Funcionava assim: ao invés de adquirir os episódios prontos
para serem exibidos, as emissoras compravam era o direito de produzir seu
próprio remake do programa. Ou seja, nosso
querido Bozo foi o pioneiro nesse negócio de franquia-remake, tão popular nos
dias de hoje com atrações como o “Big
Brother”, por exemplo. Seria um chavão dizer que Larry Harmon era um
sujeito à frente da sua época, mas o cara era! O que eu vou fazer?
Em 1965,
Larry Harmon comprou a parte de seus sócios e tornou-se o único dono dos direitos de licenciamento, por dois
motivos. Primeiro porque, como cada canal franqueado utilizava seu próprio
artista para interpretar o Bozo em seu remake, a voz e os maneirismos do palhaço ficavam diferentes demais de uma
emissora para a outra, e isso não era convincente. Segundo, porque Harmon acreditava que um único programa,
exibido nacionalmente, seria melhor em termos comerciais.
A partir de
então, o programa passou a ser feito por
uma única emissora, a WHDH-TV de Boston (que atualmente se chama WCVB-TV), e os episódios vendidos para
todos os outros canais dos EUA. Porém, quando decidiu exportar o personagem, Harmon achou melhor que cada país produzisse o seu Programa do Bozo. A estréia internacional de Bozo aconteceu no México, em 1961, quando
a emissora XEFB comprou os direitos
de exibição dos desenhos do palhaço e contratou o artista José Marroquín para encarnar
o Bozo mexicano. Como a experiência internacional deu certo, Harmon passou a fazer o mesmo com diversas
emissoras dos quatro cantos do mundo.
Em 1979,
o apresentador, empresário e Rei da Comunicação Silvio Santos,
prestes a lançar seu próprio canal de televisão, o SBT, decidiu produzir um
remake brasileiro do programa do Bozo. O
próprio Larry Harmon veio para o Brasil para escolher e treinar os intérpretes do seu personagem, que,
inicialmente, ficou nas mãos do ator Wandeko
Pipoca, e foi vivido depois por outros artistas, como Arlindo Barreto, Décio Roberto e o mais famoso, o apresentador Luis
Ricardo, que trabalha até hoje no SBT. Diz
a lenda que no começo, o próprio Silvio quis fazer o papel do Bozo, mas
Larry Harmon achou que ele não iria convencer por ter a voz mais famosa do Brasil, e o dissuadiu da ideia. Duvido que
seja verdade, mas se for, Harmon tinha razão.
No Brasil, o
programa do Bozo ficou no ar entre 1980
e 1991, com um sucesso que não foi
brincadeira. Marcou toda uma geração (a minha
geração, aliás), com seus quadros de
humor e de competição, sua trilha
sonora memorável que até hoje os marmanjos sabem de cor, e com os personagens famosos que lançou, como a
eterna Vovó Mafalda, vivida por Valentino Guzzo, e o Professor Salci Fufu, feito por Pedro De Lara. Em um fenômeno parecido
com o que aconteceu com a gravadora Capitol nos anos 50, o SBT passou a ser apelidado de Sistema Bozo de Televisão. Recentemente, o SBT tentou fazer o palhaço voltar (https://www.youtube.com/watch?v=coC9lHs7D4M), mas não deu certo e o programa ficou pouco tempo no ar. Para quem quer relembrar ou conhecer mais sobre o personagem no Brasil, indico um documentário show de bola que está no You Tube. Foi feito como parte da comemoração dos 30 anos do SBT. Olha aqui:
E
não é só. Um filme inspirado no lado
punk da saga do palhaço em terras brasileiras, chamado “Bingo, o Rei das Manhãs”,
está previsto para estrear ainda este
ano, com Vladimir Brichta no
papel principal. Brichta é um ator que já provou que sabe fazer comédia e drama. Acredito que ele tenha sido uma escolha
acertada. E, confesso, estou ansiosa
para assistir. Confira o trailer do filme, comentado pelo Diva Depressão: https://www.youtube.com/watch?v=lULtA7hSV4g
Ao
longo da sua carreira, Harmon chegou a
treinar mais de 200 atores para interpretar Bozo, e o personagem foi, durante um tempo, utilizado pela rede de lanchonetes
McDonald’s como garoto propaganda oficial. Mais tarde, o McDonald’s criou seu próprio
palhaço-símbolo, o Ronald McDonald. Curiosamente, a primeira pessoa a se vestir de Ronald foi um ex-Bozo, Willard Scott.
“Êh,
limonada!” Ícone que é ícone não sai da memória do público, nem mesmo com a
invenção de novas tecnologias, e o Bozo é exemplo disso; pra falar a verdade,
ele não só sobreviveu à era da Internet
como integrou-se a ela. No You Tube,
por exemplo, ele tem um canal com seus desenhos
dublados em português (https://www.youtube.com/channel/UCHef6iKIpwyy3awRWWRSI6A). No Facebook ele possui fã-clube
brasileiro (https://www.facebook.com/bozo.historia/?fref=ts) e página oficial internacional (https://www.facebook.com/BozoOfficial/?fref=tse), e já foi utilizado em um monte de memes,
como os que foram feitos na época das eleições norte-americanas, com o ex-presidente Barack Obama e o atual,
Donald Trump, caracterizados como o palhaço.
Memes brasileiros do Bozo também não faltam. Aliás, em matéria de criatividade e talento para a palhaçada, o nosso povo continua imbatível!
Bozo recebeu o
troféu de “Embaixador da Boa Vontade” da
UNESCO pelo caráter educativo de
seu programa, que já foi produzido em
240 países. Por onde passou, Bozo levou diversão, humor e sua mensagem: “Pra
viver é melhor sempre rir!”
Playlist completa desta matéria no Canal Poltrona R do You Tube! Vai lá: https://www.youtube.com/playlist?list=PLyc88yygdNcBpYULcXdAKyZmFKT-FJ25Y
FONTES
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