segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

DESENHOS PARA MATAR SAUDADES

Certas coisas mereciam ser relançadas em DVD, mas saíram só em VHS. A série "Cartoons For Big Kids", lançada em 1989, é uma coletânea de desenhos animados das décadas de 1930 e 1940 com humor maliciosamente sexy, típico da Era das Pin-Ups. Os personagens a maioria do pessoal da minha geração vai reconhecer: tem Pernalonga, Patolino, Gaguinho, o eterno Lobo Maluco (aquele que vivia perseguindo uma atriz por quem ele era apaixonado e dava cadeiradas na cabeça quando ela aparecia no palco), e um monte de figuras que, em tempos pré-politicamente corretos, a gente podia apreciar sem frescura na TV aberta. Na trilha sonora, jazz, jazz e mais jazz. Pena ser narrado pelo Leonard Maltin, um cara de quem eu não sou tão fã. Pra matar saudades de Tex Avery, Walter Lantz, Mel Blanc e outros gênios que acrescentaram muito mais para as nossas vidas do que os desenhos limpinhos, certinhos de hoje.  





O melhor de tudo: os desenhos apresentados aqui são os originais, criados pelo genial cartunista Tex Avery, e não aquele remake horroroso chamado "O Mundo Louco de Tex Avery" feito em 1997. Sou contra remakes de desenhos clássicos, pois em geral não chegam aos pés dos originais. Vejam o remake do Pica-Pau que a TV Record exibe, por exemplo. Aqueles desenhos foram produzidos em 1999 por uma equipe que tinha zero de intimidade com a obra de Walter Lantz.

Aqui, um dos desenhos da série. Contra-indicado para a turma dos politicamente corretos, mas ainda assim (ou por isso mesmo) uma obra de arte.







Vale lembrar que naquele tempo os desenhos animados não eram todos feitos para crianças. Eles eram exibidos nos cinemas antes dos filmes. Aqueles eram tempos pré-televisão, afinal.

Para o pessoal mais novo que ficou curioso e NÃO ficou chocado, quero recomendar um documentário muito legal em português, feito por brasileiros, sobre Tex Avery e sua obra. Vai lá:






segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O Filme Mais Antigo do Mundo

Feliz Ano Novo, pessoal! Feliz 2016!!!

           Dia 28 de dezembro de 2015 fez 120 anos que a Sétima Arte nasceu, pelo menos oficialmente. Foi em 28 de dezembro de 1895 que o primeiro filme de que se tem notícia foi exibido na França, dentro da primeira sala de cinema (que se chama Eden e existe até hoje). Arrivée d’un train em gare à La Ciotat (Chegada de um trem à estação da Ciotat) foi apresentado pelos Irmãos Lumiére e durava meros 55 segundos. Foi literalmente chocante: a plateia, assustada, que nunca tinha visto coisa igual, saiu correndo pensando que seria atropelada pelo trem. 




            O filme mostra uma cena REAL, que é o desembarque de alguns passageiros em uma estação ferroviária. Dá para ver que, com exceção de um ou outro personagem, que olha para a câmera levemente curioso, ninguém deu tchauzinho ou fez pose, pois obviamente ninguém sabia que estava sendo filmado – na verdade, ninguém sabia nem que raios era aquele aparelho. Ninguém ali tinha noção de que estava entrando pra História.

Vi esse filme pela primeira vez na Faculdade há mais de 20 anos e foi inevitável imaginar como seria se ele tivesse sido feito aqui no Brasil. Com certeza, de cara já chegaria um sujeito e perguntaria: "Ei, moço, que máquina legal essa aí! Pra que serve?", e logo, logo a muvuca já estaria formada. Iam chover candidatos a aparecer no primeiro filme do mundo. Por isso é verdade aquele famoso ditado que diz que "Brasileiro não nasce, estreia". Ninguém neste país pode ver uma câmera, mesmo.



Texto publicado em 28/12/2015 no site Blah Cultural