sábado, 2 de junho de 2018

PARA QUEM VOCÊ TORCIA NA CORRIDA MALUCA?




Quantos anos você tem? Confessa aí! Tem mais de 40 anos? Então certamente você já ficou na frente da televisão torcendo pelo seu piloto fictício favorito na corrida fictícia mais famosa do mundo. Já sacou do que eu tô falando, né, quarentão? Da “Corrida Maluca”, é lógico!

Criado pelos mestres da Hanna Barbera, o desenho que revolucionou as séries de animação conseguia ser ao mesmo tempo emocionantemente realista e alucinadamente fantasioso, e rendeu picos de audiência para a CBS (emissora norte-americana que foi a primeira a exibi-lo no mundo) e para o SBT, no Brasil. O que você provavelmente não sabia é o quanto ele é antigo – foi criado em 1968, e produzido entre os anos de 1968 e 1969! No Brasil-zil-zil, porém, só virou febre mesmo na década de 80. Deve ser porque aqui tudo demora...




A trama era a mais simples que se pode imaginar: em algum canto do mundo, uma corrida de Fórmula 1 reúne 11 pilotos (alguns deles até levando seus amigos e animais de estimação) que disputam o troféu de “Piloto Mais Maluco do Mundo”. E maluquice ali era o que não faltava: os personagens eram absolutamente inacreditáveis, a começar pelo vilão, Dick Vigarista, e seu cão sarnento Muttley (também chamado de Rabugento em alguns episódios dublados em português), tão canalha quanto ele. Dick e Muttley passaram todos os 34 episódios armando todo tipo de picaretagens para vencer a corrida, e acabavam inevitavelmente se ferrando. Antes que você me pergunte se Muttley e Dick Vigarista já chegaram a ser campeões alguma vez, eu lhe respondo: apesar de todas as suas maracutaias mirabolantes, a dupla do mal jamais chegou a cruzar a linha de chegada antes dos outros pilotos. Eu, pessoalmente, sempre tive essa curiosidade, e só fui matá-la agora!




Ao todo, o desenho chegou a contar com 23 personagens fixos, todos eles com uma característica marcante. Muttley, por exemplo, tinha a sua inesquecível risadinha sarcástica, que em tempos de Internet foi ressuscitada e transformada em meme (https://www.youtube.com/watch?v=qay3UZz0898). A heroína Penélope Charmosa, ícone das meninas da época (incluindo eu mesma), era uma patricinha vaidosa que pilotava um carro rosa-choque, na verdade um salão de beleza sobre rodas. Com sua hilária obsessão pela aparência, a moça caiu nas graças do público a ponto de ganhar uma série de animação só para ela, a igualmente clássica “Os Apuros de Penélope”. Adivinha se nós, meninas, gostávamos...



A verdade era que todo o “elenco” da Corrida Maluca era fantástico. Vamos a ele: os Irmãos Rocha eram (literalmente) trogloditas que guiavam um carro parecido com o dos Flintstones. Foram os Rocha, inclusive, que uma década mais tarde inspirariam a criação de outro personagem queridíssimo da Hanna Barbera, o Capitão Caverna. Na categoria “figuras rústicas da Corrida Maluca”, havia também Rufus, O Lenhador, que tinha como co-piloto seu bicho de estimação, um castor. E o caipirão Tio Tomás, com seu urso de estimação, Chorão, ambos inspirados na série “Família Buscapé”.

A Quadrilha de Morte, um bando de mafiosos mal-encarados, disputava o prêmio a bordo de um automóvel que parecia saído daqueles seriados de gângsteres ambientados na década de 1930. O Cupê Mal-Assombrado era uma espécie de casarão de filme de terror, onde literalmente moravam fantasmas e outras criaturas sinistras, como um dragão.




Outros tipos bizarros também faziam a nossa alegria: o Professor Aéreo, um cientista louco que criava gambiarras para escapar dos perigos; o Barão Vermelho, personagem que foi baseado no famoso aviador da Segunda Guerra Mundial, dirigia um aeromóvel (mistura de aeronave com automóvel); o Carro-Tanque, veículo que se assemelhava a um tanque de guerra e era comandado por um Soldado e um Sargento; e, por fim, o galãzão da parada, Pedro Perfeito, cujo carrão era o auge da elegância e da modernidade nos anos 60.

O roteiro, escrito por Larz Bourne, era viajante. Praticamente não havia regras na corrida – pelo contrário, quem fosse mais louco e criativo era quem se dava melhor, desde que não cometesse nenhuma desonestidade. Como deu pra ver aí em cima, era permitido que um carro normal (ainda que supermoderno) de Fórmula 1 competisse com um avião e um tanque de guerra, que uma mocinha frágil competisse com um bando de brucutus, e até que vivos competissem com mortos.




O desenho tinha outra coisa interessante. Essa, aliás, provavelmente só eu reparei e só eu acho bacana: a trilha sonora, de Hoyt Curtin (https://www.youtube.com/watch?v=uxTQ3Qg9a3o). Pura psicodelia, com trombones, órgão e guitarrinhas mutcholocas, combinando perfeitamente com o que se vê na tela. É curioso algo tão anos 60 virar mania entre a criançada da década de 80. Inclusive, na época em que “Corrida Maluca” foi criada, os filmes sobre automobilismo eram a última moda. Como sempre, a Hanna Barbera de olho no que fazia sucesso para bolar e emplacar seus clássicos atemporais.

Sua língua deve estar coçando para fazer a pergunta: “Afinal, quem teve mais vitórias na Corrida Maluca?” Bom, de acordo com o site Mundo Estranho, foram os Irmãos Rocha, que ganharam a competição em 3 episódios, foram vice-campeões em 8 e terceiros colocados em outros 3. Um fato curioso é que, apesar do imenso sucesso, a série nunca teve um episódio de encerramento. Quer dizer, o último episódio produzido foi ao ar no dia 4 de janeiro de 1969. O que jamais houve foi um “último capítulo”, uma conclusão para a história. Será que era de propósito, para a gente acreditar que a Corrida Maluca era interminável, e que aquele adorável bando de doidos passaria o resto das suas vidas disputando um troféu? Se sim, funcionou.  



FONTES