domingo, 28 de maio de 2017

DVD – BONANZA: TROVÃO SILENCIOSO


Bonanza: Silent Thunder
Ano de produção: 1960
Direção: Robert Altman
Elenco: Michael Landon, Stella Stevens, Lorne Greene, Albert Salmi.
Duração: Aprox. 50 minutos
Colorido
Gravadora: London Films





Os quarentões e cinquentões fãs de cultura pop certamente não vieram a esta página por acaso – a série “Bonanza” fez parte da nossa infância. Contava a história de um fazendeiro, Ben Cartwright (Lorne Greene) e seus três filhos, Little Joe (Michael Landon), Adam (Pernell Roberts) e Hoss (Dan Blocker) que lutavam para defender sua propriedade no Oeste dos EUA, no século XIX. Era exibida no Brasil nas noites da Rede Record, e juntava pais e filhos na frente da televisão. Topei com este DVD e não resisti em levá-lo para casa e assistir. Não me arrependi. Trata-se de um episódio da série feito em 1960, mas que é extremamente atual em tudo – tão atual que poderia ter sido feito hoje. A direção é de ninguém menos que Robert Altman, o mesmo de clássicos como “Popeye” (1980) e “Prét-A-Porter” (1994), e que aqui também faz um trabalho extraordinário. Stella Stevens, a atriz que mais tarde brilharia ao lado de Jerry Lewis, rouba a cena em “Bonanza: Trovão Silencioso”, extremamente convincente em um papel dramático. Ela é Annie Croft, uma bela jovem surda-muda maltratada pelo pai, Sam Croft (Kenneth MacKenna), que a culpa porque sua esposa morreu ao dar à luz a moça. Albie (Albert Salmi), um grandalhão asqueroso e covarde, tenta aproveitar do fato de a garota não falar nem ouvir para violentá-la. Comovido com a situação de Annie, Little Joe resolve ajudá-la a se comunicar, ensinando a ela a linguagem de sinais. A boa intenção de Little Joe tem conseqüências imprevisíveis. O episódio trata de temas que hoje vem sendo discutidos como nunca – inclusão social, preconceito, violência contra mulheres e contra portadores de deficiência. A única desvantagem é que os personagens Adam e Hoss não aparecem em nenhuma cena, mas isso não chega a prejudicar a trama.





CURIOSIDADES
“Bonanza” estreou na televisão norte-americana em 1959, e ficou no ar até 1973. É uma das séries mais longas e bem-sucedidas de todos os tempos, e muitos críticos a consideram a melhor série western já feita.
● Lançada e exibida pela emissora NBC, “Bonanza” foi feita em parceria com a fábrica de televisores RCA Victor, com o objetivo no mínimo óbvio de ajudar a vender mais aparelhos.
O termo “bonanza” era uma gíria utilizada na época em que a história se passa, e significava um grande veio ou depósito de minério.
●Nenhuma das mulheres da trama que se envolveu amorosamente com um dos homens da família Cartwright terminou com eles. Todas essas mulheres sempre iam embora ou faleciam. Isso foi uma decisão dos produtores, que foi mantida até o final, embora deixasse o público meio chateado.
●A maravilhosa abertura da série, com o mapa da fazenda pegando fogo, marcou época https://www.youtube.com/watch?v=VXJ6zPYCwbE. Na versão original da música-tema de abertura, aliás, era o instrumentista brasileiro Laurindo Almeida quem tocava banjo.  
● Já andei ouvindo boatos sobre um futuro novo remake de “Bonanza”, e digo: “NÃO!”. Uma “tetralogia” de filmes baseados no seriado já foi feita, entre 1988 e 2001, estrelada pelos filhos dos atores da série original, mas sem tanto sucesso. Então, não se arrisquem a fazer uma segunda refilmagem, please! Acreditem, o público, em sua maioria, agradece de coração.
#MenosRemakesMaisReprisesPorFavor


EXTRAS
Somente um texto contendo uma breve história do seriado. Ainda assim, vale a pena dar um “pause” e ler.


EMBALAGEM
BEM básica, o que tem a vantagem de baratear o custo do DVD. Há pelo menos quatro versões diferentes da capa (!!!), e a versão que eu tenho é a que foi postada nesta matéria.


Trailer do filme
Como não há trailer nem nada parecido no You Tube, optei por postar uma das cenas do DVD – legendada (graças a Deus!).





FONTES



GIF DO DIA - 28/05/2017



"Alô?" Elizabeth Taylor batendo um papinho.



sexta-feira, 26 de maio de 2017

OS ANÚNCIOS ESTRELADOS DA RC COLA




Você já ouviu falar de RC Cola, ou Royal Crown Cola? Trata-se de um refrigerante inventado nos Estados Unidos, em 1905, pelo farmacêutico (sim, farmacêutico) Claude Hatcher. O nome original que Hatcher deu à sua criação foi Chero-Cola (imagine um refrigerante com um nome desses no Brasil!), mas em 1934 houve uma mudança total na fórmula do produto e o nome também mudou (graças a Deus), para Royal Crown Cola.




Encontrada em 70 países, é o terceiro refrigerante de Cola mais vendido do mundo, ainda que bem abaixo das concorrentes Coca-Cola e Pepsi, respectivamente. Chegou, inclusive, a ser lançado no Brasil em 2013 (fiquei surpresa com essa informação, pois nunca vi Royal Crown Cola em nenhum supermercado daqui).




Mas não é isso o que importa nesta matéria, e sim o fato de que a Royal Crown Cola é tida como um verdadeiro ícone americano. E bota ícone nisso. Durante as décadas de 1940, 1950 e 1960 (especialmente na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial), a RC Cola fez campanhas de marketing milionárias, contratando os maiores divos e divas de Hollywood daquela época para posar para seus anúncios. As propagandas, na verdade, eram todas muito semelhantes. A foto de um ator (principalmente uma atriz), em pose considerada “generosa” e com um sorrisão no rosto, e uma frase do tipo “RC Cola é a minha favorita” – essa receita sempre funcionava para fisgar o consumidor. 




Outra estratégia da RC Cola era patrocinar programas de televisão e festivais de música, como os shows da cantora Nancy Sinatra, em 1968. “Royal Crown Cola, a Cola muito, muito louca!”, cantarola ela neste comercial.





Separei aqui alguns desses anúncios "estrelados" para vocês verem. Vamos a eles.


Hedy Lamarr, 1946 



                                             John Wayne, 1948



                                             Betty Grable, 1944



                                     Paulette Goddard, anos 40



          Shirley Temple (sim, é ela, em sua fase adolescente), 1944



                                     Bing Crosby, anos 40



                                           Lucille Ball, 1946



                                        Barbara Stanwyck, 1946



                                             Gary Cooper, 1941



                                            Rita Hayworth, 1944




                                           Lizabeth Scott, 1946



Gene Tierney, 1945



                                           Nancy Sinatra, 1968



                                           Jerry Lewis, anos 70




E, agora, para fechar com chave de ouro, o supra-sumo da bizarrice: uma carta da Royal Crown Cola cumprimentando ninguém menos do que Joan Crawford por ela ter ganhado o Oscar pela sua atuação no filme "Mildred Pierce - Alma Em Suplício", de 1945. Por que isso é bizarro? Simplesmente porque em 1945 Joan mal sabia que, exatos dez anos depois, iria se casar com o dono da Pepsi Cola! Aliás, é a Joan Crawford quem aparece no anúncio (de 1933) que você vê no topo dessa matéria. Realmente, a História do cinema tem histórias incríveis.



FONTES




sábado, 20 de maio de 2017

DIRETO DO YOU TUBE – “Sigam-me os bons!” A Viagem do Chapolin Colorado pela história do cinema


Eu tinha vontade de postar essa série aqui faz um tempão. Mas só agora consegui achá-la completa para escrever uma matéria sobre ela. Em agosto de 1978, Roberto Bolaños vestiu a fantasia de Chapolin Colorado em uma sequência de 6 episódios especiais, em que ele faz uma homenagem  ao cinema e à importância da sétima arte na vida das pessoas. Durante a ‘chapolínica’ minissérie “O Show Deve Continuar”, ele e o elenco todo de “Chaves” e “Chapolin” revivem personagens importantes das telas, como Don Quixote, Frankenstein, Guilherme Tell e até a Pantera Cor de Rosa (a do desenho, não o personagem de Peter Sellers).




Cada episódio costura paródias de filmes clássicos com cenas em que um velho e e nostálgico funcionário de um estúdio de cinema (vivido por Ramón “Madruga” Valdez) divide com Chapolin histórias e lembranças de seu trabalho no local. O idoso chama o Chapolin Colorado para salvá-lo porque o estúdio será destruído e um condomínio construído em seu lugar. Através do personagem de Ramón Valdez, o velhinho amante da sétima arte e ex-funcionário de um estúdio de cinema, Bolaños transmite ao telespectador toda a importância que tem a preservação da história da cultura e da arte. Juro que no começo do primeiro episódio me deu uma tristeza incrível, por ele e por mim, que há anos vejo clássicos que eu cresci assistindo serem simplesmente apagados das emissoras de televisão (abertas e a cabo) do meu país.




É extremamente curioso ver os atores que se eternizaram como Chaves, Dona Florinda, Kiko e toda a turma da Vila em papéis tão variados e com caracterizações curiosas e divertidas (Ramón Valdez, por exemplo, vestido de Pantera Cor de Rosa, vestindo um macacão pink com orelhinhas e rabo é de chorar de rir). A Rainha de Sabá versão “black power anos 70” feita por Maria Antonieta (a Chiquinha) é outra grande sacada. Maria Antonieta brilha também no sketch “Madame Butterfly”, que faz uma zoação bem sacana com o puritanismo e o ego inflado dos norte-americanos. Uma referência ao cinema mexicano também é feita, com uma sátira ao filme “Deus lhe Pague”, de 1948, estrelado por Arturo de Cordova (1908-1973) (https://www.youtube.com/watch?v=xN-8HYnzTyA). Juntos, Roberto Bolaños e Edgar Vivar (o Seu Barriga e o Nhonho) revivem o Gordo e o Magro. Florinda Meza ficou perfeita homenageando Carol Burnett, a grande comediante americana que sempre aparecia no final de seu programa de TV vestida de empregada doméstica (https://www.youtube.com/watch?v=92lBJ-eGhno). Carlos Villagrán tem a oportunidade de encarnar o mito Jerry Lewis, de quem ele até hoje é fã doente. E Ruben Aguirre transforma-se em um “Frankenstein babaca” sensacional.




Mas o mais impressionante é a imitação que Bolaños faz do seu maior ídolo, Charles Chaplin (já escrevi uma matéria sobre essa imitação, em http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/07/direto-do-you-tube-charles-chapolin-ou.html). Bolaños também me emocionou vivendo Gene Kelly em “Cantando na Chuva”. Se alguém ainda tem dúvida de que ele não era apenas Chaves e Chapolin, vai perder de vez a dúvida ao assistir a esta minissérie.

O roteiro tem muito mais a ver com o estilo de Roberto Bolaños do que propriamente com o dos filmes homenageados, o que não é de forma alguma negativo – trata-se justamente da história do cinema vista pelos olhos de Bolaños. Outro atrativo da saga é “desmascarar” algumas das ilusões criadas pelo cinema, como a bala de canhão que é, na verdade, uma bola comum pintada de preto, ou os cenários que parecem fachadas de casas, mas que não passam de placas de madeira.




Tomara que “O Show Deve Continuar” incentive, com seus 6 episódios, os fãs de Roberto Bolaños a se interessarem mais pela história do cinema. Espero que pelo menos os mais fanáticos pelo mestre mexicano vençam o preconceito e vão atrás dos clássicos originais que inspiraram os sketches da série – até porque grandes nomes são citados, como Boris Karloff, Cecil B. de Mille e Greta Garbo. A mensagem final (não vou dar spoiler!) chega a dar um nó na garganta. Bolaños era tão genial quanto alguns dos maiores mitos do cinema.



Embora nem o Chapolin Colorado nem qualquer outro herói possa salvar as novas gerações da ignorância, a Internet (graças a Deus!) vem fazendo isso. E eu tenho orgulho de estar participando dessa preservação. “Sua atitude é quixotesca”, diz Chapolin ao velho funcionário em uma das cenas. E a atitude dos blogueiros como eu, que não temos outra pretensão além de espalhar cultura e arte, é quixotesca, sim. Mas nosso trabalho é extremamente gratificante. Tomara que mais gente quixotesca como nós surja no mundo. Sigam-me os bons!

Abaixo, estou postando o link da série completa dublada, com exceção do episódio 1, que postei legendado porque não encontrei dublado (mas é bacana ouvir as vozes originais dos atores, vai?).
Link para a playlist da saga “O Show Deve Continuar” completa, no Canal do Poltrona R no You Tube, pra você assistir a todos os 6 episódios na sequência


Se você também ama a obra de Roberto Bolaños, visite o site Fórum Chaves, é extremamente bem feito e muito interessante. Link: http://forumchaves.com.br


FONTES











segunda-feira, 15 de maio de 2017

RITA HAYWORTH (1918 - 1987) – 30 ANOS SEM A RAINHA DA COLUMBIA PICTURES



Antes de Beyoncé, antes de Gisele Bundchen, antes de Madonna, antes até de Marilyn Monroe, houve RITA HAYWORTH. Artista talentosa, corajosa e poderosa, ela desafiou a censura da sua época, salvou um estúdio de cinema da falência duas vezes, bateu recordes de bilheteria, tornou-se a primeira mulher a montar e administrar sozinha uma produtora de filmes, enlouqueceu os homens ao tirar uma simples luva e virou referência de moda e comportamento para as mulheres. Mas nada disso parece bastar para os críticos e os estudiosos de cinema, que ainda a enxergam apenas como “uma moça com muitas curvas e pouco talento”, ou como a “ex-mulher imbecil do gênio Orson Welles” ou como “a americana que se casou com um sheik árabe e virou princesa antes de Grace Kelly”.




Não é só isso. Toda vez que se fala em Rita Hayworth, sempre se menciona as tretas familiares e profissionais, a vida amorosa cheia de escândalos que foi o deleite dos fofoqueiros e desocupados, e as inúmeras mudanças de cores de cabelo que ela fez numa época em que ninguém fazia isso. Como esta autora aqui já está de saco cheio de tudo isso, vamos fazer esta homenagem à eterna Rainha da Columbia Pictures falando daquilo que, sabe-se lá por que motivo, ninguém comenta – a obra dela.





A menina espantosamente precoce que nasceu no dia 17 de outubro de 1918 no lado pobre de Nova York (não, ela não era mexicana nem porto-riquenha) veio do ambiente teatral. Seu pai, Eduardo Cansino, era um bailarino espanhol nascido em Sevilha; sua mãe, Volga Hayworth, era americana, mas descendia de uma tradicional família britânica. Ambos eram atores e dançarinos. Margarita Carmen Cansino (sim, esse era o nome de batismo da nossa Rainha) subiu no palco pela primeira vez aos dois anos e meio de idade, e passou a infância nos palcos. Ela, na verdade, nunca teve infância. “Em vez de bonecas, me deram castanholas”, ironizou ela certa vez, em uma entrevista. Durante todos os anos em que a precocidade da garotinha causou surpresa no público, foi ela a principal atração dos shows itinerantes de dança e música que os Dancing Cansinos, a companhia de artistas da família, realizavam pelas estradas norte-americanas. Dos 12 aos 15 anos de idade, ela e o pai faziam apresentações de flamenco em restaurantes e casas noturnas do sul dos Estados Unidos e da fronteira com o México. Margarita só foi entrar na grande mídia aos 16 anos de idade, graças ao diretor da Fox Films, que assistiu a uma apresentação e ficou abestalhado com o talento e o carisma daquela moça pequena e morena, e a contratou para trabalhar em seu estúdio, onde ela estrelou meia dúzia de filmes obscuros com o nome de Rita Cansino. Depois disso, o então produtor executivo da Fox, Darryl Zanuck, a demitiu porque não sabia o que fazer artisticamente com ela (sim, você leu direito).


                 


Em 1937 ela se casou com Ed Judson, um homem mais velho, extremamente esperto e bem relacionado, que conseguiu para ela um teste na Columbia Pictures. Assim que viu o teste, o dono do estúdio, Harry Cohn, assinou na hora com ela um contrato de longo prazo. Ele considerou sua imagem “muito mediterrânea”, com seus cabelos pretos e sobrancelhas grossas, e fez com que ela perdesse peso e tingiu seus cabelos primeiro de castanho-escuro, depois de ruivo. Além disso, ele mudou o nome dela para Rita Hayworth, para que ela se encaixasse em mais papéis. Contrariando os que dizem que Rita se envergonhava de suas raízes espanholas, ela mesma cansou de dizer que fez estas modificações apenas para se adequar a mais personagens.





Fora dos palcos e das telas, Rita anda era a mesma garota tímida que sempre tinha sido. O primeiro sucesso veio em 1939, com um papel pequeno em “Paraíso Infernal”. A jovem atriz chamou tanto a atenção do público que no ano seguinte a Warner a contratou para fazer “Uma Loira Com Açúcar” ao lado de Olivia de Havilland, que ainda surfava no sucesso da sua Melanie de “E O Vento Levou”. Foi um estouro. O título original do filme, “Strawberry Blonde” (loiro-morango ou loiro avermelhado) virou o apelido de Rita – o mais doido é que o filme era em preto e branco e, portanto, não dava para ver a cor dos cabelos de nenhum dos atores.

Em 1941, lá foi ela para a Fox fazer o papel de Doña Sol de Miura (uma personagem clássica da dramaturgia, e que nunca foi para qualquer atriz) no maravilhoso filme “Sangue e Areia”, onde ela contracenava com o genial e deslumbrante Tyrone Power. Ambos deram um banho de atuação e formaram um dos casais mais quentes das telas, mas nunca tiveram nada na vida real. No mesmo ano ela fez dois musicais, “Ao Compasso do Amor” e “Bonita Como Nunca”, ambos com Fred Astaire. Astaire, inclusive, sempre disse que a melhor parceira com quem ele havia contracenado na vida foi Rita Hayworth.








A partir daí, não teve pra ninguém. Rita emplacou um sucesso atrás do outro. “Minha Namorada Favorita”, de 1941 (com Victor Mature, ator e cantor lindo e maravilhoso que, dizem, teve um caso com ela), “Seis Destinos”, de 1942, “Modelos”, de 1944 (cuja resenha você encontra aqui no blog, em http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/07/dvd-modelos.html), “O Coração de Uma Cidade”, de 1945. Nessa época, Rita Hayworth já era chamada de Rainha da Columbia Pictures – primeiro, porque sozinha ela havia transformado um estúdio pequeno e quase quebrado em uma potência; segundo, porque seus filmes rendiam uma bilheteria fenomenal para a época; e terceiro, porque não havia ninguém que se igualasse a ela dentro da Columbia em termos de sucesso. Os maldosos até chamavam a Columbia Pictures de Rita Hayworth Pictures.




Em 1946 veio o filme que viraria do avesso a vida da nossa Rainha. Uma produção despretensiosa, onde Rita fazia uma personagem sexy, ousada e independente, porém egoísta e mau caráter – ou seja, o tipo que ela se consagrou interpretando. Um triângulo amoroso com muita coisa nas entrelinhas. Um roteiro absolutamente genial que tinha como características principais o pessimismo e a ironia que foram a marca do cinema dos anos 30 e 40. Contracenando com Rita, mais um homem sexy: o lindo Glenn Ford. “Put the blame on Mame, boys!” Graças ao clássico “Gilda”, especialmente à cena em que ela dança tirando uma luva (https://www.youtube.com/watch?v=YnBmbsDan5s), Rita Hayworth virou musa dos soldados americanos da Segunda Guerra Mundial, que lhe deram inclusive o título de Deusa do Amor. Não foi só isso. Sua imagem foi tão associada à personagem que isso lhe trouxe problemas pelo resto da vida. A frase mais famosa de Rita Hayworth é justamente: “Todos os homens que eu conheci se apaixonaram por Gilda e acordaram comigo.” (Já falei sobre "Gilda" também, em http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/02/ha-70-anos-nunca-houve-mulher-como-ela.html )





Na vida pessoal ela aparentemente tinha muito sucesso também. Casou-se em 1943 com o polêmico diretor e ator Orson Welles, criador de “Cidadão Kane” (escrevi sobre Orson e “Cidadão Kane” aqui no blog, a história é bem interessante http://poltrona-r.blogspot.com.br/2017/02/a-treta-historica-por-tras-de-cidadao_11.html). Ao ficarem sabendo da união da estrela do momento com o cineasta, os haters (sim, essa praga já existia naqueles tempos) disseram que aquele seria o casamento mais perfeito do mundo: o cérebro se casando com o corpo. Na verdade, eram dois grandes talentos se casando e vivendo uma relação tumultuada, que terminaria em 1947. Ambos tiveram Rebecca, segunda filha de Orson e primeira de Rita.




Aliás, a relação Rita + Orson foi um capítulo à parte, também em termos profissionais. Disposto a mostrar que sua esposa não era apenas uma moça bonitinha e sem talento (e ALGUÉM era sem talento no cinema daquela época???), Orson fez com que ela cortasse os cabelos, na época longos, ruivos e de dar inveja de tão lindos, e os tingisse de loiro claríssimo para interpretar a personagem central do filme “A Dama de Shanghai” (1947). A transformação foi fartamente fotografada, para criar mais publicidade. Diz a lenda que os estúdios da Columbia foram inundados de cartas de fãs desesperados por uma mecha do cabelo da nossa rainha. “Nossa, mas isso naquela época?”, pergunta o leitor. Sim. Rita Hayworth foi pioneira nisso também.




Aproveitando o título de Deusa do Amor que sua principal estrela tinha recebido do público, a Columbia Pictures tratou de lançar, em 1947, o musical “Quando Os Deuses Amam”, com Rita Hayworth no papel de ninguém menos que Terpsícore, a deusa grega da dança e do teatro - quer atriz melhor para fazer essa personagem?(http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/12/direto-do-you-tube-quando-os-deuses.html). Outro sucesso estrondoso, que provocou desentendimentos financeiros entre a artista e Harry Cohn. Isso a levou a criar sua própria produtora, a Beckworth Corporation. Era a primeira vez na história de Hollywood que uma mulher fundava e administrava sozinha um estúdio de cinema. O problema era que Rita não tinha meios de distribuir o filme sozinha, e criou uma parceria com a Columbia para isso. Chamou Glenn Ford e o diretor Charles Vidor (ambos amigos dela, que haviam trabalhado com ela em “Gilda”) e com eles fez “Os Amores de Carmen”, em 1948, um superclássico em que ela interpreta a cigana Carmen (aquela da ópera de Bizet) e arrasa nas danças espanholas em que era craque. Glenn Ford fazia o papel de Don José – muita gente não gostou da escalação dele para o personagem, mas eu achei perfeita. Como coreógrafo para o filme, aliás, Rita contratou seu pai, Eduardo Cansino. Seu tio José Cansino e seu irmão Vernon também aparecem em cenas de dança.



Naquele mesmo ano de 1948, Rita Hayworth conheceu o príncipe Aly Khan, herdeiro do trono do Paquistão e um conhecido mulherengo. Ainda legalmente casada com Orson, Rita começou a sair com Aly, o que fez com que a mídia a atacasse no mundo inteiro. Em 1949, já grávida da pequena Yazmin, a Rainha da Columbia se casou com Aly em uma cerimônia luxuosa. Como Rita era a mulher mais famosa do mundo na época e Aly um dos homens mais cobiçados, a imprensa não deixou o casal em paz. O relacionamento foi desastroso, não só por causa do choque de culturas, mas também porque Aly Khan, além de baladeiro, não era homem de uma mulher só. O sonho de Rita Hayworth de construir uma família foi mais uma vez por água abaixo, e ela, que havia investido tudo o que tinha para montar sua própria produtora, voltou aos EUA sem dinheiro, com a filha no colo e desesperada para retomar a carreira, que, aliás, era sua razão de viver.




De volta à América, Rita produziu e estrelou em 1952 a obra que marcou seu retorno à carreira artística: com uma imensa publicidade cujo slogan era “Ela está de volta!”, o filme “Uma Viúva Em Trinidad” era dirigido por Vincent Sherman, mas trazia no papel principal o amigo da atriz e eterno parceiro de cena Glenn Ford, e foi uma tentativa de recriar o estouro de “Gilda” – mas não caiu no gosto do público. Certas fontes, porém, afirmam que “Uma Viúva Em Trinidad” teria lucrado um milhão de dólares a mais do que “Gilda”, o que fez a Columbia voltar a faturar.




No ano seguinte, dois sucessos de bilheteria (“Salomé” e “A Mulher de Satã”) e mais um casamento desastroso, desta vez com o cantor Dick Haymes. Rita se livrou dele só em 1955, mas a esta altura ela já vinha sendo prejudicada pela fama de mau caráter do ex-marido. Em 1957, veio o último filme musical da carreira da diva, e seu último trabalho na Columbia: “Meus Dois Carinhos”, onde ela contracena com outro mito, o cantor Frank Sinatra. Embora a atriz principal do filme fosse Kim Novak, embora Harry Cohn quisesse que o nome de Rita viesse em terceiro lugar nos créditos (e, portanto, depois dos nomes de Kim e Sinatra), e embora Sinatra e Rita não se dessem bem como pessoas, o astro exigiu que o nome de Rita aparecesse em primeiro lugar, tanto na abertura do filme quanto em todo o material publicitário. O motivo? “Rita Hayworth É a Columbia Pictures e sempre será”, explicou Sinatra, profético.




Também em 1957, maaaaais polêmica. Só que desta vez foi nas telas. Em uma das cenas do filme “Lábios de Fogo”, a personagem de Rita diz: “Eu não presto. Fui passada de mão em mão. Exércitos marcharam sobre mim”.  Essa fala chocou o público e provocou ainda mais ataques à atriz.

Em 1958 veio “Vidas Separadas” e em 1959, “Heróis de Barro”. Nessa época ela conheceu o diretor James Hill. Ambos ficaram casados até 1961, quando Rita exigiu divórcio alegando extrema crueldade mental. Hill é autor de “Rita Hayworth: A Memoir”, uma autobiografia extremamente odiada pelos fãs da artista. Nunca li, mas entre outras coisas, o cineasta afirma no tal livro que o casamento com Rita acabou porque ele queria que ambos continuassem fazendo filmes, enquanto ela desejava que ele largasse a carreira junto com ela. Eu, assim como a maioria dos fãs, duvido disso.




 Dos anos 60 em diante, a carreira da Rainha da Columbia só foi ladeira abaixo. E sua saúde também. Durante as gravações de “O Mundo do Circo” (1964), que ela estrelou com John Wayne e a jovem Claudia Cardinale, houve suspeitas de que ela teria problemas com drogas ou bebidas. Na época, Rita tinha apenas 46 anos, e frequentemente chegava atrasada ao set de filmagem, e muitas vezes vinha bêbada e era grosseira, além de ter dificuldade em decorar suas falas.




Mas o pior ainda estava por vir.  Em 1972, Rita Hayworth queria abandonar a mídia de vez por problemas de saúde, mas estava sem dinheiro. Atuou então em seu último filme, “A Ira Divina”. Na mesma época ela fez várias participações em programas da televisão americana (recentemente falei sobre uma delas aqui http://poltrona-r.blogspot.com.br/2017/03/direto-do-you-tube-rita-hayworth.html). Após receber o diagnóstico de Alzheimer, ela precisou largar de vez a carreira, passando a ser cuidada pela filha Yazmin e deixando o palco vazio para um sem-número de imitadoras, como a italiana Milva (https://www.youtube.com/watch?v=eLH4uIz724A) e a francesa Dalida (https://www.youtube.com/watch?v=mqCv7r0nlEA) que, embora talentosas, copiavam as danças, o figurino e até o corte de cabelo da Rainha. Por falar nisso, Rita Hayworth tem muito mais fãs e mais respeito como artista na Europa (principalmente na Itália) do que nos Estados Unidos. Mas seu maior fã-clube está provavelmente na Argentina, onde há um culto a ela até hoje.




Rita Hayworth morreu em 14 de maio de 1987, na mesma Nova York em que nasceu. Trinta anos depois, o trono da Columbia continua vazio. Nunca houve mulher nem artista como Rita Hayworth. Nem antes dela, nem depois dela. Muchas gracias , Margarita!





FONTES

LIVROS
“A Cidade das Redes”, Otto Friedrich. Companhia das Letras, 1989.
“Rita, A Deusa do Amor”, Joe Morella & Edward Z. Epstein. Nórdica, 1987.