terça-feira, 31 de janeiro de 2017

BIBIDI-BOBIDI-BÚ! AS PRINCESAS DA DISNEY VIRAM PIN-UPS

          A chamada fan art (que, como o próprio nome diz, é a arte feita por fãs de determinado artista, geralmente apenas como homenagem, sem fins lucrativos) tem produzido coisas surpreendentes e extremamente interessantes, especialmente vindas dos aficionados pela Velha Guarda hollywoodiana. Depois do trabalho absolutamente genial que o mestre dos quadrinhos Joe Philips fez desenhando posters de filmes fake com astros do cinema antigo interpretando super-heróis (http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/06/artista-americano-imagina-astros-da.html), o ilustrador russo Andrew Tarusov chutou o balde. Sempre criticadas pelas feministas por causa da sua postura meiga e ingênua e por viverem à espera de um príncipe encantado que as salvaria de todos os males, as heroínas dos desenhos da Disney foram tema de cartuns nada infantis que Tarusov criou e publicou em seu Instagram. Neles, as princesas foram transformadas em pin-ups ao estilo das musas sexy das décadas de 1930 e 1940. Os desenhos são carregados de duplo sentido, e alguns, como o da Branca de Neve, deixariam o próprio Walt Disney de cabelos em pé. 
          Eu, pessoalmente, como fã de Disney e das atrizes da chamada Geração Pin-Up desde menina, acho que seria ainda mais interessante se Tarusov tivesse retratado cada princesa como uma atriz daqueles tempos. Acredito que ele só não o fez para evitar encrencas nos tribunais. Mas este blog propõe algumas sugestões de qual diva ficaria perfeita no papel de qual princesa. E, claro, reproduz as ilustrações show de bola de Andrew Tarusov. Tirem as crianças da sala!


ARIEL
Boatos existem de que, além de ter inspirado a Jessica Rabbitt e a Red Hot Riding Hood (aquela atriz que era a paixão do personagem Lobo Maluco, dos desenhos animados de Tex Avery: https://www.youtube.com/watch?v=_oAgkTwFRuM), Rita Hayworth teria inspirado também a figura da Pequena Sereia. Eu não acredito nem deixo de acreditar, mas que a nossa rainha daria uma Ariel perfeita, com certeza daria. Principalmente uma Ariel Pin-Up!




BRANCA DE NEVE
Na vida real, Walt Disney baseou sua primeira princesa na figura de Hedy Lamarr (https://pt.wikipedia.org/wiki/Hedy_Lamarr), que era a maior estrela da época em que o desenho foi feito, 1937. Hedy era maravilhosa, mas outra opção perfeita para ser a Branca de Neve seria a eterna Scarlett O’Hara, Vivien Leigh. Embora a atriz inglesa nunca tenha sido pin-up, ela era sexy e à frente do seu tempo. E seria preciso ser muito à frente do seu tempo para topar posar como a Branca de Neve criada por Tarusov. Reparem na tatuagem no ombro do anão... (Caramba, justo o Dunga, o mais infantil de todos os sete!)



MÉRIDA
Com fama de corajosa e brigona, a irlandesa Maureen O’Hara teria dado um show no papel da valente Mérida. Isso sem contar o tipo físico, que se encaixa totalmente na personagem: o corpão, o rosto forte e cheio de personalidade e, principalmente, a invejável cabeleira ruiva 100% natural.



AURORA
As fontes oficiais dizem que, para criar a figura da princesa Aurora, Walt Disney teria se inspirado em Audrey Hepburn. Eu, porém, não consigo ver nada da doce e discreta Audrey na exuberante Aurora. Para mim, a Bela Adormecida tem muito mais a cara, o cabelo e o corpo de Veronica Lake (o cabelo, então, é idêntico!). Fora que, além de ser bem magrinha e de ser a antítese de uma pin-up girl, Audrey jamais teria aceitado posar com uma camisolinha curta, decotada e transparente; isso seria bem mais a cara de Veronica. Atentem para a cara de safado do Príncipe Felipe, hehehe... Aliás, sabem quem eu teria escalado para o papel de Felipe? Ele mesmo, o gênio lindo Gene Kelly, que tinha um olhar matador e saberia muito bem fazer essa expressão de “Oba, finalmente vou pegar!”.



JASMINE
Essa não tem pra ninguém: apenas uma artista poderia assumir a pele da amada de Alladin! Experiente em papéis de princesa do Oriente e personagens nesse estilo, a diva italiana Sophia Loren, que eu chamo de “A Mulher Que Não Envelhece” porque ela não envelhece mesmo, ficaria muito à vontade posando deitada ao lado do tigrão e com esse ar de femme fatale que Tarusov colocou no rosto de Jasmine. Já andei lendo aqui na Internet que os desenhistas da Disney que trabalharam em "Alladin" teriam usado o corpo e o rosto de Sophia como inspiração para a personagem. Acredito 100%.



BELA
Outra escolha óbvia: tem como assistir a “A Bela e a Fera” sem imaginar Olivia de Havilland, no auge da fama e da beleza, vivendo a personagem? A centenária atriz, famosa pela sua atuação como a Melanie de “E O Vento Levou”, teria dado um banho interpretando a garota que se apaixona por um monstro e descobre o lado lindo e doce dele. O cartum criado por Tarusov para Bela é aparentemente mais light, mas a personagem aparece com um chicote na mão, ao estilo Dominatrix. Olivia de Havilland é outra que nunca pertenceu à categoria das pin-ups, mas encarnou personagens variadas no cinema, e algumas delas passavam longe da doçura de Melanie.  A Bela desenhada por Tarusov combina mais com a personalidade real de Olivia, uma das primeiras mulheres do cinema a brigarem por seus direitos (http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/07/a-centenaria-olivia-de-havilland.html). Dá uma olhada nessa foto abaixo: será que Olivia de Havilland não serviu de musa para a Bela da Fera?



ELZA E ANA
Mais recentes, as meninas de “Frozen” dariam pin-ups perfeitas. Minha sugestão pra elas: Ann Sheridan (1a foto) como Ana, e Ginger Rogers (2a foto) como Elza. Os trajes de banho criados por Tarusov para a dupla passam longe dos puritanos maiôs e biquinis da década de 1940, mas nem assim Ann e Ginger ficariam vulgares. Questão de classe.




TIANA
Primeira heroína afro dos desenhos da Disney, Tiana tem cara de Beyoncé ou Whitney Houston. Mas como aqui estamos falando apenas de divas do cinema (realmente) antigo, outra artista que arrasaria como a personagem principal de “A Princesa e o Sapo” é justamente uma pioneira, Dorothy Dandridge. Ela tinha tudo para isso: além do corpo e rosto de princesa, a estrela de “Carmen Jones” possuía um vozeirão e dançava muito (https://www.youtube.com/watch?v=_88YGrzRcmw) A atriz e cantora quebrou tabus em sua época, e abriu caminho para que outras divas black brilhassem no cinema. Uma pioneira interpretando outra, seria bem legal. E, cá pra nós, ela também lembra bastante a Tiana, não lembra? 



RAPUNZEL
Pode parecer uma escolha esquisita, mas não é: no início de carreira Lucille Ball foi pin-up girl. Antes de se consagrar como Dama da Comédia, ela chegou a ser modelo de pin-up artists como Alberto Vargas e George Petty. Naquele tempo Lucille já era uma figuraça, mas os trabalhos que fazia no cinema e no teatro enfatizavam muito mais o seu lado sexy de cantora e dançarina. Em 1933, ela participou do espetáculo teatral “Roman Scandals”, que chocou muita gente na época por ser algo bastante conceitual (puts, odeio essa palavra!). A foto que aparece aí embaixo é da Lucille nos bastidores da peça – e era assim mesmo que ela aparecia no palco, coberta apenas por uma tanga e um cabelão loiro (na verdade, uma peruca). A atriz e futura diretora não daria uma perfeita Rapunzel (do desenho “Enrolados”), conforme reimaginada por Tarusov?



SININHO
Ela não é princesa, mas também é estrela da Disney, e por isso ganhou seu lugar nessa série de ilustrações. E existiu uma atriz que nunca foi pin-up, mas apaixonava os homens exatamente por seu tipo físico mignon e seu jeito meio menina, meio mulher, bem ao estilo da fada Sininho do desenho “Peter Pan”. Judy Garland, embora tenha ficado famosa ruiva, teve uma breve fase loira (que, pelo visto, durou pouco porque não agradou tanto ao público quanto a Judy-cabelos-de-fogo). Imagine agora o frisson que a eterna Dorothy de “O Mágico de Oz” teria causado nesta pose nada “voltada à família”. Só tenho uma dúvida: isso aí na xícara é café ou chocolate? A imaginação dos fãs é que vai decidir...


          Pra quem ficou curioso, aqui tem o link do site oficial de Andrew Tarusov, um artista que, pelo jeito, é apaixonado pela Era das Pin-Ups – e especializado no estilo:


FONTES


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

DVD – FUNNY GIRL, A GAROTA GENIAL

Funny Girl

Ano de Produção: 1968
Direção: William Wyler
Elenco: Barbra Streisand, Omar Shariff, Walter Pidgeon, Kay Medford.
Duração: 135 minutos
Colorido

Gravadora: Columbia Tristar



Já fazia algum tempo que eu queria escrever sobre um filme da Barbra Streisand, e aqui está ele. “Funny Girl, A Garota Genial” é livremente inspirado na história real da atriz e comediante Fanny Brice, que eu definiria como uma mulher corajosa, talentosa, cheia de personalidade e, acima de tudo, uma mulher que amava muito: amava a vida, amava a arte e, principalmente, amava a si mesma, e isso fez toda a diferença. Classicaço de 1968 que deu o Oscar de Melhor Atriz à grande Barbra, tem músicas absolutamente sensacionais, incluindo alguns hits da cantora, como People e Don’t Rain On My Parade. O filme mostra como a menina pobre de origem judaica, com um tipo físico fora dos padrões de beleza, peitou o star-system do seu tempo, acreditou em si e virou a estrela dos espetáculos da companhia Ziegfeld, que antes dela só empregava mocinhas tipo pin-up. Omar Shariff, lindo, lindo, lindo, interpreta Nick Arnstein, o milionário viciado em jogo que foi a paixão de Fanny e também o pai de sua filha. Charmosão e malandro, Arnstein viveu um relacionamento extremamente conturbado com Fanny, não apenas devido às encrencas que ele arranjava em consequência da jogatina, mas também porque a artista sempre estava trabalhando e tinha muito pouco tempo para ficar com ele. Walter Pidgeon rouba a cena como Florenz Ziegfeld, o dono da lendária (e polêmica) companhia teatral. Embora haja mais diálogos do que canções, os números musicais são fabulosos, como as impagáveis sequências dos patins e das noivas (que eu não posso detalhar muito para não estragar o seu prazer de ver o filme). De todo o elenco, quem mais solta a voz é a própria Barbra Streisand – que bênção! Não que o resto do elenco seja ruim, pelo contrário (Omar Shariff nos surpreende positivamente interpretando as músicas), mas Barbra pra mim é a maior cantora do mundo. Ou uma das maiores, não importa. Sua voz é coisa de Deus. E ninguém teria sabido tirar partido do talento de Barbra tão bem quanto o diretor William Wyler,  que já tinha no seu extenso currículo trabalhos como “Jezebel”, com Bette Davis, e “A Princesa e o Plebeu”, com Audrey Hepburn, e ajudou ambas as atrizes a levarem o Oscar por seus papéis nestes clássicos. O fenômeno se repetiu com Barbra, que faturou a estatueta de Melhor Atriz em 1969 por sua Fanny Brice. O filme apresenta uma bela e detalhada reconstituição de época, tanto nos cenários quanto nos figurinos, e uma fotografia rica e colorida. “Funny Girl, A Garota Genial” foi um grande sucesso na época do seu lançamento, primeiro na Broadway, depois nos cinemas. Na versão teatral, também era Barbra quem fazia o papel de Fanny. E, vamos combinar, não poderia haver escolha melhor do que ela para esta personagem. Afinal, ela e Fanny Brice têm muito em comum – não apenas a origem e o talento absurdo, mas o fato de ambas terem quebrado padrões, imposto seu estilo e com ele ganhado o coração do público. O final da história é surpreendente. Este drama musical mais do que clássico nos deixa a mensagem sempre atual de que você pode ser o que quiser, basta acreditar em si e se amar como você é, sem querer se enfiar em rótulos de nenhum tipo. Que bom seria se a grande mídia parasse de procurar meninas dentro de padrões gastos e irreais e fosse atrás de mais Barbras. Talento e personalidade. É disso que o público sente falta e não sabe.



Curiosidades
“Funny Girl, A Garota Genial” foi a estréia de Barbra Streisand no cinema (já chegou chegando!) e o primeiro musical da carreira de Omar Shariff.
▪O bordão "Hello, Gorgeous!" ("Oi, Linda"!) é considerado uma das falas mais inesquecíveis do cinema em listas de diversas publicações especializadas. Ao receber O Oscar de Melhor Atriz, a primeira coisa que Barbra Streisand disse foi "Hello, Gorgeous!".  
▪As canções que foram sucessos da verdadeira Fanny Brice, e que Barbra Streisand regravou para o filme e tornou sucesso novamente, são My Man, I’d rather be blue over you e Second Hand Rose.
▪No filme há uma cena em que Barbra aparece vestida de criança, parecendo uma figura do seriado “Chaves”. Aquela personagem é Baby Snooks, uma menininha chata e mimada que foi um dos papéis mais conhecidos de Fanny Brice. Quando Baby Snooks foi criada e lançada, Fanny Brice já tinha 45 anos de idade. Conta a lenda que até no rádio Fanny se caracterizava de menininha para interpretar Baby, pois acreditava que isso dava mais realismo à sua atuação. 
▪Recentemente, “Funny Girl, A Garota Genial” foi homenageado na série “Glee”, o que fez com que uma nova geração se interessasse pelo filme e pela obra de Barbra Streisand. https://www.youtube.com/watch?v=7yE1j9U6MVE Adoro quando coisas assim acontecem! 

EXTRAS: Interessantes, mas nenhum traduzido (pôxa, o que é que custa legendar os extras em português?). Tem dois minidocumentários sobre a produção do filme, com visitas aos locais onde as cenas foram gravadas e cenas de bastidores. Clipes musicais de seis canções para assistir separadamente. Listas com as filmografias completas de Omar Shariff, Barbra Streisand, Walter Pidgeon e do diretor William Wyler. Trailers de três filmes de Barbra – inexplicavelmente, nenhum deles é “Funny Girl”. Esses três filmes, aliás (“O Espelho Tem Duas Faces”, “Nossa, Que Loucura” e “O Príncipe das Marés”) foram lançados em DVD no Brasil
Sugestão minha: bem que podiam ter colocado nos Extras um documentário, mesmo que fosse curtinho, sobre a verdadeira Fanny Brice. Teria sido bem interessante. Mas como o Poltrona R é o Poltrona R, eu incluí aqui um clipe da Fanny real, só pra vocês conferirem o quanto é impecável o trabalho feito por Barbra Streisand neste filme: https://www.youtube.com/watch?v=qkOoUzNKeCs

 Embalagem: Simplicíssima. Uma lenda como a Barbra merecia mais.


quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

PALHAÇO BOZO, O HERÓI, O HOMEM, A LENDA



O Bozo ficou famoso no Brasil somente na década de 1980, com seu programa de televisão que dava picos de audiência no SBT e chegava a derrotar a Rede Globo no IBOPE. Mas a verdade é que o personagem é bem mais antigo do que isso. Eu mesma não sabia da origem do palhaço que foi ícone da minha infância, e confesso que fiquei abestalhada ao ler (e assistir) o material que recolhi para fazer esta pesquisa. Tá sentado(a)?

Bozo The Clown (em português, O Palhaço Bozo) foi criado lá em 1946, por ninguém menos que o superhipermega empresário Alan Livingston (1917-2009), para ser astro de uma coleção de compactos de história com encartes ilustrados para crianças, iguais àqueles disquinhos coloridos que vinham com livros de contos de fadas no meu tempo de moleca. E sabem quem fazia a voz do Bozo nos disquinhos? O locutor Pinto Colvig (1892-1967), que foi dublador original do Pateta nos desenhos clássicos de Walt Disney. Colvig, aliás, interpretou o palhaço nariz de pipoca durante uma década inteira (entre 1946 e 1956).




Como Bozo foi parar na televisão? Foi graças ao sucesso de vendas dos discos com livros ilustrados. A gravadora de Alan Livingston, a Capitol Records, passou a ser apelidada de “Bozo Records”, e outros disquinhos de histórias que não tinham nada a ver com o palhaço passaram a trazer o selo de “Aprovado pelo Bozo” na capa, o que os ajudou a vender ainda mais.



Diante dessa situação surreal, a pioneira emissora KTTV, de Los Angeles, fechou um contrato com Livingston para lançar o programa semanal “Bozo’s Circus” (“O Circo do Bozo”) em 1949. No papel de Bozo, adivinha quem? Pinto Colvig, que mostrou grande desenvoltura também no palco.




As coisas mudaram em 1956, quando o ator e empresário Larry Harmon (1925-2008), um dos vários artistas contratados pela Capitol para fazer o papel do Bozo em “presenças VIP” e eventos promocionais em geral, desembolsou uma bela grana e comprou de Livingston os direitos do personagem. Nesse mesmo ano, Livingston deixou a Capitol por uns tempos. Inventor do slogan “Bozo, o palhaço mais famoso do mundo”, que passou a adotar desde então, o esperto e talentoso Harmon modificou o traje, a voz e até a icônica risada, tornando o personagem aquilo que conhecemos hoje. Àquela altura Bozo já era uma franquia que rendia lucros com todo tipo de produtos, inclusive HQ e revistas de colorir.




Não contente apenas com os palcos e a TV, Harmon fundou também seu próprio estúdio de animação e, em parceria com a distribuidora Jayark Films Corporation, produziu e vendeu uma série de desenhos animados inesquecíveis para canais televisivos, juntamente com os direitos para que cada emissora que comprasse os desenhos contratasse seu próprio artista para interpretar o Bozo em um programa de auditório ao vivo que incluía as animações. A primeira emissora a assinar o contrato foi a KTLA, também de Los Angeles, tendo no papel do famoso palhaço o ator Vance Colvig (1918-1991), filho do primeiro Bozo, Pinto Colvig. Isso mesmo, Bozo também é tradição de família!




Traduzindo: ao contrário de “I Love Lucy” (outro sucesso monstruoso da época), Bozo não era reprisado, ele era uma franquia. Funcionava assim: ao invés de adquirir os episódios prontos para serem exibidos, as emissoras compravam era o direito de produzir seu próprio remake do programa. Ou seja, nosso querido Bozo foi o pioneiro nesse negócio de franquia-remake, tão popular nos dias de hoje com atrações como o “Big Brother”, por exemplo. Seria um chavão dizer que Larry Harmon era um sujeito à frente da sua época, mas o cara era! O que eu vou fazer?

Em 1965, Larry Harmon comprou a parte de seus sócios e tornou-se o único dono dos direitos de licenciamento, por dois motivos. Primeiro porque, como cada canal franqueado utilizava seu próprio artista para interpretar o Bozo em seu remake, a voz e os maneirismos do palhaço ficavam diferentes demais de uma emissora para a outra, e isso não era convincente. Segundo, porque Harmon acreditava que um único programa, exibido nacionalmente, seria melhor em termos comerciais.




A partir de então, o programa passou a ser feito por uma única emissora, a WHDH-TV de Boston (que atualmente se chama WCVB-TV), e os episódios vendidos para todos os outros canais dos EUA. Porém, quando decidiu exportar o personagem, Harmon achou melhor que cada país produzisse o seu Programa do Bozo. A estréia internacional de Bozo aconteceu no México, em 1961, quando a emissora XEFB comprou os direitos de exibição dos desenhos do palhaço e contratou o artista José Marroquín para encarnar o Bozo mexicano. Como a experiência internacional deu certo, Harmon passou a fazer o mesmo com diversas emissoras dos quatro cantos do mundo.




Em 1979, o apresentador, empresário e Rei da Comunicação Silvio Santos, prestes a lançar seu próprio canal de televisão, o SBT, decidiu produzir um remake brasileiro do programa do Bozo. O próprio Larry Harmon veio para o Brasil para escolher e treinar os intérpretes do seu personagem, que, inicialmente, ficou nas mãos do ator Wandeko Pipoca, e foi vivido depois por outros artistas, como Arlindo Barreto, Décio Roberto e o mais famoso, o apresentador Luis Ricardo, que trabalha até hoje no SBT. Diz a lenda que no começo, o próprio Silvio quis fazer o papel do Bozo, mas Larry Harmon achou que ele não iria convencer por ter a voz mais famosa do Brasil, e o dissuadiu da ideia. Duvido que seja verdade, mas se for, Harmon tinha razão. 




          No Brasil, o programa do Bozo ficou no ar entre 1980 e 1991, com um sucesso que não foi brincadeira. Marcou toda uma geração (a minha geração, aliás), com seus quadros de humor e de competição, sua trilha sonora memorável que até hoje os marmanjos sabem de cor, e com os personagens famosos que lançou, como a eterna Vovó Mafalda, vivida por Valentino Guzzo, e o Professor Salci Fufu, feito por Pedro De Lara. Em um fenômeno parecido com o que aconteceu com a gravadora Capitol nos anos 50, o SBT passou a ser apelidado de Sistema Bozo de TelevisãoRecentemente, o SBT tentou fazer o palhaço voltar (https://www.youtube.com/watch?v=coC9lHs7D4M), mas não deu certo e o programa ficou pouco tempo no ar. Para quem quer relembrar ou conhecer mais sobre o personagem no Brasil, indico um documentário show de bola que está no You Tube. Foi feito como parte da comemoração dos 30 anos do SBT. Olha aqui:

 


          E não é só. Um filme inspirado no lado punk da saga do palhaço em terras brasileiras, chamado “Bingo, o Rei das Manhãs”, está previsto para estrear ainda este ano, com Vladimir Brichta no papel principal. Brichta é um ator que já provou que sabe fazer comédia e drama. Acredito que ele tenha sido uma escolha acertada. E, confesso, estou ansiosa para assistir. Confira o trailer do filme, comentado pelo Diva Depressãohttps://www.youtube.com/watch?v=lULtA7hSV4g

          Ao longo da sua carreira, Harmon chegou a treinar mais de 200 atores para interpretar Bozo, e o personagem foi, durante um tempo, utilizado pela rede de lanchonetes McDonald’s como garoto propaganda oficial. Mais tarde, o McDonald’s criou seu próprio palhaço-símbolo, o Ronald McDonald. Curiosamente, a primeira pessoa a se vestir de Ronald foi um ex-Bozo, Willard Scott.




          “Êh, limonada!” Ícone que é ícone não sai da memória do público, nem mesmo com a invenção de novas tecnologias, e o Bozo é exemplo disso; pra falar a verdade, ele não só sobreviveu à era da Internet como integrou-se a ela. No You Tube, por exemplo, ele tem um canal com seus desenhos dublados em português (https://www.youtube.com/channel/UCHef6iKIpwyy3awRWWRSI6A). No Facebook ele possui fã-clube brasileiro (https://www.facebook.com/bozo.historia/?fref=ts) e página oficial internacional (https://www.facebook.com/BozoOfficial/?fref=tse), e já foi utilizado em um monte de memes, como os que foram feitos na época das eleições norte-americanas, com o ex-presidente Barack Obama e o atual, Donald Trump, caracterizados como o palhaço.





          Memes brasileiros do Bozo também não faltam. Aliás, em matéria de criatividade e talento para a palhaçada, o nosso povo continua imbatível!





         Bozo recebeu o troféu de “Embaixador da Boa Vontade” da UNESCO pelo caráter educativo de seu programa, que já foi produzido em 240 países. Por onde passou, Bozo levou diversão, humor e sua mensagem: “Pra viver é melhor sempre rir!”



Playlist completa desta matéria no Canal Poltrona R do You Tube! Vai lá: https://www.youtube.com/playlist?list=PLyc88yygdNcBpYULcXdAKyZmFKT-FJ25Y


FONTES


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

GIF DO DIA - 24/01/2017

Não consegui não postar essa imagem trabalhada em sépia de uma cena do meu filme favorito: Scarlett O'Hara (Vivien Leigh) chora por ter sido rejeitada pelo babacão do Ashley (Leslie Howard), na mesma festa em que conheceu o charmoso Capitão Butler (Clark Gable), ele sim o personagem mais querido (e atual) do filme. O Gif do Dia faz jus a essa cena épica de "E O Vento Levou". Um belíssimo trabalho. 


DIRETO DO YOU TUBE – Charles Chaplin em 3 Minutos




Lembram da “Biografia do Frank Sinatra em 3 Minutos”, que bombou aqui no blog? (Link pra quem ainda não assistiu: http://poltrona-r.blogspot.com.br/2016/11/direto-do-you-tube-biografia-de-frank.html) Pois a galera do Philos, responsável por contar em 180 segundos a história da vida do maior cantor do mundo, agora resolveu repetir a dose com o maior ATOR do mundo. O minimicrodocumentário “Biografia de Charles Chaplin Em 3 Minutos” é um daqueles vídeos que ninguém no seu juízo perfeito consegue negativar. Seguindo a mesma linha da pequena biografia de Sinatra, esse presente para o público brasileiro, fã ou não de cinema antigo, explica alguns termos usados pelos estudiosos para falar da obra do multiartista e mostra que o fato de um filme não ter diálogos não faz dele uma chatice – pelo contrário, só o torna mais interessante para o público e desafiador para o elenco. O espectador vai ficar sabendo, também, o que se passava na mente de Chaplin e como sua inspiradora história de vida influenciou sua obra, inclusive como surgiu o personagem Carlitos. Imperdível. Que venham mais vídeos assim e mais canais como o Philos!



segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

DVD - CANTANDO NA CHUVA

Singin’ In The Rain
Ano de Produção: 1952
Direção: Gene Kelly & Stanley Donen
Elenco: Gene Kelly, Debbie Reynolds, Jean Hagen, Donald O’Connor.
Duração: 103 minutos
Colorido
Gravadora: Warner/Turner Home Entertainment





Não, isto não é uma resenha de um DVD. Nem de um filme. Isto é uma resenha de uma paixão de infância. Sei que eu já declarei meu amor por “Cantando na Chuva” inúmeras vezes na Internet, mas nunca no meu próprio blog. Então, vamos lá: “Cantando na Chuva” é mais um daqueles filmes que a infelizmente já extinta Sessão da Tarde Que Prestava me apresentou, lá atrás, nos anos 80, época da Programação de TV Que Prestava (hoje estou nostálgica, rsrsrsrs). Se você é mais um daqueles que não assistiram a esta obra-prima porque tinham preconceito contra “filmes velhos”, esta postagem aqui é mais uma chance que você tem de mudar de ideia – eu espero.  Principalmente porque um filme em que Gene “Gênio Lindo” Kelly está mais gênio e mais lindo do que nunca é uma bênção para a alma. (Aliás, ainda vou fazer um especial sobre Gene Kelly, pois, como vocês leitores já sabem, sou apaixonada por ele. Vocês só não sabiam era que eu já sou apaixonada por ele faz todo esse tempo!). “Cantando na Chuva” foi escrito, dirigido e coreografado pelo gênio lindo, que também faz o papel principal. A época em que o filme se passa já é interessante: os primórdios do cinema falado, tempos em que muitos atores caíam em desgraça quando o público ouvia a voz deles pela primeira vez. E a personagem Lina Lamont, vivida brilhantemente por Jean Hagen, é uma desses atores bonitos, expressivos, mas com uma voz horrorosa. Ela e seu parceiro nas telas, Don Lockwood (interpretado por Gene Kelly), estão prestes a estrear seu primeiro filme falado. O problema é que ela, que sempre fazia papéis de mulheres sedutoras no cinema silencioso, tem uma voz tipo a do Pato Donald. Na pré-estréia o filme é motivo de chacota, e para salvá-lo do fracasso comercial, os produtores decidem transformá-lo em um musical. E você pergunta: mas como, se a moça tem voz de pato? Simples: colocando a jovem e desconhecida atriz Kathy Selden (Debbie Reynolds, que nos deixou recentemente) para dublá-la. Há inúmeros momentos em que se percebe que o principal objetivo do filme é desmontar (e criticar) a farsa que é a indústria do cinema; em certas cenas, Gene Kelly fala olhando diretamente para a câmera, como quem diz: “Ei, você que está aí do outro lado me assistindo, presta atenção no que eu vou falar!”. Como o clássico é ambientado no final dos anos 1920, início dos anos 1930, há canções originais deste período na trilha (como “Good Morning” e a própria “Singin’ In The Rain”, que já haviam sido hits com Judy Garland), e um lindo figurino de época. A delícia é ver a reverência que Gene Kelly e sua turma tinham pelos pioneiros de Hollywood, os artistas que abriram caminho para eles. Gente que acreditou num sonho e embarcou nele de verdade, e com isso transformou Hollywood no que ela é, para mal e para bem – a artificialidade, que o filme critica, é algo que faz parte da profissão, afinal. Com exceção da cena principal (aquela em que Don Lockwood dança na chuva), as coreografias são todas gravadas em um take só cada uma, algo que exige artistas de verdade para ser realizado. E o fato de o filme ser um musical não fez com que os produtores contratassem qualquer um para escrever o roteiro. Muito pelo contrário: os diálogos são extremamente caprichados e repletos de frases inteligentes, começando pelo bordão de Don Lockwood: “Dignidade, dignidade sempre!”. “Cantando na Chuva” tem o segundo final mais espetacular que eu já vi – o primeiro é o de “Cinema Paradiso”. É considerado o melhor musical já produzido na História do cinema. E tem Gene Kelly – só isso já valeria cada minuto do meu tempo, cada centavo da minha grana.




Curiosidades
▪Para que a água da chuva aparecesse mais na cena principal do filme, foi utilizada uma iluminação especial. A história de que foi misturado leite na água é puro mito. Aliás, as gravações dessa sequência deixaram o gênio lindo com um febrão de 39 graus, o que atrasou em 2 ou 3 dias a conclusão dela.
▪A personagem Kathy Selden foi originalmente escrita para Judy Garland, que não pôde fazê-la porque se desligou da MGM pouco antes do início das gravações do filme.
▪O figurino foi criado por Walter Plunkett, o mesmo estilista de “E O Vento Levou”.
▪A única música da trilha que foi especialmente composta para o filme foi “Moses Supposes”.
▪A canção “Make’Em Laugh”, interpretada pelo genial e injustiçado Donald O'Connor, é a versão original de “Sempre Rir”, hit do palhaço Bozo nos anos 80 (Link: https://www.youtube.com/watch?v=Fbu1PMy5fp8 ). 


EXTRAS: Vergonhosamente não há nenhum.

Embalagem: Superhiperultra simples – nem desenho dentro do estojo tem. Houve também uma Edição Comemorativa dos 50 Anos do filme (https://www.youtube.com/watch?v=rIE-IsgMAL8), que infelizmente foi lançada com número limitado de cópias e está fora de linha atualmente.

DIRETO DO YOU TUBE - "Os Três Ratos Cegos", clássico de muitas infâncias que continua atual



Coroas da minha idade para cima, vocês com certeza se lembram de algumas obras-primas do desenho animado que a televisão da nossa época exibia a rodo. O espantoso é rever esses clássicos mais de três décadas depois e descobrir que eles não envelheceram nadinha. Entre essas pérolas atemporais disponíveis no You Tube para os nostálgicos, achei “Os Três Ratos Cegos”. Sabe de que ano? 1935! Meus pais viram no cinema, eu vi no SBT nas manhãs de sábado, logo que o canal entrou no ar. E a geração de hoje precisa ver – principalmente nestes tempos em que a programação do cinema, da televisão e até dos video games exalta a bandidagem, a desonestidade e o tal do “levar vantagem em tudo” – exalta aquilo que no meu tempo nós fomos ensinados a não praticar!

É uma das recordações mais bacanas da minha infância. Se não me engano, eu tinha também o livro que inspirou o desenho (que é de onde saíram as figuras que ilustram esta matéria). Normalmente não sou muito fã de lições de moral, mas quando elas são bem dadas, e ensinadas de uma maneira que respeita a inteligência da criançada, duram uma vida inteira. Em “Os Três Ratos Cegos”, por exemplo, aprende-se que uma mentira às vezes pode te custar a vida, e que existem situações na nossa existência que precisam ser enfrentadas se queremos evoluir e amadurecer.



Pra quem não lembra ou não viveu a época, é a história de três ratinhos malandros que, para não terem de trabalhar, inventam que são cegos. Mas a farsa os coloca em uma situação beeeem difícil, e eu vou parar de contar já porque aqui neste blog não se dá Spoiler. Depois de trinta e tantos anos, rever “Os Três Ratos Cegos” (vou ver se acho o livro pra reler também) me faz pensar na importância de ensinarmos às crianças que certos comportamentos não são legais. Alguns políticos, principalmente, precisavam assistir de novo a esse clássico...
 O desenho foi feito em uma parceria de Walter Lantz (o criador do Pica-Pau) com o sensacional Tex Avery, e está no You Tube (link abaixo) com a linda dublagem original. A música-tema é inesquecível (e foi usada também na abertura do seriado "Os Três Patetas"https://www.youtube.com/watch?v=j6QuyV-WwrE)! Agradeço de coração a quem postou. 




FONTES
http://sekvenskonst.blogspot.com.br/2011/06/three-lazy-mice.html
http://www.kididdles.com/lyrics/t010.html
http://www.imdb.com/title/tt0153038/
https://www.bcdb.com/cartoon/5161-Three-Lazy-Mice