quarta-feira, 11 de outubro de 2017

AQUELA GERAÇÃO QUE OUVIA DISCOS DE HISTORINHA


          Se você aí que está lendo é quarentão ou cinquentão, prepare a pipoca doce, a tubaína e o lencinho porque a viagem à infância hoje vai ser pra valer! Fugindo um pouco do papo cinematográfico, resolvi desenterrar uma lembrança muito querida do meu tempo de criança – lembrança essa que quem regula de idade comigo também tem. Estou falando dos discos de vinil com historinhas.

            No final dos anos 70 e início dos anos 80, uma febre nacional (e, pelo que eu estou vendo aqui nas minhas fontes, mundial) tomava conta dos lares onde havia crianças. Eram as coleções completas de vinis compactos e LPs com dramatizações de contos de fadas tradicionais, como se fossem audiobooks. Alguns destes discos eram feitos de vinil colorido, outros vinham com um livro grátis da história, cheio de ilustrações lindas. Mas todos eram a grande paixão da garotada que teve o privilégio de viver aqueles tempos onde não havia videocassete, nem CD, nem Internet, nem celular, nem TV a cabo, nem Netflix, nem tablet, nem nada do gênero.



          Naquele tempo, as casas tinham aqueles famosos vitrolões pesados com caixas de som enormes na sala (esses aparelhos, hoje, valem uma grana violenta para os fãs). Era uma espécie de ostentação – o trambolhão tocava vinis, fitas K7 e rádio. 



Na cozinha, nossos pais ouviam radinho de pilha...



E nós, crianças, ganhávamos de presente, por volta dos 6 anos de idade, uma vitrolinha colorida portátil (a inesquecível “Sonatinha”), pra ouvir no quarto.



Junto com ela, os primeiros discos das nossas vidas: as séries Disquinho e Estorinhas de Walt Disney (“estorinhas” com “E” mesmo, olha como eu sou velha!).



           Pra você jovem que não tem noção do que eu estou falando, cada vinil destes trazia uma história clássica dramatizada e com uma trilha sonora repleta de canções que grudavam na cabeça. Era como se fosse uma peça musical infantil, só que em áudio.

          A Coleção Disquinho foi criada nos anos 60 pela gravadora Continental. O compositor João de Barro, também conhecido como Braguinha, teve a ideia do projeto. Nos anos 30 ele teve a honra de conhecer Walt Disney pessoalmente, ao fazer a dublagem brasileira do desenho “Branca de Neve e Os Sete Anões”. Gostou tanto do trabalho que, em 1943, ao assumir a direção da gravadora, com uma filha pequena e o desejo de lançar um produto para o então pouco explorado mercado infantil, começou a fazer adaptações das histórias. E em 1965, ele produziu a coleção de vinis que rapidamente fez sucesso entre a criançada. A trilha sonora era composta e/ou adaptada pelo próprio João de Barro e orquestradas por Radamés Gnattali, e Sônia Barreto fazia as narrações.



          Lá pelos anos 70, a Editora Abril colocou nas bancas de jornais a série Estorinhas Clássicas de Walt Disney, com mais versões em áudio de fábulas infantis, só que baseadas nos próprios longa-metragens de animação da Disney, como o título dizia. As histórias, inclusive, traziam toda a trilha sonora dos próprios desenhos do Tio Walt. Por esta série eu tenho um carinho monumental, já que, naqueles tempos, a única forma de ouvirmos as músicas de um desenho querido era ter a versão “disquinho de história” dele. A escritora Edy Lima assinava as adaptações das fábulas, todas narradas pela inconfundível voz de Ronaldo Baptista.



          De tanto ou vir essas historinhas eu, além de estragar os discos (e vinil riscado não tem como consertar!!!), decorava não só as músicas, mas também as narrações e as falas de todos os personagens. Até hoje eu de vez em quando me pego cantando “Eu vou, eu vou” ou “Bibidibobidibú” no chuveiro.



            No ano 2000, quando eu trabalhava em uma produtora, tive a oportunidade de conhecer vários dos dubladores que fizeram as vozes dos personagens destes disquinhos que eu curti tanto na infância. Não tive a menor preocupação de disfarçar a tietagem – ri, me emocionei, dei abraços neles e agradeci a eles a importância que este trabalho tão lindo e tão pouco reconhecido teve na minha vida. Meu sonho é criar alguma coisa na vida que represente para as pessoas um tiquinho do que a obra desses artistas – de todos eles – representou para mim.



Agora, meu presentinho especial para vocês. Preparei aqui uma lista com algumas dessas historinhas completas – começando pela minha favorita, “A Bela Adormecida”. A playlist com todas as histórias está (adivinhem!) no Canal do Poltrona R no You Tube: 
https://www.youtube.com/playlist?list=PLyc88yygdNcC0r6VUfQvR9t28HVtbO8Ls.



Feliz Dia das Crianças para vocês, leitores!




Alice No País das Maravilhas: https://www.youtube.com/watch?v=hkxMeExBPyY

Branca de Neve e Os Sete Anões https://www.youtube.com/watch?v=mIjSObgPeoA


O Casamento da Dona Baratinha https://www.youtube.com/watch?v=7u5KeaGZDas








Mogli, O Menino Lobo (Original) https://www.youtube.com/watch?v=W7N_XlfF3kY



FONTES