sábado, 30 de setembro de 2017

DIRETO DO YOU TUBE – Elvis no palco com... Celine Dion?



Normalmente eu não sou muito fã dessas montagens que juntam artistas vivos com outros já falecidos. Sei lá, é frescura minha... Ou porque não acho legal colocar o astro ou estrela que já não está entre nós em uma parceria com alguém que ele não pôde escolher, ou porque em boa parte das vezes esse tipo de coisa é oportunismo puro. Entretanto, tenho que admitir que fiquei impressionada ao ver esse vídeo, que foi ao ar durante o especial do programa “American Idol” em homenagem a Elvis Presley, em abril deste ano. A partir das imagens de uma famosa apresentação do Rei do Rock, datada de 1968, foi criado um efeito que uniu o cantor à estrela Celine Dion e a um coral gospel (estilo musical que, como todo mundo sabe, teve grande importância na vida dele). O truque é, na verdade, uma versão aperfeiçoada do holograma que impressionou o mundo em 2012 ao “ressuscitar” o rapper Tupac (1971-1996) durante o mitológico show de Snoop Doggy Dogg (não vou aporrinhar você com explicações complexas no momento, mas para entender melhor como funciona, essa aqui é uma matéria bacana: https://www.tecmundo.com.br/holografia/22409-como-foi-feito-o-holograma-de-tupac-shakur-que-impressionou-o-mundo-.htm). Eu só espero que esse negócio de holograma não vire moda, pois 1) acho muito deprimente, e 2) há inúmeros artistas extremamente talentosos por aí, só esperando por uma chance de destaque na mídia. Esse dueto do Elvis e da Celine, porém, ficou perfeito demais, talvez porque no original, que, aliás, tinha fundo preto, o que eu acredito ter facilitado as coisas (não sei, não entendo disso), o visual do cantor era clássico, parecia quase atual. E as vozes dos dois combinaram, deixando o resultado bonito.

E agora, o vídeo que é o assunto dessa postagem:




Separei para vocês verem, também, o vídeo original do Elvis, de 1968:

  


Para quem ficou curioso, um minidocumentário mostrando os bastidores do clipe e explicando como o efeito foi criado. É em inglês, mas dá pra ter uma ideia pelas imagens. AVISO: para que a coisa não perca a graça, veja este vídeo aqui só depois de assistir ao clipe do Elvis e da Celine, certo?

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

MEXE COM QUEM TÁ QUIETO! AS (NÃO POUCAS) TRETAS DE TIA LUCY



Lucille Ball foi “o Jerry Lewis de saias”, a “Dercy Gonçalves norte-americana”, a diva absoluta do humor. Segundo a maioria das pessoas que a conheceram, foi também uma figuraça – brincalhona, desbocada, fumante inveterada e chegada num bom copo. Porém, quando ela se sentava na cadeira de diretora e produtora, virava uma tirana, com quem poucos atores agüentavam trabalhar. E histórias sobre isso não faltam...



O tal casal


Elizabeth Taylor e Richard Burton foram bons exemplos. Em 1974, Elizabeth e Richard participaram da série “Here’s Lucy”. Na história, o gostosão inglês compra um anel de presente para a morena e resolve levar para ela. No caminho, ele cruza com Lucy, e um incidente provocado por esta (não vou contar, mas pus o link do episódio aí abaixo) atrapalha os planos do galã. Quem assiste tem a impressão que Elizabeth Taylor, Richard Burton e Lucille Ball se divertiram pra caramba gravando tudo aquilo. Em suas memórias, porém, Richard, que era ator shakespeariano treinado, garante que perdeu a paciência com a comediante: “Pessoalmente Lucille não tem charme nenhum, e sua falta de senso de humor é monumental. Na verdade, eu a entendo e até sinto pena dela, pois é uma mulher idosa e cansada (Lucille tinha 63 anos na época), que vive apenas para o trabalho. Mas ela era um monstro que eu poderia ter assassinado se estivesse bêbado!”. Elizabeth também não deixou barato. Perguntada durante um a entrevista quem era o(a) pior diretor(a) com quem ela tinha trabalhado na vida, a eterna Cleópatra mandou na lata: “Sem dúvida, foi Lucille Ball!”



That’s Amore mesmo?


Outro que não gostou de ser dirigido por Lucille Ball foi o charmoso Dean Martin. Na época (1966), o “amore” estrelou um capítulo do “Show da Lucy”, interpretando a si mesmo. Na trama, ele tinha um desastrado encontro romântico com Lucy, mas ela não sabia quem ele era. Segundo Dean, Lucille o deixou maluco, chegando até mesmo a empurrá-lo. Houve um momento em que ele se encheu e berrou: “Se ela tocar em mim mais uma vez, eu vou para casa!”. O curioso foi que, algum tempo depois, já na década de 1970, Dean Martin e Lucille Ball trabalharam juntos no programa “Roast”, criado por ele (e que teve um remake no Brasil, chamado “Fritada”). E o grande barato do programa, não só para mim, mas para todos os telespectadores, era justamente Dean e Lucy falando besteira e zoando adoidado outros artistas – incluindo eles mesmos. Dá pra ver que eles se divertiam com toda aquela palhaçada, tanto no palco quanto nos bastidores.



Só as cachorras!


Joan Crawford, outra diva que tinha pavio curto, também gravou com Lucille nos anos 60 um episódio do “Show da Lucy” (que foi exibido no Brasil pelo SBT no início dos anos 80). Joan estava sempre alcoolizada (ela tirava aquelas garrafinhas de vodca da bolsa) e lutando para lembrar suas falas. Vamos combinar, não deve ter sido fácil para ninguém (nem mesmo para a Tia Lucy) dirigir uma atriz nestas condições. O quebra-pau entre as duas estrelas foi tão grande que a humorista quase pensou em substituir Joan por Gloria Swanson. Dizem até que, no final das gravações, Joan Crawford teria dito: “Lucille é capaz de ser mais cachorra do que eu em qualquer dia da semana!”



A Volta


Mas, por incrível que pareça, a primeira treta que Lucille Ball teve logo no início da sua carreira televisiva foi com ninguém menos que Vivian Vance, a eterna Ethel de “I Love Lucy”. Quando o papel da melhor amiga de Lucy Ricardo foi oferecido a Vivian, ela ficou chateada porque iria ser “escada” de uma atriz com quem não se dava. “Já que o seriado se chamava “I Love LUCY” e tudo girava em torno da personagem da Lucille Ball, eu também precisarei aprender a amar aquela vagabunda”, teria dito Vivian na época que a série começou. Tem gente que diz até que o figurino insosso de Ethel teria sido feito por ordem da própria Lucille, que não queria contracenar com uma artista que fizesse sombra para ela própria. Com a desculpa de “É-para-a-caracterização-da-personagem”, Lucille teria ainda mandado Vivian engordar uns 10 quilos para tornar a companheira de cena menos atraente. Verdade ou não, as duas comediantes acabaram ficando tão amigas que não se desgrudavam, e passaram a trabalhar juntas também no “Show da Lucy”, que Vivian abandonou em 1965, alegando “cansaço e problemas relacionados à vida familiar”. A colega ainda retornou de vez em quando ao seriado da rainha do humor, mas em algumas aparições breves, até 1968. Em 1975, um ano depois de Tia Lucy ter estreado a série “Here’s Lucy”, uma amiga em comum entre ela e Vivian, a apresentadora Dinah Shore, armou um reencontro da diva com a então ex-fiel escudeira, e em frente das câmeras! Dinah chamou Lucille Ball para ser entrevistada, sem que esta soubesse que Vivian estava nos bastidores pronta para entrar. Detalhe: Lucy e Vivian ainda não tinham feito as pazes e estavam há sete anos sem se falar. Quando Vivian surgiu no palco, as duas ex-colegas de seriado começaram a gargalhar e a chorar ao mesmo tempo. Era a primeira vez que elas se viam em todo aquele tempo. Um detalhe hilário deste reencontro é que Lucille Ball, famosa por abominar cabelos brancos e jamais deixá-los visíveis, estava morena (sua cor natural) com mechas brancas por causa da personagem que estava fazendo na época. Vivian, que sabia o quanto era raro a amiga mudar a cor das madeixas, e ainda mais raro ela não disfarçar os inconvenientes fios brancos, saiu com esta: “Finalmente você deixou as raízes do seu cabelo aparecendo, Lucy!”. A cena da reconciliação da dupla de estrelas você vê na Lista de Vídeos aí abaixo, infelizmente sem legenda. Graças a Deus que no final dessa história a amizade superou tudo.



Diva Vs. Diva


Não dá pra deixar de fora da lista o arranca-rabo que Tia Lucy teve, inacreditavelmente, com uma de sua próprias ídolas, a dama do teatro e do cinema, Tallulah Bankhead (1902-1968). Famosa pelo gênio ruim e pela pouca humildade, Tallulah fez uma participação em 1957 em um episódio especial de “I Love Lucy”. Na verdade, o papel tinha sido escrito para Bette Davis, que não pôde assumi-lo, e Tallulah, por ser fã do seriado, ofereceu-se para atuar no lugar de Bette. Em sua autobiografia (infelizmente nunca lançada no Brasil), Tallulah não poupa críticas a Lucille, chamando-a de arrogante e autoritária, e apelidando-a de “Bitchy Ball” (Ball biscate). Entre as histórias cabeludas de bastidores, a Srta. Bankhead conta que a humorista esvaziava no gargalo engradados de garrafas de licor (entregues no próprio estúdio pelo caminhão de uma empresa de bebidas alcoólicas) e ficava tão embriagada que acabava dormindo na rua. Outra revelação feita por Tallulah é que Desi torrava dinheiro com garotas de programa e transava com elas no estacionamento do estúdio. Ela também conta que Lucille ganhava dinheiro para a produção do seriado fazendo filmes pornôs caseiros e prostituindo o filho com pedófilos e que era, digamos, não muito chegada a um banho. Diz também que Lucille Ball mandou aumentar os móveis e fez todo o elenco (exceto ela própria, claro) usar roupas acolchoadas para que ela, Lucille, parecesse mais magra. Tá certo que Tallulah Bankhead nunca foi um exemplo de  sanidade mental e nem de modéstia – eu, pessoalmente, não acredito em nada que ela falou, exceto que Lucille bebia demais e que Desi era mulherengo, pois estes eram fatos mais do que conhecidos. Sem contar que nessa época era Lucy quem estava no auge, e não Tallulah Bankhead. A principal razão dos quebra-paus entre as duas estrelas, na opinião da autora deste blog aqui, era o ego “pequenininho” das duas. A própria Lucille conta que precisou estalar os dedos várias vezes na frente do rosto de Tallulah, pois a diva veterana vinha gravar com a cabeça cheia de álcool, ao contrário da comediante, que estava sempre sóbria em cena. Sou suspeita porque sou muito fã de Lucy e acho Tallulah um monstro de talento. Infelizmente, por questões de direitos autorais, não posso traduzir o texto extraído do livro de Tallulah e reproduzi-lo no meu blog, mas deixo aqui para vocês o link do site (americano) onde uma alma muy caridosa (americana) postou este capítulo da obra: http://alt.tv.ilovelucy.narkive.com/axHsICUU/tallulah-bankhead-speaks-about-lucy.


              Conclusão


Apesar do temperamento difícil que parecia se apossar de Lucille Ball toda vez que a humorista atuava como diretora e produtora, é preciso reconhecer: nenhuma outra mulher foi tão talentosa na história da mídia mundial. A melhor prova da importância do seu trabalho é a molecada da novíssima geração (crianças e adolescentes do século XXI) que está redescobrindo sua obra. E não vamos esquecer outra coisa fundamental: como diretora de TV, Lucille abriu um espaço importante para as mulheres, pois ela foi a primeira a exercer essa função. Com treta ou sem treta, Tia Lucy era única e insubstituível, e talvez tenha sido a artista mais amada da história da televisão, teatro, cinema, rádio, e de quaisquer outros veículos de comunicação onde ela tenha se metido. Ou, como o próprio Desi Arnaz certa vez falou, “I Love Lucy” nunca foi apenas um título.



VÍDEOS CITADOS NA MATÉRIA


“Here’s Lucy”: Lucy, Elizabeth Taylor e Richard Burton (1974) – primeira parte:

“Here’s Lucy”: Lucy, Elizabeth Taylor e Richard Burton (1974) – segunda parte:

“Show da Lucy”: Lucy Namora Dean Martin (1966):

“Show da Lucy”: Lucy e Joan Crawford:

Episódio do programa “Roast” (1975):

Reencontro de Lucille Ball e Vivian Vance:

    Lucille Ball e Tallulah Bankhead:

    
Playlist completa da matéria:



FONTES
http://desiandlucy4ever.blogspot.com.br/2014/01/important-people-in-lucille-balls-life.html

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

DVD – IRENE, A TEIMOSA


My Man Godfrey
Ano de produção: 1936
Direção: Gregory La Cava
Elenco: William Powell, Carole Lombard, Alice Brady, Gail Patrick, Mischa Auer.
Duração: 96 minutos
Original em P&B, mas DVD também dispõe da versão colorizada
Gravadora: LW Microservice






Existem filmes que a crítica não considera grande coisa, talvez por parecerem bobos – esses filmes, por causa disso, acabam caindo praticamente no esquecimento. Graças ao bom Deus, uma série destas produções (a maioria delas das décadas de 1930 e 1960) vem sendo resgatadas por uma geração totalmente nova de fãs de cinema. Uma destas pérolas é justamente “Irene, A Teimosa”. Aparentemente bobinha, esta comédia maluca (ou “screwball comedy”, como era chamado este gênero nos anos 30) carrega muita crítica social, e ironiza especialmente a diferença de classes. Na verdade, a principal crítica do filme não é exatamente aos ricos, mas àqueles ricos fúteis, mesquinhos e, hã, como direi, com tempo livre em excesso. Tudo começa quando o ex-milionário Godfrey (William Powell) é encontrado fuçando no lixão de Nova York. Quem o acha lá são duas irmãs patricinhas, a asquerosa Cornelia (Gail Patrick, tão antipática que rouba a cena) e a carente Irene (Carole Lombard, brilhantemente engraçada). Depois de uma confusão em uma festa (não vou estragar seu prazer contando o que é), Irene, pensando que ele é de fato um mendigo, resolve contratar o rapaz para trabalhar como mordomo na casa da família dela. O rapaz aceita, sem nem imaginar no que está se metendo: Angelica (a ótima Alice Brady), a mãe das duas moças, sofre de ataques de loucura e tem um amante (ou melhor, “protegido”) italiano e jovem, o músico Carlo (Mischa Auer), que ela trata como uma mistura de cachorrinho de estimação e filho. Alexander Bullock (Eugene Pallette), o pai, parece ser o típico corno manso. As irmãs não se bicam, e Cornelia é preconceituosa e trata o novo funcionário da pior forma possível. Já Irene tenta compensar a solidão com a presença dele. A única pessoa naquela casa que parece ter os pés no chão é Molly (Jean Dixon), a criada que conhece bem todas as esquisitices de cada um dos Bullock e ensina a Godfrey como lidar com eles. Mas de repente, um velho amigo de Godfrey entra na história e... Deixo o resto para você assistir. Mesmo com o jeitão de teatro filmado tão característico do cinema da década de 1930, “Irene, A Teimosa” é absurdamente atual. Apesar de leve e divertido, envolve os personagens em situações que dão o que pensar. O final (e você sabe que aqui NÃO se entrega final!) é uma bela sugestão de projeto social, que eu diria até que era avançada para aquela época. Os personagens são todos caricatos, mas lembram muito figuras do mundo de hoje, e praticamente todos os diálogos parecem coisa dos tempos que vivemos agora. Gregory La Cava, o diretor, é quem assina o roteiro, em parceria com Morrie Ryskind e o autor do livro em que o filme foi baseado, Eric Hatch. Não sei qual desses três caras era o visionário – acho que todos eles eram visionários e com uma baita observação do comportamento humano, coisa que eu considero essencial para um bom escritor de comédias. Uma curiosidade sobre o DVD de “Irene, A Teimosa” é que ele traz duas versões do filme: a original, em preto e branco, e a colorizada. Eu, que normalmente sou avessa a colorizações, achei que esta ficou razoável, embora passe longe da beleza fenomenal do Technicolor. A abertura em cores ficou simplesmente linda, e dá uma sensação de viagem no tempo. Os figurinos (babei com os vestidos das atrizes!) ficou ainda mais bonito na versão colorizada. Mas quem preferir, pode apreciar o clássico da forma como ele foi originalmente produzido e lançado, ou seja, na sua versão em preto e branco que, abençoadamente, foi incluída no próprio DVD. Enfim, acho injusto que filmes como “Irene, A Teimosa” caiam no esquecimento apenas por causa da data em que foram produzidos, enquanto inúmeros abacaxis pós-1980 sejam exibidos o tempo todo na televisão. Abençoadamente, este DVD foi relançado, e com preço acessível - um presentaço para os órfãos da Sessão da Tarde Que Prestava.






CURIOSIDADES
● O papel de Irene foi feito originalmente para Constance Bennett. Mas o astro William Powel disse que só aceitaria atuar no filme se Carole Lombard interpretasse a personagem. O diretor Gregory La Cava, que sabia o quanto Powell era talentoso e seria o Godfrey perfeito, graças a Deus concordou.
● Indicado para os Oscars de Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Roteiro, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Ator Coadjuvante, “Irene, A Teimosa” não venceu em nenhuma (!!!). Porém, foi considerado “culturalmente significativo” em 1999 pela Biblioteca do Congresso dos EUA, selecionado para preservação pelo National Film Registry e considerado pelo AFI (sim, “aquele” que “não me representa”) como “uma das 100 comédias mais engraçadas de todos os tempos em uma lista elaborada no ano 2000. Por que tão tarde?
● Foi o primeiro filme a ser indicado para as quatro categorias de atores, façanha que nem mesmo “Grande Hotel” (1932) havia conseguido.
● A história foi adaptada para rádio e teatro, e em 1957 ganhou um remake com David Niven no papel de Godfrey.


EXTRAS
Nenhum, apenas o trailer original em preto e branco.

EMBALAGEM
Simples, mas pelo menos tem uma ilustração bonita e bem escolhida para a capa.


Trailer do filme (Em P&B):





FONTES

http://www.glamamor.com/2012/03/cinema-style-file-art-deco-of-comedy-in.html

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

EMPODERADAS DE VERDADE! MULHERES PIONEIRAS NOS BASTIDORES DO CINEMA


O machismo é algo que sempre existiu na história, e na indústria do entretenimento não é diferente. Mas existiram mulheres que conseguiram romper esse preconceito e atuar em áreas tidas como exclusivamente masculinas – e isso aconteceu também nos bastidores da produção cinematográfica. Imagine naqueles tempos em que se achava que o lugar do sexo feminino era “em volta do fogão”, uma mulher dirigir um filme, ser supervisora de fotografia ou trabalhar em um estúdio de animação! Pois aqui vão três histórias de mulheres empoderadas de verdade, que mostraram seu valor com talento, esforço, inovações e inteligência. Pode ser que você nunca tenha ouvido falar nelas, mas com certeza o que elas criaram faz parte do seu repertório cinematográfico. Mulheres realmente poderosas são assim – mais ação e menos conversa.


Natalie Kalmus (1882 – 1965)

Você já deve ter visto o nome dela em alguns filmes da Era Technicolor – na verdade, ele aparece em quase todos! Natalie Kalmus foi casada com o fundador do Technicolor, Herbert Kalmus, entre 1902 e 1922, mas os dois continuaram morando juntos mesmo após o divórcio, até 1944 (até nisso Natalie era avançada para a sua época...). Tendo começado a carreira como modelo e depois estudado arte, ela nunca imaginou que sua vida tomaria o rumo que tomou. Os primeiros experimentos com o Technicolor datam de 1916, mas a técnica só se popularizou a partir de 1939, com clássicos como “E O Vento Levou” e “O Mágico de Oz”. Nessa fase de transição do cinema preto e branco para o colorido, havia uma tendência para o exagero de cores nas telas de cinema – é claro, tudo o que é novo tende a causar espanto e encanto ao mesmo tempo. Graças a Natalie Kalmus, exageros bem maiores não aconteceram. Para ela, a superabundância de cores não era algo natural, e, por isso, devia ser evitada. “Somos ensinados que uma pitada de sal a mais pode estragar tudo”, dizia ela, sabiamente. Uma fotografia colorida era o máximo naqueles tempos, mas tons em excesso poderiam tornar o filme desagradável para os olhos dos espectadores, sem falar no mau gosto, que poderia arruinar obras de arte. Com sua insistência, Natalie conseguiu driblar a maluquice dos diretores de fotografia e impedir que eles extrapolassem no colorido dos filmes, tornando as imagens mais próximas da vida real. Em 1948, Natalie processou Herbert reivindicando pensão e metade dos bens dele. Como perdeu o processo, ela precisou ser criativa para se virar. Tanto é que em 1950 ela licenciou seu nome para uma linha de móveis para televisão lançada por uma fábrica da Califórnia. Os documentos de Natalie Kalmus estão agora na biblioteca da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas – sim, a Academia do Oscar.




Laverne Harding (1905 – 1984)

Imagine ter a oportunidade de trabalhar com gênios da animação como Walter Lantz e Tex Avery e testemunhar de perto toda a maluquice deles. Laverne Harding (às vezes creditada como Verne Harding, talvez por causa do preconceito) teve esta chance. Ela trabalhou no Walter Lantz Studio durante boa parte dos seus 50 anos de carreira, e foi uma das primeiras mulheres a atuar no ramo de animação. Para algumas fontes, aliás, Laverne foi a primeira mulher animadora. Contratada por Lantz em 1934, ela é lembrada pelos estudiosos por sua colaboração nos desenhos do Pica-Pau – foi ela quem estilizou a versão do personagem usada de 1950 até 1972 (ou seja, a versão de maior sucesso) e no remake de 1999. Ela também era cartunista, e criou as tiras de jornal Cynical Susie, sobre uma anãzinha e sua vaca de estimação, Lily Whey. Para muitos, Susie era o alter-ego de Laverne. Inclusive, mais tarde a personagem ganhou os gibis, em historinhas que passaram a ser publicadas na revista Tip Top Comics. Após deixar o Walter Lantz Studio, Laverne trabalhou em outras produtoras de animação, como a Hanna Barbera (com quem fez Zé Colméia) e a DePatie-Freleng Enterprises (onde participou da equipe de criação da Pantera Cor de Rosa). Teve também passagens breves pela Filmation e pela Warner. Com tanta história para contar, Laverne recebeu o Windsor McCay Lifetime Achievement Award, um dos mais importantes prêmios de animação do mundo. Detalhe: das 161 edições do troféu, apenas 9 ganhadoras foram mulheres.




Dorothy Arzner (1897 – 1979)

Outra pioneira: Dorothy Arzner foi uma das primeiras mulheres diretoras de cinema. Sua convivência com artistas vem desde a infância, pois seu pai era dono de um restaurante frequentado por várias celebridades. Começou a trabalhar no cinema na Paramount, como estenógrafa, e, mais tarde, como editora de filmes. Em 1927, no mesmo estúdio, dirigiu seu primeiro filme, “Fashions For Women”, que foi um grande sucesso, o que levou o estúdio a contratá-la para dirigir seu primeiro filme falado, “The Wild Party” (1929), com a estrela Clara Bow. O filme introduziu no cinema temas como assédio sexual e homossexualidade – isso foi possível porque na época ainda não existiam a Legião da Decência e o Código Hays de Censura. As mulheres dos filmes de Dorothy eram independentes, livres e destemidas, o que chocou os mais conservadores. Em 1932, Dorothy deixou a Paramount e passou a trabalhar para vários estúdios, só que ganhando por obra. Entre outras proezas do seu currículo, ela criou os filmetes de instrução para o Exército norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial, e foi a primeira mulher a dirigir um filme falado. Durante os anos 60 e 70, dedicou-se ao teatro e foi professora universitária. Curiosidade: foi Dorothy quem lançou como atriz a então pin-up girl e dançarina (mas já excelente atriz) Lucille Ball, que, três décadas depois, viria a se tornar a primeira mulher a ser diretora de televisão. Dorothy Arzner faleceu aos 82 anos, em 1979.




FONTES



Matéria já publicada no site Blah Cultural

SÉRIE ÍCONES DE PLÁSTICO – FRANK SINATRA


Conforme prometido, eis a minha matéria sobre as linhas de bonecos de artistas do Cinema Clássico. Esta aqui é sobre os clones de plástico do Frank Sinatra – sim, escolhi logo ele para ser o primeiro da série. Novamente eu gostaria de lembrar que nenhum dos itens desta coleção é meu, e que as fotos foram garimpadas (adivinha onde?) no Google. Há diversos sites de colecionadores onde eu obtenho as imagens dos bonecos e as informações sobre elas.

Basicamente, Frank Sinatra foi homenageado pela Mattel com um Ken e duas Barbies. Duas Barbies? Sim. Uma delas eu já mostrei para vocês nessa matéria aqui (http://poltrona-r.blogspot.com.br/2017/08/nao-e-brincadeira-os-bonecos-tipo.html). Eu a apelidei de “sinatrete”, já que ela não tem nome. A outra você vai ver agora.




No ano 2000, a Mattel lançou esta charmosa versão do boneco Ken como o maior cantor de todos os tempos. “Sinatra, The Recording Years” retrata o artista na década de 1950, já consolidado como um artista de renome, e livre da imagem de galãzinho que enlouquecia as adolescentes em shows e filmes. O boneco vem com microfone e um pedestal para partitura (!!!), e seu visual é absolutamente fiel ao do cantor e ator nesta fase. Bota fidelidade nisso – até o anelzão pesado que o eterno rei da voz usava foi reproduzido.









Um ano antes, porém, a famosa fábrica americana de brinquedos já tinha viajado de volta aos anos 40 e criado, como homenagem a Frank Sinatra, um kit que trazia um Ken caracterizado como o jovem “Frankie” (como suas fãs apaixonadas o chamavam carinhosamente) de paletó quadriculado, gravata borboleta e topete de “gel”, e uma Barbie de cabelos marrom-avermelhados e olhar meigo representando as “sinatretes”, aquelas moças que desmaiavam e berravam feito loucas na platéia todas as vezes em que o divo subia ao palco para cantar. A sinatrete usa um traje que lembra um uniforme escolar dos tempos da Segunda Guerra Mundial, com sapatos perfeitos e meias soquetes nos pés, um colar de pérolas no pescoço e traz um LP de 78 rotações nas mãos para o seu ídolo autografar. 






Aliás, só eu acho que a sinatrete parece a jovem Judy Garland?




A Mattel fechou essa série com uma ideia no mínimo curiosa: criou uma Barbie cover do Sinatra. Isso mesmo. A loira vem vestida como seu ídolo, de chapéu do lado ao estilo malandro, terno quadriculado e camisa branca com gravata. Mas seu look de imitadora do cantor é bem feminino, porque inclui unhas pintadas de vermelho, salto alto e brincos lindos. Uma reinterpretação elegante do estilo Sinatra.







FONTES

terça-feira, 5 de setembro de 2017

VERGONHA ALHEIA: OS PIORES TÍTULOS EM PORTUGUÊS DE FILMES CLÁSSICOS


Todo mundo sabe que eu sou tradutora inglês-português. Não fiz faculdade de letras, mas tenho dois diplomas da Cultura Inglesa e essa acabou sendo a minha profissão. Na verdade, esse caminho foi algo natural, porque sempre gostei de inglês, e boa parte desse gosto se deve às músicas e aos filmes. Já traduzi filmes para legendagem e dublagem (como “A Musa”, com Sharon Stone) e posso dizer que tenho alguma experiência nesse assunto. Por que estou dizendo isso? Bem, porque o tema desta matéria são os inúmeros títulos, vamos dizer assim, estranhos, que alguns clássicos do cinema receberam no Brasil.

Ainda hoje é comum produções cinematográficas estrangeiras ganharem nomes sem noção no nosso país, mas em outros tempos, em especial as décadas de 1930, 1940 e 1950, acreditava-se que rebatizar filmes com títulos exageradamente dramáticos (alguns até extrapolando a linha do ridículo) era uma forma de deixar o público curioso sobre o enredo e, assim, fazer com que mais gente fosse aos cinemas para assistir. Dá pra imaginar, por exemplo, um filme chamado “Beijou-me Um Bandido”? Assim mesmo, nessa ordem poeticamente invertida? Pois é assim que se chama no Brasil “The Kissing Bandit”, musical de 1948 com Frank Sinatra no papel principal. O título original, traduzido, ficaria algo como “O bandido beijoqueiro”, bem mais a ver com o estilo do filme, que é uma comédia.





Outro clássico estrelado por Sinatra teve seu título traduzido de maneira ridícula no Brasil: “Some Came Running” (Alguns Vieram Correndo) pode não ser exatamente um nome bacana para um filme – na verdade, é uma referência às duas pessoas que escaparam da morte em um acidente que acontece logo no começo da história. Mas em português, o filme foi rebatizado de forma ainda pior: “Deus Sabe O Quanto Amei”. Tenha dó!




Sabem, esse negócio de usar palavras em inglês desnecessariamente porque “não existe tradução em português para este termo” me irrita muito. Nossa língua é uma das mais ricas do mundo, e posso dizer que quase tudo tem tradução para o português, é só as pessoas não terem preguiça. Mas, como eu disse, é quase tudo – nem sempre é possível traduzir um título em português de uma forma que ele faça sentido para os brasileiros.

Um bom exemplo é o nome original do filme “Bonequinha de Luxo”, “Breakfast At Tiffany’s”. Naquela época (1961), a imensa maioria dos brasileiros não fazia a menor idéia do que era a Tiffany’s, a famosa e tradicional joalheria de Nova York, fundada em 1837 e que é praticamente uma instituição nos Estados Unidos. Então, um filme chamado “Café da Manhã na Tiffany’s” causaria estranhamento. Então, o clássico foi rebatizado no nosso idioma com a expressão “bonequinha de luxo”. Aí sim!





Falando em bonequinha, não podemos esquecer “Boneca de Carne” (1956). O filme em inglês se chama “Baby Doll”, que não apenas significa algo como “boneca bebê” ou, nesse caso, “bonequinha”, como também é um modelo de camisola curta (como a mulherada leitora sabe muito bem). Acontece que o clássico de Tennessee Williams levado às telas conta a história de uma mulher sedutora que é pouco mais que uma adolescente (tem 19 anos) e é semelhante à personagem Lolita, de Nabokov (https://pt.wikipedia.org/wiki/Lolita), então o título é um trocadilho, que mistura as idéias de bonequinha e camisola sexy, justamente para passar a idéia de ingenuidade + sensualidade – bem sacado, para dizer o mínimo. Concordo que trocadilhos nem sempre são traduzíveis, mas “Boneca de Carne” é um título de lascar.

“Boneca de Carne”, aliás, foi dirigido por Elia Kazan, o mesmo diretor de “Um Bonde Chamado Desejo”, outro clássico inspirado em uma obra de Tennessee Williams.  Lembrei disso porque “Um Bonde Chamado Desejo” é, como se diz, ‘às vezes referido como’ “Uma Rua Chamada Pecado”. Alguém me explica qual a razão de rebatizar uma obra cujo nome original já era conhecido e faz sentido em português com um nome parecido com o original, mas não tão interessante? Sei lá, talvez “Uma Rua Chamada Pecado” tivesse mais apelo para o público naqueles tempos. Em 1951, quando o filme foi lançado, a Legião da Demência, quero dizer, Legião da Decência deixou os produtores loucos, fazendo com que várias cenas fossem cortadas ou refeitas. Mesmo assim, vista hoje, 66 anos depois, a provocante relação de amor e ódio, paixão e melancolia, entre Blanche Dubois (Vivien Leigh) e Stanley Kowalski (Marlon Brando) ainda mexe com o público – e isso sem ninguém precisar tirar a roupa...




Amantes da Sessão da Tarde Que Prestava (https://poltrona-r.blogspot.com.br/2015/12/a-sessao-da-tarde-que-prestava.html?showComment=1504623498190#c4072276587714698237) devem se lembrar de um filme chamado “Cupido Não Tem Bandeira”. O título original era “One, Two, Three” (que significa ‘Um, dois, três’). Pô, qual o problema do filme se chamar “Um, dois, três”, mesmo, no Brasil? Está certo que é uma comédia (de Billy Wilder, aliás) que brinca com a rixa entre comunistas e capitalistas; mesmo assim, acho que talvez o título “Um, dois, três” despertasse mais a curiosidade do público do que essa bobagem em português.

Outro título infeliz, pelo menos na minha opinião, é “Meu Pecado Foi Nascer”. Caramba, nem novela mexicana e argentina exibida pelo SBT tem um nome desses! Estrelada por Clark Gable (o eterno Capitão Butler de “E O Vento Levou”), Yvonne De Carlo (que, fisicamente, deve ser o elo perdido entre Vivien Leigh e Rita Hayworth) e o maravilhoso Sidney Poitier (de “Ao Mestre Com Carinho”), a produção de 1957 conta a história de amor entre uma escrava branca e seu senhor na época da Guerra Civil Americana. O enredo do filme tem algo de novelão, mas, gente, não é para tanto, vai?





“Vertigo”, em inglês, é, literalmente, “vertigem”. E não é só o nome de uma música do U2 (https://www.youtube.com/watch?v=98W9QuMq-2k). É também o título original do clássico de Alfred Hitchcock, “Um Corpo Que Cai” (1958). E falando em música, “Assim Caminha A Humanidade”, hit do Lulu Santos (https://www.youtube.com/watch?v=8JKxOBUA3cY) e título em português do filme de 1956, estrelado por James Dean e Elizabeth Taylor. Detalhe: o título original do filme é “Giant”, “Gigante” em inglês. Eu pergunto: não dava para traduzir os nomes desses filmes como “Vertigem” e “Gigante”, mesmo? Qual a necessidade de inventar moda?

Mais uma coisa: eu sempre quis saber por que um filme que, no original, se chama “O Som da Música” (“The Sound Of Music”), virou “A Noviça Rebelde” no Brasil. Será que só eu acho “O Som da Música” mais legal? Desconfio que o título em português foi dado porque as pessoas ficariam imaginando o que uma noviça rebelde seria capaz de fazer, e isso atrairia gente aos cinemas, curiosa para descobrir. O mesmo aconteceu com "The Glass Bottom Boat" ("O Barco de Casco de Vidro"), que no Brasil virou "A Espiã de Calcinhas de Renda". Mas “A Noviça Rebelde” é um filme familiar, não tem nada daquilo que esse público poderia pensar. E "A Espiã de Calcinhas de Renda" é uma das muitas comédias românticas bobinhas que Doris Day fez em sua carreira. Propaganda enganosa!!!





Outro título de filme em português que merece o Troféu Vergonha Alheia para o tradutor é “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, de Woody Allen. O clássico que marcou época e ditou moda no final dos anos 70 e começo dos anos 80 se chama, em inglês, “Annie Hall”, que é como se chama também a personagem de Diane Keaton. Tem gente que odeia tanto o título nacional desse filme que se refere a ele como “Annie Hall”, mesmo.

Pra encerrar, eu não poderia deixar de mencionar aquele que, para muitos fãs, é o pior título em português de filme clássico da História: “Os Brutos Também Amam”. Além de ser desnecessariamente exagerado, o título em português desse filme (cuja resenha eu já fiz em http://poltrona-r.blogspot.com.br/2017/04/dvd-os-brutos-tambem-amam.html) distorce tudo. Não se trata exatamente de uma história de amor, e sim de um faroeste dramático. “Shane”, que é como o clássico western se chama em inglês, é apenas o nome do personagem principal, vivido pelo meu xará de aniversário, Alan Ladd. Está certo que Shane é um nome que soa meio esquisito aos ouvidos dos brasileiros, especialmente naquela época. Mas o tradutor podia ter pegado mais leve, eu acho.




Com a globalização, casos assim têm se tornado cada vez mais raros. A moda agora é não traduzir os títulos. Não acho legal deixar o título original quando é possível encontrar uma tradução bacana e que seja próxima do significado do título em inglês. “Giant”, por exemplo, podia ter virado “Os Gigantes”, mas é provável que, nos dias de hoje, se chamasse “Giant” mesmo – assim, sem tradução. Se tivessem sido lançados no século 21, “Um Corpo Que Cai” se chamaria “Vertigo”,“Os Brutos Também Amam” se chamaria “Shane”, e assim por diante. Menos mau. Bem menos mau.


FONTES
http://loremholly.blogspot.com.br/2013/

http://50anosdefilmes.com.br/2014/a-espia-de-calcinhas-de-renda-the-glass-bottom-boat/