segunda-feira, 7 de novembro de 2016

REDUBLAR PRA QUÊ, PRA QUE REDUBLAR?

Caçando alguns desenhos antiquíssimos na Internet uns dias atrás, eu me deparei com uns episódios raros de coisas que eu tinha assistido na minha infância e pensei: “Vou salvar na minha playlist do You Tube pra rever depois desses anos todos!”. Playlist montada, comecei a assistir e pronto, veio a decepção: os desenhos tinham sido redublados. Re-du-blados!!!

Te juro, ainda estou tentando descobrir por que diacho se faz redublagem. Antigamente a gente não tinha TV a cabo, então a toda a programação gringa da televisão era dublada. E o número de reprises era cavalar, porque o material era bom, dava audiência e a gente esperava pra ver de novo aquele filme, desenho ou episódio tão querido. As falas a maioria de nós tinha decoradas, e até imitar os personagens a gente sabia. Anos depois, quando finalmente temos a oportunidade de recordar estas preciosidades, aí vem o balde de água fria: a “versão brasileira” delas foi refeita!!!




Sinceramente, eu não tenho a menor ideia do motivo de refazerem a tradução e a dublagem de alguns filmes, desenhos e séries. O sempre fiel e eficiente Professor Google me veio com algumas respostas: por questões de direitos autorais, quando os dubladores antigos cobram muita grana pelas vozes originais que fizeram; pela substituição de dubladores falecidos ou que não querem mais fazer o personagem; por exigência do dono da obra, que considera a antiga versão brasileira tosca; porque os caras acham mais barato redublar do que restaurar a dublagem antiga, e por aí vai.

Eu, pessoalmente, imagino que o motivo da redublagem seja uma tentativa de “atualização” de obras de outros tempos, principalmente aquelas que eram cheias de gírias da época em que a tradução foi feita. Acontece que um dos grandes baratos (“baratos”? que termo mais anos 80!) das dublagens antigas é justamente ouvir os termos que eram usados naquele tempo em que a gente assistia a esse material. Há também pessoas com ódio daquelas dublagens originais em que os locutores falavam todos os ésses e todos os érres, mas eu acho uma delícia ouvir o trabalho desses veteranos e veteranas, até porque, pra quem não sabe, grandes atores como Lima Duarte e Orlando Drummond (o eterno Peru da versão original da “Escolinha do Professor Raimundo” https://www.youtube.com/watch?v=y1MPwFe7K7I) foram dubladores em seu início de carreira. Tive a oportunidade de conhecer alguns locutores e dubladores veteranos que participaram da “versão brasileira” de um monte de clássicos, e admito: a emoção foi indescritível pra mim e pra eles. Pra mim porque o trabalho deles fez parte da minha vida. E pra eles porque esse pessoal, que ganha vergonhosamente pouco para o talento e carinho que tem pela profissão, adora ver seu trabalho ser reconhecido. A gente tem que respeitar esses caras; o conhecimento e a experiência deles na carreira rende muitas horas de conversa, porque história pra contar todos eles têm aos montes.

Me desculpem, mas as dublagens novas tornam aquelas obras antigas irreconhecíveis. Não que elas sejam ruins ou que seus profissionais não tenham talento, pelo contrário. Mas é que, sei lá, que falta alguma coisa nelas. Falta a critividade, o improviso, a diversão que a maioria dos profissionais das antigas tinha, mesmo fazendo um serviço sério. E olha, eu nunca pensei que fosse falar isso na vida, mas vamos lá: boa parte da graça de certos desenhos, filmes e séries que eu via na infãncia vinha da dublagem. Seja da tradução, seja das vozes, seja da combinação dessas duas coisas.



Alguns leitores já devem saber que eu sou tradutora, e que eu já trabalhei com tradução para dublagem e legendagem. Vou admitir outra coisa: em dublagens antigonas, feitas em tempos em que a Internet ainda não existia nem no desenho dos Jetsons, havia alguns erros de tradução, coisa que era inevitável naquele contexto. A tradução das dublagens novas é bem melhor que a das antigas, embora eu já tenha visto alguns erros graves. Enfim, não existem traduções perfeitas (e eu digo isso porque eu mesma já pisei na bola algumas vezes); mas, ainda que com certas palavras traduzidas incorretamente, a dublagem clássica ainda é mais gostosa de ouvir para quem cresceu escutando-a. Daí a nossa dificuldade de aceitar não só as novas vozes, mas as novas traduções, mesmo quando algumas palavras nelas são corretas e nas antigas não.

Redublagem é o tipo da coisa que provoca a ira dos fãs de cinema, e eu entendo as razões para esse tipo de procedimento ser realizado. Mas aquela tradução, com aquelas vozes, aquele trabalho tão marcante pra mim, vai continuar sendo a versão brasileira definitiva.

É, gente... Para certas coisas na vida, acostumar com o novo pode ser beeeem difícil.


FONTES:



2 comentários:

  1. Eu por exemplo só consigo assistir i love Lucy legendado.
    A redublagem da vti parece que não casa com a série causando uma sensação estranha.
    A dublagem abafadinha da cinecastro sumiu nos anos 90.

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    1. Olá, Vinícius! Realmente, as dublagens recentes são muito "mecânicas", não têm aquela deliciosa naturalidade de antigamente. Nada como as dublagens "toscas" antigas. Abraços e obrigada por comentar!

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