segunda-feira, 14 de setembro de 2020

AS FÁBULAS NADA TOLAS DE WALTER LANTZ

 


 Entre 1953 e 1955, o cartunista Walter Lantz, criador do Pica-Pau, desenvolveu uma série de três curta-metragens de animação para ser exibida no cinema. Eram histórias dirigidas a espectadores de todas as idades, e traziam reflexões que permanecem atuais. O nome da trilogia? “Uma Fábula Tola” (A Foolish Fable).

Na verdade, não se tratava de uma fábula, e sim de três histórias totalmente independentes, que em comum tinham apenas a lição de moral embutida. O primeiro episódio a ser lançado foi “O Rato e o Leão” (The Mouse And The Lion), em 1953. No mesmo ano saiu “A Tartaruga Voadora” (The Flying Turtle). O episódio que fecha a trilogia, Sh-h-h-h-h-h (que em inglês também se chama Sh-h-h-h-h-h) só chegou em 1955, mas Lantz possui em sua filmografia outros desenhos que despertam reflexões – só que isso já é tema para outra postagem.




“O Rato e o Leão”

O primeiro curta-metragem da trilogia “Uma Fábula Tola” recria o conto de mesmo nome atribuído a Esopo e datado do século no século VI A.C., e que muita gente com mais de 45 anos de idade conheceu através daqueles disquinhos coloridos (pra quem quer relembrar, https://www.youtube.com/watch?v=ICXvFD0Fato). Na verdade, Lantz subverte a fábula original, para colocar como principal uma das várias mensagens dela: a de que nem sempre o mais alto é o mais esperto. O Leão aqui é representado como um panaca posudo, e o Ratinho como um ser inteligente e determinado que quer caçar o Leão (!!!) e levá-lo para trabalhar em um circo (!!!). Há uma cena muito significativa: enquanto o Leão está lendo um livro chamado “Como Caçar um Rato”, o Ratinho está lendo um livro chamado “Como Caçar Um Leão”. Essa imagem cai como uma luva para os tempos atuais...



“A Tartaruga Voadora”

Este segundo filme da série de fábulas tolas foi reprisado no Brasil à exaustão pelo SBT, no começo da década de 1980. Fez parte da minha infância (e eu diria até que me traumatizou um pouco, hehehe). A história é centrada em Herman, uma tartaruga que tem uma obsessão: voar, igual aos pássaros que ela tanto admira. Para Herman, pouco importa o fato de que tartarugas não têm asas e não foram feitas para cruzar os céus. Os outros animais fazem chacota com Herman e tentam, em vão, tirar-lhe da cabeça essa ideia absurda. Ela tenta de tudo para atingir seu objetivo, e quanto mais tenta mais falha, e quanto mais falha, mais se sente diminuída e fracassada – ou seja, a coisa se transforma em um círculo vicioso. O desespero é tanto que Herman parte até para atitudes como roubar e trapacear. Mas acaba acreditando em quem não deve e... O desenho contém pelo menos duas lições preciosas: 1) insistir em um objetivo furado pode levar você à destruição; e 2) não confie nunca em quem lhe promete milagres. Aprendizado útil para as crianças, e ainda mais útil para a vida adulta.



“Sh-h-h-h-h-h”

Episódio final da série “Uma Fábula Tola”, foi também o último trabalho de Tex Avery (https://www.youtube.com/watch?v=qkTZbThfPVg) para o Walter Lantz Studio. Um músico fica estressado, à beira da loucura, e desenvolve uma ultra-sensibilidade ao som. O médico recomenda que ele passe umas férias no Hotel Mais Silencioso do Mundo, localizado nos Alpes Suíços. Lá dentro qualquer som - qualquer mesmo - é proibido. Tudo corre bem, até que um dia alguém decide infringir as normas do hotel. (Minha identificação com o sofrimento do personagem por causa de vizinhos folgados foi imediata!). Há sacadas geniais, como os créditos de abertura com música quase inaudível de tão baixa, e as plaquinhas escritas no hotel representando sons. O final é inacreditável. O desenho ensina que às vezes depositamos toda nossa confiança na pessoa errada. E que, muitas vezes reagimos de forma exagerada a certas situações, o que acaba criando problemas em dobro para nós. Nos anos 80, “Sh-h-h-h-h-h” também passou várias vezes no SBT, durante os programas infantis da emissora de Silvio Santos. Mas nunca foi tão atual quanto nos barulhentos tempos da Internet.



Embora eu tenha pesquisado, não consegui descobrir como a trilogia “Uma Fábula Tola” foi recebida em sua época. Mas fuçando em sites especializados em cinema e animação, a série recebe avaliações de 4 a 5 estrelas do público. E muitas crianças que cresceram com a obra de Walter Lantz hoje a apresentam aos seus filhos e netos, fazendo com que o sucesso perdure. Em pleno século XXI, a trilogia de Lantz continua explodindo a cabeça de muita gente – prova que, de tolas, essas fábulas não tinham nada.



FONTES

https://www.bcdb.com/cartoons/Universal_Studios/Walter_Lantz/Foolish_Fables/index.html







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