segunda-feira, 4 de abril de 2016

“DESTINO”, O DELÍRIO SURREAL DE WALT DISNEY E SALVADOR DALÍ

Se você é daquelas pessoas que acham que Walt Disney era apenas “aquele cara que fazia desenhos pra criança, cheios de princesinhas, principezinhos, fadinhas, bruxinhas, ursinhos, monstrinhos e outros inhos e inhas”, esteja preparado para o que você vai ver agora. Pouca gente sabe, mas o mestre que transformou os desenhos animados em uma potência na indústria do entretenimento chegou a criar um curta-metragem de animação em parceria com ninguém menos do que Salvador Dalí (1904-1989).




O encontro de Walt com o artista espanhol aconteceu em meados dos anos 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. Na época, Salvador Dalí tinha acabado de se mudar para os Estados Unidos com sua esposa, Gala. Walt Disney o convidou para criar uma obra de arte em parceria com ele. Ambos tiveram a ideia de desenvolver um filme baseado na arte surrealista de Dalí, utilizando as técnicas de animação da Disney. Porém, com o processo de produção já tendo sido iniciado, Walt ficou sem grana para dar continuidade ao projeto – isso devido ao fracasso de bilheteria de “Fantasia”. Resultado: foram produzidos apenas 17 segundos do curta, batizado de “Destino”.




A inspiração para o desenho, bem como seu título, foi a canção “Destino”, do compositor mexicano Armando Rodríguez, e interpretada pela cantora Dora Luz. E o animador dos estúdios Disney, John Hench, criou o storyboard em parceria com Dalí, entre os anos de 1945 e 1946. Por causa da montanha de dívidas que a Walt Disney Company vinha acumulando na época, Hench armazenou estes 17 minutos do projeto não concluído, na esperança de que Walt resolvesse retomá-lo. Mas “Destino” foi considerada uma produção financeiramente inviável, e, portanto, o projeto acabou sendo abandonado e esquecido.



Mas em 1992, o desenho de 17 segundos foi encontrado pelo jornalista Christopher Jones, que contatou Roy Disney (irmão de Walt) para lhe contar sobre a existência desse material. Roy, então, resolveu chamar John Hench para dar continuidade a “Destino”. Feliz da vida, Hench aceitou na hora.

Para decifrar os delírios que Hench e Dalí haviam criado nos storyboards e, assim, finalizar o projeto, uma equipe de 25 animadores foi contratada. As anotações que haviam sido deixadas por Gala serviram como ajuda também. E por falar em ajuda, um pouco de computação gráfica foi utilizado, principalmente para a restauração do trecho original e sua integração perfeita ao novo material produzido. Como diretor, Roy Disney escolheu o francês Dominique Monfrey, de “Mogli, O Menino Lobo 2”. O resultado final ficou com cerca de 6 minutos de duração.



“Destino” é a história do amor impossível entre Chronos, o deus tempo, e uma bela mulher mortal. Em vez de diálogos, os criadores optaram por utilizar somente a trilha sonora, o que nos dá a sensação de estar assistindo a um balé. Ou, talvez, a um sonho indecifrável, mas de uma beleza poderosa e comovente. Não dá para dizer que se trata de um desenho destinado ao público infantil – até porque esta não era a proposta dos autores.

Para quem quer saber qual trecho do desenho são os 17 minutos originais, trata-se do trecho entre 05:02 e 05:19, em que (olha o spoiler!) um jogador de beisebol encontra duas figuras que parecem tartarugas. Segundo a explicação de Disney, o beisebol era uma metáfora da vida.

“Destino” foi lançado em 2003, tendo sido exibido em festivais de cinema mundo afora e recebido diversos prêmios. Além disso, recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação naquele mesmo ano. Merecidamente - até os créditos são lindos.


Assista ao desenho no link abaixo:


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