terça-feira, 1 de dezembro de 2020

A ERA DE OURO DOS HITS-CHICLETE NA PROPAGANDA



Washington Olivetto, um cara que eu admiro muito, tem uma frase certeira: “O segredo do sucesso de uma boa publicidade é transformar o consumidor em mídia”. Ou seja, criar canções e bordões que façam sucesso com o grande público e entrem para a cultura pop. “É uma propaganda gratuita, em que todo mundo acredita”, diz o publicitário , responsável por obras de arte como o arrepiante comercial da Folha de São Paulo que tinha a imagem de Adolf Hitler e que propunha uma reflexão sobre os métodos da imprensa para transmitir notícias. (O comercial foi premiado e era este aqui: https://acontecendoaqui.com.br/propaganda/comercial-hitler-e-um-dos-100-melhores-comerciais-de-todos-os-tempos).

Mas como o papo aqui é cultura pop, esses dias eu estava inspirada e me peguei cantando umas musiquinhas de comerciais antigos, todos eles do meu tempo de menina. Era uma época em que as agências de publicidade entendiam a eficácia de jingles bem-feitos e irresistíveis, que a gente saía cantando simplesmente porque não conseguia tirar da cabeça. Essa tendência sempre existiu, mas explodiu nos anos 70 e 80. Foi a era dourada daquilo que eu chamo de pop chiclete publicitário, ou seja, canções que viraram hits instantâneos e que, como sabiamente disse o Olivetto, faziam com que todo mundo virasse garoto-propaganda involuntário das marcas anunciadas.



Você com certeza já ouviu o termo “boomer”. Nos EUA e Europa, ele é utilizado para designar aquela geração que nasceu após o fim da Segunda Guerra Mundial, pois nessa época houve o chamado “baby boom” (muitas crianças nascendo muita gente tendo filhos). No Brasil, o termo “boomer” é sinônimo de outra geração: a que veio ao mundo nos anos 70, principalmente na primeira metade da década, ou seja, entre 1970 e 1974 (tipo eu). Foi nesse período que a explosão de natalidade aconteceu no nosso país, graças ao chamado “Milagre Econômico”. O que isso tem a ver? Tudo. Nos anos 70 e 80, as agências de publicidade sabiam que, sendo então as crianças a maioria da população, era a elas que as propagandas tinham que ser direcionadas – afinal, a molecadinha tinha influência sobre as decisões de compra dos pais.

Pra não perder a inspiração, corri pro computador e fiz essa matéria. Ranqueei alguns dos hits mais bacanas (e claro, mais pegajosos) daquela época. São anúncios que ficaram no ar durante anos, simplesmente porque o público (crianças, em especial) os adorava. Algumas dessas marcas nem existem mais, eu acho. Mesmo assim, não estranhe se você se pegar cantando uma dessas gloriosas canções pop feitas pra vender de balas saborosas a veneno de barata. Quem tá na casa dos 45 a 55 anos de idade, então, pode preparar o lencinho. Uma chuva de ciscos vai cair nos olhinhos de vocês...

 

8 - “Primavera, Papel, Primavera” (PRIMAVERA, Anos 70)

A marca de papel higiênico tornou-se nacionalmente conhecida em meados da década de 70. Existe a piada até hoje de que Primavera é o papel que "limpa, lixa e dá acabamento” (entendedores entenderão). Chacotas à parte, o papel rosinha e áspero (uiiiii) teve sua popularidade turbinada graças não apenas a este comercial e sua trilha sonora, mas à personagem apresentada nele, a Menina Primavera. Junte tudo isso ao fato de a propaganda ser um desenho animado, e pronto: as crianças começaram a encher a paciência dos pais para que eles comprassem papel higiênico da marca Primavera. Curiosidade: quem deu voz à Menina Primavera foi Sarah Regina, que gravou em português diversas aberturas de animações famosas, como “Sailor Moon” (https://www.youtube.com/watch?v=-IRzh9GtNyg)

 



7 – “Solte-se, Liberte-se” (REXONA, 1976)

O jingle tocou no rádio e em comerciais de televisão. O mote da campanha publicitaria era mostrar que o Desodorante Rexona dava liberdade para o consumidor fazer o que quisesse sem se preocupar com aquele famoso cheirinho embaixo do braço... O criador da canção foi ninguém menos que Edgard Poças, compositor de vários hits do inesquecível grupo infantil Balão Mágico (https://pt.wikipedia.org/wiki/Turma_do_Bal%C3%A3o_M%C3%A1gico) Ou seja, não foi só com o famoso conjunto da cantora Simony que Poças fez parte da nossa infância...




6 – “Coca-Cola, Abra Um Sorriso” (COCA-COLA, 1980)

Tendo nosso eterno “professor” Chico Anysio como astro, a campanha publicitária iniciada em 1980 para o refrigerante mais famoso do mundo ganhou uma fatia inesperada do público: as crianças. Lembro que a gente cantava essa música no recreio da escola e criou até coreografia pra ela. Se a molecada já gostava de Coca-Cola, imaginem depois disso... Nossos pais é que devem ter ficado de cabelo em pé!


 

5 – “Café Seleto” (SELETO, 1974)

Outro hit que já nasceu clássico. A propaganda que celebrizou a tradicional marca de café mostrava crianças em um sítio, em meio à natureza – a perfeita definição de paraíso, principalmente para nós, a molecada da cidade. O jingle inesquecível foi criado em 1974 (como diria Marcelo D2, o ano em que "o mundo começou, pelo menos pra mim”). Foi tamanho o sucesso que a musiquinha foi reutilizada durante muitos anos. E, claro, o anúncio ainda teve um efeito colateral educativo: muitos meninos e meninas criaram o hábito de “levantar, tomar aquele banho e escovar os dentinhos” graças a este grude clássico. Bons tempos aqueles.

 



4 – “DD Drin” (DD DRIN, 1976)

Com um ritmo contagiante, este clássico absoluto ficou no ar por cerca de uma década. O iêiêiê mata-barata tinha como objetivo promover a empresa de dedetização DD Drin. Um detalhe inacreditável: a DD Drin existe desde 1957 (!!!), mas atingiu o auge da popularidade nas décadas de 70 e 80, graças (adivinhem) aos insetos cantantes e dançantes desta animação feita por Ely Barbosa, irmão do escritor Benedito Ruy Barbosa (ele mesmo, o autor de novelas da Rede Globo). Não posso me esquecer da importância histórica que o famoso comercial da DD Drin teve: a estréia dele ocorreu bem na época em que praticamente toda a programação da TV brasileira era em preto e branco. Reparem que os insetos de rosto pintado que aparecem no vídeo são uma referência à mitológica banda Secos e Molhados, que tinha Ney Matogrosso como vocalista. https://www.youtube.com/watch?v=vDvjecJOpa4 

 


3 – “Um Banho De Alegria Num Mundo de Água Quente” (DUCHAS CORONA, 1972)

A série de anúncios para o inovador fabricante de chuveiros começou em 1972, com o jingle de campanha. O primeiro comercial foi uma pérola filmada na Cachoeira do Prumirim em Ubatuba, SP. Transmitia a ideia de que um banho revigorante deixa as pessoas mais felizes (e não é bem verdade?). O hit das duchas Corona é um filho de muitos pais. Quando a marca de chuveiros decidiu lançar no mercado nacional as primeiras duchas feitas de plástico, encomendou um comercial, e o projeto caiu no colo do compositor Francisco Monteiro, mais conhecido como Francis Monte. Ele foi descoberto enquanto tocava em uma casa de shows, pelo produtor José Mário. Os dois bolaram o jingle e, logo em seguida, o apresentaram à equipe da agência de publicidade, que rejeitou a composição, dizendo que o objetivo do projeto de marketing da Corona era “vender chuveiros, e não sabonetes”. Confiando no próprio taco, Francis gravou a canção em uma fita K7 e a entregou diretamente a Amílcar Yamin, o proprietário da empresa Corona. Amílcar se apaixonou na hora pelo jingle. Resultado: “Um Banho de Alegria Num Mundo de Água Quente” estourou no Brasil inteiro e foi adotada como trilha oficial da publicidade das Duchas Corona durante 12 anos. Um banho de competência!

 


2 – “Roda, Roda, Baleiro” (BALAS KIDS, 1978)

Fiquei surpresa ao saber a data em que o jingle das famosas e deliciosas balas de leite Kids foi produzido: 1978. Sim, porque a música foi um sucesso colossal na primeira metade dos anos 80, e é praticamente um símbolo daquela época pra mim. Tão doce, gostoso e grudento quanto o produto que anunciava, este hino tem uma história bastante curiosa. É comum o compositor de uma canção gravar uma demo da música apenas com sua própria voz e uma base instrumental, geralmente um piano ou um violão, para enviar à gravadora, à agência de propaganda ou a quem quer que tenha feito a encomenda da obra para ele. Foi o que fez Renato Teixeira, autor de clássicos da MPB como “Romaria”, de Elis Regina (https://www.youtube.com/watch?v=2r3RgH5LcYE). Ele enviou despretensiosamente uma versão de “Roda Baleiro” apenas com seu vocal e um violão para os proprietários da Kids verem se gostavam. Os donos da marca de bala mais gostosa do planeta se apaixonaram tanto por aquela canção que quiseram que a versão acústica mesmo, na interpretação do meu xará, fosse utilizada no comercial. Rever o anúncio da Bala de Leite Kids décadas depois é de arrepiar. Aquele baleiro realmente existia nos balcões das lojas e mercearias da década de 80, e foi símbolo de uma infância que as gerações posteriores nunca conheceram e, pelo visto, as futuras gerações jamais conhecerão. Era uma brincadeira divertida “girar o baleiro” para ver qual cor e variedade de bala ia estar na nossa frente, para a gente abrir a tampa e pegar – como se fosse um “Roda-Roda Jequiti” das guloseimas. Para os que não viveram a época e querem entender melhor como esse jogo funcionava, basta assistir ao comercial, que retrata tão bem esse momento de diversão com as coisas mais simples.  

 

 

1. “Groselha Vitaminada Iahuuu” (GROSELHA MILANI, 1978)

A Milani foi fundada em 1955 e introduziu no Brasil uma bebida que já era sensação lá fora: o xarope de groselha (o nome é feio, mas é esse mesmo). O sucesso do produto foi incrível nas festas infantis, o que levou a empresa a lançar mais uma novidade, chamada sacolé. Eram os hoje conhecidos saquinhos de plástico cilíndricos com groselha congelada como se fosse sorvete. Era 1978 quando a Milani, investindo ainda mais na criançada, soltou este anúncio tão divertido que chegava a ser covardia. Um desenho animado com uma bolinha cor-de-rosa que mostrava como a groselha era um produto prático e gostoso. O comercial foi um hit tão avassalador que seu uso durou 10 anos. Curiosidade pra destruir suas ilusões de infância: o cantor Zelão, que interpretava o jingle da Groselha Vitaminada Milani, possuía uma voz bem grossa. Para que no ela soasse fina, aguda e infantil, bem adequada à bolinha-personagem, a canção teve de ser gravada com velocidade acelerada. Iahuuuu!




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FONTES

 

https://www.portalodia.com/noticias/piaui/o-sucesso-e-transformar-o-consumidor-em-midia-diz-washington-olivetto-106863.html

https://acontecendoaqui.com.br/propaganda/comercial-hitler-e-um-dos-100-melhores-comerciais-de-todos-os-tempos

https://acontecendoaqui.com.br/propaganda/comercial-hitler-e-um-dos-100-melhores-comerciais-de-todos-os-tempos

https://www.propagandashistoricas.com.br/2014/09/papel-higienico-primavera-anos-70.html

https://www.infantv.com.br/primavera.htm

http://www.edgardpocas.com.br/category/jingles-trilhas-campanhas-fotos-filmes-historias/jingles/

https://www.propagandashistoricas.com.br/2014/01/dddrin-1976.html

https://memorialdoconsumo.espm.edu.br/duchas-corona-da-banho-de-alegria-num-mundo-de-agua-quente/

https://www.atribuna.com.br/2.713/livro-revela-os-bastidores-de-jingles-memor%C3%A1veis-1.42664

https://muzeez.com.br/historias/groselha-vitaminada-milani/8ycQiqoZSxMR7G7jo

https://www.guiadoscuriosos.com.br/jingles/a-historia-e-o-jingle-da-groselha-vitaminada-milani/

https://clubedojingle.com/video/groselha-vitaminada-milani/

https://www.sinergiapublicidade.com.br/5-comerciais-antigos-que-mostram-como-a-publicidade-na-tv-evoluiu/

 

 

 

 

 

 

 

 

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