terça-feira, 24 de novembro de 2020

VOCÊ AMA STAR TREK? AGRADEÇA A LUCILLE BALL!





    Sou uma fã gigantesca de Lucille Ball desde criança, e tenho um grande respeito por “Star Trek” e a importância da franquia para a cultura pop. Inclusive, já escancarei minha adoração por Tia Lucy neste blog (https://poltrona-r.blogspot.com/2016/08/meus-15-momentos-preferidos-de-lucille.html), embora não tenha passado o pano para os defeitos dela (https://poltrona-r.blogspot.com/2017/09/mexe-com-quem-ta-quieto-as-nao-poucas.html). Por isso, ao ler sobre ela para fazer um texto (outro texto, que nada tem a ver com esta matéria), uma passagem da vida dessa mulher essencial não apenas para o humor, mas para a história do cinema, me chamou a atenção.

    Primeira mulher diretora de televisão, Lucille Ball criou em 1950 a Desilu Productions, em parceria com o então marido Desi Arnaz. Ao fundarem a própria empresa, o casal tinha a única intenção de produzir seu projeto, pois ele havia sido recusado por todos os estúdios de cinema e TV. Tratava-se de uma inovação, um teatro filmado que teria um episódio diferente a cada semana. Lucille e Desi seriam os atores principais, e não era só. Ele também seria o diretor e ela, vice-diretora. O nome do projeto? “I Love Lucy”.

 


    Como eu acredito que todo mundo aqui já saiba, o seriado pioneiro lançado em 1951 virou febre nacional e, anos depois, mundial. Lucille se consagrou como maior comediante feminina de todos os tempos e Desi ganhou respeito não só como músico e ator, mas também como diretor. Nada bobos, os dois partiram para a expansão de seus negócios – em todos os sentidos. Compraram um estúdio maior e sofisticaram a produção de “I Love Lucy”.

    Em 1960, porém, a dupla de artistas se divorciou. Desi jogou a toalha como diretor da Desilu Productions. Para não deixar a peteca cair, Tia Lucy comprou a parte dele na Desilu e assumiu ela mesma o posto. Vale lembrar que quando fundaram a empresa, Lucille Ball e Desi Arnaz não entendiam absolutamente nada de negócios. Aprenderam tudo na raça, administrando a própria empresa. Resultado: viraram empresários de sucesso. Principalmente Tia Lucy que, ao se ver sozinha, mostrou ainda mais o seu valor e abriu caminho para a mulherada num ambiente machista como a direção de televisão. Anos depois, ela confessaria: “Tudo que sei, aprendi com Desi”. Um gesto de humildade surpreendente da parte da mulher mais talentosa da História da mídia mundial.

  


    Em 1964Lucille Ball era não apenas umsucesso como humorista e estrela de sua própria série, mas também como diretora e produtora televisiva. Seu estúdio, aliás, era o único que realmente dava lucro. Buscando dar uma diversificada nas produções, Lucille pediu que o seu então braço direito Herbert Solow saísse à cata de ideias bacanas e originais. Ele voltou com dois projetos: um era “Missão Impossível”, e o outro uma série futurista criada por Gene Rodenberry, chamada “Star Trek”.

    Quando leu a sinopse de “Star Trek”, Tia Lucy ficou praticamente obcecada. Certa de que a série com temática espacial iria estourar, ela levou o projeto à diretoria da CBS, um dos canais de televisão onde as produções da Desilu eram exibidas. Os diretores da emissora se recusaram a tirar “Star Trek” do papel, pois, segundo eles, ficaria muito caro produzir a série. Lucille não desanimou: bateu na porta da NBC, que cogitou botar o projeto em prática.  cogitou. Primeiro porque ficção científica era algo que a NBC não possuía em sua grade de programação; segundo, porque os diretores da emissora consideraram a série muito “cabeça”; e terceiro, porque (adivinhem!) o orçamento era alto demais.

 




    Nem assim Lucille Ball se deixou abalar: propôs arcar com boa parte dos custos de produção. Porém, o episódio-piloto, “The Cage”, lançado no início de 1965, foi mal recebido pelo público. Tia Lucy acreditava tanto em “Star Trek” que conseguiu dobrar os diretores da NBC e fez com que a emissora encomendasse um segundo episódio, que também teria parte da produção bancada pela Desilu. Resultado: a humorista saiu ainda mais vitoriosa, porque o segundo episódio – aquele que apresenta William Shatner como o Capitão Kirk – teve bem mais audiência e a série-fenômeno passou a fazer parte da programação da NBC, que a produziu em parceria com a Desilu de 1966 até 1967, ano em que Lucille vendeu sua produtora à Paramount Pictures. Sem a Desilu e sem Tia Lucy, “Star Trek” continuou no ar sob nova direção – literalmente. A saga original teve 79 episódios ao todo, e depois saiu do ar.

    Nos anos seguintes, vieram remakes, filmes, novas versões e novas gerações. Livros, revistas, bonecos, camisetas. Sem falar nos DVDs e Blu-Rays. “Star Trek” se tornou uma franquia poderosa, uma das mais lucrativas da História de Hollywood segundo a revista norte-americana Forbes (https://www.forbes.com/sites/quora/2016/07/28/theres-a-reason-why-star-trek-remains-so-popular/?sh=f6a60ad1dc39). Em 50 anos, mais de 700 episódios e 13 filmes da saga foram feitos. É possível assistir a horas e horas de ‘produtos’ da franquia “Star Trek” sem ver nada repetido!

 



    A visão otimista de futuro que a série transmite se baseia na crença que Gene Roddenberry possuía no ser humano perfeito e num futuro onde tudo daria certo. Isso explica o sucesso da trama entre os adolescentes e os jovens adultos. A razão da continuidade e impecável da franquia “Star Trek” é a competência dos produtores em escalar um elenco perfeito e contratar roteiristas craques em seu ofício – dessa forma, a coerência da série foi mantida. E a visão de diversidade – vários personagens diferentes trabalhando juntos – trouxe fãs de todas as cores, raças e gêneros. A diva Whoopi Goldberg, por exemplo, confessou ser fã da série porque a personagem da atriz Nichelle Nichols (que era afrodescendente) a fazia acreditar que mulheres negras seriam parte do futuro. Aliás, quando Nichelle pensou em abandonar a série, ninguém menos que Martin Luther King a convenceu a não fazer isso. “Sua personagem é um símbolo de esperança na igualdade”, teria dito o ativista político e líder da luta contra o racismo.

   Muitos fãs se referem a Lucille Ball como a “madrinha” ou até “mãe” de “Star Trek”. Muitos deles também têm grande admiração pelo trabalho dela como comediante. Não dá pra negar que Tia Lucy tinha visão de futuro – em todos os sentidos. Prova disso é que ela nunca se interessou muito por ficção científica, mas acreditou no projeto porque soube captar o espírito dele, coisa que os diretores das emissoras tinham dificuldade de fazer. Além de parte indispensável da mitologia hollywoodiana, “Star Trek” é uma página a mais na história de uma mulher que audaciosamente foi onde nenhuma mulher jamais esteve. 




 

FONTES

https://www.huffpostbrasil.com/entry/lucille-ball-star-trek-surprising-celebrity-producers_n_3756120?ri18n=true

http://www.thoughtsfromatvgeek.com/2013/09/star-trek-fans-owe-it-all-to-lucille.html

http://www.adorocinema.com/noticias/series/noticia-122814/

https://intl.startrek.com/news/how-lucille-ball-helped-star-trek-become-a-cultural-icon

https://www.terra.com.br/diversao/cinema/voce-sabia-que-lucille-ball-salvou-star-trek,c37536dea74e85cff4500859f742ce57u215u0mz.html

https://ew.com/article/2016/07/08/lucille-ball-star-trek/

https://memory-alpha.fandom.com/wiki/Lucille_Ball

https://www.businessinsider.com/lucille-ball-is-the-reason-we-have-star-trek-heres-what-happened-2016-7

https://www.wearethemighty.com/mighty-movies/star-trek/

https://www.cheatsheet.com/entertainment/lucille-ball-overruled-her-board-of-directors-to-get-star-trek-produced.html/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Desilu_Productions

https://en.wikipedia.org/wiki/Lucille_Ball#I_Love_Lucy_and_Desi

 

 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário