domingo, 5 de novembro de 2017

DVD – CHOFER DE PRAÇA


Chofer de Praça
Ano de produção: 1958
Direção: Milton Amaral
Elenco: Mazzaropi, Geny Prado, Celso Faria, Lana Bittencourt, Agnaldo Rayol.
Duração: 97 minutos
Preto & Branco
Gravadora: Amazonas Filmes






Finalmente um filme nacional ganha uma resenha neste blog!!! A escolha de “Chofer de Praça” não foi feita ao acaso: além de ser um clássico de Mazzaropi, ícone do cinema nacional cuja obra influenciou gente como Trapalhões e Ratinho, a trama vem bem a calhar nesses tempos de controvérsia “Uber versus taxistas”. Famoso nos anos 50 e 60 por seu personagem “Jeca Tatu” e por clássicos da música sertaneja como “A dor da saudade”, “Tristeza do Jeca” e “A Sanfona da Véia” (sim, ele também era cantor, e dos bons!), o ator, cineasta e produtor Amácio Mazzaropi (1912-1981) lotou cinemas e entrou para a história com seu humor ingênuo e sem apelação, seu retrato da cultura caipira e sua forma bem-humorada de fazer crítica às injustiças sociais. Embora nascido na capital paulista (confesso que descobri isso agora e fiquei surpresa!), Mazzaropi amava a vida no campo, e o carinho que ele possuía pela riquíssima cultura interiorana do Brasil norteou toda a sua obra, do início ao fim de sua carreira. Neste longa de 1958, Mazza interpreta Zacarias, o caipira que sai de sua cidadezinha e vem para São Paulo junto com a esposa, Augusta (vivida por Geny Prado, a eterna “mulher do Mazzaropi”), para arranjar um trabalho melhor, ganhar dinheiro e assim ajudar o filho, Raul (Celso Faria) a pagar os estudos e se formar em Medicina. Por ter pouco conhecimento, Zacarias não consegue emprego e decide se tornar motorista de táxi – mais precisamente, de um calhambeque caindo aos pedaços. A falta de traquejo social do jeca rende alguns dos momentos mais hilários do filme, como suas brigas com os passageiros (um mais maluco do que o outro) e a primeira visita aos ricos pais da namorada de Raul, sem saber que o rapaz havia mentido aos futuros sogros que tinha um pai endinheirado. Isso quando não é o próprio “estado de junta” do carro que causa as dores de cabeça ao nosso herói sertanejo. Para tornar tudo ainda pior, Augusta reclama que o marido se dedica demais ao trabalho, e Raul, que começa a andar com filhos de milionários, torna-se um esnobe, com vergonha de ter um pai pobretão, ainda que honesto e trabalhador. E música é o que não falta: além dos clássicos do modão cantados por Mazzaropi, a cantora Lana Bittencourt faz uma participação muito bem sacada no filme, com o bolerão “Se alguém telefonar”. Agnaldo Rayol surge, jovenzinho e irreconhecível, curtindo uma sofrência ao som de “Onde Estará Meu Amor”, um dos seus sucessos. Quem só conhece Agnaldo pelo hit “Minha Gioconda” (https://www.youtube.com/watch?v=OEyQxwq4-lk) vai ficar impressionado.  Ver “Chofer de Praça” quase seis décadas depois de sua produção é uma experiência curiosa e impressionante. A São Paulo que o filme mostra mais parece um fazendão do que a metrópole que é hoje – casas de cercas baixas, com janelas sem grades e até galinheiro no quintal. Somos apresentados, também, ao modo de vida dos interioranos que vinham morar na cidade grande, enfrentando preconceito, miséria e dificuldades. O termo “caipira” era quase um palavrão e a música sertaneja, quem diria, extremamente malvista, considerada uma forma inferior de cultura. A cena da pancadaria na vila, com “platéia” e tudo, me lembrou o seriado “Chaves”. E não é só: há um momento em que os moradores chegam a organizar uma festa caipira, com direito a fogueira em estilo São João, viola e tudo. Além do retrato histórico e cultural delicioso que faz de sua época, o filme resgata valores como família, raízes, honestidade e trabalho. E, por essas e outras, merecia uma restauração mais cuidadosa, principalmente do áudio - na maior parte do filme o som é ruim, e a falta de sincronia labial quase estraga algumas cenas. Será que um crowdfunding resolveria o problema do resgate da obra do Mazzaropi, bancando uma recuperação do som e da imagem das obras do nosso maior cineasta de todos os tempos? “Ê, preiboiáda!”






CURIOSIDADES
● Durante o filme, é possível ver cartazes anunciando marcas como sorvetes Kibon e pneus Firestone – essa foi a forma encontrada para inserir o “merchand” dos patrocinadores da obra.  
● A dupla mineira Pena Branca e Xavantinho gravou um modão chamado “Mazzaropi”, em homenagem ao ídolo. A faixa está no álbum “Cantadô Mundo Afora”, lançado em 1990. Neste clipe, inclusive, eles contam a importância que Mazza teve para o trabalho deles. Lindo! https://www.youtube.com/watch?v=GyfIAq7UYmE
● Mazzaropi, aliás, ainda tem um grande fã-clube em Minas Gerais. Num Estado onde a cultura caipira é tão forte (talvez mais forte que em todo o resto do Brasil), é possível encontrar DVDs de seus filmes à venda até em postos de gasolina de beira de estrada.


EXTRAS
● Trailer original do filme, que anuncia “Chofer de Praça” como “a mais humana das comédias”. Para mim, todo o trabalho de Mazzaropi é humano.
● Visita ao Mazzaropi Museu e Hotel Fazenda – imagens a cores da propriedade onde foram gravados boa parte dos clássicos de Mazzaropi. O local foi restaurado e transformado em um misto de museu e resort familiar que possui a cultura caipira como tema. É na verdade um comercialzão, mas é uma delícia de assistir, porque o local é lindo (nunca fui, mas quero ir um dia!). Tem 4 piscinas e tobogã, rede na varanda e comida mineira preparada em fogão a lenha. A programação para as crianças inclui shows com palhaços e até ordenha de vaca. Os adultos visitam a “Casa do Jeca” e o “Armazém Mazzaropi”, repletos de fotos e objetos (como a “moviola “digitár”) que pertenceram ao artista. Esse trecho do vídeo mostra como Mazza era um visionário. O site do hotel é: http://www.mazzaropi.com.br/


EMBALAGEM
● Sem nada de extraordinário, talvez para baratear os custos de fabricação e distribuição. Pra mim, Mazzaropi merecia BEM mais.






FONTES

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigada! Se você gostou, dá uma ajudazinha pra mim e divulga meu blog! Abraços

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  2. BOA NOITE,VCS TEM ESTE FILME COMPLETO,GOSTARIA DE ASSISTIR.

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    1. Infelizmente não. Aqui só compartilho links de material disponível no YouTube. Por questão de direitos autorais. Obrigada por comentar. :)

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